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CAPÍTULO I – UMA ANÁLISE DA COMUNICAÇÃO, DO RÁDIO E DO

2.1. O Rádio no Brasil

A maioria dos historiadores que se dedicou ao estudo do rádio no Brasil relata que seu surgimento se deu no início da década de 1920. Segundo Pereira (1967, p. 47), o rádio “difundiu-se com incrível rapidez, principalmente pelo mundo ocidental, tendo chegado ao Brasil, em caráter definitivo ou regular [em 1922], dois anos depois” da primeira transmissão realizada nos Estados Unidos realizada pela KDKA em novembro de 1920.

Esta data se refere a uma transmissão radiofônica ocorrida no Rio de Janeiro que veiculou a comemoração do Centenário da Independência, evento esse que teve como principal discursador pelo rádio o presidente Epitácio Pessoa. Por outro lado, alguns estudiosos afirmam que antes das transmissões ocorridas no Rio de Janeiro uma emissora de Pernambuco já funcionava em caráter experimental. Walter Sampaio relata que

O Rio de Janeiro é considerada a primeira cidade brasileira a instalar uma emissora de rádio. Antes disso, porém experiências já eram feitas por alguns amadores, existindo documentos que provam que o rádio, no Brasil, nasceu em Recife, no dia 06 de abril de 1919, quando, com um transmissor importado da França, foi inaugurada a Rádio Clube de Pernambuco por Oscar Moreira Pinto, que depois se associou a Augusto Pereira e João Cardoso Ayres(SAMPAIO, 1971, p. 19).

Já Gisela Swetlana Ortriwano afirma que

Oficialmente, o rádio é inaugurado a 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações do Centenário da Independência, quando, através de 80 receptores especialmente importados para a ocasião, alguns componentes da sociedade carioca puderam ouvir em casa o discurso do Presidente Epitácio Pessoa(ORTRIWANO, 1985, p. 13).

Enfim, é em 1923 que se efetiva definitivamente o uso constante de transmissões radiofônicas no Brasil.

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Podemos considerar 20 de abril de 19237 como a data de instalação da radiodifusão no Brasil. É quando começa a funcionar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Roquete Pinto e Henry Morize, impondo à emissora um cunho nitidamente educativo (ORTRIWANO, 1985, p. 13).

Nesta primeira década do rádio no Brasil, o seu uso era restrito a grupos de indivíduos que tinham condições financeiras para arcar com as despesas provenientes de seu funcionamento. O rádio nascia como meio de elite, não de massa, e se dirigia a quem tivesse poder aquisitivo para mandar buscar no exterior os aparelhos receptores, então muito caros (ORTRIWANO, 1985, p. 14). Por se tratar de emissoras que surgiam e eram financiadas por determinados grupos8, várias das primeiras emissoras receberam a denominação “Rádio Clube” ou “Rádio Sociedade”. De acordo com Clarêncio Neotti (1980, p. 135) “o título Rádio Clube especifica bem como foram os inícios da radiodifusão. Grupos de intelectuais e artistas encontravam o grande veículo de difusão de suas obras”, por isso a existência de emissoras com este nome nas várias partes do Brasil.

Esta situação da propriedade restrita do rádio durou pouco tempo, pois, logo, a habilidade de produção de transmissores e receptores de rádio passou a se tornar acessível à sociedade. Um ano depois, já eram 563 as licenças expedidas pelo Departamento dos Correios e Telégrafos, órgão encarregado das normas do serviço de radiodifusão, para a instalação de emissoras e utilização de aparelhos receptores (KLÖCKNER, 2008, p. 136). Assim, de meados da década de 1930 em diante ocorre o surgimento acelerado de rádios emissoras no Brasil. Contudo, o acesso de indivíduos integrantes das classes subalternas às emissoras de rádio só veio ocorrer, segundo Lia Calabre (2003), após o término da Segunda Guerra Mundial.

