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2.2 Os Programas de Transferência Condicionada de Renda na América

2.2.1 O Programa Oportunidades (México)

O México foi o primeiro país da América Latina a implantar um programa de transferência de renda para fazer frente ao combate a pobreza, fortalecendo a oferta de serviços de saúde e educação. O programa Oportunidades, criado em 1997 com o nome Progresa (programa de educação, saúde e nutrição), com apoio dos governos estaduais e municipais, passou a ser a principal ferramenta para redução da extrema pobreza nesse país. Além desse apoio, para concretização do programa, o governo federal conta com a participação da Secretaria de Educação Pública, da Secretaria de Saúde e da Secretaria do Desenvolvimento Social. Segundo Soares (2007), até pouco tempo esse era o programa de transferência de renda condicionada mais conhecido internacionalmente, servindo de fonte de inspiração para a criação de outros PTCRs na América Latina.

O Oportunidades foi criado com o objetivo de melhorar os rendimentos das famílias mais pobres, melhorar sua condição de vida e proporcionar novas oportunidades de desenvolvimento das pessoas, especialmente, crianças e jovens. Ou seja, melhorar o desenvolvimento humano da população que se encontrava na linha de extrema pobreza. Inicialmente, o programa cobria 300 mil famílias, expandindo-se rapidamente. No ano seguinte esse número passou para 1,6 milhão

e em 2000, cobria 2,5 milhões de famílias, alcançando cinco milhões de famílias em 2005, em 86 mil localidades (SEDESOL, 2012).

No início, o programa foi concebido para atender as famílias pobres localizadas em zonas rurais, com infraestrutura em saúde e educação. A existência dessa infraestrutura é fundamental, segundo Soares (2007) para a exigência do cumprimento da contrapartida. Em 2001, o programa foi estendido a áreas semiurbanas com até 15 mil habitantes e, no ano seguinte foi expandido para as áreas urbanas, passando a cobrir todo o país. Desta forma, por meio de transferências de renda, garante às famílias extremamente pobres, um suprimento adequado em educação, saúde e alimentação e, permite reforçar o desenvolvimento humano e social.

Para identificar os beneficiários do programa, o governo mexicano faz uma análise criteriosa em três estágios. O primeiro passo, de acordo com Soares (2007) é a classificação do município conforme a análise do índice de marginalidade econômica e social8 da região. A segunda etapa é a escolha dos domicílios dentro dos municípios mais pobres através da análise dos dados do censo local. Nos municípios com elevado índice de marginalidade, 90% dos domicílios são selecionados para ingressar no programa. No entanto, em domicílios com baixo índice de marginalidade, somente 6% dos domicílios são selecionados para participar do programa. O terceiro estágio é a análise dos nomes selecionados, sendo discutido junto à comunidade se o programa deve inserir ou não determinada família. Os três estágios de seleção dos beneficiários dura em torno de cinco meses, tempo esse que compreende desde o pedido inicial de ingresso no programa até o recebimento do benefício.

Assim, as famílias beneficiárias estão no programa por serem classificadas como pessoas em condições de extrema pobreza e vulneráveis, e para sua permanência no mesmo, devem atender ao cumprimento de determinadas responsabilidades tais como: assistência a serviços regulares de saúde e educação.

8 O índice de marginalidade econômica e social segundo Cortés e Vargas (2011), é uma medida que descreve a intensidade de privação que afeta a população em determinado município como resultado da falta de acesso à educação e saneamento básico, habitação inadequada e a falta de infraestrutura adequada. O índice é calculado pelo Consejo Nacional de Población (CONAPO), suas informações são valiosas para orientar política de desenvolvimento social e tem sido amplamente utilizado no México para selecionar as localidades que deverão receber recursos federais.

Devido a esse sistema, foi possível concentrar esforços e ampliar a cobertura do programa atendendo um número maior de famílias com menos oportunidades de desenvolvimento humano. Por esse motivo, o programa é reconhecido internacionalmente como uma das melhores práticas em termos de política social, assim como outros programas da América do Sul, como o Brasil.

O repasse financeiro consiste em dois componentes condicionados e um incondicional. O benefício incondicional é para a população idosa em situação de vulnerabilidade, as famílias recebem $ 250 pesos (US$ 19)9 por idoso. A outra transferência é a de $ 189 pesos (US$ 14) para a compra de alimentos, que exige em contrapartida a participação da mãe em palestras sobre nutrição e saúde. Existe ainda, a bolsa de estudos destinada a crianças e adolescentes, cujo valor varia entre $ 120 a $ 760 pesos (US$ 9 a US$ 58) de acordo com o nível educacional atingido e o gênero dos alunos, as meninas recebem mais que os meninos. Há ainda, um limite de $ 1855 pesos (US$ 141) por família para o acúmulo de bolsas. As condições de recebimento das bolsas estão condicionadas a frequência escolar que é de 85% dos dias letivos e visitas regulares aos postos de saúde.

