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OS SABERES DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS SOBRE A EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA

ABORDAGEM METODOLÓGICA

4.2 OS SABERES DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS SOBRE A EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA

4.2.1 Questões relacionadas aos sujeitos e suas características auditivas

O exercício de outra atividade profissional em ambiente ruidoso não foi apontado pela maioria dos motoristas de ônibus. Quando questionados relataram que a sua atividade por si só, já era suficiente para o esgotamento físico e psíquico, e que não era possível trabalhar mais em outro local. Segundo Batiston et al (2007), a atividade de dirigir é desgastante, causa fadiga e sua eficácia está relacionada, principalmente, aos fatores ambientais do local de trabalho e à forma como os motoristas lidam com esses fatores.

A pergunta número dois foi positiva em 69,9%, a qual questionava se o trabalhador sentia alguma diferença na audição após a jornada de trabalho. Gonçalves, (2007) observou em seu estudo, que os trabalhadores portadores de PAIR expostos a níveis intensos de ruído, durante a jornada de trabalho vivenciaram desvantagens psicossociais, tanto no ambiente de trabalho quanto no familiar e social. As dificuldades auditivas mais relatadas pelos trabalhadores foram referentes a dificuldades de compreensão de fala em situações de trabalho e familiares. Outro estudo foi o de Lacerda et al (2010), que constatou que as queixas mais freqüentes, relacionadas à audição em motoristas de ônibus participantes de seu estudo foram: zumbido e a sensação de plenitude auricular.

Quanto ao incômodo com barulho muito alto, 61,7% responderam positivamente, ressaltando muitos dos motoristas, que as fontes geradoras de ruídos são: o motor do veículo e o fluxo do trânsito.

Os veículos com motor dianteiro contribuem significativamente, para maior exposição ao ruído e consequente aumento de probabilidade de ocorrer distúrbios auditivos, doenças cardiovasculares, alto estado de estresse, dentre outros fatores agravantes para a saúde do trabalhador, conforme afirmam Siviero et al (2005).

Freitas e Nakamura (2003) também destacaram a influência do posicionamento do motor na gênese do ruído ocupacional dentro dos ônibus.

Aproximadamente 21% dos motoristas referiram o contato ou trabalho com substâncias químicas como, por exemplo: solventes ou trabalho com pintura. A exposição simultânea do trabalhador a ruídos intensos e outros agentes, tais como produtos químicos, reforçam o desencadeamento de uma perda auditiva.

Em um estudo realizado por Fernandes e Souza (2006) sobre os efeitos auditivos em trabalhadores expostos a ruído e produtos químicos foi observado que a gravidade da perda auditiva era maior no setor onde foram avaliados os trabalhadores em exposição combinada.

Somente 10% da amostra estudada se referiram ao histórico de infecções nas orelhas. Dias et al (2008) estimou em uma população de trabalhadores, com histórico de exposição ao ruído ocupacional atendidos em dois ambulatórios de audiologia, que a prevalência de zumbido aumenta de acordo com a evolução do dano auditivo.

O hábito de escutar música com volume muito alto foi relatado por vinte e dois sujeitos participantes do estudo (23,4%), principalmente, a utilização de recursos pessoais de música, como MP3 e similares. Esses aparelhos são potentes podendo atingir uma intensidade sonora de até cento e vinte decibéis, equivalente a uma turbina de avião durante a decolagem (Sociedade Brasileira de Otologia - SBO, 2011).

Fiorini (2004) realizou um estudo com dois grupos de sujeitos expostos e não expostos a ruído ocupacional, e em ambos os grupos, a maioria dos sujeitos relatou como um dos principais hábitos sonoros, escutar rádio e o uso constante de walkman. Tais resultados sugeriram que a exposição não ocupacional ao ruído, realmente faz parte do cotidiano dos indivíduos.

Aproximadamente 43% dos sujeitos informaram ter dificuldade em entender a fala de outra pessoa em ambiente ruidoso (COSTA; KITAMURA, 1994 apud MELLO, 1999). Mencionam ainda, que pessoas expostas ao ruído podem ter uma redução na capacidade de distinguir detalhes dos sons da fala em condições ambientais desfavoráveis, principalmente em reuniões familiares, festas ou até mesmo, dificuldade em um programa de televisão em meio ao ruído doméstico, pois a lesão na cóclea acarreta a incapacidade de distinguir frequências superpostas ou subsequentes.