7 João Baptista, estudioso do rádio no Brasil, e principalmente em São Paulo, parece concordar com esta

informação e ainda descreve como Roquette Pinto viu o aparecimento desta emissora. Em suas palavras “a PRA-2, Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi fundada em 20 de abril de 1923, pelos Professores E. Roquette-Pinto e Henry Morize. Eis como Roquette-Pinto descreve o aparecimento desta emissora: “... em 1923, um de seus discípulos mais humildes e mais dedicados procurava-o (a Morize) para pedir-lhe que tomasse a dianteira num grande movimento civilizador, que seria a prática da radiotelephonia educadora. Mal terminada a exposição do plano idealizado, e o velho mestre, no seu gabinete de S. Januário, erguia-se commovido, abraçando o seu discípulo. Desde aquelle instante, foi o guia magnífico de uma campanha cívica, ora triumphante, culminada na fundação da Rádio Sociedade (PRA-2) (PEREIRA, 1967, p. 49-50).

8 A autora acima citada ainda coloca que a manutenção das primeiras emissoras se dava através “de

mensalidades pagas pelos que possuíam aparelhos receptores, por doações eventuais de entidades privadas ou públicas e, muito raramente, com a inserção de anúncios pagos, que, a rigor, eram proibidos pela legislação da época” (Idem, p. 14),

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Assim, com várias emissoras existindo em diversas partes do Brasil, inicia-se então, uma luta entre os proprietários de rádio emissoras na busca por financiadores de suas programações. O caminho trilhado pela radiodifusão no Brasil, fundamentalmente a partir do início da década de 1930, passa, assim, a ser profundamente influenciado por sua mercantilização, ou seja, a sua transformação, de forma hegemônica, em fontes de divulgação comercial, e ainda, em fontes de renda para seus proprietários.

A partir do início do decênio de 30, o rádio sofre transformação radical. Em 1931, quando surge o primeiro documento sobre radiodifusão, o rádio brasileiro já estava comprometido com os “reclames” – o anúncio daquele tempo – para garantir sua sobrevivência.

A publicidade foi permitida por meio do decreto n° 21.111, de 1° de março de 1932, que regulamentou o Decreto n° 20.047, nove anos após a implantação do rádio no país (ORTRIWANO, 1985, p. 15).

A partir daí acelera-se a criação de emissoras por todas as partes do território nacional, pois, o rádio, além de prestígio social se tornou fonte de riqueza rápida. Como o acesso de parte da população que possuía condições financeiras para arcar com a compra das peças para montagem dos transmissores era relativamente fácil, então, o rádio passou a ser utilizado por indivíduos que residiam inclusive próximos uns dos outros. Isso teve como conseqüência a interferência da programação de uma emissora na transmissão daquelas que eram próximas. Esta questão foi utilizada pelo Estado como justificativa para se efetivar o controle das rádios emissoras. Pois, do ponto de vista estatal, só por meio da liberação de prefixos, através dos quais as emissoras passariam a funcionar e transmitir seu conteúdo em um canal determinado, é que poderiam ser corrigidos estes problemas técnicos, evitando a interferência de uma emissora em outra. Ainda na década de 1920, a rápida multiplicação de emissoras fez com que surgissem protocolos internacionais de utilização de freqüências e de alcance das ondas sonoras (CALABRE, 2003, p. 01).

Por outro lado, as determinações do rádio no Brasil são conseqüentes de questões mais profundas e estão intimamente associadas ao desenrolar dos acontecimentos políticos e econômicos que ocorriam globalmente. Com o mundo envolvido na Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas, com o propósito de estabelecer as condições para o avanço do capitalismo industrial no país adotou medidas políticas que acabaram por afetar de forma profunda as emissoras de rádio existentes.

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Entretanto, antes mesmo de Getúlio Vargas assumir-se como ditador do Estado brasileiro o controle e regularização das emissoras de rádio já ocorriam através de órgãos específicos. A primeira atuação do Estado brasileiro no controle do conteúdo das rádios emissoras aconteceu por intermédio de um decreto criado em 1924.

Através do Decreto nº 16.657, de novembro de 1924, o presidente Arthur Bernardes aprovou o Regulamento dos serviços civis de radiotelegrafia e radiotelephonia. As emissoras de rádio destinadas à radiodifusão (broadcasting) foram classificadas por esse decreto como de tipo experimental. O governo preocupou-se em controlar o conteúdo e o caráter daquilo que era transmitido (CALABRE, 2003, p. 02).

