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ESTUDANTES NO CONTEXTO DA SALA DE AULA

3.6 T RATAMENTO DOS DADOS

As 28 aulas gravadas em vídeo foram digitalizadas e gravadas em DVD, com 3 cópias para cada aula gravada. No processo de digitalização, 5 aulas apresentaram erro no arquivo, e infelizmente só observamos esse problema após outros dados já terem sido gravados por cima da fita de vídeo, impossibilitando acesso aos dados. Assim, as 23 aulas restantes foram sistematicamente assistidas e anotadas gerando um mapa de eventos que está reproduzido no

45 Anexo 1 deste trabalho. Este mapa permite ter uma visão mais ampla da sequência de ensino, contribuindo para o melhor entendimento das várias intervenções dos estudantes. O mapa nos dá uma dimensão da sequência de ensino enquanto totalidade e permite, ainda, examinar como um acontecimento em sala, em uma determinada aula, pode desencadear participação discursiva dos estudantes em aulas posteriores. Nesse sentido, a construção do mapa de eventos tem o papel importante de aproximar o pesquisador dos inúmeros contextos de produção e transformação de significados nas aulas de ciências.

A visão da sequência de ensino como um todo e a recusa em considerar os episódios vistos isoladamente é uma consequência do princípio bakhtiniano de que todo enunciado é um elo de uma cadeia complexa e interminável da comunicação humana.

As 23 aulas gravadas em vídeo foram cuidadosamente analisadas com o auxílio do programa Videograph®. Este software permite a categorização do vídeo em tempo real, segundo algumas categorias previamente estabelecidas ou que vão sendo testadas e reformuladas ao longo da análise do material.

O Videograph® possibilita que apareçam na tela do computador o registro audiovisual da aula, as categorias informadas pelo pesquisador e uma linha do tempo. À medida que a aula gravada progride na tela do computador, o pesquisador seleciona a categoria que ele considera que corresponde àquele momento da aula e tal categoria vai sendo registrada na linha do tempo, localizada abaixo da imagem dessa aula. Ao mudar de categoria, uma nova passa a ser registrada em lugar da anterior. O programa registra o tempo correspondente a cada segmento da aula em que a categoria apareceu. Os dados referentes aos tempos de cada categoria considerada são transportados para o programa Excel®. Com esse programa, utilizando as fórmulas adequadas, é possível somarem cada categoria os tempos correspondentes aos diferentes segmentos em que ela apareceu durante a aula, para que se obtenha o tempo total em que ela foi empregada. A partir desses tempos absolutos, obtemos os percentuais de tempo de cada categoria para cada aula em particular. Considerando-se uma sequência de aulas, os tempos de cada categoria em cada uma devem ser somados entre si para que sejam obtidos os percentuais de tempo que correspondem a sequência de aulas como um todo. No caso de nossa pesquisa, procuramos registrar as perguntas e feitas pelos estudantes e classificá-las ao longo da sequência de ensino de modo a examinar sua frequência e distribuição. No entanto, esses dados quantitativos para os propósitos desta pesquisa só fazem sentido quando

46 combinados com uma análise qualitativa e aprofundada das interações discursivas em situações específicas. Esta metodologia, que combina análise qualitativa e quantitativa, vem sendo utilizada com sucesso por outros membros de nosso grupo de pesquisa (por exemplo: Tourinho, 2008, Araújo, 2009, Silva 2009).

O Videograph® apresenta uma limitação que merece atenção, o seu menor tempo de codificação é de 1 segundo; portanto, se uma categoria toma menos tempo que isso, torna-se impossível fazer um registro correto do tempo empregado. Não é raro acontecer de um falante ocupar menos tempo que um segundo em sua fala, ou de outra forma, dois ou mais falantes se expressarem durante um segundo. No entanto, acreditamos que essa limitação não compromete a nossa análise, uma vez que diante do grande volume de tempo categorizado o tempo de erro se torna desprezível.

Após a categorização de todos os vídeos da sequência de ensino, selecionamos alguns trechos para serem submetidos à análise detalhada e posterior transcrição. Realizamos a transcrição com o auxílio do programa Transana versão 2.41. Esse software possui ferramentas que facilitam a transcrição, como: comandos no teclado que permitem retrocessos, parada ou retomada do vídeo, apresentação da onda de áudio do arquivo digitalizado, marcação de início de episódio, possibilidade de ligar a transcrição diretamente ao vídeo (legenda do filme), e a facilitação de acesso ao banco de dados de transcrição criada pelo próprio programa.

Temos consciência de que mesmo com todos esses recursos disponíveis, a transcrição apresenta limitações e recortes da sala de aula. O mesmo aconteceria se o pesquisador procurasse explicitar os mais variados recursos linguísticos tais como entonação, pausas e gestos,- a transcrição continuaria sendo muito mais limitada do que o evento real em sala de aula. Algumas falas são perdidas, outras são recuperadas, mas nem sempre uma fala transcrita foi realmente ouvida pelos participantes. Em outros momentos, ocorre o inverso – os participantes (em especial o professor) ouvem certos enunciados dos estudantes que não foram captados pela gravação e reagem em seguida a ele. Há ainda o fato de sobreposição de turnos de fala e o entendimento de qual enunciado desencadeia a resposta seguinte.

As transcrições serão apresentadas em quadros com 4 colunas, constituídas pelas numerações dos turnos de fala (coluna 1), transcrições com respectivos locutores (coluna 2), comentários contextuais e gestuais (coluna 3) e a identificação das perguntas dos estudantes (coluna 4).

47 Os critérios adotados para a transcrição da linguagem oral foram: o uso de barra (/) para indicar pausas; para comentários contextuais usamos duplos parênteses (( )); o único sinal de pontuação utilizado é o ponto de interrogação (?), quando a entonação sugere uma pergunta. Procuramos, assim, aproximar, tanto quanto possível, a transcrição da linguagem oral.

A captação do áudio dentro de uma sala de aula real nem sempre permite captar os sinais com qualidade para serem transcritos, sobretudo no que se refere às falas dos estudantes. Algumas vezes os estudantes falam em voz baixa, apresentam enunciados incompletos e lacunares e, ainda, falas simultâneas que impedem uma transcrição completa dos enunciados produzidos pela turma. Nesses casos, indicamos as falas com o registro ‘inaudível’ entre parêntesis. Os sistemas de categorias utilizados para tipificarmos as perguntas dos estudantes foram inspirados em outros trabalhos de pesquisa sobre o tema, tendo sido ainda reconstruídos e adaptados a partir dos dados empíricos, tendo em vista os nossos problemas de pesquisa. Os procedimentos adotados para tal elaboração de categorias serão apresentados no próximo capítulo.

48

C

APÍTULO

4

E

XAMINANDO AS PERGUNTAS DOS ESTUDANTES E SEUS