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PROPOSTAS NACIONAIS DE AVALIAÇÃO DOCENTE 1 A Portaria n 1.403/2003, do Ministro da Educação Cristovam

SEÇÃO 4 – AS PROPOSTAS DE AVALIAÇÃO DOCENTE NO BRASIL

55 A reforma gerencial do Estado procura desenvolver “uma

4.3 PROPOSTAS NACIONAIS DE AVALIAÇÃO DOCENTE 1 A Portaria n 1.403/2003, do Ministro da Educação Cristovam

Buarque

Em 09 de junho de 2003, o Ministro da Educação, Cristovam Buarque61, publicou a Portaria n. 1.403 que instituiria o Sistema Nacional de Certificação e Formação Continuada de Professores da Educação Básica (BRASIL, 2003a, p. 1). Considerava, para tal fim, o que estava disposto, por exemplo, no artigo 16 da Resolução n. 01/2002 do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2002), que dispunha “sobre a implantação de um sistema de certificação de competências dos professores” (BRASIL, 2003a, p. 1).

O Sistema Nacional de Certificação e Formação Continuada de Professores da Educação Básica compreenderia, entre outros aspectos, o “Exame Nacional de Certificação de Professores, por meio do qual se promove[ria]m parâmetros de formação e mérito profissionais” (BRASIL, 2003a, p. 1). Segundo Maria José Vieira Féres, então secretária de Educação Infantil e Fundamental do MEC, “o exame [seria] um acréscimo ao diploma, um ponto a mais na valorização, no recrutamento de professores” (BRASIL, 2003a, p. 1). Nesse sentido, ele não viria para substituir o diploma e nem como pré-requisito para o exercício da docência (BRASIL, 2003b), podendo, no entanto,

[...] ser utilizado pelos gestores das unidades e redes de ensino como critério em processos seletivos, para o monitoramento e avaliação de políticas de formação docente, para a promoção na carreira e a concessão de benefícios ao professor em exercício (BRASIL, 2003b, p. 16). O Exame, que seria composto por dois testes - “Teste Geral do Professor do Ensino Fundamental e Teste Específico para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental” (BRASIL, 2003c, p. 17), avaliaria tanto os “saberes, conhecimentos, as competências e habilidades que todo professor deve[ria] possuir para o exercício da atividade docente” (BRASIL, 2003c, p. 17),

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Cristovam Buarque foi filiado ao PT entre 1990 a 2004. Depois deste período filiou–se ao PDT.

quanto “os saberes, conhecimentos, competências e habilidades específicas dos professores dos ciclos e séries iniciais do ensino fundamental” (BRASIL, 2003c, p. 17). Além disso, representaria “o instrumento por meio do qual se realiza[ria] o exame nacional de cursos para as licenciaturas” (BRASIL, 2003a, p. 1). Por isso, seria obrigatório para os concluintes desses cursos, sendo voluntário para todos os demais (BRASIL, 2003a).

Os dois testes do Exame seriam elaborados a partir de Matrizes de Referência, que especificariam “o que se pretende avaliar” (BRASIL, 2003c, p. 17) tanto no professor, quanto em suas instituições formadoras. O MEC construiu e disponibilizou uma proposta de Matrizes para discussão entre gestores, representantes de instituições de ensino superior e professores dos anos iniciais do ensino fundamental, que seriam os primeiros candidatos a realizarem o Exame. De acordo com o MEC (BRASIL, 2003b, p. 18), “trata[va]-se de uma proposta aberta, flexível, que busca[va] integrar um conjunto de conhecimentos considerados básicos para a formação e a ação profissional dos docentes”. Tanto no documento desta proposta (BRASIL, 2003b), lançado em junho de 2003, quanto no documento das Matrizes aprovadas (BRASIL, 2003c), lançado em dezembro de 2003, nota-se o apelo do MEC sobre os professores para que eles participassem da discussão sobre as Matrizes que, em última instância, fundamentariam o Exame a ser por eles realizado. Tal como os intelectuais do capital, o MEC celebra a participação formal, consultiva, teórica dos professores no desenho, reformulação e implementação da política, que recai sobre eles, como um grande fator de seu sucesso:

