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Pronto, então vou dar por terminada a entrevista.

ANEXO IV.3 – Transcrição integral das entrevistas de aprofundamento ao inquérito geral e análise de conteúdo

E.: Pronto, então vou dar por terminada a entrevista.

Análise vertical à entrevista n.º 5 Inquérito 3.2_20

Dimensões e categorias de análise

Dados/ Sínteses Excertos

I. Dimensão social

Características sociodemográficas

Género: Masculino Idade atual: 31 anos

Idade de emigração: 15 anos Estado civil: separado/ divorciado

Nível de escolaridade no Brasil: Ensino fundamental

completo

Nível de escolaridade em Portugal: Ensino fundamental

completo Zona de

residência Concelho e freguesia de residência: Matosinhos

Composição étnica das vizinhanças: Matosinhos

Composição de

classe Última ocupação no Brasil: estudante

Primeira ocupação em Portugal: pintor na construção civil Ocupação atual em Portugal: empregado de mesa e balcão Lugar de classe individual no Brasil: indeterminável Lugar de classe individual em Portugal à chegada: OI Lugar de classe individual atual: PBE

Lugar de classe de família de origem: BD Lugar de classe de família de pertença: PBE Disposições em relação à carreira profissional:

Sonha em abrir um negócio próprio.

“Eu queria abrir um negócio meu (risos). Queria ser patrão (risos). No ramo da restauração. Não tem nada a ver com Cascata. Acho que vou dar um nome meu, mesmo específico que eu possa inventar.”

II. Percursos

migratórios Outros países: Não

Tempo de permanência: 16 anos Tipo de rede migratória: legal Com quem veio: sozinho

Aprofundamento das razões de vinda para Portugal

“Para se jantar à família”

Veio para Portugal para se juntar à irmã, cunhado e aos seus dois sobrinhos.

Dificuldades encontradas em Portugal

O entrevistado afirma não ter tido qualquer tipo de dificuldades na sua chegada e vida em Portugal. O seu processo de legalização demorou, mas nem toma esse facto como uma dificuldade.

“ Nenhuma! Dificuldade não. É assim, dificuldade tive para tirar os documentos. Essa foi a pior. Porque dei-me…desde aí não tive dificuldade nenhuma. Em termo de língua, de convivência com as pessoas, aqui não.”

“ Nenhuma (risos). A não ser o clima que era um…bocado frio. Agora já me acostumei.”

“ É assim, do que eu vivi aqui, ainda se tivesse acontecido algo de extravagante na minha vida aqui, ainda dava para contar, mas…não aconteceu nada. Foi tudo mesmo pacífico, fui acolhido muito bem cá em Portugal.”

Intenções de regressar ao Brasil quando emigrou

Tencionava regressar ao Brasil, pelo que tinha vindo mesmo para passar férias, mas gostou de Portugal e quis ficar.

“ Sim, tencionava voltar. Tencionava voltar…depois de seis meses, eu queria voltar para o Brasil. Mas depois quando encontrei emprego, fui gostando daqui, fui-me habituando e…fiquei aqui até hoje.”

“A minha irmã já voltou para o Brasil. Os meus sobrinhos estão cá, estão cá a viver com o pai. Infelizmente, eles se separaram e então estão cá os meus sobrinhos.”

III. Dimensão cultural

Redes de sociabilidade

Redes à chegada a Portugal

A irmã, cunhado e sobrinhos, com quem tinha vivido no Brasil, estavam imigrados em Portugal.

“A minha irmã e os meus sobrinhos. Ah, e o meu cunhado.”

Aprofundamento das disposições relativamente aos grupos com que o entrevistado se relaciona menos ou não se relaciona e as justificações em torno dessa situação.

O entrevistado relaciona-se predominantemente com portugueses porque, afirma, consegue mais facilmente confiar num português do que com um brasileiro. Já foi prejudicado por um brasileiro em Portugal e considera diferente relacionar-se com outros brasileiros no Brasil e em Portugal, aqui considera existe “competição”.

“É assim, eu não conheço muitos brasileiros aqui, não. Por acaso não. Também sou de fazer poucas amizades, não sou de fazer aquelas amizades…chego num lar, na discoteca e faço amizades com todos lá, não! Não sou. É assim, eu escolho os meus amigos, sou apenas de escolher. É assim não me dou bem com qualquer pessoa. É do meu feitio, não permite. E ter amizades com brasileiros, é assim…eu entre aspas é assim, eu posso…eu conheço poucos brasileiros, mas é assim eu consigo mais confiar no português do que no brasileiro fora do Brasil. (…) É diferente dar-se com um brasileiro aqui que com um brasileiro do Brasil, é diferente.”

