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Quadro X: Avaliação Geral do Curso CPM

Pontos fortes:

- Existência de um sistema permanente de acompanhamento e avaliação docente.

- Motivação do grupo para continuar aprendizagem em educação médica.

- Capacidade de assimilação de novas técnicas de ensino-aprendizagem, com evidente crescimento pessoal em termos de qualidade.

- Horário para confraternização (intervalo) convivência e até resolução de problemas pessoais.

- Variedade de experiência prévia em Medicina com formações especializadas diferentes, permitindo a complementaridade.

- Existência do trabalho de desenvolvimento do potencial humano e formação de equipe disciplinar.

- Trabalho em duplas nos grupos permitindo a exposição a diferentes docentes, locais de práticas e pacientes em fases diferentes do ciclo de vida. - Integração entre a coordenação e os demais

docentes.

Pontos fracos:

- Inexistência de um manual detalhando o curso, desde sua abordagem filosófica até critérios de avaliação.

- Número elevado de alunos nos encontros coletivos.

- Aprendizagem pedagógica no “curso do curso”, gerando insegurança.

- Deficiências dos docentes em semiologia. - Discrepâncias de resultados na avaliação. - Falta de hábito em criar atividades pedagógicas

e recursos auxiliares envolventes.

- Dificuldade de relacionamento com discentes “displicentes”.

- Ansiedade em cumprir o programa.

- Dificuldade em aceitar e/ou vivenciar alguns pressupostos pedagógicos, tais como aluno sujeito da aprendizagem e facilitador centrado na pessoa.

- Muito trabalho para pouco salário (professor substituto).

Nesta avaliação do curso também realizamos uma minuciosa análise de congruência entre a fundamentação pedagógica, os objetivos do curso e as atividades realizadas. Concluímos que existiam grandes discrepâncias entre os três itens. Para eliminá-las decidimos realizar um laboratório de produção pedagógica, antes de começar o novo semestre letivo de 1998.

As decisões tomadas a partir desse laboratório foram:

• Enfatizar a condição de aluno sujeito da aprendizagem:

- Reservando um tempo livre dentro do horário oficial para pesquisa de temas de seu interesse na biblioteca e no “NAVE”, laboratório de Informática da FAMED;

- Ampliando o feedback descritivo não valorativo (avaliação formativa) - Aprimorando as técnicas participativas;

- Atendendo a ritmos de aprendizagem diversificados através de horários especiais de aceleração ou reforço pedagógico;

- Permitindo ao aluno solicitar novos avaliadores, quando se sentir inadequadamente avaliado;

- Reforçando a auto-avaliação, tendo como referência um padrão-ouro de desempenho;

• Otimizar o tempo docente, na produção de recursos didáticos auxiliares e no desempenho de facilitador centrado na pessoa.

- Definindo tarefas de construção de planos de atividades para os grupos, em duplas docentes e socializando posteriormente todos os planos;

- Construindo um banco de questões;

- Criando uma lista mínima de referências bibliográficas;

- Mantendo sessões regulares de desenvolvimento do potencial humano e aprofundamento de temas filosóficos e psicológicos ligados à educação; • Caracterizar melhor a abordagem biopsicossocial do ser humano:

- Introduzindo a escuta analítica, a coleta da história de vida e o acompanhamento continuado dos pacientes no hospital;

- Utilizando bibliografia pertinente como Medicina da Pessoa, Psicossomática Hoje etc;

- Resgatando aspectos sociais do adoecer, já trabalhados em outras disciplinas, na análise de situações clínicas;

- Registrando numa escala de atitudes a evolução do relacionamento estudante-paciente a partir de observações diretas do docente, opinião de discentes quando trabalhando em duplas e comentários pessoais dos discentes.

• Dar visibilidade aos temas transversais, em especial, ao cultivo de valores:

- Criando um espaço-tempo exclusivo para discussão desses temas em situações clínicas;

- Construindo critérios de avaliação para tais atividades;

- Reapresentando os temas, de forma aplicada, nas atividades dos grupos; - Realizando, pelo menos uma vez por semestre, estudos aplicados relativos ao

autocuidado;

- Enfatizando o espírito científico, em especial, através de pesquisa bibliográfica, na preparação de discussões de situações clínicas;

- Desenvolvendo uma abordagem do exame físico do paciente não fragmentária, previamente treinada em pessoas normais;

Concluímos o laboratório com a elaboração coletiva de um detalhado manual para a disciplina em anexo. O semestre letivo 1998.2 caracterizou-se pelo aperfeiçoamento na execução das atividades propostas no manual e crescente envolvimento docente no atendimento de demandas emergentes. Merecem destaque:

