• Nenhum resultado encontrado

3 ABORDAGEM ERGONÔMICA PARA A CONCEPÇÃO DE

3.3 O PROJETO CENTRADO NO USUÁRIO

Design centrado no usuário, segundo Czaja (1997), representa uma abordagem

em que fatores humanos são a preocupação central dentro do processo de design. Essa abordagem propõe especificações gerais para design de sistemas, tais como: o sistema deve maximizar o envolvimento do usuário no nível da tarefa, o sistema deve ser projetado para dar apoio ao trabalhador cooperativo e permitir que os usuários mantenham o controle das operações e possam sugerir o processo para incorporar essas especificações ao design.

Apresenta como ergonomia participativa a aplicação dos princípios e conceitos ergonômicos ao processo de design por indivíduos que são parte do grupo de trabalho e usuários do sistema, assistidos por especialistas de ergonomia, ressaltando os benefícios

da participação do usuário, descrevendo que os mesmos não devem ser menosprezados, devendo ser um aspecto fundamental no design do sistema. Acrescenta, assim como Axtell et al (1997), que métodos têm sido desenvolvidos para maximizar o valor da participação do usuário e que o objetivo geral do projeto participativo é capitalizar o conhecimento dos usuários e incorporar as suas necessidades e preocupações ao processo de design.

Para Dray (2001), o design centrado no usuário fornece uma visão abrangente de um processo de design alternativo envolvendo metodologias, práticas e atividades diferentes, apropriadas às diferentes fases do desenvolvimento do sistema.

Segundo Damodaran (1996), o campo de design participativo é representado por uma vasta literatura envolvendo diferentes disciplinas acadêmicas e cada vez se ampliando em termos multinacionais.

O conceito de design participativo, para a autora acima referenciada, é imbuído do comprometimento ao ideal de democracia em organizações de trabalho e à noção de que a força do trabalho deve ser de participantes ativos em todas as decisões que os afetam, inclusive a sócio-técnica. Acrescenta que esse termo algumas vezes, em contexto tecnológico, é usado como sinônimo do termo envolvimento do usuário, embora, para alguns profissionais, este represente objetivo menor, como para Muller e Kuhn (1993) e Clement e Van Den Besselaar (1993) que descrevem que a participação direta e efetiva do trabalhador não é mero envolvimento, mas muito mais amplo, mais político.

Damodaran (1996) descreve, a partir de suas experiências, que uma abordagem estratégica altamente integrada é essencial para o sucesso do processo participativo, além da compreensão pelos usuários em relação aos objetivos a serem alcançados no processo em que estão envolvidos, inclusive clareza em relação ao seu papel no processo. Apresenta três formas de envolvimento do usuário, evoluindo de informativo para participativo, passando pelo consultivo (fig.1), decorrente das tentativas de envolver cada vez mais usuários e com maior influência.

FIGURA 1 - Formas de envolvimento apresentadas por Damodaran (1996)

A mesma autora descreve os seguintes benefícios do envolvimento do usuário: a) qualidade melhorada do sistema a partir de necessidades mais precisas do

usuário;

b) características de sistemas dispendiosos que o usuário não quer ou não pode usar são evitadas;

c) níveis aperfeiçoados de aceitação do sistema;

d) maior compreensão do sistema pelo usuário resultando em um uso mais efetivo;

e) participação maior na tomada de decisões na organização.

Segundo Damodaran (1996), a principal premissa da maioria das abordagens de

design social, se não todas, é que sem efetivo envolvimento do usuário em todos os

estágios de planejamento e design, a organização está armazenando problemas para o futuro.

Para Muller, Haslawanter e Dayton (1997), há diversidade de posições e princípios referentes a design participativo e não há uma definição que satisfaça todos os pesquisadores e profissionais no campo em questão, mas também ressaltam a importância da participação do usuário em todas as atividades do ciclo de vida do

software, não apenas como fonte de dados para ser questionado ou observado enquanto

usando o mesmo.

Esses autores apresentam três motivações diferentes para abordagem participativa:

a) democracia;

b) eficiência, perícia e qualidade;

c) comprometimento e envolvimento (buy-in). Informativo

(usuários fornecem e/ou recebem informações)

Consultivo

(usuários comentam sobre um serviço ou série de

procedimentos pré-definidos)

Participativo

(usuários influenciam decisões relacionadas ao sistema como um todo)

Democracia é um tema que foi usado com clareza na formulação original escandinávia de design participativo, presente até hoje, inclusive em práticas não escandinávias em que o usuário pode influenciar a tomada de decisões. Já a segunda motivação surgiu da prática norte americana, na qual usuários colaboram no design em vez de meramente fornecer informações para outros designers ou fazer uma avaliação de um design já pronto e se envolvem já no início do processo. Nesse caso, a qualidade do design e o sistema resultante são aperfeiçoados através da melhor compreensão dos trabalhos dos usuários e da melhor combinação das experiências diversificadas e necessárias trazidas por vários participantes. O comprometimento e o envolvimento ocorrem na área de desenvolvimento organizacional, cuja visão indica ser mais provável que um sistema seja aceito por seus usuários se estes (downstream) estiverem envolvidos em certas atividades formativas dos que gerenciam a instituição (upstream).

O usuário tem prova de valor nas atividades do ciclo de vida do software, porque projeto participativo significa a combinação de conhecimentos diferentes e porque um trabalho democrático em nível de projeto tem o potencial de aperfeiçoar o conhecimento e melhorar a qualidade do produto.

Análises recentes da condição da engenharia de informação (Muller, Haslawanter e Dayton, 1997) e IHC (Strong, apud Muller, Haslawanter e Dayton, 1997) concordam sobre a necessidade de se introduzirem mais práticas participativas, as quais, no ciclo de vida de software, caracterizam a expansão dos princípios e práticas democráticas no ambiente de trabalho.

Os primeiros trabalhos realizados na Escandinávia foram recentemente complementados por trabalhos em outros países e há muitas contribuições importantes na teoria, pesquisa, prática, avaliação e análises.

Muller, Haslawanter e Dayton (1997) colocam também a invalidade da prática participativa quando os usuários abandonam seu conhecimento orientado ao trabalho sem receber um papel de tomada de decisão no projeto e quando a participação se torna exploração, objetivação, manipulação ou ilusão.

Considerando essas colocações, destaca-se que, para o desenvolvimento de um sistema com a participação do usuário, deve-se estar conscientemente certo da prática adotada, escolhendo técnicas que privilegiem a ética e a dimensão política da mesma.

No processo de concepção e desenvolvimento do trabalho aqui apresentado, o usuário não foi membro efetivo da equipe, mas foi participativo, influenciando nas decisões relativas ao sistema como um todo, além de informativo e consultivo, contribuindo na organização e validação das propostas para o sistema e para a sua interface, chamado a participar em todas as fases do desenvolvimento do software, mantendo-se sempre presente, quando não em ação, no foco de atenção dos projetistas.