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Proibição de Abuso de Poderes Processuais

P ROCESSO C IVIL B RASILEIRO

3) Proibição de Abuso de Poderes Processuais

Menezes Cordeiro afirma que a figura da proibição de abuso de poderes processuais tem conteúdo residual e cita como exemplo os casos de chicana e atos protelatórios injustificados, que acabam por estender o curso regular do processo.

Pode-se enquadrar como condutas abrangidas por este tópico aquelas através das quais a parte se utiliza visando unicamente protelar que seja proferida decisão em certo processo judicial, ou ainda fornecer elementos com vistas a provocar equívoco com intuito de obter provimento favorável. Nestes casos, há a atuação da boa-fé com proibição de tais comportamentos (inclusive com imposição de multa) se verificado que o intuito destas medidas restringe-se ao prejuízo ou emulação da parte contrária, a fim de causar tumulto à marcha processual.

Não se pode admitir que o processo seja utilizado como meio para obstar a realização do direito material ou para procrastinar ao máximo a entrega da tutela jurisdicional, e é exatamente nesta esteira que se encontra o impedimento imposto pela boa-fé.

Gualberto Lucas Sosa afirma categoricamente que a idéia do abuso de direito processual está intimamente ligada às próprias normas de justiça processual.

Acrescenta em seguida: “a proposito de ello viene a nuestro recuerdo lo que puede ocurrir con los actos de postulación, que suelen encerrar articulaciones manifiestamente improcedentes, obstaculizantes o retardatárias, como cuando se falsean los hechos, o se desconocen mañosamente documentos,o se usa indebidamente de la demanda o se incurre em excesos en el ejercicio de la defensa, o falsificaciones de escritos, retención indebida del expediente, o sustracción del mismo”.130

Como bem argumentado pelo jurista acima, o direito de defesa ou de petição não pode servir de justificativa para o cometimento de abusos, cujo propósito único é elidir ou protelar a atuação estatal na resolução dos conflitos. Ou seja, se a manifestação das partes é garantia emanada dos princípios do contraditório da ampla defesa, por outro lado, exige-se que tal atuação seja ética, observando-se os objetivos estatais da jurisdição.131 O direito de agir no processo não pode ser equiparado ao direito de agir de forma leviana e maldosa.

Esta é a importância da atuação da boa-fé no processo. O abuso processual pode ser entendido também como a tentativa de procrastinação injustificável da tramitação do processo, e esta demora ocasiona prejuízos não só ao autor, mas também à sociedade como um todo, pois o alongamento da tramitação do processo provoca, em seu contexto final, atraso na administração da justiça.132

O processo deve proporcionar aos litigantes igualdade de utilização de todos os meios processuais possíveis, desde que estes não desbordem à chicana, ao ardil daqueles que se socorrem dele como meio de arrastar ou mesmo inviabilizar a justiça.

Nossos tribunais vêm se posicionando neste sentido.133

130 SOSA, Gualberto Lucas. “Abuso de los derechos procesales”, in Abuso dos Direitos Processuais,

coord. José Carlos Barbosa Moreira, Rio de Janeiro, Forense, 2000, p. 37.

131 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro. “A garantia do contraditório”, in Revista Forense, n.º 346, 1999,

p. 16.

132 LIMA, Patrícia Carla de Deus. op. cit., p. 103.

133 “EXECUÇÃO FISCAL - SÓCIO-GERENTE FALECIDO - ATO ILÍCITO – NÃO APURAÇÃO -

RESPONSABILIDADE INEXISTENTE - EXECUÇÃO CONTRA FILHAS DO SÓCIO FALECIDO - ABUSO PROCESSUAL. I - Não se pode atribuir a responsabilidade substitutiva para sócios, diretores ou gerentes, revista no art. 135, III, do CTN, sem que seja antes apurada a prática de ato ou

Luiz Sergio Fernandes de Souza defende que o abuso do direito de demanda ocupa posição de destaque na legislação “porque conquanto a idéia de efetividade do processo esteja comprometida com a universalização da justiça, com o desenvolvimento de uma legislação mais inclusiva, há também um apego à noção de ‘utilidade’”. Acrescentando mais tarde que o judiciário não pode ser acionado sem que haja um ‘resultado socialmente útil’.134

No entender de Jairo Parra Quijano, o uso correto dos instrumentos processuais tende a possibilitar uma sentença justa, dentro do menor tempo possível.135 Estariam, assim, atrelados à consecução do bem da vida pleiteado e à eficiência do aparato judiciário utilizado para este fim.

fato eivado de excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos. II - Não ocorre a substituição tributária pela simples circunstância de a sociedade achar-se em débito para com o fisco. III - Não é responsável tributário pelas dívidas da sociedade o sócio-gerente que transferiu regularmente suas cotas a terceiros, continuando, com estes, a empresa. IV - A responsabilidade tributária solidária prevista nos Artigos 134 e 135, III alcança o sócio-gerente que liquidou irregularmente a sociedade limitada. O sócio-gerente responde por ser gerente, não por ser sócio. Ele responde, não pela circunstância de a sociedade estar em débito, mas por haver dissolvido irregularmente a pessoa jurídica. V - Executar, com fundamento em não demonstrada responsabilidade solidária as filhas do suposto devedor, já falecido é abuso processual, que tangencia os limites do disparate” (STJ, 1ª Turma, RESP 382.469-RS, rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, DJU 24.2.2003, p. 190).

“PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. REVISIONAL. CONTRATO BANCÁRIO. DESCONTO EM FOLHA. EMBARGOS REJEITADOS COM IMPOSIÇÃO DE MULTA. I – Tendo o acórdão reconhecido a existência de cláusula autorizando o desconto em folha, torna-se inviável o acolhimento da pretensão da embargante, ante o óbice das Súmulas 05 e 07 do Superior Tribunal de Justiça. II - Os embargos de declaração reexpõem e repisam matérias já ponderadas quando de julgamento anteriores, revelando apenas insistência em sustentar contra orientação já firmada pelo Tribunal, como se a parte embargante, e não o Tribunal, fosse o intérprete da lei, instituído pela Constituição Federal, cujos julgamentos não há como superar devido à pura insistência irrealista da parte recorrente, a qual, a persistir a recalcitrância, acarretará, a sanção do art. 538, par. ún., do Código de Processo Civil e outras providências de responsabilização pelo abuso processual. III - Embargos de Declaração rejeitados, com observação e determinação de baixa imediata dos autos” (STJ, 3ª Turma, EDcl nos EDcl no AgRg nos EDcl no REsp 828.804-RS, rel. Ministro Sidnei Beneti, DJU 3.11.2008).

134 SOUZA, Luiz Sergio Fernandes de. “Abuso de direito processual: uma teoria pragmática”, in Revista dos

Tribunais, São Paulo, 2005, p. 321.

135 QUIJANO, Jairo Parra. “Abuso de los derechos procesales”, in Abuso dos Direitos Processuais,