“Por acaso, os brasileiros que eu conheci aqui [local de trabalho], conheci quatro, e um já me tentou prejudicar e eu fiquei com receio de o conhecer mesmo.”

“ Eu acho que há um pouco de competição, eu acho que há, pelo menos isso há.”

Aprofundamento das razões e motivações subjacentes à pertença ou ausência de pertença às diferentes organizações ou grupos de apoio.

Sobre a participação em alguma organização, associação, grupo religioso, responde que nunca se envolveu em nada.

“ Não praticava nada disso. Sempre fui eu…”

“A minha mãe é religiosa. Minha mãe, meus irmãos, todos…acho que eu sou…ovelha negra na família, não? (risos) acho que fui eu.”

Estereótipos e representações

Relato de situações em que foi vítima de preconceito e/ou discriminação

Nunca se sentiu vítima de preconceito ou discriminação, sempre se sentiu bem recebido e tratado pelos portugueses.

“ É assim, eu fui muito bem recebido aqui, muito bem recebido mesmo! Da parte da família do meu cunhado, dos amigos que fui conhecendo aqui…e assim, o meu patrão, posso dizer que…é assim, ele me conhece desde…há catorze, quinze anos, e é uma pessoa que sempre me apoiou.”

“Nunca fui vítima de preconceito.”

“Não, nunca senti e nunca uma pessoa chegou para mim e falou assim para mim na cara, não. Nunca! Se eu disser que sim, eu vou estar mentindo e não há necessidade.”

“ é assim, quem trabalha em público, há aquelas reclamações, mas isso não é derivado a eu ser brasileiro. Não, não tem nada a ver! É sobre o trabalho, sobre a comida, sobre até mesmo o atendimento, mas não…”

“Não e sempre me trataram muito bem! Muito bem mesmo. E além do mais quando eu fui tirar a nacionalidade, fui tirar lá no arquivo Central do Porto, as senhoras lá foram cinco estrelas. Cinco mesmo. Olha uma coisa é assim…já vi pessoas simpáticas a atender o público, mas como aquelas não. Nunca vi, a sério! Acho que foi mesmo exclusivo para mim, é a sério (risos). Eu

adorei ali.”

Perceber se os estereótipos em relação aos brasileiros têm fundamento; se favorecem ou dificultam a integração dos brasileiros em geral na sociedade portuguesa; e se

favorecem ou dificultam o estabelecimento de relações sociais.

Concorda com uma certa ideia de que o brasileiro é “brincalhão”, mas relativamente à associação da mulher brasileira à prostituição afirma que é uma ideia sem qualquer fundamento e que isso o “chateia” porque tem irmãs, pelo que se sente afetado por esse tipo de preconceito.

“ É assim quando diz respeito ao homem [brasileiro], é trabalhador, brincalhão, gosta de brincar. Em relação às mulheres, eles têm uma certa imagem das mulheres brasileiras. E isso…fico um pouco chateado, porque eu tenho irmãs, entende? E isso afeta-me a mim também, está entendendo?”

“Eu acho que não têm fundamento. Eu acho que nesse caso não tem fundamento. Eu acho que sinceramente não! É assim, porque…peço imensa desculpa, prostituição há em todos os lugares…tanto italiana, espanhola, inglesa, tudo, tudo…em todos os lugares.”

“Dificulta um bocado. Eu acho que dificulta.”

Perceber se já utilizou algum tipo de comportamento fora do habitual ao relacionar-se com portugueses temendo algum tipo de discriminação. Se sim, pedir para relatar a situação

Não se aplica.

IV. Dimensão política

Vivência de uma situação de irregularidade ou ilegalidade perante as autoridades portuguesas

Chegou a Portugal numa altura em que podia permanecer seis meses sem visto para fins turísticos. Ao fim desse tempo ficou irregular, embora, como sublinha, estivesse com a sua situação regularizada perante a segurança social e finanças. Enquanto o seu advogado estava a tratar do processo de legalização, o entrevistado foi abordado pelo SEF. Só nessa altura conseguiu legalizar-se, renovando o visto de residência

“É assim, eu vim como turista, só vim passar seis meses mesmo. Mas depois, fui ficando, fiquei. E depois eu comecei a trabalhar, comecei a trabalhar como pintor e depois peguei a primeira residência.”

“ É assim, eu fiquei aqui ilegal, fiquei. Fiquei ilegal entre aspas, mas estava a fazer descontos, estava a fazer tudo certinho. (…) depois eu fui a um advogado, pus um advogado para puder pegar a residência, só que no advogado que eu estava só queria dinheiro, não resolveu nada. Não queria nada e eu está bem,

desde então.

