• Nenhum resultado encontrado

2.4 REVISÃO CRÍTICA PARA A ANÁLISE DE DOMÍNIO APLICADA AO PROCESSO CONCEITUAL DA ONTOLOGIA EDXL-RESCUER

2.4.1 Da realidade significada

O tema da realidade significada trata de se ter uma realidade entendida sobre

mundos possíveis, onde a definição dos significados dos signos é fruto da

intersecção entre os eixos da subjetividade e da significância. Isto significa que a enunciação de um termo não está a cargo do sujeito, mas de sua subjetividade associada, e que o termo enunciado vai ganhando elementos para constituir o seu

significado, na medida em que ele se faz presente no domínio, e vai acumulando

“vozes”, ou, significância.

Sob este tema, ao revisar o processo para a construção da EDXL-RESCUER ONTOLOGY, algumas questões se colocam.

Inicialmente, deve-se registrar que o uso de um universo do discurso referente a um domínio que se apresenta como padrão, é um redutor do processo de representação da realidade, mesmo antes de se entrar em qualquer ação de formalização. A padronização preconiza um nível alto de abstração e de descolamento cognitivo. Ademais, signos neste contexto são menos influenciados por desejos, por exemplo, e se expressam de modo muito mais estático do que fluido.

A consequência, é que dificilmente novos signos irão surgir num ambiente desta natureza.

Outra questão diz respeito ao extrato-domínio do domínio RESCUER a ser combinado. Este tende, efetivamente, a ser conduzido pela parte pertinente ao EDXL, levando a um processo de mapeamento entre signos de fontes heterogêneas, onde a semântica será induzida, muito mais do que abduzida. Em outras palavras, é possível que o mapeamento ocorra, por exemplo, muito mais por uma aproximação com menor grau semântico e mais sintático.

Por fim, numa base de conhecimentos fundamentada sobre um domínio, onde o universo do discurso é concebido sobre referências padronizadas descoladas de uma realidade imediata, há o impedimento para uma abordagem associada a

mundos possíveis, pois nestes, o signo possui uma história, tornando-o composto de

componentes oriundos de outros signos.

Para Mastop ([2012?], p. 34), neste cenário, o grande impacto está na baixa expressividade a ser obtida junto às proposições formuladas, ao se usar operadores do tipo, necessário e suficiente, devido à dificuldade em se obter correspondência entre o mundo possível e a realidade correspondente as suas condições de verdade.

2.4.2 Da particularização

O tema da particularização introduz a importância da experiência no domínio, para que haja uma adequada identificação do universo do discurso que o descreve.

O EDXL-RESCUER ONTOLOGY foi conduzido junto com a participação de especialistas, especialmente na parte combinada, RESCUER. Porém, uma identificação adequada do universo do domínio, indica que a realidade a ser retratada demanda mais do que a percepção. Demanda um entendimento capaz de

permitir construções onde um mesmo signo possa estar associado a significados, em função do contexto em que são enunciados.

O mapeamento dos conhecimentos por meio de um processo classificatório como a taxonomia facetada, produz uma redução na representação desejada, motivada, por exemplo, pelo fato de que um mesmo termo não pode estar associado a mais de uma categoria significante, sem que sua expressão semântica não seja alterada. Este tipo de formalização transforma particulares em universais, e impedem que universais atuem como particulares.

A estruturação oferecida para a realidade do domínio EDXL-RESCUER, impede que haja um deslocamento da representação estruturada, universal e

estática para a subjetivação significante, particular e fluida. Deste modo, quando

bases de dados estiverem interoperando por meio de uma camada semântica, a tendência é de que os signos-significados relacionados tenham que se ajustar a um nível de simplificação para que haja trocas.

2.4.3 Da semelhança

O tema da semelhança trata da aproximação ou semelhança entre signos, considerando que estes estão associados aos conhecimentos potenciais residentes nos domínios.

De acordo com Deleuze (2006 apud MOSTAFA, 2012, p. 32), um objeto

referente (realidade) tem associado a ele um conhecimento potencial. Para Deleuze,

o conhecimento associado a um objeto é composto de uma parte invariante e outra determinada pelos devires, composta por aquilo que não está estruturado (Deleuze chamou de Corpo sem Órgãos - CSO), pelo entendimento produzido pelo sujeito (subjetivação) e por elementos oriundos de outros objetos. Deste modo, o

conhecimento associado a um objeto sofre constantes atualizações através dos

movimentos de mediação. Sendo assim, o mesmo é considerado potencial, pois é aquilo que pode ser!

A atualização dos conhecimentos potenciais ocorre por meio de mediações. Estas refletem as relações entre signos, que geram uma rede de significados, que por sua vez estará qualificando os conhecimentos do domínio. A razão para a ocorrência destas atualizações está no denominado efeito de significância, quando

um signo carrega de informações o significado de outro signo, através da

significância. (THELLEFSEN; BRIER; THELLEFSEN, 2001, p. 22)

Quando uma base de dados se conecta à plataforma do projeto RESCUER, e a partir desta, interopera com outras bases, tem-se um processo de instanciação de eventos de um domínio junto a outro domínio. O papel da ontologia EDXL- RESCUER é prover a aproximação entre as instâncias ocorridas.

