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3 A CONTABILIDADE REGULATÓRIA NA REGULAÇÃO ECONÔMICA

3.3 OS SUBSÍDIOS CONTÁBEIS NA REGULAÇÃO TARIFÁRIA

3.3.4 A revisão tarifária

3.3.4.2 Remuneração de Capital (CAPEX)

3.3.4.2.3 Quota de Reintegração Regulatória

Enquanto a remuneração do investimento é realizada por meio da apuração do custo de capital, a quota de reintegração regulatória se destina a recompor esse mesmo capital por meio de amortizações periódicas.

A Resolução Aneel no 234/2006, que trata do aperfeiçoamento das metodologias de cálculo da revisão tarifária periódica do segundo ciclo, apresenta a seguinte definição: “Quota de Reintegração Regulatória: quota que considera a depreciação e a amortização dos investimentos realizados, visando recompor os ativos afetos à prestação do serviço, ao longo da sua vida útil”.

A recomposição do bem ou sua atualização é necessária devido à redução no potencial de uso em serviço em consequência do desgaste, antiguidade ou obsolescência. A representação da depreciação como redução do valor dos ativos na medida em que estes são utilizados é o procedimento contábil aplicado para evidenciar a redução do potencial de gerar receitas. Assim, o uso progressivo de um ativo é compensado pela receita que seu prestador recebe a cada período tarifário, o que permite dispor de recursos para sempre repor os ativos no final de sua vida útil.

Para o efetivo cálculo da Quota de Reintegração Regulatória – QRR é adotado um percentual da vida útil a partir da taxa média de depreciação de cada distribuidora fornecida pela própria empresa e fiscalizada pela Aneel. A taxa de depreciação referenciada é o instrumento utilizado para definir o período em que os ativos estarão gerando receitas e benefícios para a empresa regulada.

Tendo em vista que as taxas de depreciação atualmente em vigor, segundo o Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia Elétrica – MCSPEE refletem a vida útil dos bens, tais taxas devem ser utilizadas para fins de revisão tarifária periódica a partir das datas de entrada em operação dos ativos.

As taxas de depreciação utilizadas tanto para registro no imobilizado e as utilizadas no processo de revisão tarifária são as da Resolução nº 240, de 05/12/2006, que estipula taxas

anuais para cada tipo de unidade de cadastro. Essas taxas são, assim, individualizadas por equipamento, por sistemas de suporte, por sistema funcional, etc.

Visando definir a depreciação contábil, Iudícibus, Martins e Gelbcke (2007, p. 212) apresentam que: “para a contabilidade, a depreciação é um custo amortizado". Ao discutir sobre a natureza da depreciação, apresentam que “os lançamentos periódicos de depreciação não passam na realidade de um procedimento contábil pelo qual se considera despesa de um período uma parte do custo de um elemento do ativo comprado anteriormente” (IUDÍCIBUS, MARTINS E GELBCKE, 2007, p. 218).

Esses autores registram que este é um lançamento que não afeta as disponibilidades da empresa agora. Trata-se da recuperação de um desembolso passado e que isso nada tem a ver com o desembolso necessário à reposição do ativo.

Quando evidenciada pela Demonstração do Resultado do Exercício – DRE, trata-se de uma despesa não desembolsável, pois não representa na realidade um comprometimento de caixa da empresa.

Isso fica mais claro ao observar um exemplo de um ativo com valor de aquisição de R$ 100.000,00 e com taxa de depreciação de 10% ao ano, ou seja, esse bem seria totalmente depreciado em 10 anos.

