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CAPÍTULO II A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA COOPERAÇÃO ENTRE OS

2.4. Sistema jurídico da Organização Mundial do Comércio (OMC)

Como antes delineado, a Organização Mundial do Comércio (OMC) foi o resultado da oitava e última rodada de negociação do General Agreement on

Tariffs and Trade (GATT)81, na Rodada do Uruguai (1986-1994), que entrou em vigor

em 1° de janeiro de 199582.

Enquanto o GATT tinha seu foco principal no comércio de bens, a OMC, além de incorporar todos os acordos firmados no GATT, incluiu acordos sobre serviços e propriedade intelectual.

A partir de 2004, os membros da OMC fixaram, como diretrizes básicas para o avanço da Rodada Doha, a eliminação de subsídios, a reforma dos mecanismos de crédito oferecidos pelos países ricos à produção agrícola para exportação e para a produção doméstica, bem como o corte de tarifas de importação.

Sobre a finalidade e os objetivos que permearam a criação da OMC, ensina José Alexandre Altahyde Hage:

81 O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (em inglês, General Agreement on Tariffs and Trade, GATT)

foi estabelecido em 1947, tendo em vista harmonizar as políticas aduaneiras dos Estados signatários. Está na base da fundação da Organização Mundial de Comércio. É um conjunto de normas e concessões tarifárias, criado com a função de impulsionar a liberalização comercial e combater práticas protecionistas; e regular, provisoriamente, as relações comerciais internacionais. Após a Segunda Guerra Mundial, vários países decidiram regulamentar as relações econômicas internacionais, não só com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos, mas também por entenderem que os problemas econômicos influíam seriamente nas relações entre os Governos. Para regular aspectos financeiros e monetários, foram criados o Banco Mundial (BIRD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), e, no âmbito comercial, foi discutida a criação da Organização Internacional do Comércio (OIC), que funcionaria como uma agência especializada das Nações Unidas. Em 1946, visando impulsionar a liberalização comercial, combater práticas protecionistas adotadas desde a década de 30, vinte e três países, posteriormente denominados fundadores, iniciaram negociações tarifárias.

82 O Brasil é membro da OMC desde sua fundação. Os acordos da Rodada do Uruguai, que incluem

o Ato Constitutivo da OMC, entraram em vigor no Brasil em 1° de janeiro de 1995, em virtude do decreto presidencial n° 1.355, de 30 de dezembro de 1994, que sancionou o Decreto Legislativo n° 30, de 15 de dezembro de 1999. Sendo membro desta organização, o Estado brasileiro teve de adequar seu ordenamento interno a fim de não possuir regras contrárias aos dispositivos da OMC.

A OMC foi concebida com o propósito de firmar o comércio internacional sob o signo da democracia nas relações internacionais, aproveitando o aspecto positivo que surgiria após a Guerra Fria. Em outras palavras, fora pensada com o intuito de fazer com que as divergências entre os diversos Estados nacionais não fossem reduzidas à pura prática da “política do poder”; política baseada na coerção e na violência “legitimada” pela falta de um ente superior, um superestado, como seria de natural tendência nos conflitos entre os países industrializados, do hemisfério norte, e os produtores de

“commodities” que formam a África, Ásia e América Latina83

.

A OMC tem funções administrativas amplamente estabelecidas pelos países signatários. Consubstancia-se em um foro de negociações para solucionar litígios comerciais, supervisionar as políticas comerciais de seus Estados- membros e proporcionar assistência eficaz para a liberalização do comércio exterior dos países em desenvolvimento.

A OMC possui um órgão específico para solucionar controvérsias, denominado Órgão de Solução de Controvérsias (OSC). Foi criado para substituir o antigo Conselho do GATT. Ele é o responsável por julgar os litígios entre os Estados-membros, apresentando recomendações e sugestões em busca da solução pacífica das controvérsias. Tais recomendações e sugestões são indicadas por grupos especiais ou pelo Órgão de Apelação, dependendo do caso concreto.

O OSC é formado pelo Conselho Geral da OMC e composto por representantes permanentes de todos os membros da organização, dentre os quais é escolhido um presidente.

83 HAGE, José Alexandre Altahyde. Posturas Racionalistas no Direito Econômico Internacional. O

espírito de cooperação pela via do multilateralismo. Revista de Direito Constitucional e Internacional. Ano 13, outubro-dezembro, n.53, Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, São Paulo: Editora RT, 2005, p. 297.

São encaminhadas ao OSC todas as notificações de consulta sobre litígios. Cabe a ele constituir grupos especiais com a finalidade de avaliar as conclusões e recomendações destes e do Órgão de Apelação.

Além disso, a Organização possui a função de acompanhar a aplicação das recomendações pelos Estados-membros, em conformidade com as regras da OMC. Dependendo do caso, tem competência para autorizar a suspensão de concessões ou outras obrigações que resultem dos acordos dela.

A OMC é regida por cinco princípios fundamentais, designados a proteger o comércio internacional. Seu objetivo é garantir o acesso equitativo dos países envolvidos, por meio de um processo de adesão. Os princípios fundamentais são:

1º- O princípio da não discriminação garante tratamento igual aos membros; 2º- o princípio da previsibilidade de normas e acessos aos mercados; 3º- o princípio da concorrência leal proíbe o comércio desleal, como o “dumping”; 4º- o princípio da proibição das restrições quantitativas, como quotas, apenas permitindo as quotas tarifárias que estão na lista de compromissos dos países; e 5º- o princípio do tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento,

pelas negociações comerciais e pelas soluções de controvérsias84

.

A meta global da OMC é a de promover a cooperação entre os países, em busca de um equilíbrio no comércio internacional no âmbito da livre concorrência.

O Encontro Ministerial ocorrido em Cingapura, no ano de 199685,

coordenado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), discutiu com

84 BATISTA, Luiz Olavo; JÚNIOR, Umberto Celli; YANOVICK, Alan. Dez anos de OMC - Uma análise

do Sistema de Solução de Controvérsias e Perspectivas. São Paulo: Aduaneiras, 2007, p. 56.

85 O encontro reuniu ministros responsáveis pela pasta do comércio exterior dos países integrantes da

Conferência Ministerial da OMC. A conferência foi a responsável pelos primeiros acordos sobre o comércio referentes a serviços de telecomunicações e tecnologia da informação e serviços financeiros no âmbito do sistema GATT/OMC. O objetivo de expansão do acesso aos mercados para produtos manufaturados foi também considerado prioritário entre as nações participantes do encontro.

profundidade as questões referentes à eficácia da liberdade de concorrência no cenário internacional. Criou-se um grupo de trabalho para realizar estudos sobre a política da concorrência e do comércio entre os países, visando à criação de um ordenamento jurídico eficaz sobre a concorrência no mercado externo.

2.5. O Projeto do Comitê Econômico e Social das Nações Unidas