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Qualidade do espaço urbano

Fase 4 – Declaração Ambiental

6. Qualificação do Território (FCD 2)

6.1. Qualidade do espaço urbano

6.1.1. Caracterização da situação actual

A área do PP localiza-se no limite Sul do perímetro urbano de Vila Real de Santo António, sendo delimitada fisicamente pela rede viária (a Avenida Ministro Duarte Pacheco, a Rua Luís de Camões, a Rua Padre Jorge Leiria e a Avenida Engenheiro Sebastião Ramirez), que permite igualmente a sua articulação com a restante malha urbana da cidade.

À semelhança do que acontece com grande parte dos arruamentos da cidade, estes seguem as orientações definidas pelo núcleo fundacional Pombalino, assim como o seu formato ortogonal. Foi neste enquadramento que os bairros sociais da Caixa e do Farol/Fundo de Fomento da Habitação (FFH) se implantaram numa área de formato rectangular, que constitui a área do PP em avaliação (embora no âmbito do presente estudo, toda a área seja denominada como “Bairro da Caixa”).

De acordo com o Diagnóstico das Carências Habitacionais do Concelho de Vila Real de Santo António, efectuado pela autarquia (CMVRSA, 2006a), a área urbana objecto do PP constituiu-se nos finais dos anos 60, para responder à necessidade de alojamento de famílias que viviam em condições de extrema pobreza no interior do Concelho. O Bairro da Caixa, com 102 fogos, foi construído em 1967, tendo sido um dos primeiros bairros sociais do Concelho. Uns anos mais tarde foi construído o contíguo Bairro do Farol por iniciativa do então FFH (mais tarde IGAPHE – Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado e INH – Instituto Nacional de Habitação, actual IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, I.P.). Este bairro localiza-se na zona Sul da área do PP e tem 108 fogos (cf. também Secção 3.2 e respectivo Quadro 3.2.1).

Tendo em conta o contexto em que se enquadrou a construção dos dois bairros, estes obedeceram a critérios que limitaram os custos de construção e, consequentemente, os materiais utilizados nos edifícios e nos espaços exteriores, assim como as suas características arquitectónicas e paisagísticas. De acordo com o estudo referido (CMVRSA, 2006a), os bairros sociais têm uma localização periférica, e a sua arquitectura assume contornos uniformes e mono funcionais, geralmente sem zonas verdes, equipamentos de lazer e convívio. A este facto acrescem os problemas gerados pela concentração de um grupo de famílias e pessoas com fracos recursos económicos e com um historial de pobreza, pouco sensíveis à manutenção do edificado, assim como “o facto destes bairros serem geridos por entidades

nacionais (nomeadamente IGAPHE / INH e Caixa de Segurança Social) que estão localizados na capital do país, e que se alhearam por vários anos da gestão e manutenção dos bairros” (CMVRSA, 2006a).

Naturalmente, a qualidade do espaço urbano na área do PP está intrinsecamente relacionada com a própria génese dos bairros da Caixa e do Farol e com a matriz social predominante dos seus habitantes. De facto, área em estudo encontra-se consolidada e individualiza-se bem da restante malha urbana precisamente pela sua identidade associada a uma arquitectura de materiais pobres, que o próprio zonamento estrito – em termos estruturais e sociais – acentua de forma particularmente evidente.

O bairro funciona como uma unidade, no sentido em que não é atravessado pela rede viária de distribuição urbana, que apenas o delimita. No seu interior, ou seja, nos interstícios do edificado, estão presentes espaços de circulação e de estacionamento automóvel, assim como de utilização pública pedonal, de passagem mas também de potencial estadia (cf. Fotografias 3.1.1 e 3.1.2 – Anexo II). É, em suma, um quarteirão permeável, seguindo os cânones do urbanismo moderno de então.