A construção de políticas educacionais duradouras e compatíveis com os anseios da sociedade brasileira só se viabiliza com a participação de todos os atores compromissados com o cotidiano do processo educativo. [...]. Temos a convicção de que apenas instituições construídas com a participação de todos os segmentos da educação brasileira, por meio de um grande diálogo nacional, serão capazes de criar um círculo virtuoso que leve à supressão dos atuais padrões de exclusão e desigualdade de oportunidade educacionais (BRASIL, 2003b, p. 12).

Certificação de Professores tem o seu início previsto para 2003/2004 somente para docentes nos quatro primeiros anos do ensino fundamental. A participação desse segmento de professores nos encontros estaduais e no encontro nacional é decisiva para que possamos construir juntos as matrizes de referência do Exame Nacional de Certificação (BRASIL, 2003b, p. 13).

Vale ressaltar, mais uma vez, a importância da participação dos professores nos encontros estaduais e nacional, organizados com a finalidade de debater e aprovar as matrizes de referência do exame (BRASIL, 2003b, p. 14).

Professor, participe do encontro do seu Estado e discuta em sua escola a proposta de matriz de referência para o exame nacional (BRASIL, 2003b, p. 17).

Os 800 delegados, representando professores, instituições de ensino superior, secretarias estaduais e municipais de educação, reunidos em Brasília no mês de setembro de 2003, após os encontros estaduais que discutiram os conhecimentos, saberes e as competências que serão a referência para as ações de formação continuada e conseqüente certificação, deram uma demonstração de que o caminho que estamos trilhando, baseado no diálogo, no entendimento e na construção coletiva, é o mais eficiente para o desmonte da tragédia educacional edificada no nosso País (BRASIL, 2003c, p. 5).

Também pela via democrática, foram construídas as matrizes de referência [...]. Participaram dessa discussão mais de 7 mil profissionais da educação, representando gestores das redes de ensino estaduais e municipais, instituições formadoras e professores em exercício nos anos iniciais do ensino fundamental. O encontro nacional contou com a participação de 800 delegados eleitos nos encontros estaduais e mais de cem convidados (BRASIL, 2003c, p. 9).

É importante ressaltar que o processo de discussão das matrizes de referência refletiu toda a riqueza de idéias que permeiam o mundo da educação. As divergências existiram e vão continuar perpassando esse debate. Entretanto, esse é o

caminho para que a revolução educacional que todos almejamos tanto possa se tornar realidade (BRASIL, 2003c, p. 9).

A participação desses profissionais na deliberação sobre os saberes, os conhecimentos e as competências próprias da profissão iniciou uma grande caminhada para resgatar-se a identidade do professor que, como profissional, não deixará de ser um elemento importante na mobilização do grande movimento educacionista, tão necessário para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do País (BRASIL, 2003c, p. 10). Os candidatos aprovados no exame receberiam o “Certificado Nacional de Proficiência Docente” (BRASIL, 2003a, p. 2), que não constituiria pré-requisito ou prova de licença para o exercício da docência, podendo “’ser utilizado pelas redes de ensino como critério de seleção, avaliação, promoção e concessão de benefícios’” (BRASIL, 2003a, p. 1). Ele seria concedido para as áreas de Educação Infantil; Educação Fundamental: anos iniciais; Ciências Humanas e Sociais; Ciências da Natureza; Línguas Estrangeiras; Educação Física; Artes e Gestão (BRASIL, 2003a). Os professores em exercício nas redes públicas de ensino, que adquirissem a certificação no exame, teriam direito à “Bolsa Federal de Incentivo à Formação Continuada” (BRASIL, 2003a, p. 2). A instituição desta bolsa seria proposta pelo Ministério da Educação, por meio de Projeto de Lei (PL), ao Congresso Nacional (BRASIL, 2003a).

