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CAPÍTULO II A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA COOPERAÇÃO ENTRE OS

2.5. O Projeto do Comitê Econômico e Social das Nações Unidas (CNUCED)

Foi com a criação da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (CNUCED) - (United Nation Conference on Trade and Development – UNCTAD), em 1964, e da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI), (United Nations Industrial Development Organization – UNIDO), em 1966, que se iniciaram os questionamentos sobre o grau de influência que as teorias política e econômica exerceriam sobre as desigualdades entre economias de diversos países considerados dependentes tanto do capital externo

quanto da tecnologia dos países desenvolvidos86.

86 A Teoria da Dependência surgiu nos anos 60 para repensar o modelo cepalino e oferecer uma alternativa de

interpretação da dinâmica social da América Latina. Portadora de um método analítico mais sofisticado, ela suplantou com facilidade o estagnacionismo que havia sido abraçado pelos remanescentes do nacional desenvolvimentismo e transformou-se na crítica mais consistente ao desenvolvimento autoritário. Para abordar a questão da dependência, é preciso mencionar a contribuição da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), entidade que gerou, por intermédio de seus economistas, novas concepções sobre o desenvolvimento da América Latina. Escreveu Fernando Henrique Cardoso: “Para os defensores ardorosos de que a ‘Lógica do mercado’ é o melhor mecanismo para promover o verdadeiro desenvolvimento, a CEPAL sempre representou o cavalo de Tróia do esquerdismo. Por trás das prudentes recomendações sobre a necessidade da intervenção corretora do Estado, da defesa de políticas protecionistas, da insistência sobre o caráter estrutural da inflação latino-americana etc., os liberais ortodoxos sempre viram o risco de um socialismo burocrático”. (Cf. CARDOSO, Fernando Henrique. As Idéias e seu Lugar, op.cit., p. 37.)

A UNCTAD foi criada para ser um fórum no qual os Estados- membros podem deliberar acerca de questões de comércio e desenvolvimento. O principal objetivo da UNCTAD é o de ajudar os países em desenvolvimento a potencializar as oportunidades de negociação de seus produtos, investimentos e desenvolvimento, favorecendo a expansão do comércio internacional como um todo.

Por sua vez, o interesse da UNIDO sempre foi o desenvolvimento industrial naqueles países. Os limites de atuação e responsabilidade dessas organizações internacionais, ao contrário dos Estados, são mais restritos, uma vez que elas não possuem competências gerais, nos termos dos tratados que as instituíram, mas apenas competências específicas.

Dessa forma, tais organizações se guiam pelo princípio da especialidade que recebem dos próprios Estados que as criaram.

Vale lembrar que, com a elaboração da Carta das Nações Unidas87,

o desenvolvimento econômico, a partir da década de 50, não era mais o principal problema da comunidade internacional, mas, sim, a manutenção da paz no plano internacional.

Celso Lafer disserta sobre a importância da Carta das Nações Unidas ao tratar da paz entre os Estados:

87 A Carta das Nações Unidas foi assinada em São Francisco (Estados Unidos), em 26 de junho de

1945, após o término da Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional, entrando em vigor em 24 de outubro daquele ano. O Estatuto da Corte Internacional de Justiça faz parte integrante da Carta.

É por isso que, no sistema da Carta das Nações Unidas, as tarefas de manutenção da paz cabem ao Conselho de Segurança, no qual têm assento permanente cinco países, que foram tidos, na Conferência de São Francisco, como grandes potências. Neste sentido, a Carta é depositária do repertório de soluções do Concerto Europeu, que remonta ao Congresso de Viena, e que se traduzia no princípio de que só a ação conjunta das grandes potências é capaz

de assegurar a ordem na vida internacional88

.

A partir da década de 60, diante da nova ordem universal, instalou- se a procura pelos investimentos, visando implementar a industrialização interna de cada país em desenvolvimento. Devido a tais investimentos, vários desses países passaram a ter considerável dependência econômica dos países desenvolvidos, principalmente no tocante aos financiamentos de capital e transferência de tecnologia propiciada por eles.