4.2.2 Questões relacionadas ao cuidado com a saúde auditiva e sobre a exposição ao ruído

A maioria dos motoristas declarou não frequentar ambientes ruidosos fora do local de trabalho. Esse fato é importante, tendo em vista que, a exposição extra-ocupacional também é um aspecto a ser considerado, pois pode contribuir para potencializar os efeitos causados pela exposição ocupacional, que já é muito impactante para a audição.

Segundo o Ministério da Saúde (2006, p. 28): “A exposição ao ruído em atividades de lazer, por apresentarem configuração clínica e audiológica semelhante a das perdas auditivas relacionadas ao trabalho, devem sempre ser lembradas e pesquisadas”.

O exame audiométrico foi considerado uma avaliação importante para a categoria profissional. Destaca-se que a opinião do trabalhador é uma forma de se perceber se os procedimentos adotados pela equipe de saúde ocupacional para ele é relevante, além de caracterizar um momento de escuta do trabalhador. A audiometria tonal liminar ainda é a base da avaliação audiológica, apesar dos enormes avanços tecnológicos atualmente disponíveis (MARINI; HALPERN; AERTS, 2005).

Em relação ao uso do protetor auditivo, durante a execução da atividade profissional, 22,3% não fariam o uso do equipamento. Este fato demonstra que existe uma insegurança por parte dos motoristas em utilizar o protetor, pois consideram que a audição é primordial para a atividade de dirigir. Esse assunto merece um destaque maior nessa discussão, por ser muito polemizado entre os profissionais da área de segurança do trabalho e da saúde.

Segundo o Código Nacional de Trânsito Brasileiro fica proibida a circulação com fones de ouvidos conforme a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, em seu artigo 252, mencionando que não se deve dirigir o veículo utilizando-se fones nos ouvidos conectados à aparelhagem sonora ou de telefone celular (BRASIL, 2008). Porém, de acordo com a NR 15 do Ministério do Trabalho (MTE), em caso de exposição ao ruído contínuo ou intermitente o limite máximo de tolerância a exposição não deve ultrapassar de 85 decibéis em uma jornada de trabalho de oito horas diárias. Nesse caso, o trabalhador precisa ter sua audição protegida, por ser uma atividade considerada insalubre (BRASIL, 1978).

Segundo Fernandes (2005), que coordenou um estudo com cinquenta e um profissionais de uma empresa de ônibus da capital paulista, apontou o diagnóstico de perdas auditivas em 64,7% dos participantes. Em quatro das linhas de percurso dos ônibus avaliadas nesse estudo, o ruído esteve sempre acima dos noventa decibéis, tendo como pico noventa e quatro decibéis ou o equivalente ao ruído provocado por alguns helicópteros.

O pesquisador acrescenta ainda que: “o uso de qualquer tipo de tampão poderia diminuir em vinte decibéis a exposição ao ruído para esses profissionais”. O resultado apontado no estudo permite visualizar que a solução para essa situação somente poderá ser real, quando as leis vigentes do Brasil estiverem de acordo com a realidade da exposição ao ruído nos grandes centros urbanos.

O que se preza atualmente são as medidas coletivas de segurança. No caso do ramo de transportes urbano e rodoviário, os quesitos que merecem atenção e melhoria são: o isolamento acústico do veículo, as regulagens, a troca de juntas, a manutenção do aperto das peças das latarias e a alteração do posicionamento do motor para parte traseira do veículo.

Um fato que chama atenção é a falta de conhecimento dos motoristas sobre os riscos de exposição ao ruído. Somente 24,5% já ouviram falar sobre a PAIR e 62,8%, nunca receberam informações sobre cuidados com audição seja através da mídia, cartaz ou folhetos.

Noventa e três (98,9 %) dos noventa e quatro motoristas entrevistados consideram importante a prevenção e o cuidado com a audição, porém relataram nunca terem participado de palestras sobre saúde auditiva.

Fornecer aos trabalhadores informações sobre o cuidado com a audição através de treinamentos pertinentes e elaborados sobre a temática é condicionante para a efetividade do PCA. Essa iniciativa foi evidenciada no estudo de Bramatti, Morata e Marques (2008) que desenvolveram ações educativas com enfoque positivo em trabalhadores de uma indústria frigorífica. O treinamento acarretou mudanças significativas, na percepção dos benefícios e de obstáculos de uma ação preventiva.

4.3 O PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA DA EMPRESA DE