A bolsa funcionaria como atrativo para a adequação dos professores ao currículo construído pelo MEC, qual seja, as Matrizes de Referência. Estas Matrizes expressariam os conhecimentos, competências e habilidades – padrões docentes, padrões de competências ou perfil de competências – que constituiriam um professor ideal e inspirariam o professor – ainda mais se ele participasse de sua “construção” – para buscar formação para, talvez, no máximo, ser aprovado no momento do Exame. Com isso, o MEC pretendia analisar a própria adequação dos currículos de formação de professores dos Cursos de Licenciatura, reorientando-os de acordo com os resultados de seus concluintes nesse Exame. Portanto, a bolsa ecoaria como um recurso para incentivar os professores e possíveis futuros

professores a rapidamente se “apropriarem” do perfil de competências do “bom professor” para, em seguida, pontualmente, objetivarem-no no Exame, demonstrando bons resultados – ou não, se o objetivo do MEC fosse culpabilizar as instituições de ensino superior pelo nível de formação dos professores e o consequente quadro estatístico do ensino fundamental.

Com a bolsa e o certificado foi anunciada uma política nacional de “valorização” dos professores que não tomaria, como princípio, responder satisfatoriamente às necessidades de melhores condições de trabalho, carreira, remuneração e formação para o conjunto da categoria docente, como afirma o próprio MEC:

A certificação nacional é um passo ousado e importante para o processo de valorização. É o selo que sintetiza o compromisso do Estado brasileiro com os profissionais do Magistério, embora não se tenha a pretensão de, com esse instrumento, equacionar todas as questões da profissionalização do Magistério (BRASIL, 2003b, p. 11).

Esta política de “valorização” - que tomaria a forma de uma gratificação salarial mensal, no valor aproximado de R$106,0062, pelo período de cinco anos, para fins de formação contínua - estaria subordinada às “disponibilidades orçamentárias da União” (BRASIL, 2003a, p. 2). Nesse sentido, não apenas o valor da “bolsa federal de incentivo à formação continuada” (BRASIL, 2003a, p. 1) estaria condicionado pela capacidade orçamentária do Estado, como também o próprio número de bolsas que seriam concedidas, sobretudo porque “o controle da concessão e pagamento ser[ia] feito por meio de um

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O valor do salário mínimo em 2003 correspondia a 240,00 reais (MOREIRA, 2013). Uma bolsa de 106,00 reais significaria quase metade de um salário mínimo, ou seja, 44,17% de acréscimo salarial. “Levantamento realizado em 2001 indica que a média nacional dos salários pagos aos professores da rede pública é de R$ 530,00, e que 60% desses profissionais recebem, em média, R$ 360,00 mensais” (BRASIL, 2003c, p. 7).

cadastro nacional de professores a ser administrado pelo Ministério da Educação” (BRASIL, 2003a, p. 1).

Ora, uma das questões sempre enunciadas pelos OM e próprios governos é a inviabilidade de ampliar o salário daquela que é a maior categoria de trabalhadores do setor público em muitos países (PALAMIDESSI; LEGARRALDE, 2006). Diante disso, em vez de aumentar o salário-base da categoria, os governos optam por incrementar o salário de parte dela com gratificações, bolsas e bônus condicionados por desempenho docente teórico (exames) e/ou prático (prática de ensino, resultados dos alunos em exames). Exatamente por não constituir aumento salarial – e pelo valor estipulado da bolsa representar, em 2003, quase metade de um salário mínimo, quando a média salarial de 60% dos professores, em 2001, rondava os R$360,00 (BRASIL, 2003c) –, a concessão da “bolsa federal de incentivo à formação continuada” (BRASIL, 2003a, p. 1) seria certamente restrita a uma pequena parcela da categoria docente, ainda mais se considerarmos que o Exame seria destinado, sobretudo aos concluintes dos Cursos de Licenciatura, que não necessariamente estariam em exercício. Se a bolsa fosse concedida a todos, perderia seu caráter competitivo e seletivo de incentivo para atrair e reter professores “adequados” no sistema durante os cinco anos em que ela seria concedida – podendo, após esse período, ser renovada se o professor prestasse novamente o Exame e fosse aprovado. Se a bolsa fosse universal63, não