Até porque as rádios emissoras já começavam a ser utilizadas como meio de propagação política por grupos que eram contrários ao governo. Lia Calabre em seu texto A

Participação do Rádio no Cotidiano Brasileiro, descreve que

Ainda em 1932, no mês de maio, o rádio dava amostras de sua capacidade de mobilização política. A cidade de São Paulo exigia a deposição do então Presidente Getúlio Vargas, as rádios paulistas, em especial a rádio Record se transformavam em poderosas armas. Em julho, teve início o movimento que ficou conhecido como a Revolução Constitucionalista, que tinha como principal exigência a convocação de eleições para a formação de uma Assembléia Constituinte: o país necessitava de uma nova Constituição. A cidade logo foi cercada pelas forças federais, isolada, utilizou as emissoras de rádio para divulgar os acontecimentos a outras partes do país. Em outubro São Paulo entregava as armas. O rádio saiu do conflito revigorado por sua destacada atuação. Alguns profissionais do setor, como o locutor César Ladeira, se tornaram conhecidos em âmbito nacional (CALABRE, 2004, p. 71).

É neste contexto que o Estado busca controlar mais intensamente as emissoras de rádio, com a criação do Departamento Oficial de Propaganda – DOP em 1931. A partir de então a abertura de emissoras de rádio seria fortemente controlada e deveria ser realizada a partir de trâmites burocráticos perpassados pelo consentimento estatal. O Estado brasileiro mostra-se a partir dos anos de 1930, preocupado seriamente com o novo meio, que definia como “serviço de interesse nacional e de finalidade educativa” (ORTRIWANO, 1985, p. 15),

e por essa questão impõe a regulamentação do seu conteúdo.

Mesmo estando sob um forte controle estatal, o rádio não deixou de ser utilizado por indivíduos que contestavam a atuação do governo, e neste sentido, em meados de 1930

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percebe-se um crescimento considerável de emissoras, sendo utilizadas como meio de crítica de determinados grupos da sociedade ao governo. Com isso, o Estado intensifica ainda mais o controle das emissoras de rádio substituindo o DOP pelo Departamento de Propaganda e Difusão Cultural – DPDC em 1934, que representaria também, uma intensificação da propaganda política do governo.

Portanto, até o final da década de 1930, as emissoras de rádio estiveram sob o controle do DPDC (Departamento de Propaganda e Difusão Cultural), o qual substituiu o DOP (Departamento Oficial de Propaganda), e como estratégia de tentar evitar qualquer brecha que possibilitasse a sua utilização por grupos contestadores, reforça o controle sobre os meios de comunicação e o DPDC é substituído finalmente pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) em 1939. Segundo Jambeiro, “O D.I.P., a partir de 1939, vai representar o aperfeiçoamento máximo do controle da informação em todo o território nacional” (JAMBEIRO, 2001, p. 13). Carone coloca que

Ele é “diretamente subordinado ao Presidente da República” e objetiva “centralizar, coordenar, orientar e superintender a propaganda nacional, interna ou externa, e servir, permanentemente, como elemento auxiliar de informação dos ministérios e entidades públicas e privadas, na parte que interessa à propaganda nacional”. Cabe-lhe, por sua vez, fazer censura de teatros e cinemas, estimular produção do cinema nacional, “coordenar e incentivar as relações da imprensa com os Poderes Públicos”, propaganda no exterior, proibir entrada de “publicações estrangeiras nocivas aos interesses brasileiros”, organizar programa de rádio-difusão, etc (CARONE, 1977, p. 171).

É neste contexto que o Estado intensifica a atuação de órgãos estatais em todos os meios de comunicação e principalmente sobre o meio tecnológico de comunicação predominante da época, o rádio. Nelson Werneck Sodré narra um episódio que ocorreu na cidade de São Paulo no período do Estado Novo que nos deixa claro como era a atuação desses órgãos. Vejamos:

As duas grandes organizações do Estado Novo foram, sem a menor dúvida, o DIP e a DOPS. A história das mazelas policiais de tal regime ainda não foi contada, mas foram numerosas as publicações que, desde 1945, as denunciaram, em aspectos parciais. O depoimento de Everardo Dias pode servir de exemplo, simples exemplo, pois, dessa forma ou de outra, milhares de pessoas foram presas, torturadas, assassinadas, vigiadas: “O autor passou meses ou anos, durante um bem acidentado

