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4. QUILOMBOS DO VALE DO RIBEIRA

4.4 Quilombos de Eldorado hoje

Eldorado está localizado na margem direita do rio Ribeira. Faz limite ao norte com o município de Capão Bonito; ao noroeste, com Ribeirão Grande; sudeste, Jacupiranga; oeste, Iporanga; leste, Registro; nordeste, Sete Barras; sul, Cajati; sudoeste, Barra do Turvo. Desde o município de São Paulo, percorrem-se 242 km até lá, pela principal via de acesso à região: a Rodovia Régis Bittencourt (BR-116).

O censo de 2010 do IBGE informa que 52% dos 14.641 habitantes vivem em meio rural. Entretanto, esse instituto não conta uma distinção censitária para mensurar a população quilombola, como há para população indígena. Isso leva à dificuldade de saber quantas pessoas vivem em comunidades quilombolas nesse município. O censo informa ainda que pardos e pretos representam 44,72% e 11,45%, respectivamente, da população total de Eldorado.

Em Eldorado, a Fundação Cultural Palmares certificou as comunidades Abobral, André Lopes, Engenho, Galvão, Ivaporunduva, Nhunguara, Ostras, Pedro Cubas, Pedro Cubas de Cima, Poça, Sapatu, São Pedro.

O Itesp reconheceu as comunidades quilombolas de Abobral Margem Esquerda, André Lopes, Engenho, Galvão, Ivaporunduva, Nhunguara, Pedro Cubas, Pedro Cubas de Cima, Poça, Sapatu, São Pedro. Para a comunidade Boa Esperança, o “processo encontra-se arquivado/em aguarde- se”. As comunidades Abobral Margem Direita, Bananal Pequeno e Ostras estão “apontadas para o reconhecimento”.

Para o Incra, Ivaporunduva consta como titulado. Estão com processos em aberto as comunidades Abobral, André Lopes, Boa Esperança, Galvão Nhunguara, Pedro Cubas, Pedro Cubas de Cima, Poça, Sapatu e São Pedro.

Dessas comunidades quilombolas de Eldorado, sete estão sendo consideradas para fins desta pesquisa. É o conjunto das que são atendidas pela Escola Estadual Maria Antonia Chules Princesa. Todas situadas no município de Eldorado, descritas a seguir.

O quilombo André Lopes está localizado a cerca de 40 km do centro do município de Eldorado e ocupa área de 3.200 hectares, onde vivem 76 famílias23. O relatório técnico-científico produzido pelo Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), que reconheceu a história das pessoas como quilombolas, data de outubro de 2000 (CARVALHO, 2000a).

Mapa 2 – A localização da Chules e as comunidades quilombolas atendidas por ela. Fonte: elaboração do autor, com edição de arte por Anita Freire, a partir de mapa do Itesp.

Galvão é o quilombo vizinho ao quilombo São Pedro. Ambos estão localizados na margem esquerda do rio Pilões, nos municípios de Eldorado e Iporanga, a aproximadamente 47 km e 52 km, respectivamente, do centro do município de Eldorado. Chega-se lá pela rodovia SP-165, que liga Eldorado a Iporanga e está localizada na margem direita do rio Ribeira. Na altura do quilômetro 41, chega-se até a balsa, de onde o início do Galvão está a 1 quilômetro em estrada de

23 Os números de famílias dessas comunidades que constam no sítio do Itesp ainda são os mesmos que estão nos

relatórios técnicos científicos elaborados por esse órgão para os quilombos, ou seja, dados coletados entre o fim da década de 1990 e início dos anos 2000. O Incra mantém esses mesmo dados em seus registros. Somente para se ter uma ideia, já que esses dados não foram centro da minha pesquisa, a vice-coordenadora da associação do quilombo Galvão informou que havia 41 famílias nessa comunidade, em 2016.

terra. Pela mesma estrada, chega-se também ao núcleo do quilombo São Pedro, que está a aproximadamente 9 km da balsa. Também é possível o acesso pela ponte sobre o rio Ribeira, construída em 2008, no quilombo Ivaporunduva. As cerca de 30 famílias que moram na comunidade do Galvão ocupam uma área muito menor que o território reivindicado. O relatório técnico expedido pelo Itesp que reconhece aquela comunidade como quilombola é de 2000 (CARVALHO, 2000b).

