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Resultados Extradisciplinares

Algumas repercussões relevantes da transformação pedagógica da CPMI foram observadas, subseqüentemente, em outros espaços da FAMED. Entre elas destacamos:

• A transformação da disciplina Clínica Propedêutica Médica II

Esta disciplina, desde 1992, funcionava como estágios em especialidades, com duração de duas semanas e carga horária total de 24 horas. Cada estágio, vinculado a diferentes departamentos e exercido nos serviços especializados, começaram a ser percebidos como a antítese do modelo preconizado na disciplina anterior (CPMI). A abordagem da propedêutica era especializada, restrita à dimensão biológica, mesmo assim, sem grandes vínculos com a totalidade do corpo humano, pois, acontecia em ambulatórios, enfermarias e serviços de Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Urologia, Ginecologia, Neurologia, Radiologia e Dermatologia. Não havia possibilidade de integração e as notas finais, como média aritmética dos estágios, permitia que o aluno tivesse mau ou nenhum aproveitamento em estágios e ainda ser aprovado. A maior parte deles era veemente criticado, tanto por alunos como por professores. A relação aluno-professor era considerada precária em função da exigüidade de tempo e atuação de diferentes professores no mesmo estágio.

A pressão de estudantes, oriundos da Clínica Propedêutica Médica I e a repercussão do desempenho desta disciplina, no Departamento de Medicina, resultou na modificação total dos objetivos da Clínica Propedêutica Médica II. Ela passou a contribuir, essencialmente, na formação do raciocínio clínico com ênfase na abordagem da relação médico-paciente e no estudo de situações clínicas epidemiologicamente relevantes, no Estado da Bahia. Como decorrência natural, continuou a dar relevo a integração biopsicossocial, a desenvolver um estudo sobre custo-efetividade de exames complementares e a trabalhar a abordagem centrada na família. O novo objetivo da disciplina pretende preparar o aluno para atuar em ambulatórios de atenção básica à saúde. Criamos um corpo docente, específico do Departamento de Medicina, que passou a ser treinado pedagogicamente, no mesmo modelo da disciplina anterior. Construímos também um sistema de integração entre os docentes, a partir do planejamento conjunto de algumas atividades e aplicamos, com sucesso, uma avaliação externa interdisciplinar. Nesta experiência, os alunos da Clínica Propedêutica Médica I, para serem considerados aptos, passaram por uma avaliação de uma semana de professores da disciplina subseqüente.

• A aprovação de um novo modelo da Clínica Médica I

Esta disciplina é usualmente ensinada no Hospital Universitário em enfermarias ou entidades similares, onde há programas de Residência Médica. Ao longo dos anos, ela tem oscilado no conceito dos alunos, em função da fase que atravessa cada hospital ou ainda dependente da especialidade do docente. Seu problema capital, entretanto, está em colocar o aluno egresso de uma iniciação ao exame clínico, frente a doentes complexos, hospitalizados, ou ainda com patologias raras. Além disso, há uma tendência precoce à especialização, dentro da Clínica Médica e enfatiza-se a prática em enfermaria quando a maior parte do tempo, da maioria dos médicos, é utilizada no atendimento o em consultórios.

O novo modelo da disciplina preconiza a integração academia – serviço – comunidade, enfoca a família como centro de atenção, enfatiza a prevenção e a promoção em saúde da comunidade e deve realizar o treinamento em atenção básica à saúde da população. Está, portanto, em consonância com os projetos atuais de Educação Médica (UNI-

CINAEM), em especial, ao modelo preconizado pelo Ministério da Saúde, em Programa de Saúde da Família.

A proposta aprovada no Departamento de Medicina e no Colegiado de curso exige, entretanto, uma intensa conjugação de esforços para encontrar espaços adequados, na rede de serviços públicos ou organizações não-governamentais, com atuação consistente em populações adscritas. Por outro lado, é difícil no sistema de contratação temporária que vive a Universidade, constituir uma equipe docente, que possibilite exercer, com qualidade, uma supervisão em campos de estágios na periferia de Salvador ou mesmo na região metropolitana; daí, porque, até a presente data, não se encontrou a forma de viabilizá-la.

• A criação do curso de Metodologia do Ensino Superior na Área de Saúde

Esta pesquisa-ação, ainda na fase de desenvolvimento, foi apresentada nas reuniões do Projeto UNI – Bahia, quando se discutia a necessidade de reformas curriculares, na área de saúde. Na oportunidade, o grande entrave para os avanços pedagógicos era a formação inadequada dos docentes para atuar, integrando ensino, serviço e comunidade. Além disso, constatava-se a pouca efetividade transformadora de treinamentos de curta duração com professores supervisores da área de educação, que tinham dificuldade para empreender mudanças em uma área tão peculiar como a saúde. O relato e a constatação dos resultados na CPMI resultou na criação do curso de pós- graduação, lato sensu, de imediato para 52 docentes da UFBa, envolvendo 7 instituições, sob o patrocínio da Fundação Kellog.

As diretrizes pedagógicas desse curso foram assim caracterizadas:

• O aluno é o sujeito da aprendizagem e como tal deverá dar ênfase às técnicas de ensino-aprendizagem ativas, valorizando-se a experiência prévia do discente. • A aprendizagem se efetivará através de estudos e práticas, com complexidade

crescente partindo da práxis cotidiana e envolvendo a disciplina, unidades de ensino e uma apreensão do currículo de cada curso. Será enfatizada a importância da interdisciplinaridade.

