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5. A CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORAMENTO DA GOVERNANÇA

5.2 O QUE SÃO OBSERVATÓRIOS?

Herschmann et al. (2008, p. 1) veem os observatórios “como novos organismos que auxiliam a construção de uma sociedade mais equilibrada e democrática e, ao mesmo tempo, subsidiam a elaboração de novas políticas públicas”. Tellez (2011) sublinha, a partir da vinculação entre democracia e cidadania, a importância crescente da cidadania comunicativa.

Os observatórios são, portanto relevantes pelos temas de que tratam e podem ser vistos por sua meta abrangente de favorecer a democracia e o exercício da cidadania, seja pela ação direta de reivindicação de grandes valores sociais e pela qualificação (da ordem da cidadania) no exercício de atividades setoriais do social, sejam atividades frequentes, pelo exercício de crítica dos processos da grande mídia.

O termo observatório pode sugerir inicialmente uma atitude de distanciamento ou de mera observação. É interessante notar que mesmo os observatórios astronômicos usados por

antigas civilizações (como os maias) tinham objetivos práticos, pois o conhecimento dos ciclos planetários e sua relação com as estações do ano e o clima propiciavam escolher a melhor época de plantio e obter uma melhor produção agrícola, (BEUTTENMULLER, 2007). Walteros Ruiz (2008, p.81) afirma que os observatórios são um fenômeno europeu de origem relativamente recente, criados para exercer uma função de observação e vigilância. Serão abordadas as experiências dos Observatórios do Código Florestal, Observatório das Favelas, Observatório Socioambiental de Barragens, Observatório do Clima, Observatório das Águas (Espanha).

O termo observatório pode ter vários significados, conforme diferentes autores. Para alguns, observatórios são organismos auxiliares, colegiados e de integração plural, que devem facilitar uma melhor informação à opinião pública e propiciar a tomada de ações concretas por parte das autoridades responsáveis, (MAIORANO, 2003, p.2).

Na concepção de Köptcke (2007), observatórios são:

Dispositivos de reunião, produção e compartilhamento de informação e conhecimento que permitem a diferentes atores sociais melhor compreenderem, avaliarem e participarem da transformação e do debate acerca de certo fenômeno ou dimensão da cultura, (KÖPTCKE, 2007, p.2).

Já Patiño (2017) coloca que observatório é:

Local ou instância que serve para fazer observações por meio do estudo e aplicação de indicadores de medição de situações e contextos específicos; é um mecanismo que serve para estudar – a partir de observações sistemáticas – o comportamento e a evolução de fatos ou atos, com vista a influenciá-los de alguma maneira no futuro. Também é concebido como uma instância que examina e avalia o desenvolvimento de determinadas ações, visando a sua comparação com expectativas, finalidades ou padrões definidos para tal questão, (PATIÑO, 2007, p.5).

Para Phélan (2017, p. 104), observatório é “unidade encarregada de seguir, de maneira permanente e ampla, a evolução do território, cidade, município ou comunidade, com o objetivo de oferecer informação e conhecimento, tanto aos atores que tomam decisões quanto àqueles que estão envolvidos no desenvolvimento local”. Já para Costa et al. (2008, p. 18), “estrutura destinada à observação, sistematização e difusão de conhecimento sobre os diversos aspectos da realidade que se propõe a examinar”.

Em um estudo, Rebouças e Cunha (2010) analisaram, aproximadamente, 77 observatórios de mídia em 23 países e propuseram estas sete categorias para a classificação dos mesmos (Tabela 3).

Tabela 3: Comparação entre fóruns e observatórios

Tipo de Observatório Papel, objetivo, função

Observatório fiscal Articulador da cidadania por meio do monitoramento dos meios de comunicação. “Observatório think thank” Focado na análise, elaboração de propostas

de políticas públicas e realização de

advocacy.

Observatório laboratório Mais comumente vinculado a universidades, voltados à análise e à teorização sobre a mídia.

Fórum de Discussão Organizado como espaço virtual de apresentação de críticas e comentários sobre a mídia.

“Centro de aglutinação e difusão de informações

Monitora a mídia e questões relacionadas.

“Espaços para capacitação e educação” Direcionado à educação de profissionais e da população em geral.

Projetos dentro de movimentos sociais Voltados à análise de conteúdos definidos pelos movimentos.

Fonte: Rebouças e Cunha (2010).