- A construção de planos de atividades com técnicas ativas, novos recursos auxiliares e abordagens criativas dos temas transversais. A rápida socialização deles constituiu, posteriormente, um manual de sugestões para futuros docentes. Cerca de 20 planos de atividades foram testados e retestados antes da aprovação definitiva. Eles corresponderam à metade do curso do 2° semestre. Houve, simultaneamente, um aumento significativo no domínio das técnicas ativas pelos docentes. Textos literários, filmes, músicas, desenhos passaram a ser utilizados para desenvolvimento das sensibilidades dos alunos e construção refinada da percepção do outro. De forma ainda incipiente, a informática contribuiu na pesquisa de textos ou na produção de material didático (slides, textos, cartazes). Verificamos, nessa fase, a dificuldade de adaptação de parte dos docentes em fazer atividades de aperfeiçoamento das percepções do aluno e abordar o exame físico não fragmentariamente no processo de ensino

aprendizagem. Para cada assunto, escolhemos uma bibliografia mínima fundamental e outra complementar, compatível com o acervo existente na biblioteca da FAMED e distribuída antecipadamente.

- O banco de questões foi parcialmente construído neste semestre. A cada docente foi atribuída tarefa específica na produção de questões; elas foram apresentadas e reformuladas, por amostragem, em reuniões docentes até se atingir um padrão ótimo de construção. Neste modelo foram discutidas aproximadamente 180 questões e a seguir produzido um banco de 500 questões. Também construímos um banco de textos de interesse humanístico.

- O desenvolvimento do potencial humano continuou através de vivências nesse período, enfatizando a percepção da “sombra” nas relações interpessoais e sua qualidade, a convivência em grupo, as formas de aprendizagem, a motivação, o desapego, a comunicação, a linguagem proativa, o reconhecimento dos tipos psicológicos e suas implicações sócio-educacionais, entre outros. Esta atividade permaneceu como referência para o grupo e foi motivo relevante para fixação do docente no trabalho pedagógico em curso.

- O aprofundamento das questões filosóficas da educação e epistemológicas do saber foi motivo de debates, estudos analíticos de autores como Kuhn, Popper, D’Ambrósio, entre outros. Algumas teses de doutorado em educação holística e similares foram apresentadas em exposições sintéticas. Introduzimos, com regularidade, a apresentação de artigos de Educação Médica, iniciando a análise qualitativa da produção na área, o reconhecimento de metodologias de pesquisa, diferentes dos modelos biomédicos.

- Estruturamos também a avaliação formativa na metade do curso, com avaliadores externos e produção de relatório de desempenho descrito com imediata comunicação ao aluno para percepção adequada do seu estágio de aprendizagem. Também organizamos horários especiais de reforço pedagógico. - Reformulamos, progressivamente, o conjunto de atividades realizadas às

quartas-feiras. A primeira metade da manhã foi reservada para a realização de estudos de situações clínicas reais, numa abordagem baseada em problemas, conhecida como “oficinas de raciocínio clínico”. Para realizá-las, adequadamente, estimulamos o estudo prévio das informações básicas dos aspectos fisiológicos, fisiopatológicos e clínicos de cada caso. Para tanto, destinamos uma manhã para estudos autodirigidos com relato no diário de

campo, decisão que obteve grande aceitação pelos alunos, em função da carga horária elevada do conjunto das disciplinas. A aprendizagem desse horário era testada a cada semana e a seguir os docentes realizavam atividades para ampliação do conhecimento e aplicavam outro teste. Os temas de natureza ética, a integração do saber, a multidisciplinaridade, o espírito crítico-cientifico encontraram um espaço formal, na segunda metade da manhã, com avaliação que os valorou adequadamente. Apresentados por diferentes técnicas pelos docentes que, às vezes, traziam convidados, houve crescente participação de alunos, através de estudos prévios, leitura de textos, produção de resenhas e discussão sobre a validade de sua aplicação em situações concretas. Nesse espaço aplicamos questionários de pesquisa sobre autocuidado, qualidade de vida, DST e hábitos sexuais com aprendizagens pessoais significativas.

A avaliação do crescimento do aluno através de uma escala de valores, demorou a ser assimilada pelos docentes; como cada um tinha sua própria compreensão sobre quais os valores a serem desenvolvidos e que atitudes corresponderiam a sua expressividade, tornou-se difícil o consenso. A experiência de estar avaliando e sendo avaliado, a vivência de atividades de desenvolvimento humano permitiu uma percepção, além das palavras, simbólica e afetiva cada vez mais consistente. Um aspecto da dificuldade inicial decorria da idéia de que valores eram uma questão de família e de cultura e não deveriam ser preocupação de curso acadêmico, pois, àquela altura da vida já estavam formados ou deformados.

Um sumário das mudanças pedagógicas observadas na disciplina CPMI está exposto na Quadro XI:

Quadro XI: