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Proposta de Software: Final Cut Pro e KeyWorx

Por que o ícone do FC é uma claquete? Porque

uma nova tecnologia, ao ser desenvolvida, traz como

herança idéias e parâmetros de outras mídias

existentes e carrega, portanto, informações culturais

dessas mídias antes utilizadas. O Final Cut pertence a

uma longa linhagem de softwares de edição de vídeo

não-linear, como os sistemas Avid. A edição de vídeo

não-linear foi um desenvolvimento da edição de vídeo

linear, com um avanço significativo.

Como vimos anteriormente, a edição não-linear não surgiu da fusão computador com

o vídeo (a numerização do vídeo). Sua origem está no cinema, com a moviola. A moviola

foi uma tecnologia bastante utilizada para edição de cinema. Daí o uso da claquete como

ícone no FC. Vale ressaltar que, assim como o desktop é a metáfora dos sistemas

operacionais, a moviola é a metáfora básica da interface gráfica desses softwares de vídeo.

O livro Remediation, de J. D. Bolter e R. Grusin, apresenta uma teoria interessante sobre a

genealogia visual da multimídia:

Como outras mídias desde a Renascença – em particular a pintura perspectivista, fotografia, filme e televisão –, a nova mídia digital oscila entre imediacidade e hipermidiacidade, entre transparência e opacidade. Essa oscilação é a chave para entender como um meio remodela (traduz, reformata) seu predecessor e outras mídias contemporâneas. Embora cada meio prometa reformar o seu predecessor oferecendo uma mais imediata ou autêntica experiência, a promessa de reforma inevitavelmente nos leva a nos tornarmos cientes do novo meio como um meio. Isto é, a imediacidade conduz à hipermidiacidade.87

87 BOLTER, Jay David e GRUSIN, Richard. Remediation: understanding new media.2000,

fig.16 - Ícone do KW

Diferentemente do ícone do FC, o KW não faz referência a qualquer mídia anterior.

O que vemos é uma imagem abstrata geométrica que sugere conexão, fusão, complexidade,

encaixe. O logotipo traduz com muita eficiência o projeto do software que se propõe a ser

multimídia e multiusuário. As mesmas cores usadas no logo também estão presentes na

interface gráfica do software. E possuem

significados diversos, como será

demonstrado posteriormente. Essa idéia de

fusão, de hibridismo, que sugere o logo,

encontra-se no princípio do programa, no

seu cerne, na sua origem. Pois o KW é um

aplicativo de computador que funde

características de dois tipos de softwares:

videoconferência e processadores de áudio e

vídeo dinâmicos (em tempo real).

KW é uma plataforma de software que aspira a habilitar os criadores a inventar, desenvolver, integrar e desdobrar aplicações com características multiusuário/multimídia. Um aspecto comum dessas aplicações é que elas almejam dar aos usuários o poder de criar um conteúdo multimídia. Esse conteúdo pode ser em qualquer formato, dependendo dos tipos de trabalhos reutilizados e/ou desenvolvidos para aquela aplicação. Exemplos de uso vão do simples upload/ publicações através da edição de documentos multimídia tipo jornal (estilo jornalístico), trabalhos de esboço (desenho) e compartilhamento de áudio/vídeo em tempo real.88

O software KeyWorx funde características de softwares de ambiente multiusuário

como a teleconferência, comunicação textual instantânea, videoconferência, bem como

ICQ, Ivisit, Ichat, Netmeeting, com processadores de mídia digital em tempo real, cujos

exemplos são Image/ine, MAX, Isadora, VDMX, Arkaos, etc. Tem caráter híbrido, ao

misturar tipos diferentes de software, e isso se vê no próprio logo do KW: a idéia de

fusão. Esse hibridismo já aparece na apresentação do programa no site

www.KeyWorx.org.

88

Outro dado de suma importância é que o KW não é um software comercial. Ele é

desenvolvido pela Waag Society, uma instituição educacional holandesa fundada em 1994

e que tem como objetivo contribuir para o design da sociedade da informação. A

instituição desenvolve novos conceitos e aplicativos de software guiados pelo

intercâmbio, e possibilidades criativas proporcionadas pela relação entre tecnologia e

cultura.

