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CAPITULO 2 INICIATIVAS TECNOLÓGICAS NA EDUCAÇÃO

2.2 Projeto MINERVA (1985-1994)

O projeto Minerva, acrónimo de “Meios Informáticos No Ensino: Racionalização, Valorização, Atualização”, representou a primeira iniciativa financiada pelo Ministério da Educação e está preconizado pelo Despacho nº 206/ME/85. Iniciou em 1985 com o seu mentor e principal proponente, o Professor António Dias de Figueiredo e teve o seu término em 1994.

Este projeto vem realçar o facto de a informática constituir um utensílio capaz de melhorar a eficácia, interna e externa, do sistema educativo. A execução do projeto Minerva efetuou-se nas vertentes da formação de professores e de formadores, na exploração e desenvolvimento de materiais (incluindo documentação e software educativo), investigação, apoio direto ao trabalho dos professores nas escolas, e na criação de condições logísticas para a instalação e utilização destes meios (nomeadamente através da criação de Centros de Apoio Local e Centros Escolares Minerva), com o objetivo último e amplo de renovar de uma forma inovadora o sistema educativo7. Neste projeto as universidades têm um papel determinante e Ponte (1994) afirma

que o projeto “dá às universidades um papel decisivo neste domínio, o que vem a constituir, em termos internacionais, uma profunda originalidade da experiência portuguesa” (p. 5).

Na época, era uma preocupação do Ministério da Educação: “no que respeita ao enquadramento institucional, haverá que rodear de grandes cautelas o processo de introdução das novas tecnologias da informação no ensino, não descurando aspectos por vezes ignorados, como os que se prendem com a psicologia e a sociologia da aprendizagem, a teoria da educação, as finalidades e objectivos do ensino e, naturalmente, os aspectos de natureza funcional” (Despacho nº 206/ME/85). Era assim, o ponto de partida para uma formação de base para a utilização das TIC numa sala de aula, como é referido pelo próprio despacho “A formação de base no uso das tecnologias da informação e o recurso a meios informáticos como auxiliares de ensino na generalidade das disciplinas do ensino não superior revestem-se assim, de importância decisiva” (idem).

O projeto consistiu na introdução das tecnologias de informação no ensino não superior, isto é, no ensino básico e secundário e a investigação sobre as suas implicações nas práticas de ensino e nas aprendizagens dos alunos promovendo “a introdução racionalizada dos meios informáticos no Ensino, num esforço que permite valorizar activamente o próprio Sistema Educativo (…)” (Despacho nº 206/ME/85). Conforme se pode ler no despacho mencionado são

objetivos do projeto: a inclusão do ensino das tecnologias da informação nos planos curriculares do ensino não superior; a introdução das tecnologias da informação como meios auxiliares do ensino não superior, e finalmente, a formação de orientadores, formadores e professores para o ensino das tecnologias da informação e para a sua utilização como meios auxiliares de ensino.

O projeto MINERVA revela então uma proposta inovadora para a época no modo como interpretou o papel das tecnologias na mediação das aprendizagens e do ensino (Carvalho & Pessoa, 2012) e permitiu a integração das tecnologias de informação na sala de aula.

O funcionamento do projeto foi descentralizado e conduzido pelo Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Educação, sendo coordenado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

A operacionalização desta intervenção no território nacional foi conseguida através da criação, em 1985/86, de cinco polos centrados nas Universidades de Aveiro, Coimbra, Lisboa, Porto e Minho. Em 1986/87 foram criados os Polos das Universidades de Évora e Algarve. Estes diferentes polos, responsáveis pelo desenvolvimento e implementação do projeto nas escolas dos diversos níveis de ensino, foram muito importantes na integração das TIC no sistema educativo português na medida em que se desenvolveram muitas atividades em muitas escolas e se fez formação a muitos professores (Carvalho & Pessoa, 2012).

Continuando a ter como referência Ponte (1994), este projeto tem três períodos marcantes nos nove anos de existência: seu lançamento, a sua expansão e o encerramento, como se sintetiza na Figura 6.

Figura 6 – As fases do projeto MINERVA (Carvalho e Pessoa, 2012)

Quanto ao primeiro período, intitulado como a “Fase piloto”, o surgimento do projeto, decorreu entre 1985 e 1988, sob o impulso do “pai do projeto”, o Professor António Dias de Figueiredo. Apresentava uma estrutura organizativa segundo três níveis: “a comissão coordenadora, (…), os pólos sediados em instituições de ensino superior, alguns dos quais desdobrados em núcleos; e as escolas, por sua vez ligadas aos pólos e núcleos” (Ponte, 1994, p.6). No começo, houve uma preocupação com a vertente informática, mais centrada na produção de software educativo, no qual eram produzidos por profissionais da engenharia informática e que permitiu integrar de forma equilibrada e sustentada a dimensão pedagógica, conferindo-lhe um caráter inovador (Carvalho & Pessoa, 2012).

Sendo assim, posteriormente apostou-se na vertente associada à área da educação, encarando-se a utilização das tecnologias de informação como área transversal e não como disciplina curricular. Diante deste contexto, permitiu a integração das tecnologias de informação na sala de aula, mas “não como uma disciplina específica para o ensino das tecnologias de informação” (Ponte, 1994, p. 11).