Neste momento, há duas questões críticas a serem observadas. Uma diz respeito à dificuldade que as instâncias sejam geradas e mantidas, considerando o elevado grau de abstração de parte do universo do discurso atendido pela ontologia. Ou seja, será difícil estabelecer um grau de semelhança entre signos que possibilite as suas aproximações, considerando, por exemplo, a possibilidade de atender a uma questão de competência.

Aproximação por semelhança entre signos poderá ocorrer com base em três dimensões: sintática, semântica e pragmática. De acordo com Eco (1979, p. 57 apud GHAFARI; FALAMAKI, 2015, p. 52), o signo tem suas dimensões, sintática relativa às regras internas de combinação que os governa e semântica referente aos estados distintos que transformam os seus significados.

Em relação à dimensão pragmática, Deleuze (1985, p. 45 apud CARDOSO JR., 2006, p. 199) sugere que para o Pragmatismo, o significado de um signo implica em se incorporar um modo de vida, enquanto Peirce (2010, p. 194) defende que sob a ação pragmática, o entendimento do signo ocorre em função da conduta do

sujeito.

Deste modo, a aproximação dada em função da dimensão pragmática está relacionada com o entendimento do significado do signo a partir do seu uso.

Portanto, a aproximação entre os signos na constituição da base de

conhecimentos para EDXL-RESCUER ONTOLOGY e no uso desta como camada

para interoperação de bases de dados heterogêneas, observando que parte do

domínio é formado por um universo de padrões descolado de uma prática de uso

efetiva, leva à conclusão que o mapeamento entre termos é, em maior grau, de natureza sintática e menos de natureza semiótica ou pragmática.

A outra questão implica na necessidade de uma camada metaconceitual para que se estabeleça, previamente, qual a associação esperada entre signo e

significado. Isto porque, conforme a implementação da ontologia, há uma ação de

A consequência é a restrição do significado, elevando o nível de afastamento entre a realidade e aquela subjetivada, e a redução sobre a clareza dos

conhecimentos de um domínio.

2.4.4 Da predicação

O tema da predicação resulta da proposição sujeito-predicado, sendo

predicado igual à relação ação-objeto. Para Peirce (2010, p. 48), as relações entre sujeito e predicado devem ser colocadas em primeiro plano, uma vez que o predicado é a instância da expressão ou o interpretante, na tríade do signo.

Esta visão de Peirce nasce com Aristóteles (ANNAS, 1976, p. 190 apud GERSON, 2004, p. 6), segundo o qual, o predicado, é um universal que caracteriza o sujeito (que é um particular). Isto permitiria que vários sujeitos fossem “ligados” por uma categoria de ocorrências ou instâncias (particulares), baseada em incidentais (predicados ou universais). Deste modo, Gerson (2004, p. 7), conclui que uma coleção de universais, por si só, não garante a unicidade de um particular, uma vez que esta garantia só poderá ser dada pelo próprio particular.

A Lógica da Representação, através da Retórica Especulativa peirceana, reforça esta ideia ao admitir que o significado do signo seja aplicável a um objeto, por meio das qualidades contidas neste.

Com base nestas considerações, seria de se admitir, que em relação aos temas usados para avaliar ou revisar o processo de Análise de Domínio que implicou na EDXL-RESCUER ONTOLOGY, o da predicação aponta um cenário mais favorável.

Entretanto, a hipótese desenvolvida nesta Tese diz respeito à necessidade de se aproximar a realidade entendida daquela significada, e neste sentido, cabe substituir inicialmente, uma realidade percebida por outra, entendida, e uma

realidade conceptualizada por outra, significada. Deste modo, a Lógica da

Representação não basta, é necessário avançar no sentido de outras concepções, como a Lógica dos Sentidos, presente na Semiótica elaborada por Deleuze e Guattari.

Neste sentido, representação deve ser percebida como subjetivação,

espaço ao particular, e a figura “corpo com órgãos” deixa de prevalecer para outra, “corpo sem órgãos”.

Assim, a Lógica da Representação fundamentada nas percepções, é substituída pela dos Sentidos, cujo fundamento é o entendimento. E assim, se realinha o sentido das realidades a serem observadas.

Desta forma, é razoável afirmar que a Análise de Domínio conduzida para geração da EDXL-RESCUER ONTOLOGY conduz a um processo de predicação que não favorece a particularização daquilo subjetivado, como os esquemas contendo classes e propriedades da ontologia. O uso de universos de

conhecimentos com alto grau de abstração, na perspectiva deste tema, implica em

perdas de significância para os termos listados.