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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 ARCO DENTAL CURTO (ADC)

2.1.3 Qualidade de vida

Como relatado anteriormente a OMS preconiza como uma de suas metas para a saúde bucal uma dentição natural que seja funcional e estética composta de, pelo menos, 20 dentes, sem que haja necessidade de uma intervenção protética ao longo da vida das pessoas. Baseado nisso e na revisão de literatura sobre a função oral que se demonstrou adequada para pessoas que possuem este número de dentes é importante revisar ainda sobre o impacto das condições bucais na qualidade de vida dessas pessoas e ainda sobre a qualidade de vida de forma geral das mesmas. E só aí saber se estas pessoas estão bem com sua condição.

Para o Grupo de Qualidade de Vida da OMS, qualidade de vida consiste na percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (WHOQOL GROUP, 1994). Este é um conceito amplo influenciado de maneira complexa pela saúde física do indivíduo, estado psicológico, crenças pessoais, relações sociais e seu relacionamento com características marcantes do seu ambiente (WHOQOL GROUP, 1995). Ainda é de conhecimento geral que a QV é um conceito dinâmico.

Hoje estamos diante da expectativa do contínuo envelhecimento da população como ocorrido neste século, desta forma a manutenção da saúde do indivíduo e da população ao longo da vida se constitui em um grande desafio. Apesar da saúde oral ser intrínseca à saúde geral e qualidade de vida do indivíduo, aquela é muitas vezes negligenciada nas abordagens integrais para a promoção da saúde geral. Na verdade, os cuidados com a saúde oral são muitas vezes considerados de forma isolada pelas autoridades sanitárias nacionais (WHO, 2005). Isto também era observado na conduta dos cirurgiões-dentistas onde o profissional em tempos passados via apenas a boca como local de trabalho e não percebia o contexto em que ela estava inserida e em que poderia resultar o seu trabalho para aquele indivíduo que por acaso a possuía. Desta forma, o corpo era isolado do indivíduo e as experiências subjetivas sobre saúde e doença eram ignoradas, sendo a boca uma estrutura anatômica do corpo, mas isolada do mesmo e sem nenhuma conexão com a pessoa.

No novo contexto o paciente é transformado de um corpo em pessoa com maior significado atribuído as suas experiências subjetivas e interpretações de saúde e doença (LOCKER, 1997). Na odontologia esta mudança foi acompanhada de duas descobertas. A primeira do restante do corpo e a segunda do indivíduo e isto levou a pesquisas a cerca da ligação das condições bucais às doenças de outras partes do corpo e os resultados para a saúde e para a QV (COULTER; MARCUS; ATCHISON, 1994).

Para Seidl e Zannon (2004) a conceituação do termo qualidade de vida na área de saúde, é identificada como um conceito mais genérico, e qualidade de vida relacionada à saúde propriamente dita.

Doenças crônicas como doenças cardiovasculares, hirpertensão, câncer e diabetes são especialmente prevalentes em idosos e podem ter impacto significativo na qualidade de vida. De forma geral, a saúde oral precária entre os idosos é visto principalmente pelos altos índices de perdas dentárias, cáries, prevalência de doença periodontal, xerostomia, pré-câncer / câncer oral, sendo todas condições com uma importante influência na QV. Diversas condições da saúde bucal estão associadas a doenças crônicas, e as ligações entre a saúde oral, saúde geral e a QV são bastante pronunciadas na velhice (WHO, 2005).

Alguns instrumentos foram desenvolvidos para avaliar a qualidade de vida. Alguns incluíam questionários com o objetivo de avaliar a QV geral, outros a saúde relacionada à QV e ainda a relação de doenças específicas com a QV. O estudo da QV pode se tornar uma ferramenta e uma forma de conhecer o estado da prática clínica, das pesquisas odontológicas, da educação bucal, além da comunidade estudada mais amplamente (INGLEHART; BAGRAMIAN, 2002). A avaliação da QV deve-se basear na percepção do indivíduo sobre o seu estado de saúde, envolvendo aspectos gerais da vida e do bem-estar, relativos às experiências subjetivas, influenciadas pelo contexto cultural em que está inserido (CHRISTENSEN, 2001)

Não bastante, algumas evidências indicam que saúde relacionada à qualidade de vida associada com doenças crônicas é conceitualmente diferente da qualidade de vida geral. Para uma avaliação da percepção da qualidade de vida geral do indivíduo foi desenvolvido o WHOQOL-100 e posteriormente sua forma abreviada, o WHOQOL-bref ou abreviado, instrumentos multidimensionais (ARNOLD et al., 2004). Estes questionários

baseiam-se nos pressupostos de que qualidade de vida é um construto subjetivo (percepção do indivíduo em questão), multidimensional e composto por dimensões positivas e negativas. Eles foram desenvolvidos dentro de uma perspectiva transcultural da avaliação da QV e desenvolvidos pelo grupo de QV da OMS.

Hugo et al. em 2009 perceberam a presença de poucos estudos sobre a importância da condição da saúde oral, particularmente das perdas dentárias, do edentulismo e da satisfação com a mastigação do ponto de vista da percepção do indivíduo sobre sua QV geral. Eles então desenvolveram um estudo seccional randomizado com 872 brasileiros do sul do país com 60 anos ou mais, para avaliar se a condição oral estava associada com baixos índices nos domínios do questionário abreviado de qualidade de vida da OMS (WHOQOL-bref). Este questionário foi desenvolvido para avaliar a percepção da qualidade de vida geral. Eles utilizaram ainda um questionário estruturado para obtenção de dados sociodemográficos e outro para sintomas depressivos (Escala de Depressão Geriátrica), verificaram o número de dentes e fluxo salivar e os participantes ainda relataram sobre a sua satisfação com quanto a sua habilidade mastigatória. A partir de suas análises perceberam que na população estudada, a condição bucal estava associada com a percepção da qualidade de vida geral.

Os instrumentos que avaliam a QV relacionada à saúde bucal não consideram a percepção do indivíduo de forma mais ampla em relação à sua vida, que vá além de aspectos relacionados com à saúde oral ou geral. No entanto, a QV geral engloba aspectos mais amplos como o padrão de vida, grau de independência do indivíduo, relações sociais, crenças pessoais e a relação com o meio ambiente (PEREIRA; LACERDA; TRAEBERT, 2009).

O estudo e mesmo o entendimento da QV passou a ser um tema de interesse tanto da sociedade acadêmica como da saúde pública no auxílio de um melhor planejamento e execução de políticas de bem estar (PEREIRA; LACERDA; TRAEBERT, 2009).

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