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Questões pontuais acerca do julgamento antecipado parcial do mérito

4 O JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO À LUZ DA LE

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

4.1.1 Questões pontuais acerca do julgamento antecipado parcial do mérito

O julgamento antecipado parcial do mérito, segundo Didier Júnior (2016, p. 688), é “uma técnica de abreviamento do processo. É manifestação do princípio da adaptabilidade do procedimento [...], pois o magistrado, diante de peculiaridades da causa, encurta o procedimento, dispensando a realização de toda uma fase do processo”.

Assim, realizada a citação do réu na demanda e, posteriormente, encerrado o prazo para apresentação de resposta, o juiz passará a analisar, com base nos atos já praticados no processo, se a demanda, ou parte dela, está apta para julgamento ou se precisará submeter- se à fase instrutória, caracterizada pela produção de provas (NÓBREGA, 2016).

Deste modo, denota-se que, “por vezes, o processo alberga um litígio que pode ser fracionado ou então pedidos formulados em regime de cumulação [...] que podem ser decididos autonomamente” (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2015, p. 227).

Nestes casos, o artigo 356 do Código de Processo Civil de 201536 determina que o juiz profira “o julgamento de mérito parcial, de um ou alguns dos pedidos, ou parte deles, sem pôr fim ao processo ou à fase de conhecimento, que devem prosseguir porque os demais pedidos ou parte deles precisam ser instruídos” (GONÇALVES, 2016, p. 463).

Diz-se determina, pois o referido instituto “não é visto como faculdade, mas, sim, como um dever do juiz, segundo o tom imperativo do art. 356, nas duas situações nele enumeradas, “o juiz decidirá parcialmente o mérito”, ordena o dispositivo legal” (THEODORO JUNIOR, 2016, p. 833). Isso porque, “trata-se de previsão que contribui para a promoção dos direitos de acesso a uma prestação jurisdicional justa, da duração razoável do processo e da efetividade” (RODRIGUES, 2016).

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Dispõe o artigo 356 do Código de Processo Civil de 2015: O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355. § 1º A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. § 2º A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto. § 3º Na hipótese do § 2º, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será definitiva. § 4º A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz. § 5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento (BRASIL, 2015).

Noutras palavras, julgar antecipadamente parte do mérito, é julgar um, alguns ou parte dos pedidos formulados pelo autor na petição inicial de forma antecipada. Consequentemente, extrai-se que o julgamento antecipado de parte do mérito poderá ocorrer tanto nos casos de formulação de pedidos cumulados pelo autor, quanto nas hipóteses de fracionamento de uma única pretensão formulada (STRECK; NUNES; CUNHA, 2016, p. 523).

Diante disso, em se tratando de cumulação simples de pedidos, não há qualquer dúvida, já que os pedidos cumulados não guardam nenhuma relação de dependência, como é o caso da demanda indenizatória por danos materiais e morais (FREIRE; CUNHA, 2017, p. 517).

A dúvida surge, no entanto, quando se trata da cumulação sucessiva, subsidiária e alternativa de pedidos. Relativamente à cumulação sucessiva de pedidos, verifica-se que “o julgamento parcial somente será possível se o pedido que atuar como pressuposto lógico estiver em condições de imediato julgamento, mas não o contrário” (ROQUE, 2016d).

Assim, por exemplo, em uma demanda de reconhecimento e dissolução de união estável, cumulado com pedido de alimentos compensatórios, somente poderá haver o julgamento antecipado parcial do pedido de reconhecimento e dissolução de união estável, visto que este é pressuposto lógico para a análise do pedido de alimentos (ROQUE, 2016d).

No que diz respeito à cumulação subsidiária de pedidos, será admissível o julgamento fracionado do mérito somente na hipótese de improcedência do pedido principal, visto que o pressuposto para análise do pedido subsidiário, é a rejeição do principal. Havendo procedência do primeiro pedido, não há o que se falar em julgamento antecipado parcial do mérito, já que a demanda se revolverá em um todo (ROQUE, 2016d).

Já na cumulação alternativa, como não há hierarquia entre os pedidos formulados, poderá haver o julgamento antecipado parcial do mérito de quaisquer pedidos que estejam “em condições de apreciação imediata, [...] na medida em que a tutela jurisdicional pleiteada será atendida com o acolhimento de qualquer dos pedidos” (ROQUE, 2016d).

À vista disso, verifica-se que o julgamento antecipado parcial do mérito é admissível, inclusive, nos casos em que haja conexão de pedidos cumulados, desde que observados os requisitos supramencionados.

Outrossim, permite-se o julgamento fracionado do mérito também nas hipóteses de formulação de uma única pretensão passível de fracionamento, como é o caso, por exemplo, de uma demanda de condenação de pagar quantia certa. Se o autor postula o pagamento de uma quantia equivalente a um milhão de reais, e o réu reconhece o valor da

dívida como sendo o importe de duzentos mil reais, o juiz deverá julgar antecipadamente o mérito, no que tange ao valor incontroverso, e prosseguir à demanda quanto à quantia incontroversa (WAMBIER; TALAMINI, 2016b, p. 207).

Contudo, é possível que haja o julgamento antecipado parcial do mérito de obrigações ilíquidas, ou seja, quando não se pode auferir, desde já, o montante condenatório, conforme dispõe o artigo 356, §1º, do Novo Código de Processo Civil (STRECK; NUNES; CUNHA, 2016, p. 524).

Assim, “sendo certa a existência da obrigação, o julgamento parcial do mérito estará legalmente autorizado, sendo a determinação do quantum debeatur relegada para o procedimento ulterior de liquidação, nos moldes dos arts. 509 a 512” (THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 834, grifo do autor).

Embora o tão mencionado instituto seja uma inovação do Código de Processo Civil de 2015, há quem diga que não se trata de uma novidade, mas sim da mesma hipótese prevista no artigo 273, §6º, do Código de Processo Civil de 1973 (MACHADO, 2015).

Por conta disso, torna-se necessário diferenciar o julgamento antecipado parcial do mérito da hipótese prevista no artigo supramencionado.

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