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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 ARCO DENTAL CURTO (ADC)

2.1.4 Saúde oral relacionada à qualidade de vida

Durante a segunda metade do século 20 foi iniciada uma mudança dos valores da sociedade, principalmente as mais industrializadas, que deixava de dar ênfase apenas a valores materialistas com foco no crescimento econômico e segurança e passavam a valores pós-materialistas com foco na própria atualização e determinação. Seria um paciente que anteriormente tinha preocupação com os cuidados orais restritos apenas à manutenção da saúde física dos dentes e gengiva e que ampliava para preocupação com estética, com impacto da sua aparência facial na sua auto-estima e ainda com a interação com as pessoas. Percebendo estas mudanças de valores e seu impacto no campo do cuidado com a saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1946, apresentou uma nova definição de saúde que consiste em bem estar físico, mental e social completo e não meramente na ausência de doença ou enfermidade. Na odontologia esta nova perspectiva passa a considerar também o bem estar mental e social do paciente além da ausência de cárie e doença periodontal. O conceito da saúde oral relacionada à qualidade de vida (Oral Health-Related Quality of Life - OHRQOL) engloba perfeitamente esta nova perspectiva, passando o foco dos dentistas e das pesquisas da cavidade oral para o indivíduo como um todo (INGLEHART; BAGRAMIAN, 2002).

Inglehart e Bagramian (2002) chegaram ainda a conclusão em seu livro, o primeiro sobre saúde bucal relacionada à QV, que as condições clínicas da saúde bucal afetam a qualidade de vida do indivíduo como todo. Indicaram alguns fatores que tem sido consideravelmente associados com uma pobre condição de saúde bucal relacionada à QV: poucos dentes, mais dentes acometidos, outros acometidos sem tratamento, desconhecem a necessidade de tratamento, visitam esporadicamente o dentista para tratar problemas bucais e baixa condição sócio-econômica.

Pinto (2000) escreveu sobre a importância de se usar medidas de QV relacionadas à saúde bucal para avaliar se a QV em pessoas com ausências dentárias é influenciada de forma negativa pela função, aspectos psicológicos e sociais como habilidade mastigatória, sorrir, falar e interação social.

Para avaliação da saúde bucal relacionada à QV alguns instrumentos foram desenvolvidos, mas dois deles são mais frequentemente utilizadso nas pesquisas. São eles: OIDP (Oral Impacts on Daily Performances) e OHIP 14 (Oral Health Impact Profile - 14). O OHIP é um instrumento que mede a percepção do indivíduo sobre o impacto social das desordens orais em seu bem estar, sendo dividido em 7 dimensões: limitação funcional, dor física, desconforto psicológico, inabilidade física, psicológica, social e incapacidade. O OHIP 14 é originado do OHIP 49, cujo seu desenvolvimento, confiabilidade e validade foram demonstrados por Slade e Spencer (1994).

Em 2005, Wolfart et al. realizaram um ensaio clínico randomizado multi- centro, onde participaram 14 universidades de odontologia da Alemanha com o objetivo de comparar o efeito de duas opções de tratamentos protéticos na saúde oral relacionada à qualidade de vida através do OHIP (Oral Health Impact Profile) e eixo II do RDC/TMD em pacientes com suporte posterior reduzido: PPR versus concepção de ADC (oclusão de PM). Como critério de inclusão os participantes necessitavam apresentar ausência completa dos molares e tinham necessariamente os caninos e um PM em cada quadrante. 34 indivíduos foram randomicamente alocados em 2 grupos de tratamento. Um recebeu PPR incluindo reposição dos dentes ausentes até primeiro molar e o outro receberia coroas metalocerâmicas até segundos PMs. Havendo ausências anteriores seriam confeccionadas próteses parciais fixas. Os pacientes foram avaliados segundo os questionários antes do tratamento, com 6 semanas, 6 meses e 1 ano após o tratamento. 21 indivíduos completaram o acompanhamento até 1 ano. Os resultados mostraram que antes do tratamento não houve diferenças significativas entre os grupos para os escores do OHIP e nem em nenhum outro momento (p 0,05). Houve uma marcante redução do impacto em ambos os grupos tratados quando comparado o pré-tratamento com 6 meses e 1 ano de acompanhamento das próteses instaladas (p 0,001). Não houve diferenças significativas entre os grupos para as dimensões do RDC no pré-tratamento. No grupo da PPR houve um aumento significativo do impacto na dimensão do checklist da inabilidade mandibular do pré-tratamento para o acompanhamento de 6 meses (p 0,013). Esta diferença desapareceu com 1 ano de acompanhamento e não houve mudanças significativas do impacto desta dimensão em nenhum grupo. Os autores concluíram que dentro de cada grupo foi observada uma melhoria na qualidade de vida e que nenhuma diferença significativa pode ser relatada entre

os dois conceitos de tratamentos. Isto talvez tenha ocorrido devido ao pequeno tamanho da amostra do estudo piloto. Os resultados devem ser interpretados com cautela devido ao alto nível de desgaste dentário.

Baba et al. (2008a, 2008b), realizaram um estudo seccional multicentro no qual investigaram a associação entre UO ausentes e impacto na percepção da saúde bucal na qualidade de vida de pacientes com ADC (n = 115) de Tóquio. Através da utilização do OHIP traduzido para o japonês eles associaram no primeiro estudo cada UO ausente a um aumento em regressão linear na pontuação dos escores do OHIP. De acordo com esse resultado a perda dentária estaria associada com prejuízo à QV. Já no segundo estudo foram observadas diferenças significativas nos resultados do OHIP quando foram comparados pacientes com até os primeiros molares bilaterais (4 UO ausentes representadas pelos segundos molares bilateralmente ausentes) e os pacientes que apresentavam de 0 a 4 PM (8 à 12 UO ausentes, ou seja todos os molares até primeiro PM ausentes bilateralmente), mas não observou-se diferenças significativas entre os grupos dos pacientes que apresentavam os 4 PM e os que apresentavam de 0 a 1 PM a partir dos intervalos de confiança apresentados.

Elias e Sheiham (1999) realizaram um estudo com o objetivo de analisar a percepção subjetiva de adultos sobre satisfação em relação a número, posição e condição dos dentes naturais através de entrevista e avaliação dental. Os dados foram obtidos a partir de um estudo longitudinal e outro seccional realizado no Brasil. O longitudinal foi composto por 227 indivíduos dentados na faixa etária de 45 à 54 anos de duas classes sociais. Destes 126 foram reavaliados e entrevistados após um período de 3 anos. O seccional utilizou os mesmos métodos do longitudinal e contou com uma amostra de 657 homens com a faixa etária de 35 à 54 anos. Houve uma correlação positiva entre satisfação e posição dos dentes. Os pares de PMs (PM em oclusão/ UO) obtiveram a maior correlação com a satisfação em ambos os estudos. Os dentes anteriores foram os maiores preditores significativos da satisfação. Não houve diferença na porcentagem de pessoas satisfeitas no início da pesquisa e no acompanhamento de 3 anos. Eles relataram em seus resultados que adultos com 3 pares de PM e a região anterior intacta estavam satisfeitos com sua condição oral e ainda que a maioria estava mais satisfeita que aqueles que colocaram PPR para substituir as ausências dentais. A manutenção de um determinado número de dentes, sua

posição e condição proporcionaram mais satisfação que a utilização de PPR para substituição de dentes ausentes. Quase a mesma porcentagem de brasileiros com PPR comparada com os que não usavam e até mesmo não possuíam mais nenhuma UO posterior foram satisfeitos com sua boca.

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