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período (de 1917 a 1937) conversando nos presídios e respondendo a vários processos. Sempre vigiado, sempre suspeitado. De 37 em diante, durante o terror branco do Estado Novo, teve de viver como um ser abúlico, para não ser encarcerado, ou talvez pior. Tinha de dizer o que fazia, onde morava, que profissão exercia, de que vivia, que amizades cultivava... Vivia num subúrbio da capital e tinha, para tomar o trem, que exibir um salvo-conduto... Sempre a mercê de tiras nem sempre delicados e compreensivos, pelo contrário exigentes e rosnando ameaças... Apesar desse clima, como só restava, para a imprensa livre um recurso, o da clandestinidade, foi este bastante usado (SODRÉ, 1966, p. 439-440).

Assim, mesmo em período de forte repressão ainda havia aqueles meios de comunicação que expressavam interesses contrários às intenções do Estado, porém, de forma clandestina, mesmo que num momento ou noutro seus dirigentes acabassem sendo aprisionados e torturados.

Os vários órgãos fiscalizadores dos meios de comunicação foram implantados em cada Estado da Federação e tinham como função supervisionar todo conteúdo informativo em órgãos de imprensa (jornais, revistas, rádios). Esses mecanismos de fiscalização que representavam o DIP nos Estados eram os DEIPs (Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda) que no caso de Goiás era representado inicialmente por Câmara Filho, e posteriormente por Gerson de Castro Costa9 e eram responsáveis pela função de divulgar a política expansionista estabelecida pelo Estado nacional em Goiás e controlar o conteúdo dos vários meios de comunicação. Através do DEIP se elaborava também programas de rádio, colunas de jornais e revistas que dizia respeito ao ícone do Estado nacional10.

Além da representação do DEIP, havia também os representantes do DIP em Goiás que eram os redatores daquele órgão os quais também agiam no controle das informações veiculadas pelos meios de comunicação no Estado, e faziam isso descrevendo os acontecimentos do dia a dia e enviando, através de relatórios diários, à central do DIP no Rio de Janeiro.

Eram cinco redatores, entre eles e representante do DIP em Goiás, que residia em Goiânia, estava Francisco Pimenta Neto, o qual foi, junto a Venerando de Freitas Borges

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Gerson também estava à frente da coordenação da Revista Oeste, órgão do governo do Estado.

10 Ao fazer uma leitura de jornais e revistas da época, podemos perceber o quanto isso era constante. Citamos

como exemplo, a Revista Oeste, os jornais O Popular e O Anápolis. Os acontecimentos que envolviam Vargas eram semanalmente divulgados. Até mesmo as festividades referentes ao seu aniversário eram anualmente divulgadas.

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(então prefeito de Goiânia, escolhido pelo interventor Pedro Ludovico), os responsáveis pela “organização” da primeira emissora de rádio de Goiás criada com o consentimento do Estado. Abordaremos os detalhes desta relação do DIP e DEIP com os meios de comunicação e com o rádio em Goiás no terceiro capítulo desta pesquisa. Por enquanto, trataremos de forma mais geral, em âmbito nacional das determinações que cercavam as emissoras de rádio em todo o país.

No período que precedeu o fim da Segunda Guerra Mundial, portanto, como tentativa de assegurar a reprodução e expansão do capitalismo no Brasil, o Estado instituiu uma legislação baseada em uma forte repressão social. Os partidos políticos foram extintos, e os integrantes de partidos que tentavam qualquer forma de organização contrária à idéia estatal vigente eram fortemente torturados, o que aconteceu também e fundamentalmente com movimentos operários e camponeses que existiam nas várias partes do Brasil. Os meios de comunicação recebem um tratamento diferenciado. São encarados como fortes aliados na busca da efetivação dos seus interesses através da ampla divulgação de seu ideário, que era facilitado com a utilização de meios tecnológicos.

