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PROPOSTA DE REVISÃO PONTUAL DA LEI DE TERRAS

2. CONTEÚDO DO DOSSIER

2.2. PLANO DE EXPLORAÇÃO E REVOGAÇÃO DE DUAT

2.2.2. PROPOSTA DE REVISÃO PONTUAL DA LEI DE TERRAS

FUNDAMENTAÇÃO

É no artigo 19 da Lei 19/97 de 1 de Outubro que se estabelece o carácter imperativo da apresentação do plano de exploração para efeitos de pedido de direito de uso e aproveitamento da terra.

Entretanto, a norma apresenta – se de certa forma oca e com déficit de conteúdo essencial, nomeadamente:

a) Não indica os elementos que devem compor o plano de exploração;

b) Não indica os requisitos a respeitar para a submissão do plano de exploração.

Estamos perante uma figura inspirada numa realidade política e jurídica extinta (Revolução do Outubro / Direito dos Países Socialistas), com o desmoronamento da antiga União Soviética.

Daí que em sede de estudo de direito comparado não tenhamos encontrado esta figura em nenhum ordenamento jurídico, incluindo no sistema jurídico actual da Federação Russa. Prosseguindo objectivos da colectivização da terra e dos meios de produção típicos do sistema socialista, esta figura, que remonta á primeira lei de terras mostra – se hoje desajusta da realidade socio – económica.

As omissões de que enferma o presente articulado concorrem para que os agentes da administração pública recorram em muitos casos ao poder discricionário para a resolução das diversas questões que se levantam em torno do Plano de Exploração. Como é de esperar, esta actuação discricionária varia bastante de província para província o que corresponde dizer que gera problemas de falta de uniformização na interpretação e implementação da lei.

Outro aspecto importante tem a ver com facto de nesta disposição não se estabelecer um modelo apropriado de elaboração do Plano de Exploração, que servisse de guião para todos os requerentes de DUAT, em função das dimensões das áreas requeridas, dos tipos de actividade e em se tratando de pessoas singulares ou pessoa colectiva.

Por sua vez, o artigo 26 desta mesma lei, na sua primeira parte, condiciona a obtenção da autorização definitiva bem como a emissão do respectivo título ao cumprimento do plano de exploração, oque resulta pernicioso para o investidor, pois:

a) Não se afigura justo impor ao requerente que use a totalidade da parcela requerida no prazo da autorização provisória, cerceando – lhe a possibilidade de gerir os seus investimentos, tomar as suas decisões de investimento de forma livre e apoiado nas oportunidades de mercado que melhores rendimentos o possam proporcionar;

b) Fica implícito nesta disposição que o Plano de Exploração é de certa forma inalterável, o que não faz sentido, pois, uma actividade proposta num determinado peródo pode por força de alterações de condições de mercado deixar de ser viável, não devendo por isso o investidor ou requerente manter – se preso a esse projecto inicial. Deve – se portanto, permitir aos requerentes ou investidores realizar ajustamentos, modificações ao projecto inicialmente proposto, desde que não viole outras disposições da lei de terras e seu regulamento.

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Considerando que a presente proposta vai no sentido da eliminação da figura de Plano de Exploração, ao ser substituída nesta disposição, a figura que a substituir deve para efeitos de emissão do DUAT DEFINITIVO, adoptar o seguinte critério de avaliação:

a) Que o investimento proposto ou reformulado tenha sido realizado em 50%;

b) Que as infraestruturas essenciais tenham sido implantadas e em condições de operação;

c) Que estejam cumpridas todas as obrigações fiscais inerentes ao negócio;

d) Que estejam sendo cumpridas as obrigações estabelecidas no Plano de Gestão Ambiental, quando aplicável.

Em sede de trabalho de campo constatamos que pelas razões acima mencionadas, muitos requerentes optam por fazer estimativas abaixo do nível de desenvolvimento que planeiam alcançar no plano que submetem junto com o pedido, com todas as consequências daí decorrentes.