Os benefícios monetários são transferidos bimestralmente e entregue a mulher chefe de família ou para o cônjuge da mesma. Os benefícios aos idosos começaram a partir de 2005 e as transferências são recebidas pelo próprio idoso. Além das transferências, segundo Boyadijan (2009) o programa conta também com uma poupança de acumulação de pontos que o estudante conquista durante o segundo ciclo secundário, sendo que ao final desse ciclo o aluno pode usar esta poupança para ingressar no nível superior, adquirir um plano de saúde, reformar a casa ou montar seu próprio negócio.

O Oportunidades procura atender as necessidades das famílias mais pobres atenuando as carências presentes em diferentes áreas do bem estar. Além de aliviar as consequências imediatas da pobreza, faz a ligação entre a assistência social com objetivos mais amplos de desenvolvimento humano, como capacitação, acumulação de direitos dos cidadãos e a acumulação de capital humano.

Atualmente, de acordo com a Secretaria de Desarrollo Social (SEDESOL, 2012), o programa beneficia 6,5 milhões de famílias em todos os estados do país,

cobrindo 100% dos municípios, beneficiando cerca de 187 mil localidades. Isto é, quase um em cada três mexicanos, recebem as transferências monetárias. Ademais, também oferece mais de seis milhões de bolsas de estudo, permitindo que crianças e adolescentes possam alcançar níveis mais elevados de educação e assim, adquirir expectativas maiores de desenvolvimento humano e bem estar social.

De acordo com especialistas, os resultados do programa são bastante animadores. Crianças e jovens beneficiários frequentam regularmente a escola, possuem uma dieta mais equilibrada e nutritiva, com assistência médica regular e mais eficiente. Já as mulheres e os idosos têm melhor qualidade de vida, com perspectiva de um futuro melhor (SEDESOL, p. 121, 2009). Dessa forma, no curto prazo, os recursos melhoram a renda e as condições socioeconômicas das famílias mais pobres, já no médio prazo, desenvolve a capacidade da população, estimulando a permanência na escola e a visita regular a unidades de saúde, com o propósito de promover as capacidades e ampliar as alternativas para alcançar níveis mais elevados de bem estar.

Ao longo dos anos o programa tem apresentado impactos positivos sobre a população alvo, com resultados significativos nas áreas de desenvolvimento humano e bem estar. Em termos de saúde e alimentação, aumentou o número de consultas médicas preventivas em adultos entre 19 e 49 anos tanto nas áreas urbanas quanto rurais. Os resultados mostram uma redução da mortalidade materna e infantil em 11% e 2%, respectivamente, em todo o território nacional. Houve redução de doenças como a anemia em crianças de até 2 anos nas áreas rurais e urbanas e redução de cerca de 20% nos dias de doença em crianças de 0 a 5 anos nas áreas rurais. Observa-se, também, mudanças no comportamento das famílias beneficiárias do programa tais como a igualdade da frequência escolar entre homens e mulheres e, expectativa mais positiva dos pais em relação à educação das filhas (SEDESOL, 2009, p.143). Em termos de focalização, a partir de 2010, o Oportunidades passou a dar prioridade a famílias com integrantes menores de 21 anos de idade e mulheres em idade reprodutiva e com menores estimativas de rendimentos.

Em 2012, os recursos autorizados para o programa foram cerca de 70 bilhões de pesos (cerca de US$ 5,32 bilhões)10, equivalentes a um investimento da ordem

de 200 milhões de pesos ao dia, sendo o custo operacional cerca de cinco centavos de pesos investidos, incluindo o custo de transferências em dinheiro para educação e alimentação (SEDESOL, 2012). Dessa maneira, o programa Oportunidades está contribuindo para quebrar o ciclo intergeracional de pobreza. Isto é, os filhos têm condições de vida melhores do que seus pais, com mais chances de promover as habilidades de educação, saúde e alimentação.

A situação do México se assemelha em diversos aspectos com os demais países da América Latina, principalmente o Brasil. Instituições como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Comissão Econômica para a América Latina tem qualificado os dois países como modelo de política social, sendo exemplos a ser seguidos por outros países em seus esforços para combater a fome e a pobreza.