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Programa Nacional do Livro Didático

2.3 A produção de textos nos documentos oficiais e no PNLD

2.3.3 Programa Nacional do Livro Didático

Consonante à perspectiva do texto como processo e, ao mesmo tempo, privilegiando o que é defendido nos documentos oficiais, o Programa Nacional do Livro Didático, doravante PNLD, ao aprovar uma obra, analisa o modo como o trabalho em torno da produção textual é proposto.

Na síntese do Guia de análise das obras, a produção de textos aparece da seguinte maneira PNLD (BRASIL, 2015, p. 22):

Todas as coleções do Guia apresentam uma proposta específica para o ensino- aprendizagem da produção de textos. Portanto, em nenhuma delas, as atividades se limitam a indicar um tema e a solicitar a escrita. Tanto as orientações do Manual do Professor quanto as atividades propostas aos alunos consideram a escrita como uma prática de linguagem socialmente situada. Em consequência, as funções da escrita, assim como os objetivos específicos da produção, o leitor pretendido e a circulação prevista para o texto produzido ou vêm explicitamente indicados, ou há, no encaminhamento das propostas, passos que conduzem o aluno a considerar esses elementos das condições de produção.

As avaliações realizadas pelo Ministério da Educação (MEC) para aprovação de livros didáticos distribuídos nas escolas públicas do país não permitem que as propostas de produção escrita ignorem o contexto de circulação social dos gêneros e, para tanto, as propostas devem buscar uma mimetização do contexto de circulação. Portanto, os materiais didáticos que apresentam gêneros do discurso de modo descontextualizado e simplista, sem espaço para a reflexão, dificilmente são aprovados pelo PNLD, pois não contribuem para a formação de escrita dos estudantes, como também previsto pelos pesquisadores da área.

A escola ainda é um lugar em que há entraves no posicionamento sobre como ela deve atuar: seja por uma postura mais libertária e progressista ou com um enfoque tecnicista e voltado à perspectiva neoliberal. Qualquer mudança em torno do currículo e dos materiais didáticos utilizados deve ser amplamente debatida, pois interfere na formação de estudantes de

conhecimentos, de compreensão crítica e intervenção na realidade e de participação social dos jovens, nos âmbitos da cidadania, do trabalho e dos estudos.” (BRASIL, 2018, p. 490).

todo o país e não pode ser realizada sem discussão, para que seja garantido o ambiente democrático em torno de um modelo de educação promotor de autonomia.

Cabe aos professores e à escola, inclusive como forma de resistência e ressignificação de valores sociais sobre si mesma, uma atitude de interlocução com os alunos no processo da escrita. Com isso, é possível manter uma aproximação contextualizada e propiciar o ensino/aprendizagem da escrita por meio de processos de coautoria. Ao pensarmos no processo de ensino-aprendizagem da escrita, uma série de fatores aparecem e interagem com as complexidades sociais: disputas ideológicas e, consequentemente, pelo poder. Geraldi (1995, p. 128) orienta:

Para mantermos uma coerência entre uma concepção de linguagem como interação e uma concepção de educação, esta nos conduz a uma mudança de atitude – enquanto professores – ante o aluno. Dele precisamos nos tornar interlocutores para, respeitando-lhe a palavra, agirmos como reais parceiros: concordando, discordando, acrescentando, questionando, perguntando etc. Note-se que, agora, a avaliação está se aproximando de outro sentido: aquele que apontamos em relação ao uso que efetivamente, fora da escola, se faz da modalidade escrita.

Para que nos tornemos, como professores, interlocutores de nossos alunos, precisamos de um olhar flexível. A adolescência é uma fase bastante complexa, já que envolve descobertas, construções identitárias e novidades que ainda não fazem parte do universo de escolhas dos jovens. Nessa fase da vida, eles ainda são dependentes dos responsáveis legais e estão iniciando um processo de construção de si no mundo. A partir dessa premissa, a escola não é um ambiente neutro e distante das discussões acerca da descoberta do mundo dos adolescentes e, por isso, deve permitir que as questões da juventude possam ser discutidas também nos textos. A proposição de uma formação para a autonomia passa pelo diálogo franco, aberto e pautado pelo conhecimento acadêmico, relacionado ao contexto dos estudantes, propiciando situações de interação.

É perceptível que, na sociedade contemporânea, como já foi apresentado, cada vez mais, a comunicação e as questões polêmicas/tabus são propiciadas pelas redes. Em outras palavras, a internet é um espaço influente e que também movimenta a juventude.

