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Capítulo 3. PRESBIFONIA

V. MATERIAIS E MÉTODOS

1. QUANTO À DIMENSÃO BIOLÓGICA

A voz nos diz muito sobre o que somos. Pode revelar o estado físico da pessoa. A fonação é uma função igual às outras funções do nosso corpo. E como envelhecemos desde o dia em que somos concebidos, o envelhecimento atinge também a voz.

Nessa dissertação podemos observar que de fato alguns aspectos do envelhecimento vocal estão instalados ou já estão a caminho de.

Ao fazer um levantamento sobre a percepção da saúde, no grupo M, 60% disseram estar com a saúde boa, obtiveram-se relatos como: entrevistada nº 3 diz: “boa, porque não anda sentindo doente”, a entrevistada de nº 5 diz: “Boa, porque eu sinto essas coisas assim ... mas não me deixo abater. Levanto cedo, vou pra ginástica, faço tudo” e 20% regular com relatos assim: entrevistada nº 4 diz: “regular, tomo remédio”, entrevistada nº 6 diz: “regular, porque dos problemas que tenho a coluna que dói demais da conta”. Embora quando perguntado sobre a patologia mais recorrente foi citada a hipertensão arterial em 50%; já no grupo H,

disseram que a saúde era boa em 40% dos entrevistados com o seguinte relato do entrevistado nº 5: “boa, pela idade, a saúde é boa. Não tenho problemas”; é média para 20% dos entrevistados: “média, não é normal. Dá pra ir levando”, normal para 20% e relativo para 20%: “relativo. Não tem nada grave. Mas ela não é boa”. Quando perguntado sobre a patologia mais recorrente entre o grupo H foram: 100%, hipertensão arterial e 80% diabetes.

Ao serem questionados quanto à reposição hormonal, no grupo M, 30% já fizeram reposição hormonal e 70% não; no grupo H, 100% não fizeram reposição hormonal. A reposição hormonal é importante, sobretudo para a mulher, pois a reposição de hormônios masculinos (andrógenos) pode engrossar a voz ou seja ela fica mais grave.

A média de idade dos entrevistados, no grupo M de 72,5 anos e o grupo H de 68,4 anos de idade. A eficiência vocal de um indivíduo vai de 25 a 40 anos, a partir dos 45 que pode começar a acontecer alterações na laringe com maior ou menor impacto na voz. Mas é mesmo depois dos 60 anos que vão aparecer sintomas mais nítidos. Sabendo que o início do envelhecimento vocal, o desenvolvimento e o grau de degradação vocal são individuais dependendo de fatores diversos (saúde, raça, hereditariedade, ambiente, social, alimentação) Quando perguntado como a voz está com a idade, 40% diz estar razoável, onde a entrevistada de nº 7 diz que “está razoável, não vou dizer que é boa porque não tenho idade de jovem”, e 30% dizem estar boa ou bem, como o relato da entrevistada de nº 2 que responde “está boa. Fico feliz com ela”. No grupo H, 60% dos entrevistados respondem boa, 20% responde que está de acordo com a idade e 20% está mais lenta. Ou seja, só 20% deles observam alguma mudança na voz, não colocando a “culpa” na idade.

Mas em ambas as amostra pôde-se observar nitidamente características típicas da presbifonia. Tais como: grupo M, qualidade vocal rouca (70%), de forma discreta (70%), com a sensação subjetiva de freqüência adequado em 71,42% e com a sensação de subjetividade de intensidade com valor de 57,14% para o grave e as que apresentaram qualidade vocal sem alteração a sensação subjetiva de intensidade grave também em 66,7% das entrevistadas e no grupo H: qualidade vocal rouca (40%) de forma moderada (40%), com sensação subjetiva de freqüência reduzida (40%) e com a sensação de subjetividade de intensidade grave (40%); qualidade vocal soprosa (20%) de forma moderada (20%), com sensação subjetiva de freqüência aumentada (20%) e com a sensação de subjetividade de intensidade grave (20%) e a qualidade vocal áspera (20%) de forma moderada (20%), com sensação subjetiva de freqüência aumentada (20%) e com a sensação de subjetividade de intensidade grave (20%).

Ao ser questionado sobre a voz, quando está nervoso, o grupo M, diz ficar: faltando (20%), trêmula (20%), gaga (10%), cansada (10%), irritada (10%), não muda (10%), tende a aumentar (10%), mais estridente (10%) entrevistada nº 10: “porque falo alto”; no grupo H, trêmula (40%), normal (10%), gaguejando (10%), mais estridente (10%).

