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Quadro III: Diferenças paradigmáticas em saúde

PRESSUPOSIÇÕES DO VELHO PARADIGMA DA MEDICINA

PRESSUPOSIÇÕES DO NOVO PARADIGMA DE SAÚDE

Especializada Integrada, preocupada com o paciente como um todo.

Ênfase na eficiência.

Profissionais devem ser emocionalmente neutros.

Ênfase nos valores humanos. Os cuidados profissionais são um dos componentes da cura. Dor e doenças são completamente negativas. Dor e doenças são informações sobre conflitos

e desarmonias. Intervenções principalmente com

medicamentos e cirurgia.

Intervenções mínimas com a “tecnologia apropriada”, complementadas com todo o

instrumental técnico não-agressivo (psicoterapias, dieta, exercícios). O corpo é visto como uma máquina em bom

ou mau estado de manutenção.

O corpo é visto como um sistema dinâmico, um contexto, um campo de energia dentro de

outros campos. A doença ou a incapacidade vista como uma

coisa, uma entidade.

A doença ou a incapacidade vista como um processo.

Ênfase na eliminação dos sintomas da doença. Ênfase na obtenção do máximo de saúde, “saúde-meta”.

O paciente é dependente. O paciente é (ou devia ser) autônomo. O profissional é a autoridade. O profissional é um parceiro terapêutico. O corpo e a mente são separados; os males

psicossomáticos são mentais, podendo ser entregues ao psiquiatra.

Perspectiva corpo-mente; os males psicossomáticos estão dentro do alcance de

todos os profissionais da área de saúde. A mente é um fator secundário na doença

orgânica.

A mente é o fator primário ou de igual valor em todas as doenças.

Efeitos de placebo mostram o poder da sugestão.

Efeitos de placebo mostram o papel da mente na doença e na cura.

Confiar principalmente em informações quantitativas (gráficos, testes, entrevistas).

Confiar principalmente em informações qualitativas, inclusive relatos subjetivos dos

pacientes e instituições profissionais; as informações quantitativas são complementares. “Prevenção” amplamente ambiental:

vitaminas, repouso, exercícios, imunização, não fumar.

“Prevenção” como sinônimo de integridade: trabalho, relacionamentos, objetivos, corpo-

mente-espírito.

A análise multidimensional do setor saúde com base no pensamento complexo foi proposta entre nós, por Chaves. Ele compreende o setor em questão como possuidor de fronteiras imprecisas, ligado intimamente a outros setores sociais como educação, trabalho e seguridade social, dependente de setores econômicos e só parcialmente capaz de influenciar os indicadores de saúde (Chaves, 1998). Seu modelo para o setor de saúde inclui oito dimensões caracterizadas a seguir:

Dimensão ética – É percebida como pilar central. Envolve a análise e as decisões de questões ligadas ao ciclo vital, tais como reprodução assistida, aborto, transplantes de órgãos, cuidados com pacientes terminais, o autocuidado e a responsabilidade de cada indivíduo em relação à sua própria saúde e a de sua família, a alocação de recursos públicos visando obter maior benefício para maior número de pessoas; e os limites da pesquisa científica, entre outras questões.

Dimensão ecológica – É no âmbito da comunidade que se percebe esta dimensão do setor saúde, com maior clareza, sob a forma do binômio, saúde e meio ambiente. Abrange prioritariamente medidas relativas ao abastecimento público da água e saneamento, saúde dos trabalhadores, manejo de resíduos sólidos, higiene da habitação, controle de riscos de saúde relacionado com o ambiente e a seguridade do uso de substâncias químicas, etc.

Dimensão epidemiológica – A prevalência das patologias é a mais conhecida das características do setor saúde, que ainda se organiza em função delas. Os indicadores de saúde usualmente apresentam as estatísticas de morbi-mortalidade. Especialistas fizeram projeções para as 15 principais causas de carga de doença, usando um novo indicador conhecido como “anos de vida ajustados por discapacidades” (Avads), com base em dados de 1990 e projetado para 2020 e concluíram pela seguinte ordem de problemas em termos de importância relativa:

1. Doença isquêmica do coração 2. Depressão unipolar grave 3. Acidentes de tráfego 4. Doença vascular cerebral

5. Doença pulmonar crônica obstrutiva 6. Infecções respiratórias inferiores 7. Tuberculose

8. Guerra

9. Doenças diarréicas 10. Aids

11. Doenças do período perinatal 12. Violência

13. Anomalias congênitas 14. Ferimentos auto-inflingidos

15. Cânceres da traquéia, brônquios e pulmão.

Note-se a participação importante de causas externas, reflexo da tensa situação da vida contemporânea. Violência, depressão, ferimentos auto-infligidos, acidentes de tráfego e guerra representam um terço das quinze causas de morte ou discapacidade medidas pelo novo indicador.

Dimensão estratégica – decorrente da dimensão epidemiológica, orienta a organização dos serviços de saúde, atuando no sentido de prevenir um mal maior, quando a própria doença não pode ser evitada. Desde o início da década de 50, que estão estabelecidos os cinco níveis de prevenção (Leavell e Clark, 1965); eles servem de referencial nas atividades de prevenção dos serviços e inclui promoção de saúde, proteção específica, diagnóstico e tratamento precoce, limitação do dano e reabilitação. Nos anos 90, foram acrescidos dois níveis de prevenção: a prevenção primordial, tomada como a prevenção de fatores de risco, quase todos provenientes do ambiente e sob a responsabilidade de outros setores; e unidades paliativas para pacientes terminais .

Dimensão econômica e política – A área econômica da saúde é importante para melhorar o uso de recursos, para maior racionalidade do sistema e para subsidiar o poder político na tomada de decisões. Ela deve estar orientada no valor intrínseco da

vida humana e não do seu valor de uso como instrumento de trabalho. Nesta dimensão tornam-se importantes as questões ligadas à eficiência, custo-efetividade, avaliação de tecnologias, estabelecimento de prioridades, gestão orientada para qualidades e resultados. As linhas de pesquisa orientadas para a chamada medicina baseada em evidências também proporcionam elementos úteis para esta dimensão.

Dimensão educacional – Na área de formação de recursos humanos para a saúde, seja no nível profissional seja no nível técnico e auxiliar o setor saúde mantém estreitas relações com o setor educação. Por outro lado, a educação para a saúde inclui a população como um todo, para exercício da plena cidadania.

Dimensão psicosociocultural – O comportamento dos indivíduos em seu cotidiano depende, em grande parte, de fatores sociais, culturais e psicológicos, e representa uma dimensão fundamental para análise setorial. Ele é o resultado final das opções feitas pelo indivíduo exposto à pressão consumista, aos costumes enraizados na classe e no segmento social a que pertence e às necessidades básicas de reconhecimento dos pequenos grupos de convivência.

Dimensão transcendental - A religiosidade é parte da natureza humana em que o sagrado e o profano convivem e se complementam originando-se em nossa estrutura arquetípica. Torna-se relevante avaliar uma variedade de medidas e práticas de saúde usadas pela população fora da racionalidade terapêutica oficial.