O quilombo São Pedro é formado por 39 famílias. Em 2001, o governo do Estado de São Paulo titulou 4.558 hectares em nome da Comunidade São Pedro, o que representa 97% da área total do território quilombola. O Incra abriu processo para regularizar o restante desse território (AMORIM, 1998).

O quilombo Ivaporunduva teve seu título territorial expedido em 14 de julho de 2000 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e pelo Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), em 20 de março de 2003. Tem aproximadamente 82 famílias distribuídas em 2.754 hectares (EAACONE, 2015).

O quilombo Nhunguara foi reconhecido como remanescente de quilombos em 2001, pelo Itesp. Fica entre os municípios de Eldorado e Iporanga. Atualmente, a comunidade é composta por 91 famílias, suas terras ainda não foram legalizadas (mesmo após serem reconhecidos como remanescentes de quilombos) e, por isso, enfrentam dificuldades, já que fazendeiros disputam a posse das terras. A agricultura é uma de suas principais atividades, sobretudo as plantações de feijão, a mandioca, o milho, o arroz, a batata-doce, a cana e o cará (CARVALHO; SCHMITT, 2000).

A comunidade do Bairro Ostras é a mais recente comunidade a ser certificada como “autodefinida como remanescente dos quilombos” pela Fundação Cultural Palmares, naquela região. O documento foi publicado pela Fundação em maio de 2016. A comunidade está situada às margens da rodovia SP-165, próximo ao km 110, e tem 15 famílias vivendo em seu território. O próximo passo é a certidão de reconhecimento de comunidade remanescente de quilombo expedida pelo Itesp, que está em elaboração pelo órgão.

A comunidade do quilombo Sapatu está disposta ao longo das duas margens do rio Ribeira, por aproximadamente 5 km. Dividindo-a ao meio está também a estrada SP-165, localizada ao longo

da margem direita do rio Ribeira, ligando os municípios de Eldorado e Iporanga. Em 2001, a comunidade foi reconhecida pelo Itesp como quilombola, porém, sua situação fundiária não está resolvida, gerando conflitos internos e com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, devido a alterações relacionadas ao Parque Estadual de Jacupiranga. Uma parte das terras passou a ficar sob Proteção Ambiental dos Quilombos do Médio Ribeira, Unidade de Conservação de uso sustentável. Essas alterações geraram conflitos e prejudicaram parcialmente a produção agrícola de algumas famílias. Ao todo são 70 famílias (TURATTI, 2000)24.

As associações dos quilombos

As associações dos quilombos pesquisados são organizadas de maneira semelhante, com apenas algumas variações em seus estatutos. Isso parece acontecer porque todas são assessoradas pela Eaacone. As variações podem ser quanto à definição de quais direitos as pessoas que saem do quilombo para morar na cidade podem ter ao voltar a residir ali. Por exemplo, podem construir suas casas, mas, não podem participar de todos os benefícios e decisões da associação. Algumas cláusulas dizem respeito ao tempo de residência, depois da volta, para se ter direitos plenos. As eleições acontecem a cada dois anos e não há reeleição. Entretanto, a mesma pessoa pode assumir outra função de uma gestão a outra: se alguém está na função de coordenador na atual gestão, na próxima, não poderá ficar na mesma função, mas, poderá assumir a secretaria ou a tesouraria etc.

O procedimento utilizado para a eleição também é comum a todas as associações: numa assembleia geral, escreve-se o nome das pessoas em um papel e as que tiverem mais votos passam a fazer parte da coordenação. A mais votada se torna coordenadora, a segunda, vice; depois, tesoureira, e assim por diante. Não há candidatura, as pessoas votam naquelas que quiserem, desde que sejam sócias da associação. A aderência à associação se dá individualmente. Aproximadamente 10 compõem a coordenação.

24 Uma riquíssima história da constituição desses territórios está relatada por Stucchi (2005, p. 115). Uma história da

constituição dos quilombos Galvão e São Pedro, igualmente rica em detalhes, é examinada por Carvalho (2006, p. 27).