Relativamente ao artigo 27 da lei em referência, duas questões essenciais se levantam:

1. A não indicação, ainda que exemplificativamente, do são Motivos Justificados admissíveis para o incumprimento do Plano de Exploração. Desta situação resulta o seguinte:

d) Ausência de critério para aferição do incumprimento do Plano de Exploração; e) Falta de objectividade nos processos de fiscalização;

f) Predominância do livre arbítrio dos agentes da administração pública no processo de tomada da decisão de revogação do DUAT, podendo promover o recurso a práticas menos correctas.

2. Revogação do DUAT sem direito á indemnização pelos investimentos não removíveis, realizados. Nesta parte da norma em apreço suscitam – se as seguintes questões:

a) Sendo o Direito de Uso e Aproveitamento da Terra, um direito de natureza patrimonial, enquadrado no CAPÍTULO V da Constituição da República (Direitos e Deveres Económicos, Sociais e Culturais), concretizado no Artigo 82 da CRM (Direito de Propriedade), esta disposição enferma do vício de inconstitucionalidade porque viola frontalmente o estabelecido nas disposições constitucionais acima indicadas;

b) Estamos á vontade para afirmar e concluir que o acto de reversão á favor do Estado das infra-estruturas implantadas pelo requerente, pelo simples facto de lhe ser revogado o DUAT Provisório, na prática configura EXPROPRIAÇÃO, pelo que devia dar direito á justa indemnização pelo Estado.

3. Considerando que a decisão de revogação do DUAT de um requerente configura uma decisão da Administração Pública que extingue direitos dos cidadãos, indefere o pedido do DUAT definitivo e revoga um acto administrativo anterior, deve obrigatoriamente ser FUNDAMENTADA nos precisos termos em que se estabelece no artigo 14 da Lei 14/2011 de 10 de Agosto, que regula a formação da vontade da Administração Pública e estabelece as normas de defesa dos direitos e interesses dos particulares.

Podemos estar também em presença de ACTOS NULOS (vício de nulidade), atentos ao disposto na al. e) do nº 2 do artigo 129 da Lei 14/2011 de 10 de Agosto, considerando que esta revogação constitui acto que ofende o conteúdo essencial de um direito

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fundamental, o direito de propriedade, estabelecido no já citado Artigo 82 da Constituição da

República de Moçambique.

São estas as questões críticas que determinam a necessidade de revisão da actual lei de terras, introduzindo fórmulas que lhe confiram a necessária conformação com a Constituição da República e outros diplomas legais tal como a lei 14/2001 de 10 de Agosto, que regula a formação da vontade da Administração Pública e estabelece as normas de defesa dos direitos e interesses dos particulares.

Nestas questões também se fundamenta a necessidade de introdução de mecanismos que assegurem mais transparência e objectividade na implementação da lei, redução da discricionariedade e promoção da protecção de direitos fundamentais dos cidadãos, bem como um ambiente de negócios atractivo e favorável ao investimento nacional e estrangeiro.

******************* ************ ****** REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA Lei Nº ____/2019, de ________

Com o objectivo de assegurar que o uso e aproveitamento da terra continue prevaleça como direito de todo o povo moçambicano e meio universal de criação da riqueza e do bem – estar social, foram adoptados ao longo dos anos diversos instrumentos legais, desde a Política Nacional de Terras aprovada pela Resolução 10/95 de 17 de Outubro, Leis, Decretos e Diplomas Ministeriais.

O desafio de continuar a garantir o acesso e a segurança da posse da terra, tanto para os camponeses moçambicanos como dos investidores nacionais e estrangeiros, dita a necessidade de conformar algumas disposições da Lei 19/97 de 1 de Outubro (Lei de Terras), com a Constituição da República, e adequá-la à actual conjuntura política e económica.

Da experiência acumulada nos vinte e dois anos de implementação da actual lei de terras, ressalta a necessidade de introduzir melhorias em diversas disposições desta lei, bem como introduzir medidas que garantam maior transparência e objectividade na implementação da lei de terras.

As profundas transformações que se têm vindo a operar no mundo em geral e no país em particular, especialmente as decorrentes da implementação de medidas de natureza económica com o objectivo de assegurar um ambiente favorável ao investimento nacional e internacional que concorra e contribua para o desenvolvimento da economia nacional, ditam a necessidade da introdução de melhorias num diploma legal de crucial importância como a lei de terras.

