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PARTE II: Temas desenvolvidos no estágio

1. Cuidados com a pele

1.1. Proteção solar

1.1.1. Enquadramento

Em Portugal surgem, anualmente, cerca de 10 mil novos casos de cancro da pele. Destes, 700 a 800 assumem a forma mais grave, o melanoma. Este inicia-se nas células da pele que produzem a melanina, os melanócitos. O seu principal fator de risco é a exposição excessiva e desprotegida ao sol [49].

A radiação ultravioleta, natural e artificial (solários), causa envelhecimento prematuro e danos cutâneos. Quando é exposta aos raios, a pele escurece, ficando bronzeada, pois os melanócitos reagem produzindo mais melanina. Contudo, a exposição prolongada e de forma desprotegida pode desregular o ciclo natural destas células, alterando a sua estrutura e tornando-as malignas. A sua proliferação exagerada pode ficar limitada à pele ou espalhar-se para outras partes do corpo, tornando-se um melanoma metastizado [49, 50].

Existem outros fatores de risco como [50]:

 Sinais cutâneos – pequenas proeminências de melanócitos e de tecido circundante, naturalmente presentes desde o nascimento ou que surgem ao longo da vida, constituem um risco aumentado quando se concentram mais de 50 sinais ou quando a eles se juntam nevos displásicos, sinais atípicos com maior probabilidade de evoluir para melanoma;

 Pele clara – pele com menos melanina, logo menos protegida da radiação ultravioleta;

 Antecedentes pessoais/familiares de cancro da pele – pessoas que já foram tratadas para um melanoma, podem vir a ter um segundo. A probabilidade também cresce se houver antecedentes familiares, sobretudo se houver dois ou mais parentes próximos que tenham tido melanoma.

Esta é uma área onde a intervenção do farmacêutico pode fazer a diferença. Nesse âmbito, aproveitando a proximidade com o Dia Europeu do Melanoma (dia 12 de maio), realizei na última semana do mês de maio uma ação de sensibilização para a proteção solar e deteção precoce do cancro da pele junto dos utentes da Farmácia da Boa Hora

(Anexo VII). Durante esta semana, os utentes puderam determinar o seu fototipo cutâneo

segundo a classificação de Fitzpatrick (Anexo VIII) e avaliar o seu risco de desenvolver cancro cutâneo, com base nos fatores de risco para esta patologia. Foi entregue também um panfleto abordando estes aspetos (Anexo IX).

1.1.2. Fototipo cutâneo

Existem seis fototipos cutâneos diferentes de acordo com a escala de Fitzpatrick, desenvolvida em 1975 e amplamente aceite para avaliar o tipo de pele. É um sistema de classificação numérica para determinar a cor da pele com base num questionário relacionado com a constituição genética individual, reação à exposição solar e hábitos de bronzeamento. A resposta para cada questão é medida numa escala de zero a quatro. A resposta de todas as perguntas é somada para obter a pontuação final a que corresponde um determinado fototipo [51, 52].

1.1.3. Autoavaliação regular e método ABCDE

Para aumentar a probabilidade de deteção precoce de um novo melanoma, a pele deverá ser autoavaliada mensalmente, seguindo o método ABCDE. A melhor altura para o realizar é depois do banho, num local com muita luz, com um espelho que permita ver o corpo todo e um espelho de mão. Deve ser examinado o rosto, frente e costas do corpo e também o lado esquerdo e direto com os braços levantados. Devem ser examinadas cuidadosamente a parte interna dos braços, a parte posterior das pernas, as palmas das mãos, a sola dos pés e os espaços entre os dedos. A nuca deve ser examinada com um espelho de mão, retirando o cabelo para uma observação mais minuciosa. Por fim, examinar as costas e nádegas com um espelho de mão [49, 50].

Os critérios ABCDE têm sido utilizados pela comunidade médica e não médica para a deteção precoce de melanomas, crucial para o tratamento desta patologia. Pretende ser uma ferramenta simples e direta, não fornecendo, portanto, um modelo abrangente de todas as características do melanoma [53].