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No âmbito do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), o MEC (BRASIL, 2013) está tentando cativar os professores alfabetizadores com uma bolsa de estudos (ajuda de custo) no valor de 200,00 para participarem da formação continuada – com a duração de dois anos - que ele pretende oferecer em 2013 (quando enfatizará, com 120 horas de duração, a área de linguagem) e 2014 (quando enfatizará, com 120 horas de duração, a área de Matemática). Conforme o MEC (BRASIL, 2013, p. 1), “o curso é estruturado para permitir a melhoria da prática docente”. Segundo professores de uma escola da Rede Pública de Ensino do Município de Florianópolis, o MEC está pressionando os professores alfabetizadores, por meio do envio diário de e-mails, para assinarem o termo por meio do qual se comprometeriam a alfabetizar as crianças até os 9 anos de idade. Para tentar superar a resistência de escolas e professores à política, o MEC elevou o valor da bolsa para 250,00 reais. A medida, que é nacional,

precisaria ser fornecida sob a forma de um caro e seletivo sistema de certificação de professores. Então, embora a formação contínua de qualidade se apresente como necessidade permanente da categoria docente, poucos teriam acesso a ela pelo Exame de Certificação proposto em 2003 e sua consequente “bolsa federal de incentivo à formação continuada”, que seria supostamente “uma forma de atrair o professor que já está em sala de aula. De incentivá-lo”, explica Maria José Feres (BRASIL, 2003a, p. 1). A bolsa anunciada não teria a perspectiva da universalidade, mas, sim, do filtro, isto é, da competição entre professores para promover no âmago da categoria docente a diferenciação por mérito, o que o MEC mistificadamente designou de “Política Nacional de Valorização e Formação de Professores” da educação básica (BRASIL, 2003b).

O “Sistema Nacional de Certificação e Formação Continuada de Professores” da educação básica, legalmente instituído pela Portaria Ministerial n. 1.403/2003, em 09 de junho, compunha uma das quatro componentes principais64 da “Política Nacional de Valorização e Formação de Professores”, então promovida pelo MEC a partir da consideração de que a “valorização dos profissionais da educação” constituía um dos cinco eixos65 que alicerçavam, no período, a política educacional do governo Lula (BRASIL, 2003b).

Tomando como referência o “quadro drástico de insuficiência no desempenho dos alunos do ensino fundamental” está gerando muita polêmica na categoria docente, porque o MEC, segundo os professores, não esclarece os termos do contrato.

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As outras três componentes da política de valorização docente do MEC eram as seguintes: “a) definição de um piso salarial que garanta a todos os professores e professoras condições dignas de vida e de trabalho; b) diretrizes nacionais para a carreira do Magistério; c) programas especiais que favoreçam o acesso do professor a bens relevantes para o exercício profissional e para a elevação do seu padrão de vida” (BRASIL, 2003b, p. 11).

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Compunham os cinco eixos norteadores da política educacional do primeiro governo Lula: “1 – Igualdade de oportunidades educacionais e de acesso ao conhecimento (inclusão)”; “2 – Qualidade social”; “3 – Valorização dos profissionais da educação”; “4 – Democracia e autonomia” e “5 – Financiamento da educação” (BRASIL, 2003b, p. 9- 10).

(BRASIL, 2003b, p. 6), o MEC lançou, em 05 de junho de 2003, um programa denominado “Toda Criança Aprendendo”, que tinha o objetivo de “reverter [esse] quadro diagnosticado pela avaliação nacional” (BRASIL, 2003b, p. 13). O quadro era o seguinte:

Os resultados apresentados pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica têm demonstrado uma tendência de queda de rendimento na aquisição de competências cognitivas básicas por parte dos alunos. Os resultados do SAEB de 2001 indicam que 59% das crianças na 4ª série do ensino fundamental não adquiriram os conhecimentos e as competências básicas de leitura e 52% não adquiriram os conhecimentos matemáticos apropriados a essa faixa de escolarização (BRASIL, 2003b, p. 9). O Programa continha “quatro linhas de ações prioritárias”66 (BRASIL, 2003c, p. 7), dentre as quais “implantar a Política Nacional de Valorização e Formação de Professores” (BRASIL, 2003c, p. 7), pois “a inclusão educacional com qualidade social – que sintetiza a escola de qualidade para todos – só ser[ia] consolidada, para o governo, com a valorização permanente dos profissionais da educação” (BRASIL, 2003b, p. 6). Cristovam Buarque, na época, fez uma apresentação do Programa, antes das Matrizes de Referência serem discutidas e aprovadas nos encontros estaduais e nacional:

Professoras e professores brasileiros,

O Brasil pode nas próximas décadas se transformar num líder mundial em educação. Para isso, precisa não se conformar com o quadro drástico de insuficiência no desempenho dos alunos do ensino fundamental.

Também devemos garantir que as crianças não

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As outras três linhas de ação incluíam: “ampliar o atendimento escolar, incluindo as crianças de seis anos no ensino fundamental; apoiar a construção de Sistemas Estaduais de Avaliação da Educação Básica e instituir programas de apoio ao letramento” (BRASIL, 2003c, p. 7).

apenas fiquem na escola, mas aprendam. O principal caminho para isso é o professor. É preciso fazer com que o professor seja um profissional bem remunerado, bem preparado e dedicado. Investir na cabeça, no coração e no bolso do professor.

Isso custaria muitas vezes menos do que o gasto para criar a infra-estrutura econômica; não custaria mais, em 15 anos, do que o equivalente a duas Itaipus. Sobretudo, custaria muito menos do que o que será preciso gastar daqui a 20 ou 30 anos para corrigir os desastres decorrentes da falta e da má qualidade da educação.

Para tanto se impõe uma condição preliminar: um grande pacto nacional, entre partidos, lideranças, Estados, Distrito Federal, Municípios e União, todos voltados para o objetivo de chegarmos a 2022, o segundo centenário da Independência, sem a vergonha de contar com brasileiros analfabetos (BRASIL, 2003b, p. 6).

A valorização do professor da educação básica é prioridade. As ações empreendidas pelo Ministério da Educação deverão conduzir à elevação progressiva da remuneração do trabalho docente, por meio da fixação de um piso salarial, à garantia de uma formação inicial e continuada de qualidade, à construção de diretrizes nacionais de carreira, à concessão de benefícios sociais que favoreçam o acesso do professor a bens culturais necessários ao exercício profissional. Por fim, a valorização maior haverá de se expressar na aprendizagem do aluno, como forma de garantir a inclusão social e o exercício da democracia cidadã (BRASIL, 2003b, p. 6-7).

[...] o que neste encontro nacional se discutirá e aprovará são os saberes e as competências que distinguem o professor, que fazem dele um profissional de inigualável importância para a sociedade brasileira (BRASIL, 2003b, p. 7). Em junho de 2003, lançamos o programa Toda Criança Aprendendo com a convicção de que o futuro do Brasil depende de uma revolução na educação que leve as grandes maiorias ao pleno exercício da cidadania, por meio do conhecimento que emancipa e cria as condições da liberdade e

da autonomia individuais. Queremos reafirmar, neste momento, a crença de que o agente desta revolução, de que o país necessita e que aguarda, é o professor, que, com sua palavra e ação, em suas salas de aula e associações, faz da educação uma grande luta de reinvenção de nossa história e sociedade, um esforço de construção da nação democrática (BRASIL, 2003b, p. 7).

