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ANEXO IV.3 – Transcrição integral das entrevistas de aprofundamento ao inquérito geral e análise de conteúdo

E.: E o que é que esperava da vida…?

e.: Ah, na verdade, esperava que com o meu conhecimento, a minha formação com trinta anos de trabalho, que embora eu já sabia que tinha cinquenta anos, em qualquer lugar que eu chegue com cinquenta anos não é simples, mas aqui começando com segurança e com a minha capacidade de…não estou a falar de trabalho, mas de conhecimento diário, ou seja administrativa…seja de gerenciar ou, enfim, eu tenho uma formação altamente eclética e mais os cursos todos que tenho em trinta anos de trabalho…Duas faculdades, duas pós-graduações, etc., e enfim…eu não imaginei que…houvesse problema, ponto. Não imaginei que houvesse problema! Depois, isso ela não me disse, puxei a orelha dela, pois foi por conta disso, não é? Que havia…eu entendia um pouco a discriminação com relação às mulheres, porque é verdade! A gente entende isto, não aceita, mas entendo. A mulher brasileira, desculpe as portuguesas, é mais bonita, é mais agradável, é mais jeitosa, tem uma série de coisas que Portugal não conhecia por conta de “n” coisas que passou Portugal e também não interessa aqui discutir, não é? Mas Portugal viveu fechado durante muito…começou a se abrir depois da União Europeia e para mudar as mentalidades dos portugueses que até 2006 podiam bater nas mulheres como corretivo, que é uma coisa que no Brasil não acontece há 100 anos. Quer dizer, isso aqui está completamente fora do mundo, não é? Isso é verdade, foi isso que aconteceu com Portugal e com a chegada da União Europeia, da chegada do euro, muito dinheiro, muita coisa, mas nenhuma capacidade de raciocínio, nenhum esclarecimento ao povo de forma honesta. Esclarecimento errado tem muito, não é? Então, o povo leva tempo. Efetivamente dizer para você que não vieram as meninas, parte de que veio de lá, veio para a prostituição, veio sim. E como vem do Leste! Porque são mais bonitas, mais agradáveis, mais não sei quê e as que vieram para cá não são pessoas culturalmente mais preparadas. A sua maioria são pessoas de pouca cultura, que vêm de regiões menos favorecidas do Brasil, de famílias muito grandes, ou seja há uma circunstância atenuante. Além do que, há uma coisa chamada tráfico, uma coisa chamada mentira, porque eu vi, as pessoas chegam lá e contam uma história bonita e dão a roupa e dão isto e dão aquilo, algumas prometem casamento e a menina tem cinco irmãos, dez irmãos…vem um diferente, porque normalmente o que vem é do Norte,

Nordeste, alguma coisa do centro…você não vê quase mulher de São Paulo aqui na prostituição, não vê…são casos altamente isolados, não é? Aí poderia dizer que de repente essa veio como profissão, pode-se dizer assim, se você encontrar, não é? São casos isolados e aqui não é difícil, basta ser brasileira, basta…para termos um problema, não é?

E.: É a generalização…

e.: A generalização é muito ruim e que não acontece no Brasil, é isso que português não consegue entender. Primeiro, que é assim, tem coisas que precisam ser colocadas de forma muito clara: o português, enquanto língua, existeporque falava no Brasil, senão o português já era uma língua quase que morta e a língua precisa se adaptar. Aí o português “Porra não quero falar o Brasileiro”. Ninguém está pedindo para o português falar o brasileiro, está pedindo para ele abrir a cabeça e falar uma língua mais fluída, mais bonita, ponto. E aí você fala “Mas mudou” mudou, aqui muda cinco por cento e no Brasil muda dez, que já é uma língua aberta. Então, explica para mim quem é que…se perdesse alguém, quem é que perdeu? O Brasil! E outros países eventualmente. Quer dizer, as informações…o português, são muito contraditórias, é uma imprensa marron, é um governo que não se preocupa de dar as informações corretas e o resultado que você tem é um povo que não vai votar! Quarenta e seis por cento fica em casa, seja no aborto, que é um absurdo, eu ouvi portugueses dizerem “Aborto é problema da mulher”, como se filho nascesse sozinho! [pausa] Não, está ruim, está ruim e você não vai…não, não vai mudar nada, então não está ruim, está mecânico. Quer dizer, como é que um povo, que conquistou e diz que conquistou no sentido muito da Descoberta, um terço do mundo considerado novo, se sujeita a isto?! Se sujeita a ser mediocrizado na sua capacidade, no seu raciocínio. Eu tenho muito orgulho porque me considero português, então é o que eu sempre digo, eu falo com muita vontade, eu tenho…não por conta do casamento, aí não tem nada a ver, mas por conta dos acordos dos países irmãos eu tenho exatamente o mesmo direito que o português e exerci o meu direito e exerço o meu direito. Hoje Portugal é o meu país, eu vivo aqui, pretendo ficar aqui mais cinco anos ou seis… Volto e faço tudo aquilo que tenho que fazer e é o meu país. Não deixei de ser brasileiro, não deixei de ser uma coisa, mas tenho dois países, que luto igual pelos dois! É diferente, a minha…

e.: Não, é diferente a minha postura enquanto postura de imigrante, que eu não me considero um imigrante. Eu vim para um novo país, que é o meu país também, como todos os que tomam uma vida nova, isto é verdade, mas não no sentido de imigrante, de que vem aqui, vou trabalhar que nem…quero trabalhar e trabalho…mas não no sentido que agora tenho que mandar dinheiro ou não sei o quê ou juntar dinheiro, não. O meu objetivo é…por isso me considero um pouco diferente do imigrante convencional, não é? Que se preocupa com as pessoas que vieram para cá e grande parte hoje está voltando de há um ano, ano e tal…um retorno muito grande, porquê? Mais uma vez também a contingência errada também do lado…o brasileiro também tem pensamentos errados, não é só o português. Agora o euro baixou, então está ruim ficar aqui, não. Agora, está muito bom ir para o Brasil, porque o nosso dinheiro está mais forte, o nosso país está pujante, não é porque o euro baixou. Então, são pessoas menos…trata-se da cultura, pessoas menos esclarecidas com ações. Enquanto o euro ocupava, vivia aqui, morria de fome. Passar privação, passar humilhações, que fosse…porque ele mandava dinheiro para lá, comprava sua casa, seu carro, enfim qualquer coisa… como agora está muito mais fraco e é verdade, mais uma vez o mais fraco está indo na realidade como aconteceu com o dólar e agora acontecendo com o euro porque assim…não é uma moeda de estado, não é uma moeda que vai mandar no mundo, como manda o dólar no mundo…então o Brasil está mais forte, então o meu dinheiro lá começa a valer, não é mais, começa a valer o real, como o próprio nome diz, e as outras moedas têm que baixar! Para fazerem frente à pujança do país, ponto. Essa é a diferença! Muita gente está voltando, até cansado de ouvir…muita gente com mais de dez, doze, quinze anos, cansado de ser ofendido aqui…quer dizer, como é que pode uma pessoa estar num país, viver durante dez e quinze anos e ainda se sentir ofendido, se sentir maltratado pelo povo, que é irmão, que quem chega lá é muito bem recebido, é isto que me deixa realmente revoltado. As pessoas de Portugal, os portugueses que chegam no Brasil e são muitíssimo bem recebidos como qualquer outra nação, mas acho que até tem um carinho…eu me lembro do meu tempo de garoto quando eu olhava os portugueses, que a maioria das padarias era de portugueses…

E.: (risos).

e.: É verdade…metade das bancas nas feiras eram de portugueses e a gente brincava com o Sr. Manel, o Sr. Joaquim, eles mesmo contavam piadas dos portugueses, quer

dizer eu quantas vezes entrava “Ei, Sr. Joaquim, tá fazendo conta de cabeça? Porque ele usava o lápis lá na…

E.: Na orelha.

e.: Na orelha, usava aquelas boininhas, as portuguesitas usavam aqueles tamancos, tamancos mesmo, aqueles que se usavam…e eu sou de uma cidade que tem um forte contingente, foi a primeira cidade que os portugueses embarcaram oficialmente, que é Santos, o maior porto da América Latina, não é? Onde desembarcou a minha avó e o meu avô…

E.: Portugueses?

e.: Já. Eu sou português e tenho orgulho disso, não tenho…nunca dependente da coisa, do casamento com a espanhola, que tenho direito à nacionalidade espanhola…teria direito à nacionalidade portuguesa, tanto por avós como agora porque agora também já estou legal, por conta do acordo que, que este ano, depois de cinco anos, dá-me a hipótese também de exercer o meu direito de ter a nacionalidade portuguesa, quer dizer, agora tenha uma disputa para descobrir qual das nacionalidades eu vou ficar, porque eu não posso ter três. Eu tenho que ter duas, portanto eu tenho que optar…