• A aprendizagem deverá ter aplicação imediata, como parte do processo de avaliação, nos cenários em que atua cada discente, tornando mais efetiva a compreensão de escolhas de pressupostos pedagógicos e sua viabilidade na práxis.

• A concepção de ensino-aprendizagem, educador e educando, valoriza a noção de consciente e inconsciente, possibilidades de percepção do outro e do mundo, através do intelecto, sensação, intuição e sentimento.

• A totalidade do curso objetiva explicitar respostas inovadoras e viáveis para as seguintes questões:

Quais os princípios de filosofia educacional do docente? Quais os fundamentos psicológicos aceitos?

Como são escolhidos os procedimentos didáticos e quais são eles? Quem é o aluno? Quem é o professor?

Como se constroem relações interpessoais? Qual o sistema de avaliação?

Que recursos auxiliares são essenciais ao curso?

Qual a concepção de saúde mais adequada para a contemporaneidade? Como transformar em ação pedagógica concepções inovadoras na UFBA?

O curso deverá identificar o conhecimento pedagógico prévio dos participantes, particularmente, nas suas aplicações cotidianas, e desenvolver estratégias de ensino- aprendizagem, que facilitem a compreensão de novas dimensões do saber pedagógico, em complexidade crescente da prática em sala de aula, até a reflexão filosófica sobre as diretrizes curriculares. Será enfatizada a percepção histórico-evolutiva do desenvolvimento da pedagogia, em especial, na área de saúde.

O aprendizado deverá ser imediatamente aplicado no planejamento de disciplinas do semestre subseqüente, assegurando-se assim, o seu caráter prático operacional imediato.

Será utilizada uma variedade de técnicas de ensino individualizado e grupal, que torne dinâmico o desenvolvimento do curso, ao tempo que se familiariza cada participante com suas implicações e aplicações.

• Planejamento de ensino-aprendizagem em saúde

• Planejamento educacional. Definição de objetivos. Taxionomia dos objetivos educacionais. Técnicas de ensino individualizado e em grupos. Recursos auxiliares. Articulação com os fins educacionais. Unidades de ensino- aprendizagem. Disciplinas. Interdisciplinaridade aplicada. Currículo. Tipos de avaliação. Instrumentos de avaliação. A relação psicopedagógica. A relação didática. O projeto CINAEM.

• Filosofia educacional em saúde

• Fundamentos de Filosofia da Ciência. O ato de conhecer. A natureza do conhecimento. Realismo, idealismo, pragmatismo, positivismo, existencialismo. Conceitos filosóficos em educação na área de saúde. Valores e educação. Subsídios axiológicos para Bioética. Concepções contemporâneas sobre saúde- doença. O paradigma da complexidade.

• Psicologia educacional em saúde

Correntes psicológicas na educação, Behaviorismo, gestaltismo, humanismo, psicanálise, cognitivismo. Ensino centrado em competência. Construtivismo. Atividades multidisciplinares. A formação do facilitador holocentrado. O projeto UNI.

Foi possível agregar docentes, de diferentes formações, num projeto de ensino- aprendizagem, com repercussão imediata em algumas disciplinas das diferentes instituições envolvidas. A repercussão positiva gerou uma nova demanda e o curso está sendo reapresentado para docentes de Medicina e Enfermagem.

• A aprovação de parâmetros para reconstrução curricular

O colegiado de Medicina aprovou uma proposta de parâmetros pedagógicos para a reconstrução curricular com base naqueles pedagógicos utilizados na disciplina (CPMI), enfatizando a formação docente, com base no curso de Metodologia do Ensino Superior.

• O reconhecimento público

A disciplina tem sido motivo de honrosas citações oficiais da FAMED, sendo lembrada, sistematicamente, pela sua transformação. Mais recentemente alunos concluintes do curso têm prestado homenagens em formaturas, e professores, em concurso para o nível de titular, reconheceram a qualidade dos docentes envolvidos. Seus professores efetivos têm sido convidados para sensibilizar mudanças curriculares em Nutrição, Odontologia, Enfermagem e Farmácia no Brasil.

O interesse por cursos complementares de pós-graduação

O treinamento sistemático em Educação Médica na CPMI despertou o interesse de vários profissionais, principalmente em Psicologia (especialização) e posteriormente na pós-graduação (Mestrado). Verificou-se um nítido aumento de demanda no Mestrado em Medicina, de candidatos que exerciam a função de professor-substituto.

Merece destaque também a constatação de que vários professores substitutos persistiram, dando contribuições à disciplina, após o término do seu contrato pela gratificação sentida ao participar de um projeto de transformação pedagógica, com tais características.

A eliminação do escore do histórico escolar, como critério de organização da matrícula. Pela influência direta do coordenador da disciplina CPMI, o colegiado de curso entendeu que poderia utilizar-se de outros mecanismos de organização da matrícula, eliminando o escore que servia para ampliar a motivação pela concorrência de notas entre colegas de turma, até estimulando a burla através da cola, a sonegação de informações entre colegas, contrariando valores essenciais à prática médica, como a solidariedade.