Assim, o fenômeno da dependência aos países desenvolvidos fez surgir a premência do crescimento econômico interno e a busca de atuação no comércio internacional, como formas de participação ativa nas negociações comerciais multilaterais, a fim de conciliar os interesses entre os Estados.

A respeito deste fenômeno, ensina Celso Lafer:

A distribuição assimétrica do poder entre os Estados tem levado, historicamente, a uma certa relação entre ordem e poder no sistema internacional, graças à qual a ação conjunta ou a rivalidade de alguns países – as grandes potências – criam e estruturam, no plano mundial, uma determinada ordem, ou seja, um padrão previsível de relações89

.

Os países em desenvolvimento tornaram-se o tema central da ONU. Foram criados fóruns de discussão visando alcançar o equilíbrio no cenário do

88 LAFER, Celso. Paradoxos e Possibilidades, op. cit., p. 98.

mercado mundial. A cooperação internacional e a revisão das regras derivadas dos acordos do GATT passaram a ser vistas como uma força organizada e dinâmica para o desenvolvimento econômico e a liberalização do comércio entre as nações.

As décadas de 60 e 70 representaram o período de concentração de esforços em busca de relações comerciais mais equilibradas entre os diversos países em desenvolvimento que desejavam sua inserção no comércio mundial. As tratativas para a ocorrência das políticas de desenvolvimento econômico, no âmbito do comércio internacional dos países menos favorecidos, tiveram início com a Declaração e Plano de Ação para o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional.

Sobre a Nova Ordem Econômica Internacional, Maria Garcia assevera:

Novas idéias percorrem hoje o direito internacional: a Nova Ordem Econômica Internacional – Noei, criada em 1955, a partir da Assembléia Geral das Nações Unidas, que decidiu criar a chamada - Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, um foro de propagação de idéias do Terceiro Mundo, servindo de contraponto ao GATT (...) visa Noei a atender

aos países pobres e eliminar o subdesenvolvimento90

.

A Nova Ordem Econômica Internacional91 procurou avançar no

tocante aos interesses político-econômicos dos países em desenvolvimento,

90 GARCIA, Maria. A Ordem Econômica: remessa de lucros e a Lei 4.131/62. O Governo Goulart e o

relato de Darcy Ribeiro. Revista de Direto Constitucional e Internacional, IBDC, São Paulo, p. 183, Ano 16, abril-junho 2008.

91 A estruturação da Nova Ordem Econômica Internacional foi tomando forma a partir,

fundamentalmente, da Conferência de Bretton Woods, realizada entre junho e agosto de 1944, ou seja, antes mesmo do fim efetivo da guerra. Ademais, as bases políticas para o estabelecimento de uma nova "confraria entre as nações" foram lançadas em Dumbarton Oaks (EUA), em agosto de 1944, resultando na criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em abril de 1945, por meio da Carta de São Francisco. Por fim, em Ialta (Criméia) , em fevereiro de 1945, e em Potsdam (Alemanha), entre julho e agosto do mesmo ano, foram esboçadas as linhas do contorno geopolítico que passaria a dividir o mundo de forma mais clara a partir de 1947. Assim, em agosto de 1941, o presidente americano, Franklin D. Roosevelt, e o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill assinaram a Carta do Atlântico (Atlantic Charter), "documento fundador" dos princípios que viriam a nortear a reconstrução da ordem internacional na segunda metade do século XX.

abordando questões específicas, tais como: a) mudanças na base jurídico-conceitual do chamado sistema internacional de propriedade industrial, do qual deriva o regime de propriedade da tecnologia; b) adoção de normas universais que garantam o princípio da soberania e da igualdade entre os Estados, especialmente para regular as transferências de tecnologia; c) regras disciplinadoras da concorrência no comércio internacional.