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Baseado em Bronckart , 1997/1999: 166-179 Tipos de

discurso Características

Discurso Interativo

- diálogo ou monólogo – marca-se pelos turnos de fala; – numerosas frases não declarativas. - oral ou escrito;

- caracteriza-se pela presença de unidades que remetem à própria interação verbal;

- tempos verbais: presente, futuro perifrástico (vou voltar) e passado composto (vai passar).

Discurso Teórico

- é, em princípio, monologado e escrito; - ausência de frases não declarativas;

- tempo verbal: dominância das formas do presente – presente e futuro do pretérito, além do pretérito do perfeito (valor genérico);

- ausência de unidades que remetem ao espaço-tempo da produção (dêiticos espaciais e temporais);

- ausência de nomes próprios e de pronomes e adjetivos de primeira e segunda pessoa do singular;

- caracteriza-se por uma densidade verbal muito fraca.

O Relato Interativo

- monologado;

- oral ou escrito (romance, teatro); - ausência de frases não declarativas;

- tempos verbais: pretérito perfeito e imperfeito, mais-que-perfeito, futuro e futuro do pretérito;

- presença de organizadores temporais (advérbios, sintagmas, preposicionais, coordenativos, subordinados etc);

- presença de pronomes e adjetivos de primeira e segunda pessoa do singular e o plural;

- presença de anáforas pronominais.

Narração - geralmente escrito e sempre monologado; - apenas frases declarativas;

- tempos narrativos: pretérito perfeito e imperfeito, futuro do pretérito, passado - presença de organizadores temporais;

- ausência de pronomes e adjetivos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural que remetem diretamente ao agente produtor do texto;

- presença conjunta de anáforas pronominais e nominais;

- densidade verbal se situa a meio caminho entre a do discurso interativo e a do discurso teórico.

Fernanda Meirelles Fávaro

72 Bronckart (1997/1999) ainda afirma que esses tipos de discurso são identificáveis, inicialmente, em superfície, como tipos lingüísticos, que são definidos pelas configurações, unidades específicas e características que neles podem aparecer.

Para ele, produção oral é o texto falado e geralmente ouvido e a produção escrita é o texto escrito e geralmente lido. Porém, o autor reconhece que todo o texto produzido oralmente pode, em seguida, ser transcrito e, ao mesmo tempo, todo texto escrito pode, a seguir, ser reproduzido oralmente.

A partir deste momento, no tópico seguinte, discutirei como os textos codificam o trabalho do professor.

Fernanda Meirelles Fávaro

73 1.4.3- Questões sobre os textos que codificam o trabalho educacional

Vale ressaltar, que para toda esta dissertação, entendo as leis e documentos analisados como sendo textos que codificam e orientam o trabalho educacional, pois de uma maneira ou de outra, eles “regulam” o dia-a-dia dos professores dentro das instituições escolares.

Bronckart (2006), inspirado em Ricoeur, esclarece que existem textos que se encontram no nível dos pré-construídos, preexistentes a qualquer agir individual que fornecem modelos do agir em diferentes situações. Por outro lado, existem também textos que ilustram formas do agir humano e que permitem compreender as ações humanas, tanto no/quanto fora do contexto de trabalho. Os textos literários são exemplos de textos que não se configuram como prescrições propriamente ditas, mas representam modelos do agir em diferentes situações sociais.

Para Bronckart (2006), os textos prescritivos configuram-se como textos de outros sobre o agir futuro do agente. São textos que antecipam e que fornecem uma imagem do agir, ou seja, uma representação do agir do ponto de vista dos pré-construídos institucionalizados e que, desse modo, são dependentes de determinadas estruturas sociais. O autor salienta que essa definição é genérica, considerando-se que, de acordo com sua estruturação, os textos podem ser prescritivos stricto sensu (ex. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, Parâmetros Curriculares Nacionais) ou, podem ser textos que veiculam prescrições de forma indireta e se configuram aparentemente com o objetivo de fornecer uma boa imagem sobre a instituição que os produz para a sociedade em que circulam (ex. jornais internos de empresas).

Bronckart & Machado (2005) discutem amplamente o texto prescritivo em contexto escolar e afirmam que a busca pela homogeneização do trabalho escolar se configura nos textos prescritivos, podendo incidir sobre toda a organização da escola, como distribuição das classes, a organização do tempo-espaço, os objetivos e práticas de ensino e todos os outros aspectos que fazem parte da escola, bem como do trabalho realizado.

Os autores ainda acrescentam que o texto prescrito é inacabado e está em constante transformação, de acordo com as necessidades específicas de cada contexto escolar e de seus protagonistas (coordenadores, professores, alunos, famílias etc.). Em alguns dos

Fernanda Meirelles Fávaro

74 documentos oficiais analisados, percebi essa constante transformação, nos projetos de leis e outras leis que dizem respeito e modificam, como por exemplo, a LDB ou ainda o Parecer “N” Nº 01/2007 da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro que surgiu devido a uma necessidade regional.

Pensando nessa constante transformação do texto prescrito, os autores apresentam três propriedades enunciativas centrais que marcam esse tipo de texto:

A- Procedem de um especialista, ou expert, mas sua presença enunciativa não é marcada, ou seja, há um “apagamento” do autor;

B- O destinatário é mencionado, explícita ou implicitamente (marcados pelos pronomes você, nós ou oculto, seguidos de verbos no infinitivo);

C- Parece ser regido por um contrato implícito de verdade, de garantia de sucesso se o destinatário cumprir todos os procedimentos indicados – é o “contrato de felicidade”.

Para Bronckart (2006), a instituição, o projeto, os procedimentos, os professores e até mesmo os alunos, podem se configurar como protagonistas humanos e não humanos, sendo instaurados como atores responsáveis por partes do agir, que são agentivizados, isto é, são apresentados como responsáveis por determinado agir.

Existem, então, três tipos de protagonistas:

A- O produtor do discurso (não marcado); B- O agente do fazer prescrito;

C- O beneficiário desse fazer, sendo que o beneficiário é aquele para quem a ação se destina.

A relação entre os protagonistas discutida pelo autor pode ser representada como na figura abaixo:

Fernanda Meirelles Fávaro

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