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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. A AUDIÇÃO E O SISTEMA AUDITIVO

1.4 PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA

Para se evitar o impacto negativo do ruído sobre a qualidade de vida do trabalhador é necessária a implantação de medidas preventivas. O objetivo de um Programa de Conservação Auditiva (PCA) deve ser a preservação da audição, por meio da identificação de riscos, monitoramento auditivo, medidas de proteção contra o ruído e medidas educativas (GONÇALVES, 2004).

A finalidade de um PCA é estabelecer procedimentos adequados de gerenciamento das medidas de controle de exposição ocupacional ao ruído. Como qualquer programa, a eficiência do PCA depende do comprometimento de todas as pessoas envolvidas em sua elaboração e execução.

Segundo Saldanha Júnior (2009, p. 13):

As atividades do PCA devem ser reavaliadas periodicamente visando ao aprimoramento e à adequação em relação às modificações que possam ocorrer na empresa, seja por demanda dos processos produtivos, seja pela reorganização do trabalho, ou ainda, por mudanças da legislação ou dos riscos ocupacionais.

Em 1965, no Brasil o Ministério do Trabalho e Previdência Social estabelece através da portaria nº 491, no seu art. 2º que a eliminação da insalubridade poderia ocorrer pela aplicação de medidas de proteção coletiva ou individual. Ainda na portaria nº 491, em seu anexo onze, os quadros com descrição dos agentes insalubres e respectivos graus de insalubridade eram demonstrados. Um desses quadros já mencionava sobre os trabalhos em ambiente com excesso de ruído, não especificando, entretanto, as medidas de proteção contra a exposição ao ruído. (KWITKO, 2001).

Em 1967 (Decreto Lei nº 229), enfocando a exposição ao ruído, destacou: “obrigatoriedade das empresas quanto ao fornecimento de equipamentos de proteção

individual aos empregados gratuitamente e o uso dos EPI sendo obrigatório para os empregados” e também ficou impedida a comercialização de qualquer equipamento de proteção individual sem aprovação certificada pela segurança e higiene do trabalho. Tornou- se obrigatório a realização de exame médico na admissão, periódicos e em atividades insalubres, além da renovação semestral. Em 1978, a portaria nº 3.214 aprova as normas regulamentadoras (KWITKO, 2001).

No que se diz respeito à exposição ao ruído na saúde do trabalhador, verifica-se que a primeira obrigação legal surgiu em 1978, com a Portaria 3.214 e suas Normas Regulamentadoras, sendo que a manutenção obrigatória da saúde auditiva, por meio de audiometrias, surgiu em 1983 com a Portaria nº 12. A obrigação em manter o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) surgiu em 1994 com a Portaria nº 25 (KWITKO, 2001).

No Brasil cabe ao Ministério do Trabalho (MTB) a função de regulamentar a Legislação Trabalhista e a Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), a realização de estudos e pesquisas pertinentes aos problemas de segurança, higiene, meio ambiente e medicina do trabalho relacionada à promoção das melhorias das condições de trabalho, além de subsidiar a elaboração e revisão das normas regulamentadoras. As Normas Regulamentadoras (NR), até o momento são trinta e quatro dispondo sobre os serviços especializados em engenharia de segurança e medicina do trabalho.

Na NR 7 estão descritas as especificações do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO que estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação do programa com objetivo de promoção e preservação da saúde dos seus trabalhadores (BRASIL, 1978).

Encontramos como parte integrante desta NR a Portaria 19 que tem como objetivo:

Estabelecer diretrizes e parâmetros mínimos para a avaliação e o acompanhamento da audição do trabalhador através da realização de exames audiológicos de referência e seqüenciais; fornecer subsídios para a adoção de programas que visem à prevenção da PAIR e a conservação da saúde auditiva dos trabalhadores. (Portaria SSST, 1998)

Na portaria supracitada também foram estabelecidos: a definição e a caracterização da PAIR; os princípios e os procedimentos básicos para realização do exame audiométrico; a interpretação dos resultados do exame audiométrico com finalidade de prevenção; os parâmetros para diagnóstico da PAIR para definição da aptidão ao trabalho e as condutas preventivas.

A NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, visa à preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Ministério do trabalho (BRASIL, 1978).

Na NR 15 (Lei 6.515 de 22/12/1977) estão descritas em seu anexo 1: as atividades, as operações e os agentes insalubres, além dos limites de tolerância, de cada risco, inclusive os tempos máximos de exposição permitida aos diversos níveis de intensidade sonora. Define também, as situações que, quando vivenciadas nos ambientes de trabalho pelos trabalhadores, caracterizam seu exercício insalubre (BRASIL, 1978).

Saldanha Júnior (2009) propôs em seu estudo a realização um protocolo de auditoria para PCA, de acordo com a legislação brasileira onde concluiu que embora a Legislação Brasileira tenha avançado nas últimas duas décadas, no que diz respeito às ações relacionadas à conservação auditiva nos ambientes de trabalho, ainda hoje muitas empresas não possuem o conjunto de ações coordenadas de forma necessária para garantir a eficácia do PCA, tanto do ponto de vista preventivo, quanto no que diz respeito à atenção do trabalhador.

Miranda e Dias (2004) ao realizarem um estudo sobre a inspeção e auditoria PPRA e PCMSO em empresas dos ramos da indústria, serviços e comércio constataram que entre as vinte e oito empresas que elaboraram o PPRA, vinte e seis (92,9%) delas apresentaram algum tipo de inconsistência dos dados em seu programa, por estarem incorretos ou por não terem qualidade. Analisando-as conforme os riscos ocupacionais, verificou-se que em 82,1% dos casos, as inconsistências relacionavam-se com os riscos físicos como, por exemplo, a exposição ao ruído. Entre as empresas que apresentaram inconsistências relacionadas com os riscos físicos, em 35,7% delas a inconsistência se referia ao reconhecimento dos riscos, em 35,7% à avaliação quantitativa, em 60,7% à implantação de medidas coletivas e, em 17,9% à implantação de medidas de proteção individual.

No Chile, através do levantamento de alguns dados da exposição ao ruído, em empresas metalúrgicas e indústria madeireira apontou-se que para lidar com o risco ruído, as empresas devem estabelecer programas de monitoramento para acompanhar os trabalhadores expostos garantindo a qualidade dos dispositivos de proteção auditiva e fornecendo orientações de seleção e utilização adequada aos funcionários (VALENZUELA; VILLAGRA, 2006).

Em Taiwan resultado de um estudo mostrou que a alteração no limiar auditivo foi maior para os trabalhadores que foram expostos ao ruído mais tolueno em comparação com

aqueles expostos somente ao ruído. Uma intervenção eficaz, nesse caso, seria o estabelecimento de políticas que determinem os limites máximos de exposição para solventes neste ramo de atividade (CHANG et al, 2006).

Em Washington, sérias preocupações foram levantadas sobre a adequação da prevenção, regulação e estratégias de execução dos programas de prevenção da perda auditiva nos Estados Unidos. Concluíram que a maioria das empresas oferece pouca ou nenhuma atenção ao controle do ruído e que utilizavam, principalmente, a proteção auditiva como base para prevenir a perda auditiva, apesar de 38% dos trabalhadores das empresas pesquisadas não utilizarem os protetores, rotineiramente. As empresas preferiam adotar somente a utilização dos protetores do que a adoção de programas de prevenção da perda auditiva com medidas educativas e de controle (DANIELL et al, 2006).