Atualmente já tem nacionalidade portuguesa, o que o coloca numa situação que classifica de maior “segurança”.

deixei o advogado…quando ele pôs os meus dados para o SEF, pelo computador dele, a SEF veio imediatamente aqui para saber se eu estava realmente a trabalhar. Eu mostrei o meu passaporte, dizendo que estava a tratar disso. E o que é que eles disseram? Deixa o advogado, vai…pega então o teu passaporte e vai à SEF, marca um dia. E eu fui ao SEF, tratei disso numa semana enquanto o advogado ficou para aí quase seis meses. E pronto, foi isso. Depois peguei…daí para frente, tive tudo certo.”

“E eu já sou português também (risos).”

“ É uma segurança, porque uma pessoa quer pensar: “Será que eu vou ficar no trabalho?”. E se eu sair do trabalho, tenho que renovar o meu visto, tenho que ter um “x” de dinheiro a descontar para autorizar a residência, essa burocracia…e a gente fica a pensar muito nisso e então durante um ano, a gente está sempre preocupado se vai, se vão aceitar renovar o visto ou não, se vou pegar residência ou não e a nacionalidade, para quem queira, é uma boa opção. É sério, sente-se mais seguro.”

Estatutos especiais

Não se aplica.

V. Auto perceções

Perceção da própria situação de integração

Sente-se integrado em Portugal e considera que não lhe falta mais nada, sobretudo desde que adquiriu a nacionalidade portuguesa.

“ Naquele tempo, eu nem sabia o que é que era Portugal. Sinceramente, não sabia (risos). É sério. Nem sabia se Portugal era do outro lado do oceano ou…não sei, não sabia, não tinha aquela noção, sabe? Treze anos, catorze anos, eu ficava…não associava bem. Depois que eu vim para aqui, dei-me bem, eu gostei, a experiência foi boa. Se não fosse boa, eu não estava cá até hoje.”

“Eu estou muito bem cá! Integradíssimo.”

“ Sinto-me muito bem cá! E acho que…não me falta mais nada, não me falta mais nada aqui…”

“ Para mim, não tenho nada a apontar! Depois que eu peguei a nacionalidade, então!”

Perceção da sua qualidade de vida atual

Embora não consiga comparar com a situação anterior no Brasil, uma vez que emigrou muito novo, ainda estudante, imagina que no Brasil não teria conseguido sozinho o que conseguiu em Portugal.

Quando vai ao Brasil de férias tem medo, pelo que a nível de segurança considera que tem melhor qualidade de vida em Portugal.

“ É melhor, é melhor. É assim, é melhor porque…eu acho melhor porque eu passei a minha adolescência toda aqui. E se tenho uma casa, se tenho um carro, é assim. Não dependi da minha mãe, não dependi de ninguém, dependi só mesmo de mim. É assim, eu acho que nessa experiência se eu estivesse no Brasil acho que não conseguia ter nada disso. Eu acho…não sei, não posso dizer…se eu estivesse lá, não podia ter tudo isto que eu tenho aqui: tenho emprego fixo, estável e não sei se teria essa mesma sorte no Brasil!”

“ É assim, eu falo em segurança, porque eu quando fui para o Brasil para servir a tropa eu me sentia inseguro. Tinha que andar sempre com o meu sobrinho, que tem vinte e poucos anos…eu tinha dezoito, ele tinha dezasseis. Tinha que andar sempre do meu lado, para onde eu fosse ele tinha que ir. Eu conhecia, mas não me habituava, sei lá, eu tinha medo, não sei porquê, peguei aquele trauma do Brasil ser perigoso, mas não era. Com a minha família nunca se passou nada, só que eu tinha aquele receio. Tinha que andar bem, para onde quer que eu fosse…podia andar meia-noite, uma, duas, três da manhã sozinho que acho que ninguém me iria fazer mal. Lá não, lá meia-noite, dez horas, onze já tinha medo de sair para a rua, não sei porquê! E então ficava dentro de casa. A experiência…é diferente, não sei.”

Perceção em relação ao futuro: intenção de regressar ao Brasil

Não tenciona regressar ao Brasil para viver, apenas de férias, embora a irmã já tenha regressado.

“ Fui ao Brasil, passei dez meses lá porque eu tinha que servir a tropa, era obrigatório ir para lá, não é? Fui para lá com dezoito anos, passei dez meses lá e depois voltei.”

consigo viver lá! Passo as férias lá…”

Transcrição de entrevista n.º 6