Nesta perspetiva, para Ponte (1994) “muito embora o impulso inicial do projecto estivesse claramente do lado da informática (na sua vertente de engenharia informática, principalmente preocupada com a produção de software educativo), é desde o início contemplada uma grande abertura à participação da área da educação (essencialmente preocupada com o desenvolvimento curricular e a formação de professores)” (p. 7).

O segundo período, que se estendeu desde os finais de 1988 até 1992, marcou o início da fase “operacional do projeto”, a coordenação passa para Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Educação e registou-se um aumento das verbas disponíveis e um aumento do número de escolas envolvidas, multiplicando-se as publicações e os encontros. A gradual importância da telemática nas atividades desencadeou uma utilização do termo TIC -Tecnologias da Informação e Comunicação.

O terceiro e último período, correspondeu ao encerramento do projeto e decorreu entre 1992 e 1994, apesar do término inicialmente previsto ser 1993 foi prolongado por mais um ano. Durante este período começou-se a pensar na inclusão das TIC no sistema educativo melhorando a gestão dos recursos e a resposta adequada a dar às necessidades então existentes.

Diante deste contexto, (Carvalho & Pessoa, 2012) agrupam as atividades do projeto por diversos grupos: desenvolvimento de software, criando recursos educativos; a telemática, através de redes de telemática como referenciado no estudo de Osório (1991); a educação especial,

procurando corresponder às necessidades de crianças com diversos tipos de deficiência; o desenvolvimento curricular especialmente ao nível da Matemática, Ciências, Línguas e Ciências Sociais; os encontros científicos e nacionais do projeto que permitem fazer pontos de situação sobre o trabalho desenvolvido em todo o país; a publicação de boletins informativos e, por fim, a formação professores é uma das atividades importantes do projeto e cumpre o 3.º objetivo do projeto.

O projeto MINERVA teve uma dinâmica ao nível da formação de professores, consistindo numa das atividades mais marcantes, produção de materiais (manuais de apoio, livros e revistas) como foi o caso da “Informática e Educação” do Pólo do Minho, a utilização da linguagem de programação LOGO, tendo inclusive sido criadas as “Semanas do LOGO” com vários encontros regulares.

Em complemento ao projeto MINERVA, surge um projeto financiado com o orçamento do Minerva, o projeto IVA (Informática para a Vida Ativa), que decorreu entre 1989 e 1992, e tinha como objetivos equipar as escolas secundárias com laboratórios de informática, formar professores e preparar os alunos para a vida ativa e envolveu um total de 28 escolas secundárias.

No que concerne ao balanço do projeto, o eventual êxito das atividades do Projeto MINERVA parece resultar, em grande parte, do facto de lhe terem sido concedidos meios financeiros e humanos e de o seu funcionamento ter sido confiada a uma estrutura descentralizada e assente numa rede constituída por cinco Universidades (Osório, 1991). Em forma de conclusão, Ponte (1994) diz acreditar que acabou por criar uma dinâmica fabulosa mas foi vítima da sua grandiosidade, já que, e passamos a citar:

Provocou em muitas escolas de todos os níveis de ensino um verdadeiro choque cultural, estimulou o aparecimento de novas perspectivas de trabalho e proporcionou um importante espaço de formação, mas teria beneficiado de mais discussão interna e externa, de uma melhor estrutura, que definisse linhas de trabalho e responsabilizasse os pólos. E, finalmente, teria tido mais impacto no sistema educativo se o Ministério da Educação, ao mais alto nível, estivesse atento à sua evolução, necessidades e implicações práticas. (Ponte, 1994, p. 48)

Consideramos que este projeto, constituído por 9 anos, foi bastante ambicioso tanto ao nível de equipamentos, competências e até de mudança de atitudes, constituindo o Minerva o momento de arranque da transformação das escolas pela introdução das TI.

Em virtude do que foi mencionado, o projeto Minerva estabeleceu o início de uma nova era educacional, prevendo os caminhos para a integração das tecnologias na educação e para o

desenvolvimento de outros projetos semelhantes, pois segundo Silva (2001b) o projeto Minerva esteve longe de solucionar todos os problemas inerentes à introdução das TIC na educação, mas lançou as bases para novos desenvolvimentos das escolas no domínio das TIC.

Paralelamente e por iniciativa do DEPGEF, surge o projeto FORJA (Fornecimento de Equipamentos, Suportes Lógicos e Ações de Formação de Professores), o qual estava integrado no programa FOCO (formação contínua) (despacho nº 130/ME/92). O FOCO consistia num programa de formação com grande importância porque financiou, em larga escala e de forma sistemática, a formação contínua de professores privilegiando a área das TIC. Tratava-se de promover o acesso às TIC e a sua utilização por parte dos profissionais da educação e ensino não superior para a prossecução de níveis ótimos de eficácia no ensino-aprendizagem. O FORJA tinha como objetivo equipar as escolas com mais e melhores equipamentos, como também garantir uma melhor formação de base para todos os professores envolvidos no projeto. Sendo assim, juntou-se o útil ao agradável, tentando rentabilizar os recursos disponibilizados nas escolas.