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Quarta Unidade: Estudo de Virgílio – O Livro I da

Canto XXIV (Omega) – O resgate do corpo de Heitor (

E XERCÍCIOS

IV. Quarta Unidade: Estudo de Virgílio – O Livro I da

Eneida.

1. Estudo de Virgílio

Publius Vergilius Maro (Mântua, 70 a. C. – Brundísio ou Bríndise, 19 a. C.), considerado um dos maiores poetas da língua latina, viveu no período Clássico da literatura latina – a chamada Idade de Ouro do imperador Otávio Augusto –, momento em que a literatura atinge seu apogeu, contando para isto com o concurso da figura de Mecenas, amigo de Otávio. Estudante de gramática e retórica na juventude, Virgílio prefere a companhia de filósofos e poetas, por reconhecer na timidez uma barreira para enfrentar os debates retóricos. A partir da vitória de Otávio sobre Marco Antônio (31 a. C.), na batalha de Actium, e de sua aclamação como princeps (29 a. C.), Virgílio cai nas graças do futuro imperador, que lhe encomenda uma epopéia sobre a glória romana.

De suas obras mais importantes, temos notícia das Bucólicas (39 a. C.), poema do campo, em que pastores na natureza ideal desfrutam da felicidade fazendo poesia, cuja base são os Idílios de Teócrito (poeta grego do século III a. C.); as Geórgicas (29 a. C.), poema didático, dedicado a Mecenas, sobre a agricultura e a criação dos animais, inspirado em Os trabalhos e os dias de Hesíodo (poeta grego do século VIII a. C.) e em De rerum natura de Lucrécio (poeta latino 99/94-55/50 a. C.)22. Por fim, aquela que é considerada a sua obra- prima a Eneida (17 a. C.), epopéia inspirada na Ilíada e na Odisséia de Homero (VIII a. C.), narrando a fundação das bases da futura Roma, o que virá a ser feito pelos descendentes de Enéias, personagem central do poema.

A epopéia mais antiga entre os latinos é a tradução/adaptação da Odisséia de Homero por Livius Andronicus – Odissia (cerca de 250 a. C.) –, em cuja composição o poeta utilizou versos saturnianos. Só com Ennius e os Anais (século II a. C.) é que os romanos terão uma epopéia com o hexâmetro dactílico ou espondaico, dando a Roma a sua primeira obra de porte. Segundo Pierre Grimal (1997: 174), para

22 O poema foi lido por Virgílio, que alternava a leitura com Mecenas quando este cansava, a Otávio, em 29 a. C., na Campânia, em seu retorno vitorioso do Oriente (GRIMAL, 1997: 128)

escrever a sua epopéia, a Eneida, Virgílio aglutina a tradição homérica à nova tradição de Ennius, este considerado o pai da literatura latina.

Tendo começado a composição da Eneida por volta de 29-28 a. C., dez anos depois Virgílio ainda não se dava por satisfeito com o que escrevera, por isto teria determinado a destruição de sua obra, quando estava próximo a sua morte, em 19 a. C. Por interferência de Otávio é que o poema foi editado. O já imperador incumbiu dois amigos de Virgílio, também poetas, L. Varius e Plotius Tucca, de cuidarem da edição da Eneida, publicada dois anos depois da morte do poeta, em 17 a. C. (GRIMAL, 1997: 237).

A lenda da fundação de Roma reserva o ano de 753 a. C. para a sua construção. Com a queda de Tróia, Enéias e um grupo de troianos são impelidos pelo destino a deixar a cidade de Príamo e ir em busca de fundar uma nova Tróia, tão gloriosa quanto aquela que acabava de ser tomada pelos gregos, após dez anos de cerco. A chegada dos Troianos à Península Itálica põe em confronto Enéias e Turno, rei dos Rútulos, pela posse da terra. Vitorioso, Enéias funda o reino de Lavínio, cujo nome é originário da filha do rei Latino, Lavínia, que ele recebe como esposa. Seu filho Iulo, em seguida, funda a cidade de Alba Longa, onde reinará por trinta anos, e seus descendentes por trezentos anos. Passado esse tempo, a sacerdotisa vestal Rhéia Sílvia dá à luz os gêmeos Rômulo e Remo, netos de Numitor, rei de Alba longa, proporcionando assim as condições para a futura fundação de Roma. Em linhas gerais, este é o argumento da Eneida, com a ressalva de que o poema encerra com a morte de Turno por Enéias. Mesmo que não vejamos o desenrolar dos acontecimentos, eles são anunciados ao longo da narrativa, desde o Livro Primeiro, numa antecipação do destino de Enéias e da glória romana.

A história de Enéias, como ancestral de Roma, está na tradição latina23, mas é na Ilíada que Virgílio encontra a deixa literária para escrever a Eneida. A glória de Enéias como mito fundador e o destino de seus descendentes são anunciados no Canto XX do maior poema homérico, nos versos 292-30824:

23 Veja-se, por exemplo, Tito Lívio, na bibliografia. 24 Tradução nossa do original grego.

Imediatamente, [Posídon] diz aos deuses imortais:

Ai de mim! sinto uma grande dor por Enéias do grande coração, Que depressa baixará ao Hades, sob o braço do Pelida,

Por ter sido persuadido pelas palavras de Apolo, o que fere de longe. Tolo! Não é ele [Apolo] que vai socorrê-lo contra a morte ruinosa. Mas qual a necessidade de que ele sofra estas dores,

Inutilmente, pelos males dos outros, ele que sempre ofereceu Presentes aos deuses que habitam o vasto céu?

Eia, vamos subtraí-lo da morte e levá-lo conosco, Se por um lado, o Cronida se indignaria de ver Aquiles Matá-lo, por outro lado, o destino deseja vê-lo salvo, Para que não pereça, sem posteridade e aniquilada, A raça de Dárdanos, que, dentre todos os seus filhos, Nascidos dele e de uma mortal, o Cronida mais amou. Já a raça de Príamo, o Cronida odeia.

É o poderoso Enéias que reinará, doravante, sobre os troianos, Ele e os filhos de seus filhos, que nascerão em seguida.

Descendente de Dárdanos, filho amado de Zeus, Enéias deve ser salvo da luta contra Aquiles. Assim manda o Destino, para que ele possa ser rei dos troianos um dia, bem como os filhos de seus filhos. É com este argumento que Posídon, apesar de estar ao lado dos gregos na guerra de Tróia, salva Enéias de ser morto por Aquiles, envolvendo o Pelida em um nevoeiro tenebroso, e jogando Enéias em outra frente de combate, onde não será alcançado pelo melhor dos aqueus, Aquiles. Nestes versos também se encontra a personalidade piedosa de Enéias, sacrificando aos deuses do Olimpo.

Contando com 9896 versos, dividida em doze Livros ou Cantos, nós podemos distribuir, didaticamente, os argumentos de cada livro da Eneida da seguinte maneira:

Livro I (756 versos): Os Troianos na África – Enéias em Cartago Livro II (804 versos): As Narrativas de Enéias – O Fim de Tróia Livro III (718 versos): As Narrativas de Enéias – Os Anos de

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