KeyWorx é um aplicativo para comunicação multimídia no mais amplo sentido. A ênfase é para a criação, em vez do consumo, para a transcendência e a difusão dos limites (fronteiras) entre os tipos de mídias e canais e para a independência de uma tecnologia especifica de entrada e saída.89

A Waag Society desenvolveu primeiramente, a partir de 1996, versões “beta” do

aplicativo, distribuídas gratuitamente através do site do KW, mediante o envio de uma

carta de interesse. O interessado cria um log-in e uma senha, o que lhe permite baixar

novas versões do software e conectar-se com os outros usuários através das sessions do

KW. Atualmente, os criadores do programa adotaram a política do software livre usando a

licença da CreativeCommons.

A Waag Society é um instituto educacional que opera no “limiar” da cultura e tecnologia em relação à sociedade, educação, poder público e indústria. Com esse conhecimento, a Waag Society deseja fazer uma contribuição para o design da sociedade da informação. Ela não se deixa levar pela tecnologia, mas atenta para as possibilidades das pessoas, sua criatividade e cultura. A interação de tecnologia e cultura é o motivo que direciona todas as atividades da sociedade. A Waag Society cumpre sua pesquisa, desenvolvendo novos conceitos e aplicativos, e introduz o debate na forma de eventos públicos no limiar das antigas e novas mídias. Sua pesquisa e seu programa de desenvolvimento são focados nos possíveis meios de as pessoas se auto-expressarem, como elas podem aprender e trabalhar juntas usando a nova mídia.90

O KeyWorx se propõe como “ferramenta” artística, para conexões de banda estreita,

multimídia, multicamadas, desenvolvida para multiusuários gerarem ao vivo cenários

performáticos em rede. Esse aplicativo livremente distribuído (na versão beta) permite que

múltiplos usuários possam gerar, sintetizar e processar imagens, sons e textos em um

89 In http://KeyWorx.oss.waag.org/docs/presentation/pres2/www.KeyWorx.org. 90

fig.17 - Splash screen do FC

ambiente de compartilhamento em tempo real, criando performances colaborativas. Por

isso o uso do software supera a função de “paleta” de efeitos, como vem sendo utilizado

por alguns VJs, possibilitando a interação, manipulação e alteração das mídias digitais

(uma vez que são todas numéricas). Outro diferencial é a maneira como o KW faz a fusão

de um vídeo captado na hora com um banco de dados (elementos pré-gravados) em uma

performance ao vivo.

Splash screen é a tela que aparece enquanto o sistema é carregado, e geralmente

possui informações sobre o sistema, versão e formas de contato. No caso do FC, é

exatamente isso que ocorre, assim como na grande maioria dos softwares comerciais, como

Photoshop e Flash. Ao clicar no ícone do FC – a claquete –, visualiza-se a splash screen

mostrando informações do programa: o logo “olho-claquete” (na verdade a tela do viewer),

versão do programa e patentes da empresa (Apple), logo do QuickTime, FireWire e do

Já no KW acontece algo completamente diverso:

fig.18 - Splash screen do KW

Não há excesso de informações quanto ao produto: quem fez, quem licenciou, etc.

Surge o splash com o logo, e por trás dele uma tela com a seguinte frase: “Waiting for the

Patcher... Hit <escape> to cancel” (Carregando o Patcher, tecle <esc> para cancelar).

Como é possível notar, ocorre algo diverso da maioria das splash screens dos programas

de computador.

O KW é composto por três programas componentes: Patcher, Realizer e Server, que

trabalham em conjunto ou, em casos muito específicos, separadamente. Cada um desses

aplicativos tem um processo distinto, comunicando-se com os outros através dos

protocolos de rede TCP/IP e UDP, estejam estes na mesma máquina ou não. Quanto aos

programas, pretendemos concentrar as explicações sobre o Patcher e o Realizer, pois o

Server praticamente não aparece, ou seja, não possui uma GUI, mas tem função

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