• Nenhum resultado encontrado

INSTRUMENTO QUARTO EXCLUÍDO NA VERSÃO A – CONCEITOS

COTIDIANOS

CATEGORIA TIPO DE PENSAMENTO PRANCHAS A ERRO / ACERTO:

QUANTIDADE

Seres vivos e não- vivos

Conceito propriamente dito 1 Acerto: 1 Complexo em cadeia 2; 3 Acerto: 1 Erro: 1 Complexo difuso 4; 5 Acerto: 1

Erro: 1 Vertebrados e

invertebrados Complexo difuso/cadeia 6; 7; 8; 9 Acerto: 1 Erros: 3 Mamíferos e não-

mamíferos Complexo difuso 11; 12; 13; 15 Acertos: 2 Erros: 2 Aves e não-aves Complexo difuso 16 Erro: 1

Conceito propriamente dito/cadeia

17; 18 Erros: 2 Peixes e não-peixes Conceito propriamente dito/difuso 23; 24; 25 Acertos: 2 Erro: 1

Complexo difuso 21 Acerto: 1 Mamíferos e aves Conceito propriamente dito Complexo difuso 27; 28; 29 26 Acerto: 1 Erro: 1 Erros: 2 Mamíferos e peixe Complexo difuso 31; 32; 33; 34 Acerto: 1

Erros: 3 Peixe e ave Conceito propriamente dito Complexo difuso 36 37 Erro: 1 Erro: 1

Conceito potencial 38 Erro: 1

Ao apresentarem um modo de funcionamento com pensamento por complexos, as crianças construíram vínculos baseados em características factuais que existem efetivamente relações entre os objetos, e que foram apreendidos nas experiências imediatas. Trata-se de pensamento com tentativas de unificação concreta de um grupo de objetos agrupados pela sua

semelhança física. Assim, foram selecionados alguns episódios considerados mais elucidativos dos processos de constituição dos conceitos para análise, ora de uma criança, ora de outra, tendo a preocupação de não estabelecer comparações entre os desempenhos deles. Conforme o exemplo da prancha aplicada em Amanda:

QUADRO 1

Amanda Papagaio – cisne – águia – macaco Prancha 19 A

(ave e não ave) Pesquisadora: O quê é isso?

Criança: Papagaio - Cisne - Águia - Macaco Pesquisadora: Qual desses não combina? Criança: Papagaio.

Pesquisadora: O papagaio? Por quê?

Criança: Porque só fica na gaiola, voa, come ração, é cheio de cor.

Esperava-se que Amanda identificasse os atributos criteriais da categoria ave, ou seja, que constituem uma classe de animais vertebrados, caracterizados principalmente por possuírem o corpo coberto de penas; bicos para se alimentarem; asas e pés que auxiliam na locomoção; e são ovíparos. A ponto de abstrair tais atributos e excluir a categoria mamífero ou outro animal qualquer presente à situação. Entretanto, a criança selecionou o papagaio, utilizando o critério, “ser doméstico”. De acordo com o quadro 3, a criança não buscou o que não combina, e, sim aquilo que realmente faz sentido para ela, quando caracterizou o papagaio dentro das relações que apreendeu, pelas percepções imediatas; e não atendeu o comando dado na atividade. O pensamento da criança, por um lado, buscou elementos factuais da classificação de animais domésticos, afinal, animal que vive em gaiola e come ração é aquele criado em casa. E construiu elos baseados em aspectos concretos do objeto, formados pela suas características físicas, caracterizando, de fato, o pensamento por complexo. Por outro lado, porém, demonstra já identificar um atributo criterial de “animais domésticos”, denotando o uso de conceitos.

O pensamento por complexo do tipo difuso baseia-se nas relações não-concretas, priorizando processos indefinidos, diluídos, que foram organizados para formar vínculos diversos que se combinam entre si. Quando o indivíduo organiza o pensamento por complexo difuso, começa a raciocinar além de suas percepções práticas e imediatas, cria elos subjetivos, mas ainda prevalecem as características do limite de pensamento por complexo, que são os vínculos factuais concretos entre os objetos específicos, apenas compreendidos quando se solicita ao outro a definição do conceito.

De acordo com Vigotski (2001, p.189) “toda a diferença consiste em que esses vínculos se baseiam em traços incorretos, indefinidos e flutuantes, na medida em que o complexo combina objetos que estão fora do conceito prático”. Esses conceitos podem ser verificados no quadro dois, na prancha aplicada em Amanda.