Assim, em caso de Assimetria, Bordos irregulares, Cor não uniforme, Diâmetro superior a 6 mm e Evolução repentina das características do sinal, deve-se suspeitar de melanoma e consultar imediatamente um dermatologista (Figura 1). As lesões/sinais não precisam de ter todas as características ABCDE para sugerir melanoma [53].

Figura 1 Método ABCDE para deteção precoce de melanoma. Adaptado de [53].

1.1.4. O farmacêutico e a prevenção do melanoma

O aumento da incidência dos vários tipos de cancro de pele exige que o farmacêutico promova, junto dos seus utentes, a educação para a saúde cutânea.

Aquando da ação “Sol: aprenda a proteger-se”, ao questionar os utentes, pude verificar que a grande maioria apenas utiliza proteção solar quando vai à praia e não no dia-a-dia. Assim, os praticantes de exercício ao ar livre ou que exerçam atividades laborais no

exterior são um grupo de risco. Por vezes, a aplicação de proteção solar na praia também não é a mais adequada.

Quando se dirigiam à farmácia utentes que trabalhavam na construção civil, verifiquei várias vezes que a sua pele era bastante bronzeada ou com queimaduras. Quando questionados, raros foram os que afirmaram utilizar protetor solar. Os utentes mais informados sobre esta temática, de acordo com a minha experiência, foram os de sexo feminino, talvez por terem mais cuidados com a pele.

Assim, tentei explicar todos os cuidados na exposição solar [54]:  Evitar as horas de maior calor, entre as 12h e as 16h;

 Os olhos deverão ser protegidos por óculos de sol contendo filtros UVA e UVB. Esta recomendação é de elevada importância para as crianças, pois a retina da criança é menos protegida, logo a transmitância da radiação UV através dos olhos é mais elevada;

 A roupa é a melhor proteção para a pele. As zonas de pele a descoberto deverão ser protegidas com protetor solar adequado para o fototipo cutâneo (Tabela 1), que deve ser aplicado meia hora antes da exposição solar. A aplicação deve ser renovada pelo menos de duas em duas horas ou após o banho de mar ou transpiração intensa;

 Crianças com menos de um ano de idade não devem ser expostas ao sol. Até aos 3 anos de idade, deverão usar apenas filtros inorgânicos, que não são absorvidos;  Deve ser verificado o índice UV para cada localidade, informação disponível no

website do Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA). Para a latitude de

Portugal, os valores médios entre os meses Maio e Setembro são entre 9 e 10, o que corresponde a um índice muito alto onde é necessário precauções elevadas com o sol;

 A ingestão de quantidades adequadas de água também não deve ser esquecida.

Tabela 3 Nível de proteção adequada contra raios UVA para cada fototipo cutâneo.

Fototipo Proteção UVA

I 50+ II 50+ III 30 IV 30 V 20 VI 20

A utilização de solários também deve ser desaconselhada, pois existem estudos que comprovam o aumento do risco de melanoma maligno nos seus utilizadores. Este aumento é ainda mais evidente quando a primeira utilização do solário acontece antes dos trinta e cinco anos [55].

O farmacêutico também deve contribuir para a educação solar nas crianças, ainda antes da adolescência. Nesta fase, não existem muitos conhecimentos sobre os cuidados a ter na proteção solar e sobre os perigos do sol. Os adolescentes procuram apenas o bronzeado, esquecendo-se dos perigos de uma exposição desprotegida. Assim, este é um período essencial para a educação para a exposição solar, devendo servir os pais como exemplo. Estudos demonstram que a prevalência de queimaduras solares na adolescência é alta, existindo necessidade de mais ações de sensibilização e maior divulgação dos cuidados na proteção solar, bem como o incentivo à prática do autoexame regular à pele seguinte os critérios ABCDE [56, 57].

Para contrariar esta situação, quando me pareceu oportuno, tentei alertar os pais para sensibilizarem os filhos para o uso do protetor solar diariamente. Se as crianças começarem desde pequenas a usá-lo, tornar-se-á um hábito que poderá prevenir muitos constrangimentos no futuro.

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