Foi medido o tempo máximo de fonação, que é o tempo que o indivíduo pode sustentar uma fonação (função vocal), fazendo uso de seu suprimento de ar, associado à vibração das pregas vocais. Em ambos os grupos apresentaram-se alterado, ou seja, no grupo M, 70% das entrevistadas e no grupo H, 40% dos entrevistados estavam abaixo de 10s, apresentando alta significância de serem considerados não-normais, estariam utilizando então o ar de reserva expiratória na fonação, havendo necessidade de fazer recarga com inspirações longas e ofegantes, associadas a esforço muscular, sendo um mecanismo pouco coeficiente de coordenação pneumofônica. 30% no grupo M e 60% no grupo H, estavam acima de 10s, ou seja, estavam normais.

Na relação s/z, que diz respeito à dinâmica fonatória normal onde o indivíduo é capaz de utilizar suplência de ar pulmonar de modo eficiente, 80% da amostra nos grupos M e H, o valor de /z/ e /s/ está abaixo de 15s, ou seja, indicando suporte respiratório comprometido, no grupo M, 30% e no grupo H, 40% dos entrevistados apresentam valor de /z/ maior do que /s/ em 3s indicando hipercontração das pregas vocais e no grupo M, 30% das entrevistadas e no grupo H, 20 dos entrevistados apresentavam a relação s/z maior ou igual 1,2, indicando falta de coaptação correta das pregas vocais. Sabe-se que na presbifonia as pregas vocais se encontram com espaços (fenda), assimetria de vibração (uma prega vibra diferente da outra) e ainda diminuição na vibração das pregas vocais.

Justificando assim sintomas referidos pelos entrevistados do grupo M, tais como: som da voz está diminuindo (20%), a voz está mais rouca (60%), está falando mais grave (50%), voz está com um tremor (10%), “escapa” ar quando fala (10%), sentem tensão (pescoço/garganta) para falar (30%) entrevistada nº 9: “às vezes acho que tem alguma coisa na garganta”, acha que a voz está instável, ora grave / aguda / alta / baixa (40%), as pessoas não compreendem bem (30%), tem que para mais vezes para respirar (40%) e justificando também sintomas referidos pelo grupo H, tais como: som da voz está diminuindo (60%); voz está mais rouca (60%), está falando mais grave (80%), voz está com um tremor (20%), “escapa” ar quando fala, as pessoas não compreendem bem (60%), tem que para mais vezes para respirar (20%).

Ao questionar o idoso, se ele conhecia os órgãos responsáveis pela fonação, no grupo M, 70% das entrevistadas não conhecem quais os órgãos do corpo responsáveis pela fonação e 30% responderam que conhecem os órgãos do corpo responsáveis pela fonação, sendo que os mais recorrentes foram: língua, boca, traquéia, pregas (cordas) vocais, diafragma, coração batendo; no grupo H, 20% dos entrevistados não conhecem quais os órgãos do corpo responsáveis pela fonação e 80% responderam que conhecem os órgãos do corpo responsáveis pela fonação, sendo que os mais recorrentes foram: faringe, audição, língua, garganta, espírito, boca, laringe, cordas vocais, pulmão, diafragma, face. Através destes dados podemos entender que a fonação é uma função do nosso corpo tão impensada (ou desprezada) que não damos importância a ela e nem sabemos quais os órgãos que são responsáveis pela nossa fala.

Como ficava a voz quando falavam bastante, no grupo M, 50% normal a mesma, 10% normal, mas com a garganta seca, 10% irritada, 10% rouca com a garganta irritada, 10% cansada e 10% ofegante; no grupo H, 40% normal ou não notam diferença, 40% mais cansados e 20% roucos.

Quanto ao fôlego para falar, no grupo M, 30% normal, 30% bom ou bem – entrevistada nº 2: “Bem. Sinto fraca, tem uns 8 anos que foi engolir e a voz ficou com fraqueza”, 10% pouco curto, 10% um pouco cansado, 10% falhando e 10% ótimo; no grupo H, 60% normal, 20% bom e 20% mais ou menos – entrevistado nº 5: “tenho que respirar mais vezes”.

