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Programa Bolsa-Floresta e a Fundação Amazônia Sustentável

CAPÍTULO II – A VIAGEM DAS PRÁTICAS POLÍTICAS: A DIFUSÃO DA

2.4 Uma outra história: a difusão horizontal e vertical da ideia da Reserva de

2.4.6 Programa Bolsa-Floresta e a Fundação Amazônia Sustentável

O Bolsa-Floresta insere-se nos programas de transferência de renda, potencializados, em âmbito nacional, com o governo dos presidentes, Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2014), respectivamente, no qual o Bolsa-Família é um exemplo. Porém, o Bolsa-Floresta insere-se no conceito de desenvolvimento sustentável, tendo um apelo mais com questões ambientais do que sociais. Como relata o governador do estado do Amazonas, na época, Eduardo Braga:

Surge, então, o bolsa-floresta. Por quê? Os mesmos cientistas apontam que, num cenário de “deixa como está”, 30% da floresta amazônica será desmatada até 2050. Para que isso não aconteça, nossas unidades de conservação precisam ir além das limitações legais e das definições no papel. Elas precisam, no campo, ter verdadeiros guardiões dessas florestas e desses serviços e produtos. Esses homens e mulheres que vivem nas unidades de conservação passariam, por meio do fundo bolsa-floresta, a receber uma remuneração pela contrapartida de um serviço ambiental de não- desmatamento dentro das unidades e na região de proteção em torno delas, para que pudéssemos assegurar que não haveria desmatamento dentro das

unidades de conservação. E, assim, se preservaria o serviço ambiental que aquela floresta propõe realizar para a comunidade internacional. Estamos estruturando um fundo de mudanças climáticas, que recebeu ontem o primeiro depósito, de 20 milhões de reais, para que possamos, no mês de agosto, pagar as 2.045 primeiras bolsas-florestas, divididas em 5 unidades de conservação (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2007).

Percebe-se que o locus de atuação do Programa Bolsa-Floresta são os moradores de Unidades de Conservação de uso sustentável e que, por isso, o governo intensificou a política de criação de UCs no estado. O plano era criar o maior número possível de UCs de uso sustentável para implantar o Bolsa-Floresta e movimentar o fundo de mudanças climáticas, o qual também financiaria atividades produtivas no interior das UCs de uso sustentável e no seu entorno, além de investimentos sociais na área da saúde e educação. Como relata Eduardo Braga:

Além do fundo remunerar o Bolsa-Floresta, ele financiará unidades produtivas das comunidades. Isso será proposto para cada uma das comunidades. Esse fundo tem como principal objetivo a contrapartida ambiental, o investimento social e o investimento na área do arranjo produtivo sustentável. Ou seja, esse é um fundo que vai remunerar 3 serviços: o serviço ambiental; o serviço social – melhoria nas escolas, melhoria na habitabilidade, na higiene sanitária, no abastecimento de água nas comunidades isoladas – e os arranjos de produção sustentável, que são os óleos naturais, a nossa piscicultura, etc.(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2007)

A inspiração para o Programa Bolsa-Floresta foi o programa de serviços ambientais da Costa Rica51. De acordo com Viana (2008), primeiro secretário de meio ambiente do estado do Amazonas, na gestão Eduardo Braga, logo depois da criação da SDS, foi organizada uma expedição à Costa Rica para conhecer o referido programa, com a ideia de recriá-lo no Amazonas. Este foi mais um tipo de mecanismo horizontal de difusão, via aprendizado, embutida no interior das políticas públicas estaduais. O Bolsa-Floresta caracteriza-se como uma compensação financeira pela conservação das florestas, isto é, pelos serviços prestados pelas populações residentes em Unidades de Conservação (ribeirinhos ou indígenas) para diminuir o desmatamento e manter preservados os recursos naturais (VIANA, 2008).

51

“No mundo, a Costa Rica criou a iniciativa pioneira de pagamento por serviços ambientais, com a cobrança de uma taxa sobre o consumo de gasolina e de água, repassada aos proprietários que preservam as florestas do país, cuja medida conseguiu frear o quadro de desmatamento local.” (Disponível em: <www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias >. Acesso em: 30/09/2014).

O programa é composto por quatro modalidades: o Bolsa-Floresta Familiar, que é umarecompensa mensal, de R$ 50,00, para mães de famílias residentes em unidades de conservação, que se comprometam com o desmatamento zero em áreas de matas primárias. Viana (2008) esclarece que esta recompensa não tem a pretensão de ser a principal fonte de renda, mas apenas um complemento e/ou uma recompensa pela conservação da floresta; o Bolsa-Floresta Associação, que é destinado às associações de moradores residentes nas UCs do estado, equivalendo a 10% de todas as Bolsas-Floresta Família. A ideia deste estímulo é fortalecer as organizações sociais e o controle social sobre os benefícios do programa (VIANA, 2008); o Bolsa-Floresta Renda, cujovalor é, em média, de R$ 4.000,00 por ano, considerando comunidades com média de 11,4 famílias. Este componente é para o financiamento de atividades produtivas sustentáveis que não causam desmatamento e que estejam legalizadas; e o Bolsa-Floresta Social,que também possui um valor médio de R$ 4.000,00 por ano, e é destinado à melhoria da educação, saúde, comunicação e transporte das comunidades beneficiárias do programa.

A administração do Programa Bolsa-Floresta, bem como a gestão dos produtos e serviços ambientais das UCs estaduais é realizado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), uma instituição privada, sem fins lucrativos e não-governamental, criada em dezembro de 2007, que, recentemente, ganhou a categoria de Utilidade Pública Federal através da Portaria do Ministério de Estado da Justiça nº 3.098, de 26/09/2013.

Em tese, a FAS deveria assumir uma posição distanciada dos aspectos políticos do governo do estado, todavia, o seu diretor executivo, cujo cargo, hoje, é de Superintendente-Geral,foio ex-secretário da SDS, Virgílio Viana (e continua sendo). Assim, aFAS funciona como um dos braços do governo e o principal promotor da atual política ambiental para as UCs no estado do Amazonas.

A partir de 2007, apolítica ambiental do estado do Amazonas reconfigurou o mapa das áreas protegidas, já que, como demonstrado anteriormente, houve um crescimento vertiginoso de novas UCs, quando o estado encampou a criação de novas áreas de uso sustentável.

A seguir, descreverei como se deu a política ambiental estadual, por meio da criação de RDSs, como ocorreu na RDS Rio Negro, localizada na região do Baixo Rio Negro.