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4 EDUCAR-SE NO SEMIÁRIDO

4.2 Projeto Escola e Vida no Semiárido

Quero a certeza do trabalho Água da chuva sobre o que eu espalho E nesse verde ver meu chão: Eu quero é ser feliz no Semiárido!

Gigi Castro, Alessandro Nunes, Nininha Maciel e Soraya Vanini

De acordo com Mota (2008), a partir de um estudo realizado pela Cáritas de Itapipoca em 2005 sobre a realidade educacional de Irauçuba, através de oficinas feitas com educadores, educandos, famílias, líderes comunitários nas Áreas de Desenvolvimento Local (ADL), foi constatado que os temas globais discutidos em sala de aula não despertavam o interesse dos alunos, pois tratavam de conteúdos distantes da sua realidade. Os livros didáticos utilizados pouco refletiam as peculiaridades do semiárido e, menos ainda, de Irauçuba. Em 2006, estes resultados foram confirmados através de entrevistas realizadas pela equipe do plano diretor municipal feita com estudantes, professores e pais. Os respondentes demonstraram ter pouco ou nenhum conhecimento sobre os aspectos climáticos, hidrográficos e econômicos do município. No referido estudo, também, os alunos e pais responsabilizaram a escola por não tratar de temas do cotidiano, que falasse de coisas que façam parte do dia-a-dia da comunidade, capazes de despertar interesse nas crianças.

A partir de então, o município tem demonstrado interesse em propor soluções para a contextualização do ensino. Assim, através de uma parceria entre a Secretaria de Educação do Município, o Instituto Cactos e o grupo GEAD da UFC, foi elaborado e posto em prática o Projeto Escola e Vida no Semiárido: uma proposta de contextualização do ensino.

O projeto trabalhou com professores do ensino fundamental de escolas públicas do município, com o objetivo de discutir com os educadores questões socioambientais e político-culturais características do semiárido e, em particular, de Irauçuba. Isso se deu através do trabalho parceiro com escolas, comunidade e instituições que colaboraram com a oferta de educação para a convivência solidária com o semiárido.

O projeto contou com o financiamento do Ministério do Meio Ambiente e teve duração de oito meses de qualificação docente, com uma carga horária de 160 horas/aula, distribuídas em oito módulos; cada módulo dividido em abordagem técnica e abordagem

pedagógica sobre o mesmo tema. Os professores participantes deveriam elaborar atividades contextualizadas para propor aos seus alunos, relativas aos assuntos estudados no curso, durante o período entre os módulos. A seguir, destaco o relato do professor Nacélio, que participou do Escola e Vida no Semiárido, sobre a sua experiência a respeito de como o curso contribuiu para a sua atuação em sala de aula hoje.

(...) Foi também nesse projeto que minha vontade de me tornar um educador ambiental despertou de vez, para que pudesse dar minha contribuição com meu lugar. Desde então, procuro sempre contextualizar minha aula com o meio onde nós vivemos para que meus alunos possam também gostar do meio ambiente e a parti daí também proteger a natureza (Nacélio).

Também na perspectiva do relato feito pelo professor Nacélio, a professora Sandra faz menção à sua relação com a questão ambiental e à sua experiência com o Projeto Escola e Vida no Semiárido, que ampliou as possibilidades de trabalhar de forma contextualizada os conteúdos tanto em sala de aula, como expandindo essas possibilidades através das aulas de campo:

Vivencio menos a questão ambiental já que quando eu morava no Bueno e estudando aqui ou em Irauçuba, tinha banhos em riachos, rios e cachoeiras, mais proximidade com a natureza que foi ampliada com seminários ambientais e cursos sobre a contextualização do semiárido. Agora estou cursando a pós- graduação em Gestão Ambiental . Não pelo fato de precisar de qualquer curso, mas para maior aprofundamento nesta área. Trabalho agora na escola Josefa Clotilde no Missi. Depois da formação Escola e Vida no Semiárido, procuramos trabalhar de forma contextualizada enfatizando os conhecimentos adquiridos nos cursos para viabilizar uma melhoria na qualidade de vida da população (Sandra). Com alguns outros componentes do GEAD, participei de maneira mais efetiva das discussões para elaboração do projeto e ficamos responsáveis pela parte pedagógica dos temas abordados na formação. Os módulos dividiram-se em: Apresentação da proposta e metodologia da produção do conhecimento; O Semiárido brasileiro; Desertificação; Acesso à água no Semiárido; Os latifúndios e as possibilidades de produção no Semiárido; Tecnologias sociais apropriadas ao Semiárido; Diversidade cultural no contexto do Semiárido; Políticas públicas e organização popular.

Assim, comecei, no processo de estudo, a intervenção e formação dos professores que culminou, posteriormente, nos relatos que traziam as histórias de vida dos educadores que fizeram parte desta tese, como modo de compreensão de uma realidade específica e de elaboração de uma proposta de intervenção no que se refere à formação de

professores com o objetivo de contribuir para a melhoria do ensino contextualizado para o semiárido na escola.

Apresento a seguir algumas imagens, como uma fotobiografia deste caminho de pesquisa, que andou de mãos dadas com a intervenção formadora dos professores no contexto onde se deu a vivência aqui descrita.

No capítulo seguinte, passarei a uma interlocução teórica enfocando a História de Vida e Formação como abordagem, a educação dialógica de Paulo Freire como postura escolhida no contato com o outro, o estudo da afetividade como lentes para a compreensão da realidade e a relação com o ambiente na formação como objetivo.

Imagem 6- Foto dos professores em uma atividade do projeto Escola e Vida no Semiárido

FONTE: Arquivo da pesquisa

Imagem 7: Foto de aula de campo da Escola Josefa Clotilde. Uma das atividades propostas pelo projeto Escola e Vida no Semiárido.

Imagem 8 - Foto dos professores em atividade de grupo durante o projeto Escola e Vida no Semiárido.

FONTE: Arquivo da pesquisa

Imagem 9: Foto de cartaz feito durante o projeto Escola e Vida no Semiárido

FONTE: Arquivo da pesquisa

Imagem 10 - Foto dos alunos da Escola Josefa Clotilde Tabosa Braga em aula de campo.