Para Garbin (2003, p. 11), a internet

(...) converteu-se num “laboratório” para a realização de experiências com as construções e reconstruções do “eu” na vida pós-moderna, uma vez que, na realidade virtual, de certa forma moldamo-nos e criamo-nos a nós mesmos.

Por isso, durante a análise, também serão observadas as questões que possam remeter aos novos e multiletramentos, no mundo da Web 2.0, mesmo que a proposta desta dissertação não tenha a perspectiva de analisar as novas tecnologias na educação, pois as reconhece como ponto importante e decisivo a ser trabalhado na escola, de modo a enriquecer as práticas de sala de aula. A partir da observação e da discussão acerca dos novos espaços de atuação e inserção dos jovens estudantes na cultura digital, é possível entender e refletir sobre o que poderiam ser outras formas de protagonismo juvenil ligado às práticas críticas de letramento.

No Guia do PNLD 2018 – Ensino Médio (BRASIL, 2018), com relação à produção de textos consta que

(...) foram considerados os aspectos voltados para o aprimoramento das práticas de escrita dos estudantes, entre os quais, a atenção aos diferentes letramentos; aos contextos de produção da escrita; aos processos de planejamento, escrita e reescrita, em função da situação comunicativa e dos objetivos do texto; às diferentes linguagens envolvidas na produção de textos multimodais; às orientações quanto aos usos das modalidades mais ou menos formais da língua relacionadas às situações comunicativas; entre outros. Ainda sobre as propostas de produção escrita nos livros avaliados pelo MEC, o Guia do

PNLD 2018 – – Ensino Médio esclarece que todas as coleções aprovadas apresentam uma

proposta específica para o ensino-aprendizagem de produção textual. Com isso, nenhum livro reduz o trabalho à apresentação do tema e solicitação da escrita. Outra preocupação é que as práticas sejam socialmente situadas, para que possa ser reduzida a artificialidade do ensino.

Segundo o Edital do PNLD de 2018, a área de Linguagens é estratégica nos desafios de enfrentamento próprios da escola e pelo caráter de suas perspectivas interdisciplinares. Assim, os livros do PNLD devem contemplar significativamente as formas de expressão e os gêneros mais associados às culturas juvenis; devem explorar os gêneros próprios das esferas públicas e os mais frequentes no mundo do trabalho; dever contemplar as preocupações éticas do universo juvenil com subsídio de textos opinativos, argumentativos e expositivos; devem considerar os novos suportes e tecnologias de escrita nas (re)construções de sentidos nos textos; devem abordar os modos de leitura e escrita dos textos multimodais e promover os diferentes letramentos na leitura e produção.

Um fator que propicia a redução de artificialidades nos livros didáticos é a reflexão sobre as funções da escrita, os objetivos da produção, o leitor pretendido e a circulação possível para texto pertencente a cada gênero discursivo. Além do que, as coleções trabalham com a nomeação e definição do gênero discursivo, o que confere ao trabalho subsídios para a

produção, pois também fomentam a leitura de textos que estão articulados ao desdobramento temático.

Para aproximar os estudantes de um contexto real de circulação das produções escritas, os livros trabalham com a dimensão das diferentes etapas do processo, ou seja, é possível voltar ao texto mais de uma vez e aprimorá-lo.

Ao observar a abordagem da produção textual nos critérios de avaliação do PNLD, nota- se que a noção de letramentos colabora para a aproximação das práticas sociais relacionadas aos textos e constata-se a possibilidade de trabalho na escola relacionado às diferentes linguagens. Nesse sentido, as propostas encontradas nos livros distribuídos pelo Governo Federal, em maior ou menor escala, estão relacionadas à diversidade linguística e social que caracteriza a sociedade brasileira e aproxima os estudantes de contextos mais reais de produção. No próximo capítulo, concluída aqui a parte de fundamentação teórica, apresentaremos o desenho metodológico desta pesquisa.

CAPÍTULO 3

Metodologia da pesquisa

Após a apresentação dos pressupostos teóricos relacionados às práticas de produção de textos escritos que regem este estudo, passo a discorrer acerca do percurso metodológico que orientou esta dissertação, inserida em uma perspectiva crítica dos estudos da linguagem. Após o desenho dos objetivos geral e específicos e delimitadas as perguntas de pesquisa, foi possível analisar os dados gerados. Com isso, depois de contextualizar esta pesquisa no campo da Linguística Aplicada, exponho os modos de seleção do corpus e a geração de dados que foram representativos para o escopo da pesquisa.