Quadro 7 – Demonstrativos financeiros - modelo societário atual

Balanço Início Ano 1 Ano 2* Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10 ATIVO

Caixa 9.260 18.520 261.757 455.954 650.150 880.362

Ativo Imobilizado 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000

Depreciação acumulada - - (10.000) (60.000) (70.000) (80.000) (90.000) Depreciação do ano (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) Saldo líquido do AIS 100.000 90.000 80.000 30.000 20.000 10.000 -

TOTAL DO ATIVO 100.000 99.260 98.520 291.757 475.954 660.150 880.362 DRE Receita tarifária - 11.260 11.260 11.260 11.260 11.260 11.260 Despesa depreciação - (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) Resultado do Exercício - 1.260 1.260 1.260 1.260 1.260 1.260 FLUXO DE CAIXA Caixa inicial - 11.260 67.560 78.820 90.080 101.340 Recebimento de tarifas 11.260 11.260 11.260 11.260 11.260 11.260 Despesa operacional - - - - Caixa final 11.260 22.520 78.820 90.080 101.340 112.600

Nota: *Foi compactado do ano 3 ao ano 6 e foi ocultado o passivo para efeito de simplificação; AIS: Ativo Imobilizado em Serviço.

O que se observa é que o efeito da depreciação nos demonstrativos é a redução do imobilizado e sua correspondente despesa é apresentada na DRE. No entanto, sem efeito no fluxo de caixa da empresa. No ano 10, esse bem estaria totalmente depreciado sem valor contábil.

Nos processos de revisão tarifária periódica das distribuidoras é apresentada uma taxa média de depreciação – TMD utilizada para cálculo da quota de reintegração regulatória. Não foram encontradas nas notas técnicas emitidas pela Aneel referências detalhadas ou estudos quanto à formação dessa taxa.

Dessa forma, de acordo com a definição de QRR apresentada pela Aneel, concluí-se que esta utiliza a TMD como parâmetro de cálculo da QRR na crença de que esse percentual aplicado sobre a Base de Remuneração Regulatória é suficiente para cumprir as suas finalidades de recompor bens e amortizar capital. Assim, de alguma forma, a QRR deveria estar evidenciada nas demonstrações financeiras das distribuidoras de energia elétrica. O tema é analisado no Capitulo 4, item 4.2.1.2.

3.4 CONSIDERAÇÕES DE FINAL DE CAPÍTULO

Este capítulo apresentou como a contabilidade regulatória contribui nas atribuições da regulação econômica e nas funções regulatórias, com destaque para a fiscalização da situação financeira do negócio, bem como sua participação na regulação tarifária, evidenciando os instrumentos contábeis envolvidos nesses processos.

Merece atenção especial, no aspecto da fiscalização, os exemplos de casos onde a Aneel interferiu na concessão diante de informações obtidas principalmente nas demonstrações financeiras que indicavam o desequilíbrio do contrato e que apontavam para a perda de qualidade do serviço para a população.

Relevante é a contribuição da contabilidade na formação do preço (tarifa) exigida como contrapartida pela prestação do serviço e que resulta em uma receita de equilíbrio que garanta a realização das premissas previstas no contrato de concessão, em especial seu equilíbrio econômico-financeiro, com cobertura dos custos da prestação do serviço, realização de investimentos de melhoria e remuneração do capital investido.

Conclui-se acerca do papel da contabilidade regulatória para a regulação econômica, quer seja para exercer função de controle associada à fiscalização econômico-financeira ou como balizador para a BRR na fixação de retorno dos investimentos realizados a serem

recuperados via receita de equilíbrio, que apresenta contribuição efetiva na evidenciação e definição do equilíbrio da concessão.

Também visualizam-se os ajustes feitos pela contabilidade regulatória nas demonstrações financeiras no processo tarifário para fixar a receita a ser recebida dos usuários que garanta o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, destacando-se a criação do ativo imobilizado em serviço regulatório, da base de incidência (BRR) para a taxa de remuneração de capital, e da quota de reintegração regulatória para recomposição do capital investido no negócio.

Não foi encontrada nenhuma restrição à adoção das novas normas internacionais de contabilidade aos processos analisados. Ao contrário, nota-se que há propensão no sentido da melhor evidenciação do desempenho econômico-financeiro da atividade concedida, considerando seu objetivo principal em demonstrar a essência econômica das transações.

Visando identificar os benefícios advindos da adoção das interpretações internacionais para a contabilidade regulatória, no próximo capítulo simula-se um contrato de concessão de distribuição evidenciado pela contabilidade em seu modelo societário atual e na forma da interpretação IFRIC 12.

4. ANÁLISE COMPARATIVA: MODELO SOCIETÁRIO ATUAL VERSUS