Os edifícios dispõem-se em bandas de habitação colectiva que se distribuem quase sempre de forma paralela e perpendicular à rede viária adjacente. Têm todos três pisos, são de cor branca/cinza e parte deles com bandas azul muito claro. Apesar de se terem verificado, no local, intervenções recentes de pintura das fachadas de alguns edifícios, estes caracterizam-se, em geral, por falta de manutenção, nomeadamente de pintura, possuindo, por vezes, graffiti. Adicionalmente, verifica-se que diversas janelas e portas correspondentes a pisos térreos foram entaipadas com tijolo, que se mantém à vista, reforçando o carácter degradado dos respectivos edifícios e uma imagem globalmente desfavorável que o conjunto urbano transmite ao visitante (cf. Fotografia 3.1.2 – Anexo II).

A disposição do edificado permitiu a criação no interior da área do PP de três espaços abertos de maior dimensão, um na sua parte Noroeste, correspondente à Praceta Alves Redol, e os restantes junto ao limite Nascente da área do plano, coincidentes com a Praceta António Bandeira Cabrita e com a Praceta António José D’Almeida (cf. Desenho 2 – Anexo I). As duas áreas a Nascente são, à semelhança do que acontece com outros espaços exteriores dos bairros, utilizadas para estacionamento automóvel, o mesmo acontecendo em parte da Praceta Alves Redol. Na visita efectuada ao local, não se verificou o uso dos espaços públicos para outras funções que não o estacionamento automóvel, mesmo no caso da Praceta Alves Redol, o espaço exterior de maior dimensão presente na área, que tem algum potencial para o efeito. Esta situação deverá estar associada ao facto dos espaços públicos não estarem equipados, o que inviabiliza a sua utilização para funções recreativas e/ou de estadia, apesar de existirem espaços livres.

Assim, verifica-se a ausência de factores de atracção para o usufruto dos espaços exteriores existentes, a que se associa ainda a pobreza dos materiais utilizados, assim como a exiguidade dos espaços verde. Estas questões foram confirmadas nos inquéritos à população efectuados no âmbito do Diagnóstico das

Carências Habitacionais do Concelho de Vila Real de Santo António (CMVRSA, 2006a), nos quais foram

mencionados como principais problemas dos bairros em causa: os arranjos exteriores, a ausência de limpeza e de equipamentos urbanos.

No que se refere à estrutura verde na área do PP, esta resume-se aos espaços verdes de enquadramento presentes no seu limite Poente, a alguns alinhamentos arbóreos existentes sobretudo na sua parte Norte e aos reduzidos espaços verdes existentes na Praceta Alves Redol. Verifica-se, ainda, a presença de espaços exteriores de uso privado, mas que são pouco representativos no contexto dos dois bairros.

No limite Poente da área do PP, a existência dos espaços verdes de enquadramento e de árvores de porte elevado leva a que a imagem neste sector seja menos pobre em termos visuais que nos restantes. Nos restantes limites da área do PP, devido à ausência de elementos arbóreos ou ao facto destes terem porte reduzido, a imagem transmitida pelo Bairro é condicionada essencialmente pelos edifícios e por zonas de estacionamento automóvel, com o predomínio dos elementos construídos.

No seu conjunto, a área do PP do Bairro da Caixa transmite uma imagem fraca no observador (Lynch, 1990) e assume uma qualidade média-baixa enquanto espaço urbano devido, essencialmente, ao estado de degradação dos edifícios e à pobreza dos espaços exteriores e da estrutura verde existente. Pela ausência de equipamentos e mobiliário urbano, os espaços públicos também não contribuem para a vivência da cidade, anulando as potencialidades que o desenho urbano original encerrava.

6.1.2. Tendências de evolução

A área de intervenção do PP do Bairro da Caixa deverá manter a qualidade média-baixa que a caracteriza, ou mesmo regredir nesse âmbito (fruto da própria degradação progressiva do edificado e do espaço público urbano), caso não sejam efectuadas intervenções de requalificação do edificado ou dos espaços exteriores. Assim, espera-se que o edificado se continue a degradar e que se mantenham as características dos espaços exteriores, com a ausência de equipamentos e de mobiliário urbano, que impede a plena fruição dos espaços públicos propostos pelo desenho urbano original.

6.1.3. Avaliação de efeitos significativos

O Plano de Pormenor do Bairro da Caixa tem como objectivo estratégico contribuir para uma identidade urbana própria, com arquitectura de elevada qualidade, e dotar a zona de equipamentos e infra-estruturas numa lógica de requalificação urbana e qualificação do espaço público [cf. (Saraiva & Associados, 2009a)].