Para tratar do modelo conceitual “think thank” de observatórios, que pode ser a forma mais adequada com a proposta de um Observatório das Águas que está sendo discutido, define-se que “think thank” (termo de origem norte americana, utilizado desde meados do século XX) são organizações envolvidas no processo político através da produção de conhecimento, disseminação de valores ou de análise do sistema político e intervenções públicas. Sua origem está no campo militar: durante a Segunda Guerra Mundial foi chamado

suas estratégias. A gênese dessa expressão enfatiza o contexto ideal para a geração de ideias e propostas políticas.

Para Gaffney (1991) são estruturas para fins políticos, que visam o acesso ao processo de tomada de decisão do governo. Tim Hames e Richard Feasey consideram que são instituições de pesquisa em políticas públicas, sem fins lucrativos e considerável autonomia organizacional, (HAMES E FEASEY, 1994). Do mesmo modo, Smith (1991) buscou descrevê-los como grupos de pesquisa privados e sem fins lucrativos, os quais operam fora dos processos políticos formais.

James McGann (2009) é membro sênior e diretor de "think thank e Programa para

Sociedades Civis" na Foreign Policy Research Institute, um dos think tanks mais influentes

dos Estados Unidos. Segundo ele, estas instituições são parte integrante da sociedade civil e servem como catalisadores de ideias e ações, tanto nas democracias emergentes, quanto nas consolidadas. São organizações independentes de pesquisa, dedicadas a questões de interesse público e análise, a fim de obter proposições operacionais, (FUNDACIÓN CIUDADANÍA Y

VALORES-MADRID-ESPAÑA, 2015).

Conforme o mesmo autor, essas organizações de pesquisa, análise e implementação de políticas públicas permitem que as empresas possam estar mais informadas no momento da tomada de decisões sobre assuntos públicos. Eles são centros de pesquisa que, muitas vezes, servem como uma ponte entre o mundo acadêmico e a administração pública, tornando-se uma voz independente em transformar o debate político em uma linguagem compreensível e acessível para ambas as esferas política e para o público em geral.

Observatórios podem ser instituições que têm como atribuição principal o acompanhamento da evolução de um fenômeno, de um domínio ou de um tema estratégico no tempo e no espaço. Eles garantem a disseminação de informações a partir da coleta de dados e informações, tratados, analisados e disponibilizados através de ferramentas de comunicação, objetivando contribuir para o alcance dos objetivos propostos pelo seu objeto de monitoramento, (BEUTTENMULLER, 2007).

Para tanto, devem utilizar sistemas de informações que permitam a estruturação dos dados e o seu processamento, análises estatísticas, georreferenciamento de dados e a produção de indicadores que, devidamente disponibilizados através de relatórios e outras ferramentas, possam auxiliar seu público a tomar decisões e melhorar o funcionamento da política ou temática em questão.

Para que possam exercer essa função, os observatórios necessitam desenvolver tecnologias de monitoramento e manter uma rotina que permita a análise e disponibilização de dados e informações. Devem ainda usar metodologias que assegurem certa imparcialidade, garantindo assim a credibilidade do público sobre as informações oferecidas.

Um workshop realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em 1999, concluiu que um observatório ideal é aquele que supre os tomadores de decisão com informações úteis e comprovadas, que permitam dentre outras questões:

Mostrar mudanças atuais e fornecer alerta que permitam a retificação de ações; auxiliar a tomada de decisões estratégicas através da avaliação das possíveis opções para a resolução de problemas, com estimativas sobre os custos e impactos, orientando a implementação das políticas setoriais em busca de uma maior sustentabilidade; contribuir para a definição de objetivos quantificados e que permitam medir o progresso e os resultados das respostas implementadas; fornecer informações capazes de gerar um efeito positivo no comportamento da sociedade civil e contribuir para despertar o debate necessário à evolução das políticas; contribuir para os processos de tomada de decisões públicas gerando indicadores, análises e relatórios que orientem a tomada de decisão; produzir informação fundada em dados científicos validados; ter capacidade de operar ao longo do tempo, o que requer uma sólida ancoragem institucional e ser investido com alguma independência e com estrutura gestora bem definida; trabalhar em parceria e respeitar o princípio da subsidiariedade, (UNITED NATIONS ENVIRONMENTAL PROGRAM

& PLAN BLEAU, 1999, p. 06).

O observatório deverá desempenhar um papel de catalisador, coordenar a avaliação e distribuir informações para a comunidade de usuários, deve buscar parceria com os órgãos e instituições que produzem dados e os disponibilizam. É fundamental a construção de um sistema de monitoramento para a governança e a gestão das águas no Brasil e o observatório pode ser esta ferramenta.