• Nenhum resultado encontrado

Qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como

3. Matérias legais abordáveis na impugnação

3.6. Qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como

NOVAÇÃO,

COMPENSAÇÃO,

TRANSAÇÃO

OU

PRESCRIÇÃO,

DESDE

QUE

SUPERVENIENTE

À

SENTENÇA (ART. 475-L, VI, CPC)

O adimplemento abraça todos os modos, diretos ou indiretos, de extinção da obrigação pela satisfação do credor, e engloba, portanto, o pagamento, a novação, a compensação, a confusão, a remissão de dívidas, a transação e etc.

O pagamento é ato liberatório, por meio de cumprimento voluntário da obrigação, seja quando o próprio devedor toma iniciativa, seja quando atende à solicitação do credor, desde que não o faça compelido33. O pagamento é, pois, o meio

normal ou ordinário de extinção das obrigações34.

Já a novação é a constituição de uma nova obrigação em substituição e extinção da anterior. Segundo Silvio Rodrigues, por meio da novação, “a primitiva obrigação perece, uma outra surge, tomando o seu lugar. Aliás, é o surgimento

33 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito Civil – Vol. II – Teoria Geral das

Obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p.191

34 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos –

104 desta última que produz a extinção da anterior. Dessa maneira, a novação é uma operação que, de um mesmo alento, extingue uma obrigação e a substitui por outra, que nasce naquele instante”35.

A compensação, por sua vez, é a extinção de duas obrigações na qual os credores são devedores um do outro, ao mesmo tempo. É um desconto recíproco: “os débitos extinguem-se até onde se compensam, isto é, contrabalançam, se contrapõem e se reequilibram. É um encontro de contas”36. Se os créditos forem de igual valor, ambos desaparecem integralmente; se forem de valores diferentes, o maior se reduz à importância correspondente ao menor. Procede-se como se houvesse ocorrido pagamento recíproco, substituindo a dívida apenas na parte não resgatada37.

Interessante é observar que a redação do novo artigo corresponde à do inciso VI do artigo 471 do Código de 1973, com a única diferença que era exigido que o crédito a compensar fosse objeto de execução já aparelhada. Essa expressão suscitava muitas dúvidas e não eram raras as vezes em que era interpretada como execução já ajuizada. O novo artigo eliminou qualquer questionamento a respeito, possibilitando a compensação de dívidas "líquidas, vencidas e de coisas fungíveis", a teor do artigo 369 do Código Civil38.

35 RODRIGUES, Sílvio. Direito civil – Parte geral das obrigações – Vol. II. São Paulo: Saraiva,

2002. p.199

36 VENOSA, Sílvio de Salvo. Obra citada. p.269

37 RODRIGUES, Sílvio. Obra citada. pp.209/210

38 Ementa: EMBARGOS À EXECUÇÃO - COMPENSAÇÃO (ART. 741, VI, CPC). A teor do que

dispunha o artigo 741 e seu inciso VI, do CPC, vigente até que entrou em vigor a Lei 11.232/05 (24.6.06), entendia-se como possível, mediante a interposição de embargos à execução de títulos judiciais, a compensação não com qualquer crédito, mas apenas com aquele constante de execução aparelhada. TJ/MG, processo nº 1.0024.05.829979-3/001(1), Relator VALDEZ LEITE MACHADO, publicado em 24/4/2007. Súmula: NEGARAM PROVIMENTO.

105 Através da transação, as partes fazem concessões recíprocas em relação a seus interesses, modificando-os, reduzindo-os em seu valor ou extinguindo-os definitivamente. O Código Civil disciplina, nos artigos de 840 a 850, a sua admissibilidade e efeitos.

Além das formas de extinção ou modificação da obrigação pelo implemento, o art. 475-L, VI, do Código de Processo Civil, também prevê a extinção da pretensão pelo decurso do tempo – prescrição39. Com a ocorrência da prescrição, não é mais possível exigir que alguém cumpra o dever jurídico, embora seja ele ainda devido, já que não existe relação de pertinência entre o exercício da pretensão e o direito subjetivo. Melhor esclarecendo, diante do decurso do prazo prescricional subsiste o direito subjetivo, o qual pode ser legitimamente atendido pelo sujeito passivo, se assim o desejar, não sendo possível, todavia, o exercício dessa pretensão em juízo.