Nesse sentido, o ano de 1939 representou para a radiofonia brasileira, um período de profundas transformações. Diante do contexto de forte repressão o rádio é utilizado intensamente pelo Estado para a divulgação de uma comunicação baseada na publicidade política. Surge neste período o Goebbels brasileiro na pessoa de Lourival Fontes, o qual faz com os meios de comunicação no Brasil o que Goebbels fez com os meios de comunicação na Alemanha. As emissoras são fortemente controladas e passam a atuar em rede. É instituída uma legislação que estabelecia que em uma hora determinada do dia todas as emissoras, num mesmo prefixo, deveriam retransmitir a programação criada pelo Estado e veiculada pela Rádio Nacional. Lourival Fontes é encarregado pela formatação de um programa que seria veiculado num mesmo instante por todas as emissoras do Brasil, semelhante à “audição comunal” estabelecida por Goebbels na Alemanha, é quando ele “defende a instituição do programa Hora do Brasil, iniciado em julho” de 1935 (SAROLDI, 2005, p. 21). Desta forma, a criação de um programa para ser ouvido, simultaneamente, em todo o território nacional, e que fosse capaz de integrar à Capital Federal os vilarejos mais distantes, somente se efetivou em 1939, já com a Hora do Brasil (CALABRE, 2003, p. 05).

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Em relação ao rádio neste período, final da década de 1930, Lourival Fontes dizia o seguinte:

Dos países de grande extensão territorial, o Brasil é o único que não tem uma estação de rádio “oficial”. Todos os demais têm estações que cobrem todo o seu território. Essas estações atuam como elemento de unidade nacional. Uma estação de grande potência torna o receptor barato e, portanto, o generaliza...

Não podemos desestimar a obra da propaganda e de cultura realizada pelo rádio e, principalmente, a sua ação extra-escolar; basta dizer que o rádio chega até onde não chegam a escola e a imprensa, isto é, aos pontos mais longínquos do país e, até, à compreensão do analfabeto (Lourival Fontes, Voz do Brasil, 20 fev 1936, apud, SAROLDI, 2005, p. 21).

Neste ínterim, os assuntos discutidos na Hora do Brasil viriam recheados de músicas as quais recebiam uma atenção especial do então coordenador da propaganda no Brasil, e buscava exemplo de sua utilização nas emissoras mexicanas. Lourival Fontes manifestava sua

Simpatia pelo exemplo do México, onde, segundo ele, a música popular foi não apenas censurada, mas “padronizada”. Isso evitaria que fatores estranhos ao país ou os próprios compositores viessem a deturpar o que fora fixado como “música popular mexicana” (Ibidem, p. 21).

O desejo de Lourival Fontes de ter no Brasil uma rádio oficial do Estado é efetivado, quando a Rádio Nacional do Rio de Janeiro é apropriada pelo Estado para ser a sua porta voz, sendo transformada na estação de rádio “oficial” do governo. Foi assim que “a ditadura Vargas se apropriou da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e a transformou em veículo oficial do Estado Novo” (REBOUÇAS E MARTINS, 2007, p. 04). Isso aconteceu em março de 1940 quando

Getúlio Vargas institui o decreto-lei n° 2.073, criando as Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União. O texto oficial determinava: Considerando que todo o acervo da Companhia estada de Ferro São Paulo - Rio Grande e empresas a ele filiadas teve origem direta ou indireta em operações de crédito realizadas no estrangeiro e em contribuição dos cofres públicos do Brasil;...

Considerando que a Companhia Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande deve ao Patrimônio Nacional importância superior a L3.000.000,00 que recebeu a título de adiantamento para ser deduzida de excesso da receita bruta;

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Considerando que foi com tais recursos, provindos do Tesouro, que a mesma empresa adquiriu ações de outras sociedades que fazem parte do seu acervo;...

Considerando que é de relevante interesse para a economia do país e, portanto, de utilidade pública, a manutenção e desenvolvimento das atividades de tais empresas, sob a orientação e responsabilidade do governo;

Considerando que se impõe desde logo a direção dessas empresas por agentes do Poder Público, para que se resguarde seu patrimônio e se assegure os direitos dos credores;...

Decreta: Art. 1°:

Ficam incorporadas ao Patrimônio da União

a) Toda a rede ferroviária de propriedade da Companhia Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande ou a ela arrendada.

b) Todo o acervo das Sociedades “A Noite”, “Rio Editora” e “Rádio Nacional”.

c) As terras situadas nos Estados do Paraná e Santa Catarina, pertencentes