De acordo com o acima exposto, a área de intervenção encontra-se desqualificada, fruto dos condicionalismos que estiveram na origem dos bairros da Caixa e do Farol (custos de construção reduzidos), assim como da ausência de manutenção e requalificação dos espaços edificados e exteriores. Assim, o desenvolvimento de uma proposta de ocupação com os objectivos acima referidos, por si só deverá constituir-se como uma oportunidade de reverter as tendências observadas e de possibilitar uma nova abordagem ao espaço urbano, podendo contribuir, de forma positiva e significativa, para a qualificação do espaço urbano na área do Plano, principalmente devido à requalificação do edificado e do espaço público.

A proposta urbanística concretiza a intenção em criar um espaço urbano relacionado com as pré- existências, nomeadamente, ao nível dos acessos (que confinam a área do plano) e do edificado (nomeadamente a Norte, cujas cérceas são tidas como referência para uma parte dos edifícios) (cf. também Secção 6.2).

Em termos espaciais, a proposta assenta na constituição de uma banda edificada a poente, de quatro pisos, perpendicularmente à qual se dispõem quatro blocos edificados com seis pisos. A nascente dispõem-se dois quarteirões com edifícios entre um a seis pisos (cf. desenhos 3, 4a e 4b – Anexo I).

Com excepção para zona onde ficará implantado o hotel, a disposição dos edifícios permitirá o reforço da morfologia associada às ruas que limitam a área do Plano, com passeios pedonais e zonas de estacionamento automóvel a delimitar o bairro. Na zona envolvente do hotel criar-se-á uma ampla zona pedonal, que poderá assumir-se como espaço público de apoio.

O espaço exterior da área do PP deverá adoptar um carácter essencialmente pedonal, sendo dominado por zonas pavimentadas e por zonas ajardinadas (onde se integram um parque infantil e mobiliário urbano adequado), permitindo usos e funções que actualmente não podem ocorrer por falta de condições e de equipamentos. Os espaços públicos e os espaços verdes têm uma expressão representativa face à área total de intervenção do Plano [cerca de 3.650 m2 de Espaços Verdes de Utilização Colectiva para uma área

integração do edificado, assim como um conjunto de vivências do espaço exterior actualmente inexistentes.

Paralelamente, em seis lotes confinantes com a Avenida do Ministro Duarte Pacheco, com a Estrada da Mata e com a Rua Luís de Camões, o plano prevê comércio que, em conjunto com o hotel, com parte dos espaços verdes e com o parque de infantil, deverão constituir-se como zonas de atracção na sua área de incidência. Incorpora, ainda, um troço de ciclovia que respeita o traçado previsto no Esquema Director da Ecovia do Litoral I: VRSA – Cabanas de Tavira (AMAL, 2009). A criação destas potenciais zonas de atracção deverá constituir-se como uma mais valia para a vivência do espaço urbano (efeito positivo e significativo).

Importa, ainda, referir que o Plano incide sobre uma zona de entrada na cidade de Vila Real de Santo António, para quem se desloca vindo de Poente (Monte Gordo), actualmente desqualificada, e que influencia, de forma determinante, a primeira imagem que se tem da área urbana. Pressupondo que o Plano irá permitir a requalificação da área de intervenção e que o proposto hotel, pela sua morfologia, poderá contribuir para o reforço da identidade do sítio (cf. Secção 3.4 e desenhos 4a e 4b – Anexo I), o PP do Bairro da Caixa é também uma oportunidade de valorização da imagem da cidade de Vila Real de Santo António (Lynch, 1990).

Considera-se que este efeito deverá ser positivo e significativo, apesar da sua magnitude depender, também, das soluções arquitectónicas que venham a ser adoptadas após a aprovação do plano em avaliação. Em todo o caso, o respectivo regulamento procura, de uma forma voluntarista, assegurar a qualidade nesse âmbito através de um importante articulado inserido no Capítulo VII – Secção III [cf. (Saraiva & Associados, 2009a)].