Antônio Notariano e Gilberto Bruschi lembram que “a prescrição aludida pelo legislador no inciso VI do art. 475-L CPC diz respeito à prescrição intercorrente. (...) Com efeito, se a inação processual injustificada do exeqüente perdurar por prazo igual ou superior ao da prescrição da pretensão, restará configurada a prescrição intercorrente. Não se configurará, contudo, tal prescrição se a paralisação decorrer de motivos inerentes ao mecanismo da Justiça”40-41.

39 “A prescrição acontecida antes do trânsito em julgado não pode ser apreciada por ocasião do

cumprimento de sentença, sob pena de afronta à coisa julgada”. Nota 22 ao art. 475-L CPC. NEGRÃO, Theotônio; GOUVÊA, José Roberto Ferreira. Código de Processo Civil e legislação

processual em vigor. 39ª ed. atual. até 16 de janeiro de 2007. São Paulo: Saraiva, 2007. p.582

40 NOTARIANO JÚNIOR, Antonio; BRUSCHI, Gilberto Gomes. Os prazos processuais e o

cumprimento da sentença. In: Coord. BRUSCHI, Gilberto Gomes. Execução Civil e cumprimento

da sentença. São Paulo: Método, 2006. pp.55/56

41 Interessante acórdão a respeito: AGRAVO DE INSTRUMENTO - Exceção de Pré-executividade

- Cumprimento de Sentença - Alegada nulidade na observância dos procedimentos executórios adotados - Impossibilidade - Autor que respeitou os estritos termos procedimentais do art. 475-B e 475-J, em substituição ao revogado art. 604 do Código de Processo Civil. PRESCRIÇÃO SUPERVENIENTE - Tendo sido possível abordar e discutir a matéria na ação de conhecimento,

106 Eis os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos elencados no artigo. No entanto, diante das locuções “qualquer causa” e “como” da sua redação, resta claro que tal rol é meramente exemplificativo, não impedindo que qualquer outra causa extintiva ou modificativa seja alegada na impugnação, tal como a remissão42, a confusão43 e a impossibilidade de cumprimento44, entre outras tantas.

Como já mencionado no item 2 desse Capítulo, as alegações previstas no inciso sob comento são as únicas aptas a projetar seus efeitos para fora do processo. Dessarte, com a apresentação da impugnação com base em qualquer um desses temas, resta ampliada a profundidade da cognição do juiz, devendo, pois,

descabe sua alegação na fase do cumprimento de sentença, sob pena de ofensa à coisa julgada - Arts. 475-L, VI e 741, VI do CPC - Precedentes do STJ. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE - Interpretação dada ao parágrafo único, do art. 202 do Código Civil - Prazo prescricional que só começará a correr novamente, após a data do último ato do processo, isto é, aquele pelo qual o processo se finda - Precedentes do STJ. Recurso não provido. TJ/SP, processo nº 0.650.242-5/8- 00, Relator OSCILD DE LIMA JUNIOR, publicado em 6/7/2007.

42 “Remissão é a liberação graciosa de uma dívida, ou a renúncia efetuada pelo credor, que,

espontaneamente, abre mão de seus direitos creditórios, colocando-se na impossibilidade de exigir-lhes o respectivo cumprimento”. MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil,

vol. 4: direito das obrigações – 33ª ed. rev. e atual. por Carlos Alberto Dabus Maluf. São Paulo:

Saraiva, 2007. p.310

43 “Dispõe o art. 381 do Código Civil de 2002: ‘Extingue-se a obrigação, desde que na mesma

pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor’. Uma vez que num só indivíduo se reúnam os dois atributos, jus creditoris e onus debitoris, ocorre o fenômeno da confusão e a obrigação extingue-se.” MONTEIRO, Washington de Barros. Obra citada. p.307

44 “Sem descer a uma distinção que destaque os extremos do caso fortuito e da força maior, o

legislador de 2002 os reuniu como uma causa idêntica de exoneração do devedor e resolução absoluta da obrigação (...). Conceituou-se em conjunto como o fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir, conceito que bem se ajusta à noção doutrinária, abrangente de todo evento não imputável, que obsta ao cumprimento da obrigação sem culpa do devedor.” PEREIRA, Caio Mário da Silva. Obra citada. pp.384/385

107 manifestar-se sobre questões que acabarão por declarar, ou não, a existência da obrigação, com a possibilidade, inclusive, da extinção da execução.

Dessa forma, ocorrendo declaração judicial que reconheça o pagamento da dívida (por qualquer uma das modalidades de adimplemento) ou a ocorrência da prescrição na própria fase executiva, há pronunciamento de mérito e a decisão proferida será acobertada pela coisa julgada material.

3.7. INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI QUE FUNDOU O TÍTULO