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4 O JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO À LUZ DA LE

4.4 INSTITUTOS PROCESSUAIS RELACIONADOS AO JULGAMENTO

4.4.3 Remessa necessária

O direito processual civil brasileiro “estabelece que a solução judicial de determinadas hipóteses de litígios apenas será apta a transitar em julgado depois de ser examinada, obrigatoriamente, por dois graus de jurisdição” (WAMBIER; TALAMINI, 2016b, p. 453).

Segundo Câmara (2017, p. 293), tal instituto é nomeado como remessa necessária, previsto no artigo 496 do Código de Processo Civil de 201548, e será aplicável nos casos de prolação de sentença desfavorável à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e as suas respectivas autarquias e fundações de direito público, ou em caso de procedência, total ou parcial, dos embargos à execução fiscal, no que tange a parte contrária à Fazenda Pública, salvo as exceções expressamente previstas no dispositivo.

Nestes casos, ainda que não haja recurso interposto contra a sentença, obrigatoriamente, o processo deverá ser remetido ao Tribunal competente para apreciação da matéria, a fim de que a sentença possa ter eficácia plena (THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 1077).

Ademais, para Rodrigues (2016):

O duplo grau obrigatório não possui natureza jurídica de recurso. Tal instituto não se enquadra em alguns princípios da teoria geral dos recursos, especialmente os da taxatividade, da voluntariedade e da discursividade. Em primeiro lugar, o reexame não obedece à taxatividade dos recursos, uma vez que não se contra elencado no rol dos recursos; ao contrário, encontra-se em livro diferente do Código, no capítulo de sentença e coisa julgada. Não se trata de remédio voluntário, uma vez que decorre puramente do enquadramento da sentença numa das hipóteses legais de remessa necessária. Ademais, não possui discursividade, pois ocorre sem que autor e réu possam apresentar razões ou contrarrazões.

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Dispõe o artigo 496 do Código de Processo Civil de 2015: Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público; II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal. § 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á. § 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1º, o tribunal julgará a remessa necessária. § 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de direito público; II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados; III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público. § 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em: I - súmula de tribunal superior; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.

Outrossim, insta salientar que “a remessa necessária somente se aplica contra as sentenças, como consigna claramente a cabeça e estremam os demais comandos do dispositivo” (OLIVEIRA JUNIOR, 2016b, p. 592).

Todavia, a controvérsia se instala no que tange ao julgamento antecipado parcial do mérito.

Para Roque (2016a, p. 167) não restam dúvidas de que é possível o fracionamento do mérito nas demandas que envolvam a Fazenda Pública, embora envolvam direito indisponível, caso em que não se aplica a presunção de veracidade. Isso porque, não havendo necessidade de produção de outras provas, além daquelas já constantes no processo, o juiz deverá julgar antecipadamente parte do mérito apto para tanto.

Contudo, a dúvida surge quanto à remessa necessária da decisão que julga antecipadamente parte do mérito, visto que, nos termos do artigo 496, caput, do Código de Processo Civil de 2015, esta somente se aplicaria às sentenças (WAMBIER; TALAMINI, 2016, p. 458).

Não obstante, segundo Rodrigues (2016), “embora o artigo 496, em seu caput, mencione o cabimento da revisão obrigatória apenas de sentenças, sem cuidar de outras decisões, é fundamental interpretar o novo CPC sistematicamente”. Isso porque, para Wambier e Talamini (2016b, p. 458), a decisão interlocutória de mérito “trata-se de pronunciamento com a mesma eficácia e autoridade que a sentença de mérito [...]. Apenas o veículo formal do pronunciamento é outro – decisão interlocutória em lugar de sentença”.

Por conta disso, não seria razoável prever que as sentenças contra a Fazenda Pública fossem submetidas a reexame necessário, enquanto as decisões interlocutórias definitivas de mérito, não fossem passíveis de duplo grau de jurisdição obrigatório (RODRIGUES, 2016).

Oposto a esse entendimento, Oliveira Júnior (2016b, p. 593) preceitua que:

Estabelecer a remessa necessária de tal julgamento importaria em tumulto processual (Como se faria a remessa? Os autos seriam remetidos? Formar-se-ia um instrumento para a remessa?), ou na mais absoluta desvalia da antecipação do julgamento (acaso solução seja esperar que a remessa do julgamento parcial se faça em conjunto com a sentença). Pois bem, aquilatando tais circunstâncias, com o ganho do rendimento processual obtido com o julgamento antecipado parcial, perfeitamente possível dizer que no ponto não temos uma omissão ocasional, mas sim propositada, uma escolha legislativa deliberada. Assim, os julgamentos antecipados parciais, via decisões interlocutórias de mérito (não colocam fim na fase cognitiva, art. 203), não estão submetidos à remessa necessária.

Verifica-se que, assim como nas controvérsias acerca do cabimento de agravo de instrumento contra decisão que julga antecipadamente parte do mérito, ao invés de apelação, bem como por esta última ter efeito suspensivo automático, enquanto o agravo não, há

também controvérsia acerca da necessidade de remessa necessária das decisões que julgam antecipadamente parte do mérito contra a Fazenda Pública.

Contudo, por se tratar de um instituto inovador, o qual ainda não há entendimentos concretos acerca dessas problemáticas, caberá à doutrina e aos Tribunais superiores debaterem o assunto, a fim de consolidar uma orientação.

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