QUADRO 2

Amanda FORMIGA – LEÃO – ELEFANTE – CACHORRO PRANCHA 8 A:

(ANIMAIS VERTEBRADOS E ANIMAIS INVERTEBRADOS) Pesquisadora: O quê é isso?

Amanda: Formiga – leão – elefante – cachorro

Pesquisadora: Qual desses não combina? Amanda: O cachorro.

Pesquisadora: O cachorro? Por quê?

Amanda: Porque o cachorro não vive no mesmo lugar que os outros bichos. Pesquisadora: E onde os outros bichos vivem?

Amanda: Na selva .

Pesquisadora: E o cachorro, vive aonde? Amanda: Em casa, no veterinário e tudo mais.

Almejava-se que Amanda reconhecesse os atributos criteriais da categoria de animais vertebrados, a ponto de abstrair tais atributos e excluir a categoria de animais invertebrados. Os elementos criteriais da categoria de animais vertebrados são caracterizados pela presença de coluna vertebral e por possuírem músculos e esqueletos. Contudo, o animal eleito foi o cachorro. Ao solicitar-se que explicassem porque selecionou esta figura apontou que o cachorro mora em um lugar diferente dos demais. A formiga, o elefante, e o leão moram na selva. Já o cachorro em casas e lojas veterinárias. A análise fenotípica indica que a classificação de Amanda está errada, considerando o critério da pesquisa, mas, do ponto de vista da natureza do funcionamento psicológico, na genotípica, observa um pensamento já refinado, onde, ao abstrair a diferença de habitat dos animais, Amanda constrói a categoria de animais domésticos e selvagens. As generalizações que ela realizou, transpuseram o pensamento concreto, e também, já apresentam níveis de raciocínio mais abstrato.

O modo de funcionamento psicológico dos participantes não ocorreu apenas pelo pensamento por complexo. Apesar de uma freqüência baixa, também, em alguns episódios, configurou o conceito propriamente dito, no qual, os participantes conseguiram reunir alguns atributos e abstraí-los para sintetizá-los posteriormente. Considere-se que abstração dos elementos criteriais é a forma basilar do pensamento com o qual o indivíduo percebe e adquire o conhecimento que o rodeia (VIGOTSKI 2001). Acredita-se então, que uma vez

tendo alcançado esse tipo de funcionamento, as crianças responderiam corretamente a tarefa de classificação que lhes fora proposta.

Porém, os dados mostram um movimento distinto. De acordo com o quadro que se segue, o complexo difuso pode levar ao acerto (Quadro 3) e do pensamento por conceitos propriamente dito ao erro (Quadros 4 e 5).

QUADRO 3

Amanda PRANCHA 13 A: JACARÉ (MAMÍFERO E NÃO-MAMÍFERO) – MACACO – CACHORRO – CACHORRO

Pesquisadora: O quê é isso?

Amanda: Jacaré / Macaco / Cachorro / Cachorro Pesquisadora: Qual desses não combina?

Amanda: Jacaré.

Pesquisadora: Jacaré. Por quê? Amanda: É um bicho agressivo. Pesquisadora: O quê mais?

Amanda: A pessoa pode chegar perto dele e ele comer. Pesquisadora: Tem mais alguma diferença?

Amanda: Pode matar.

Pesquisadora: Aham! Mais alguma coisa? Amanda: É feio.

Esperava-se que Amanda identificasse os atributos criteriais da categoria mamífero, ou seja, que constituem uma classe de animais vertebrados, caracterizados principalmente por possuírem o corpo coberto de pêlos; o filhote se desenvolve dentro do útero; tem quatro patas e, na sua maioria são carnívoros, a ponto de abstrair tais atributos, e excluir, a categoria não mamífero. Ela selecionou o Jacaré, justificando que ele é agressivo e perigoso. Já o macaco e o cachorro, não representam perigo, critério, pois, de periculosidade. Buscou escolher o que lhe pareceu ameaçador. Alcançando acerto na prancha mesmo com o uso de pensamento por complexo do tipo difuso. Cabe ressaltar que, de fato, a prancha oferece esse tipo de classificação como outra possibilidade.

Já nos quadros 4 e 5, Amanda opera com pensamento por conceitos propriamente dito, consegue abstrair e generalizar os atributos criteriais do conceito, mas erra na classificação. Ela emite uma resposta que, fenotipicamente, no contexto de prancha, está errada e, após a investigação da natureza do funcionamento psicológico, observa-se que, genotipicamente, opera com outro nível de desenvolvimento do conceito científico. No caso, seleciona a prancha errada, mas já funciona com o conceito propriamente dito. O quadro exemplifica essa situação.

QUADRO 4