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6.1 ATIVIDADE COMO PROFESSOR

6.1.1 Quando iniciam?

A aproximação dos professores entrevistados com o projeto Fábrica de Gaiteiros ocorre através do seu mentor, Renato Borghetti. Todos os professores já o conheciam antes de trabalharem no projeto e alguns atuaram com ele em shows e festivais.

Conforme Newton Grande, administrador do projeto, os professores no Rio Grande do Sul são contratados entre os músicos conhecidos de Renato Borghetti, como mostram os depoimentos dos entrevistados. No entanto, em Santa Catarina “o projeto está sendo feito em parceria com o SESC Santa Catarina. E o SESC implementou a contratação de professores com concurso público”. Newton conta que quando foi procurado pela secretária de cultura de Lagoa Vermelha/RS, na intenção de levar o projeto para o município, a prefeitura já tinha “identificado” um professor que pudesse assumir o projeto (CE-NEWTON, p. 12).

Figura 1: Fofa Nobre com alunos do projeto

Fonte: Foto de Maris Streg

Fofa teve as primeiras conversas com Renato Borghetti sobre a participação no projeto no final do ano de 2010: “Em 2010, ele [Borghetti] já estava fazendo as gaitinhas pra ver se dava certo. Um teste. Em 2011 a gente começou. Foi lançado já com aula” (CE-FOFA, p. 13).

Figura 2: Renato Müller com aluno do projeto

Fonte: Foto de Lara Lutzenberger

Renato ministrou sua primeira aula no projeto “no dia 7 de maio de 2012”. Segundo ele, já tinha recebido o convite de Renato Borghetti em novembro de 2011,

por telefone: “Ele me ligou, que o SESC109

estava a fim, que ele já conhecia o meu trabalho, que ele queria saber se eu podia dar aula ali. Eu, claro que sim, vamos trabalhar”. Mas devido ao processo de contratação, sua primeira aula aconteceu somente no ano seguinte: “Porque se arrastou, muita burocracia no SESC, de como contratar, de como fazer” (CE-RENATO, p. 20).

Figura 3: Eduardo Vargas com alunos do projeto

Fonte: Foto disponível em:

http://www.fabricadegaiteiros.com.br/portal/php/galeria.php, consultado em 01/02/2019

Eduardo recebeu a primeira chamada de Renato Borghetti para trabalhar no projeto Fábrica de Gaiteiros no final do ano de 2011. De acordo com o professor, sua situação financeira, na época, era complicada, e ele atravessava um momento profissional difícil trabalhando em mais de um emprego:

Eu tinha já largado o serviço, e coincidiu que o Renato me ligou. Estava próximo de terminar o seguro desemprego, e eu com uma empresa. Eu era entregador de gás, eu dirigia caminhão de gás. E abri uma motopeça, aqui em Guaíba [RS]. Eu levava os dois aleatório110 e a música. Aí eu saí do depósito de gás, e fiquei com a empresa, e fui me mantendo com o seguro desemprego. E com a empresa também não estava indo bem. Eu estava tirando do seguro pra complementar as despesas da empresa. Estava pagando pra trabalhar (CE-EDUARDO, p. 12-13).

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Serviço Social do Comércio, entidade parceira do projeto Fábrica de Gaiteiros, em Porto Alegre/RS.

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Após a primeira chamada para participar do projeto houve um hiato na comunicação com Renato Borguetti, observa Eduardo: “Ele já tinha dito que ia abrir a unidade, que voltaria a entrar em contato, para o final de 2011, ou início de 2012, alguma coisa assim. Aí eu disse, vou esperar então. [...] Aí ele me deu um chá de banco111”. Tal fato teria preocupado o músico em relação às decisões que precisavam ser tomadas, especialmente a questão financeira:

E aí foi naquela, e foi naquela, só que a gente tem conta pra pagar. [...] E no último mês de seguro desemprego, faltavam alguns dias pra eu receber a última parcela [...], e o meu ex-patrão já tinha me ligado várias vezes pra eu voltar, e eu esperando. Aí eu disse, não, tchê, não vou. E faltando uma semana pra eu receber a última parcela, eu disse, se o Renato não me ligar esta semana pra começar lá, eu vou ligar para o ex-patrão, e vou voltar a paletear112 gás (CE-EDUARDO, p. 12-13).

Eduardo ressalta que, quando estava terminando o prazo de espera por ele estabelecido, recebeu a confirmação do trabalho no projeto Fábrica de Gaiteiros: “Tomei essa decisão, acho que em um dia, e no outro dia o Renato me ligou e me chamou no escritório. Aí acertamos as partes burocráticas, quando é que eu começaria” (CE-EDUARDO, p. 13).

O lançamento do projeto Fábrica de Gaiteiros em Barra do Ribeiro/RS foi no dia 15 de junho de 2012, como recorda Eduardo:

[...] acredito eu que era numa terça-feira. E a primeira aula foi no dia 18 de junho de 2012, que eu acho, foi numa segunda. Então no dia 15 a gente lançou, preenchemos as inscrições no dia do lançamento, e na segunda-feira eu comecei a dar aula (CE-EDUARDO, p. 13).

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A expressão chá de banco refere-se a um tempo de espera mais longo que o previsto.

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Figura 4: Augusto Maradona com alunos do projeto

Fonte: Foto de Comissão de Pais Fábrica de Gaiteiros

Augusto relembra que nos anos de 2008, 2009, estava “muito atuante” no “mercado da noite”, referindo-se à atuação como performer, mas que conseguiu “achar tempo para dar aula” (CE-AUGUSTO, p. 18). Ele ministrou a primeira aula no projeto Fábrica de Gaiteiros no dia “9 de abril de 2014” (CE-AUGUSTO, p. 19).

Figura 5: Adriana de Los Santos com alunos do projeto

Adriana começou sua atuação no projeto em “outubro de 2014” (CE- ADRIANA, p. 15).

Eduardo relata que uma das preocupações do Renato Borghetti era ter como professor de crianças uma pessoa que lida com a doma de cavalos, atividade que Eduardo exercia na época: “[...] obviamente não escondi dele, daí ele, bah, mas um cara que doma cavalo, lidar com criança”. Porém “com o tempo”, Renato Borghetti “viu que dava certo, porque desde a primeira leva de alunos, eles já tinham um domínio do instrumento muito rápido” (CE-EDUARDO, p. 13).

A concepção de Nóvoa (1995) de que é impossível separar a pessoa do professor do profissional é percebida no exemplo de Eduardo quando ele nos mostra que é impossível separar o domador de cavalos do professor de gaita-ponto. Além disso, “os alunos que geralmente procuram professores de acordeom estão de alguma forma envolvidos com a cultura musical regional gaúcha” (ver Figura 6) da qual fazem parte temas como a vida do homem no campo e o trabalho com os animais, (REIS, 2010, p. 41).

Figura 6: Os modos de ser professor no contexto da cultura musical regional gaúcha

Fonte: Elaborada para este trabalho CULTURA MUSICAL REGIONAL GAÚCHA

PROJETO FÁBRICA DE GAITEIROS

Adriana Fofa Eduardo Renato Augusto

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