Com os dados de volumes respiratórios das idosas do grupo M de Valduga (2009) - UCB, é possível fazer uma correlação com os tempos máximos de fonação dos fonemas /a/, /i/, /u/, /s/ e /z/ e os valores de Pressão Inspiratória Máxima (PImax) e da Pressão Expiratória Máxima (PEmax), observando assim, correlação não significativa entre as variáveis referentes ao TMF e PImax e PEmax. No entanto, quando correlacionado o TMF dos fonemas supracitados e a Ventilação Voluntária Máxima (VVM) foi observada correlação alta e significativa, ou seja, para manter a vocalização de um fonema por um longo período de tempo o indivíduo necessita de resistência dos músculos expiratórios (avaliada por VVM) e não necessariamente uma força elevada (avaliada por PImax e PEmax). Quando este valores são menores que 30 cmH2O eles são considerados baixos e valores acima normais. (conforme

No presente estudo não foram feitas as medições dos volumes respiratórios (VVM, PImax e PEmax) do grupo B, pois os idosos foram escolhidos aleatoriamente da comunidade, mas os achados dos TMF dos fonemas /a/, /i/, /u/, /s/ e /z/ indicam decréscimo da função pulmonar, ou seja, se fossem submetidos as medições dos volumes respiratórios podemos supor que os valores estariam rebaixados uma vez que o suporte respiratório rebaixado é uma característica intrínseca a presbifonia.

O padrão de fala, quanto à inteligibilidade da fala, encontra-se alterado no grupo H, em 20%, a articulação está alterada em 20% no grupo M e em 40% no grupo H, a precisão articulatória está alterada em 30% do grupo M, sendo que 66,7% destas apresentam travamento de mandíbula e alterada em 80% do grupo H.

Quando observamos o sistema estomatognático, quanto aos lábios, no grupo M apresenta alterações em 40% na postura e 60% na mobilidade, no grupo H apresenta alterações em 100% da postura e da mobilidade.

Quanto à dentição, no grupo M é incompleta em 70%, fazendo uso de prótese dentária total 70% e no grupo H é ausente e fazendo uso de prótese dentária total 80% dos entrevistados.

Quanto à língua, no grupo M apresenta alterado: aspecto em 30%, postura em 80% e mobilidade em 80% e no grupo H não apresentaram alteração.

Quanto ao palato duro, palato mole e laringe não foram encontrados nenhuma alteração em nenhum dos grupos.

Quanto à movimentação da boca, no grupo M, 80% dizem estar normal ou bem, 10% não sabe por não prestar atenção e 10% às vezes seca; e no grupo H, 80% dizem estar normal também e 20% dizem ficar seca.

Se compararmos os dados do padrão de fala aos dados do sistema estomatognático, e da movimentação da boca, podemos observar que de fato o padrão de fala vai estar alterado (embora relata que a movimentação da boca está normal), pois este idoso apresenta uma hipotonia da musculatura orofacial, trazendo como conseqüência a falta de inteligibilidade da fala do idoso pelo outro, pois com a língua hipotônica, usando próteses (muitas vezes

frouxas), com pouca mobilidade, vai ocorrer um travamento de mandíbula e uma imprecisão articulatória. Foi o que observamos nos dados coletados.

Quando questionado sobre o que deve ser feito para rejuvenescer a voz, o grupo M, respondeu: que não sabe (50%) entrevistada nº 8: “Não sei, só se no caso a gente voltasse a ser jovem de novo”, a voz está ótimo (10%) entrevistada nº 2: “Do jeito que está, está ótimo. Só Deus pode mudar o que Ele fez”, cantar e sorrir (10%) entrevistada nº 4: “Cantar, sorri mais. As pessoas que sorri, ajudam muito”, fazer exercícios (10%) entrevistados nº 7: “Fazer exercícios pertinentes para melhorar”, por necessidade (10%) entrevistada nº 1: “Sim se necessário fosse”; no grupo H, não sabe (20%) entrevistado nº 3: “não sei, nem sabia que fazia isso”, fazer exercícios ou tratamento (60%) entrevistado nº 1: “treino de voz, vocalismo com a voz” e alimentação (20%) entrevistado: “só se for alimentação que possa dar mais força”.

Ao serem indagado sobre a existência do profissional que cuida da voz e seu nome, no grupo M, 50% responderam que não sabiam, nunca ouviram falar e 50% responderam que sim que sabiam, sendo que: 60% deste grupo não acertaram o nome e 40% responderam: Fonoaudiólogo; no grupo H, 40% responderam que não sabiam e 60% responderam que sim, que sabiam que: 20% deste grupo atribuíram a Deus a “especialidade”, 20% sabiam que existia mas não sabiam o nome e 20% responderam: Fonoaudiólogo.

A Fonoaudiologia deve ser apresentada ao idoso como uma ciência promotora de qualidade de vida. Nossos idosos estão perdendo boa parte da vida que pode ser vivida com mais qualidade. Às vezes não conseguem se comunicar e alimentar (mastigar) direito, devido à degradação das funções fonatórias. Na maioria das vezes não sabem a quem recorrer e se podem recorrer a algum profissional. É necessário olharmos para o idoso como potencialidade de atuação fonoaudiológica.

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