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Nestes termos e ao abrigo do disposto no artigo ___ da Constituição, a Assembleia da República determina:

Artigo 1

Aprova os novos textos dos artigos 18, 19, 26 e 27 da Lei 19/97 de 1 de Outubro.

Artigo 2

Revoga os artigos 18, 19, 26 e 27 da Lei 19/97 de 1 de Outubro.

Artigo 3

(Entrada em vigor)

A presente lei entra em vigor noventa dias após a sua publicação.

Aprovado pela Assembleia da República.

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Artigo 18

(Extinção do direito de uso e aproveitamento da terra) O direito de uso e aproveitamento da terra extingue – se:

d) Por revogação do direito de uso e aproveitamento da terra por motivos de interesse público, precedida do pagamento de justa indemnização e/ou compensação;

e) No término do prazo da sua renovação; f) Pela renúncia do titular.

Artigo 19

(Plano de exploração)

1. O requerente de um pedido de direito de uso e aproveitamento da terra deve apresentar um projecto de investimento contendo a seguinte informação:

a) Identificação do requerente;

b) Valor e forma de realização do investimento;

c) Prazo e condições do início da implementação do projecto;

d) Cronograma das actividades a realizar, infraestruturas a implantar e montantes a investir durante o período de vigência do DUAT provisório.

e) Parecer do sector responsável pelo ramo de negócio.

2. Nos casos em que se pretenda implementar projectos que abrangem mais de uma actividade, deverão os requerentes apresentar os pareceres e dos sectores responsáveis pelos ramos de actividade propostos, bem como as licenças e autorizações necessárias.

3. Na vigência do DUAT provisório, o requerente pode efectuar a alterações e modificações ao projecto inicial, devendo para o efeito comunicar aos Serviços Provinciais de Geografia e Cadastro e demais entidades envolvidas das alterações efectuadas, desde que as novas actividades não contrariem os fins a que a parcela em causa se destina.

Artigo 26

(Autorização definitiva)

1. A autorização definitiva será emitida á pedido do requerente, desde que cumprido o estabelecido na al. d) do nº 1 do artigo 19 da presente lei, devendo o requerente apresentar para o efeito os respectivos comprovativos.

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2. Havendo dúvidas sobre o cumprimento das metas estabelecidas na autorização provisória, podem os Serviços Provinciais de Geografia e Cadastro, promover acções de verificação no terreno com o fim único de aferir o nível de cumprimento destas mesmas metas.

3.

§Único: Nos casos de cumprimento parcial do estabelecido na autorização provisória, podem

os Serviços de Geografia e Cadastro, a pedido do requerente, prorrogar a autorização provisória.

Artigo 27

(Revogação da autorização provisória)

1. No término da autorização provisória, constatado o não cumprimento das metas programadas para esta fase no projecto de investimento sem motivos justificados, pode a mesma ser revogada se tal resultar de motivos dolosos imputáveis ao requerente e se forem detectadas situações que a impossibilidade de efectivação do projecto, tais como:

a) Abandono da área e das infraestruturas;

b) Falência da empresa implementadora do projecto; c) Cessação ou perda do financiamento.

2. Para o efeito do estatuído no número anterior, constituem motivos justificados para o incumprimento das metas estabelecidas na autorização provisória:

a) A ocorrência de motivos de força maior como cheias e outro tipo de calamidades naturais, guerra, cataclismos, dentre outros;

b) Ocorrência de pragas ou calamidade de saúde pública que afecte significativamente as possibilidades de implementação do projecto;

c) Demoras na obtenção de licenças e autorizações por razões não imputáveis ao requerente;

d) Demora na resolução de conflitos com as comunidades locais; f) Outros motivos atendíveis.

3. A decisão de revogação do DUAT provisório será sempre fundamentada, devendo dentre outras questões, definir o destino a dar as infraestruturas não removíveis implantadas pelo requerente, sendo este ouvido e gozando do direito de preferência.

§Único: O requerente pode, querendo, recorrer da decisão de revogação do seu DUAT

provisório nos termos da lei.

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2.2.3. PROPOSTA DE REVISÃO PONTUAL DO REGULAMENTO DA LEI DE