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Segregação contábil das atividades de geração, transmissão e distribuição e as sociedades de

2. CONTABILIDADE REGULATÓRIA E SOCIETÁRIA

2.1 CONTABILIDADE REGULATÓRIA

2.1.3 Aspectos distintivos entre a Contabilidade Regulatória e a Contabilidade Societária

2.1.3.3 Segregação contábil das atividades de geração, transmissão e distribuição e as sociedades de

Outro aspecto da contabilidade regulatória que merece destaque refere-se ao processo de reestruturação societária das empresas do setor, com a segregação de suas atividades. Para

entender o processo é necessário retomar o ambiente de 1995, quando foram iniciadas as privatizações do setor.

Naquele momento as empresas eram integralmente verticalizadas, exercendo as atividades de geração, distribuição e transmissão de energia elétrica.

Segundo Pires e Goldstein (2001), empresas integralmente verticalizadas constituem uma ameaça à competição nos mercados em que atuam, principalmente quando fazem parte de indústria de rede, como é o caso do setor elétrico. Tal ameaça surge da possibilidade de que empresas nessas situações pratiquem subsídios cruzados, fazendo com que os consumidores do mercado em que atuam como monopolistas subsidiem as outras atividades inseridas no mercado competitivo, de modo que, neste mercado, essas empresas apresentem uma vantagem competitiva em termos de preços, o que lesa a concorrência.

Somente com a publicação da Lei 10.848/2004, que altera a Lei 9.074/1995, a segregação das atividades foi estabelecida, como segue:

§ 5º As distribuidoras, as permissionárias e as autorizadas de serviço público de distribuição de energia elétrica que atuem no Sistema Interligado Nacional – SIN não poderão desenvolver atividades:

I - de geração de energia elétrica; II - de transmissão de energia elétrica;

III - de venda de energia a consumidores de que tratam os arts. 15 e 16 desta Lei, exceto às unidades consumidoras localizadas na área de concessão ou permissão da empresa distribuidora, sob as mesmas condições reguladas aplicáveis aos demais consumidores não abrangidos por aqueles artigos, inclusive tarifas e prazos;

IV - de participação em outras sociedades de forma direta ou indireta, ressalvado o disposto no art. 31, inciso VIII, da Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, e nos respectivos contratos de concessão; ou

V - estranhas ao objeto da concessão, permissão ou autorização, exceto nos casos previstos em lei e nos respectivos contratos de concessão.

Durante o período de 1995 a 2004, as empresas que adquiriam as concessões as recebiam com as atividades de geração, distribuição e transmissão. Diante disso, foi necessário criar um mecanismo adicional que limitasse a possibilidade das distribuidoras que ainda detivessem ativos na geração de contratarem sua própria energia a preços que observassem uma estratégia empresarial em detrimento de um preço competitivo.

A Aneel, ciente do ambiente instalado, inseriu entre as alterações do Manual de Contabilidade de 2001 que as empresas escriturassem e contabilizem suas atividades de forma segregada, sendo este o único instrumento que a Aneel dispunha para controlar as estratégias das distribuidoras.

Somente a partir de 2004, com a publicação da Lei 10.848/2004, as empresas atuantes no setor estão concluindo o processo de segregação de atividades e formação de Sociedades

de Propósito Específico – SPE20 para que o modelo de competição pretendido, embora com regras regulatórias já estabelecidas, seja alcançado.

Ressalta-se que a constituição de uma SPE é interessante para o Poder Público, sob o ponto de vista de controle, pois facilita a fiscalização principalmente no caso das concessões tendo em vista a complexidade das relações com as empresas distribuidoras.

A respeito da segregação de atividades, nota-se outro ponto de convergência da contabilidade brasileira com as normas internacionais de contabilidade. Conforme apresentam Rehbein e Gonçalves (2008, p. 294), a norma internacional IFRS 821 - Segmentos Operacionais, que substituirá o IAS 1422 a partir de janeiro de 2009, dispõe com base no princípio fundamental que as entidades devem divulgar informações capazes de permitir aos usuários das suas demonstrações financeiras avaliar a natureza e os efeitos financeiros das atividades do negócio nas quais estão envolvidas, assim como os ambientes econômicos onde operam.

De acordo com os autores, o resumo técnico sobre a IFRS 8, preparado pelo IASC, é a norma sobre segmentos operacionais que se aplica, entre outras, às empresas que tenham depositado, ou estejam em vias de depositar, suas demonstrações financeiras junto à uma comissão de valores mobiliários ou de outra organização reguladora.

A IFRS 8 demonstra como a entidade deve reportar informações sobre seus segmentos operacionais nas demonstrações financeiras anuais e também define os requisitos das respectivas divulgações sobre produtos e serviços, áreas geográficas e principais clientes.

Um segmento operacional é um componente de uma entidade que desenvolve atividades de negócio das quais obtém receitas e pelas quais incorre em gastos e cujos resultados operacionais são regularmente revistos pelo principal responsável pela tomada de decisões operacionais da entidade sobre a imputação de recursos ao segmento e pela avaliação do seu desempenho.

Pela legislação societária em vigor, as informações por segmento não são requeridas. Entretanto, em 2007, a CVM divulgou por meio do Ofício Circular CVM/SNC/SEP/01/2007

20 Segundo Carvalho (2007), somente com a publicação da Lei 11.079/2004, que instituiu o regime das Parcerias Públicos-Privadas – (PPPs), veio a tona um instituto de nome Sociedade de Propósito Específico - SPE. Contudo, esse autor afirma que esse instituto já era subentendido pelo contexto jurídico, desde a publicação da Lei 9074/1995, posterior e complementar a Lei das Concessões (Lei 8.987/1995), a qual estabelece que no âmbito das operações de licitações, a constituição de um consórcio de natureza instrumental, ou seja, de um consórcio que servirá de meio para estabelecer contrato com terceiros (que, no caso, compreendem a Administração Pública), sendo que uma vez vencedor, o consórcio extinguir-se-á a fim de que se constitua, em seu lugar, uma Sociedade de Propósito Específico - SPE. Enfim, o consórcio vencedor será transformado numa sociedade personalizada e de objetivo determinado (CARVALHO, 2007).

21 International Financial Reporting Standards - IFRS. 22 IAS - 14 - Reporting Financial Information by Segment.

o incentivo à divulgação das informações por segmento, seguindo a norma internacional. Observa-se, portanto, que a contabilidade regulatória do setor elétrico já exigia essa segregação desde 2001, estando alinhada, portanto, aos preceitos internacionais.

Esses dois casos específicos demonstram a aplicação da contabilidade regulatória através dos demonstrativos financeiros, dissipando ou mitigando as estratégicas de maximização do lucro dos empreendedores atuantes no setor em detrimento do consumidor de energia elétrica, tornando-se importante mecanismo para o adequado funcionamento do modelo de regulação adotado.

A seguir são tratados os aspectos relacionados à convergência da contabilidade societária com os padrões internacionais de contabilidade, conforme disposto na lei 11.638/2007, bem como as interpretações que se referem aos contratos entre entes público e privados.