E a valorização do professor prosseguiria, ao longo do texto, como aspecto importante a ser relevado para o país sair do quadro de calamidade estatística constatado pelo governo no ensino fundamental:

A consolidação da escola pública de qualidade para todos, que combata as desigualdades e contribui para a construção de uma sociedade justa, democrática e solidária, está diretamente relacionada com a valorização e a formação dos professores (as) brasileiros (as) (BRASIL, 2003b, p. 10-11).

A criação de um certificado nacional de docência tem o objetivo de contribuir para a construção da identidade profissional do Magistério, ao mesmo tempo em que coloca o professor no centro da vida nacional, esteja ele onde estiver. [...] é relativamente consensual a necessidade de se conferir ao professor o status profissional a que ele faz jus. Ao longo das últimas décadas, associações de educadores e sindicatos da categoria têm desenvolvido essa luta das mais variadas formas (BRASIL, 2003b, p. 11).

A construção da política de valorização dos professores é um grande compromisso com a qualidade social da educação brasileira. Exige de todos nós a disposição de discutir e de construir, com espírito aberto, com humildade e sem preconceitos. As divergências existirão e fazem parte do processo democrático. O essencial é comprometer nossos corações e mentes com a luta pelo reconhecimento público da importância do professor (BRASIL, 2003b, p. 13).

Garantir a todos o acesso ao conhecimento é criar as condições para o exercício livre da cidadania. O

MEC assume esse desafio priorizando a valorização docente por reconhecer que o professor, na boniteza de seu trabalho cotidiano, criativo e ousado, é o grande agente das mudanças de que a educação e a sociedade brasileira necessitam (BRASIL, 2003b, p. 13).

Ser professor, hoje, significa mais que ensinar determinados conteúdos. Os desafios do mundo contemporâneo exigem que ele seja, antes de tudo, um educador ético e comprometido com a transformação da sociedade, na busca de justiça, democracia e participação, favorecendo o exercício dos direitos básicos de cidadania (BRASIL, 2003b, p. 18).

Em dezembro de 2003, Cristovam Buarque voltaria a reafirmar a valorização do professor como o caminho prioritário para revolucionar a educação brasileira:

Professora e Professor,

Em todo Brasil, tenho sempre dito que a valorização do professor da educacão [!] básica é a prioridade do Ministério da Educação. [...]. A superação do quadro drámatico [!] de insuficiência no desempenho dos alunos do ensino fundamental depende de investimento no professor: na sua formação, nas condições de trabalho e na remuneração.

O Sistema Nacional de Formação Continuada e Certificação de Professores, criado em junho de 2003, é um componente essencial da política de valorização da profissão. Por meio deste sistema, faremos com que todo professor da educação básica brasileira encontre as condições de incentivo para a consolidação do saber profissional num espaço pedagógico que garanta, acima de tudo, o direito de aprender do aluno. O programa "Toda Criança Aprendendo" sustenta- se na crença de que o futuro do Brasil depende de uma revolução na educação que garanta, às grandes maiorias, o acesso ao conhecimento e à cultura de nossa época. Tudo faremos para que a igualdade de oportunidades educacionais transforme-se em tema cotidiano de debates e

venha a ser uma meta inscrita no coração de todos os brasileiros. Essa mudança tem como agentes principais as professoras e os professores brasileiros (BRASIL, 2003c, p. 5).

O Ministério da Educação entende que valorizar o professor é uma tarefa inadiável e conta com o apoio e a participação de todos para que se produzam os resultados esperados no prazo mais curto possível (BRASIL, 2003c, p. 17).