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O capítulo 4 descreve a proposta para desenvolver uma abordagem em que seja possível conceber uma Análise de Domínio orientada a identificação de signos e significados, a partir do mapeamento de conhecimentos e de questões que caracterizam um determinado domínio. Para tanto, este trabalho propõe que a

Análise ocorra sob uma abordagem pós-estruturalista, expressa pelo alinhamento

entre as Semióticas de Deleuze-Guattari-Peirce.

O capítulo se inicia com as aproximações entre as Semióticas citadas. A base deste processo se dá sobre muitos pontos, iniciando-se pela semiose infinita proposta por Peirce.

Para Peirce, o signo, em certa medida, é fruto de uma semiose infinita, a qual opera num trajeto estabelecido num formato tricotômico, sobre o qual o signo segue alterando sua natureza de modo constante e infinito, na medida em que vai se deslocando. O alinhamento com Deleuze-Guattari ocorre, quando ambos introduzem este conceito na sua Semiótica, usando-o como paradigma para justificar a presença da dimensão espaço na formação da natureza dos signos.

Para eles, a natureza do signo sofre a influência da dimensão, espaço, e também, da dimensão, tempo, considerando que o mesmo é fruto, não apenas da ideia de generalização, atrelada ao espaço, mas, também, da ideia de hábito, a qual está ligada ao tempo. Assim, o signo produto de um sistema fechado, passa a ser visto como produto de um sistema aberto.

Em sequência, revela-se crítico no alinhamento aqui conduzido, que antes de duas Semióticas, há duas lógicas que devem ser alinhadas, as Lógicas da Representação e dos Sentidos.

Tomando-se Nietzsche como referência, tem-se que o signo não deve ser estático, mas sim, dinâmico, fluído. Assim a Lógica dos Sentidos defendida por Deleuze-Guattari se estabelece, fazendo contraponto com a Lógica da Representação, defendida por Peirce, que se apoia sobre um sistema tricotômico sígnico fechado, adotando apenas a dimensão espaço na determinação do signo.

O contraponto entre as duas lógicas, em verdade, implica num processo de complementaridade, conduzindo a uma Semiótica dos Sentidos sobre novos paradigmas: subjetivação como termo equivalente a devir, a fluxo da natureza; identidade equivalendo a significado, a algo que flui; significante contendo o

superada por significância, que contém traços do significante indexados a uma

rostidade especifica atribuída por aquele que enuncia; e, linguagem como função da significância e da subjetivação.

A Semiótica dos Sentidos se expressa como uma Semiótica mista, tendo na

rostidade no signo um dos seus pilares, uma vez que o mesmo se refere às

multiplicidades da face do sujeito, face que não é estática, e sim, fluída.

A rostidade está no ponto onde os eixos de significância e de subjetividade se cruzam, e no qual se estabelece a influência fundamental sobre a formação do signo que compõe o universo do discurso de um domínio. Na Semiótica dos Sentidos, o

universo do discurso de um domínio deixa de ser caracterizado pelo conjunto

formado por representação, identificação (identidade estática), universal e

organismo ou corpo com órgãos, para ser substituído por outro, formado por subjetivação, significância, particular e corpo sem órgão ou CSO. Desta forma, o significado é entendido como algo que flui e que passa a ser operado por um sujeito,

donde se conclui que o objeto referente, de fato, não é representado, mas subjetivado.

Sob a perspectiva de Semiótica mista e de natureza pós-estruturalista, o

pensamento se apresenta, não mais relacionado a uma metáfora de estrutura, mas

como algo próximo da ideia de fluição. Uma metáfora que busca fazer o pensamento parecer se expressar em várias direções, sem possuir, necessariamente um início e um fim. Para tanto, Deleuze-Guattari associa esta metáfora a um rizoma. O rizoma, deste modo, espelha um pensamento não estruturado, que se assemelha a uma árvore, onde suas raízes, tronco, ramos e folhas se espalham em várias direções.

Este pensamento, como determinante para gerar o significado do signo, tem sobre si a ação das dimensões, espaço e tempo. A dimensão espaço posicionando o pensamento num contexto específico do domínio, e a dimensão tempo determinando o modo como a subjetividade influencia o pensamento.

A dimensão espaço, associada à figura da imagem-movimento, originalmente introduzida pela Semiótica peirceana, foi inscrita por Deleuze-Guattari naquilo que eles chamaram de cartografia do pensamento. Nela, o pensamento frente aos regimes semióticos segue movimentos que são cartografados como sendo de

desterritorialização, territorialização e reterritorialização. Estes movimentos do pensamento, em sentido estrito, tanto se dão em Peirce, através do caminho ou

semióticos, segundo Deleuze-Guattari, fazendo da cartografia do pensamento um ponto importante de aproximação entre as duas Semióticas.

O que é comum às duas cartografias é que, seja durante o processo semiótico seja na sequência de regimes semióticos, em cada ponto desta trajetória o

signo se torna único, singular, na perspectiva do sujeito que enuncia. A

singularidade do signo é o fato que torna a cartografia do pensamento um ponto de convergência entre Deleuze-Guattari e Peirce.

Entretanto, cabe observar, assim como em outros pontos já abordados, aqui também eles mais do que se aproximam, eles se estendem, cabendo a Semiótica de Delueze-Guattari este papel.

No caso da cartografia do pensamento, além da singularidade do signo, Deleuze-Guattari observam que, havendo uma variação de estados do signo, é razoável supor que não haja apenas uma decodificação de um código em outro, mais muitas outras. Assim, para eles, a cartografia do pensamento também implica em diferenças e possibilidades, além da singularidade, para os signos.

Outro espaço onde as aproximações entre as Semióticas se dão, está relacionado ao Pragmatismo como uma das teorias de fundamentação. Há pelo menos três pontos que determinam esta aproximação.

O primeiro deles se refere a presença de ações de mediações. Para Peirce, mediações entre as entidades que compõem o triângulo semiótico atuam para que um significado seja estabelecido para um signo. De outro modo, para Deleuze e Guattari, um significado de um signo tem o seu sentido identificado, por meio de mediações que ocorrem entre as partes que o compõem e com outros signos.

Outro ponto de aproximação está presente na aplicação de duas concepções teóricas peirceanas, por parte de ambas as Semióticas: a categorização que identifica a presença de um significante para signos linguísticos e de um não

significante para signos não linguísticos; e, o esquema triádico para o signo,

composto por três fenômenos, primeiridade, secundidade e terceiridade. Por último, há um terceiro ponto de aproximação que diz respeito à comunicação entre fluxos heterogêneos (agenciamento) na determinação do signo.

De acordo com Peirce, o agenciamento ocorre à medida que o signo vai se transformando de objeto a representamen a interpretante a objeto, numa sequência infinita que vai estabelecendo significados. Para Deleuze e Guattari, os processos de agenciamento vão se estabelecendo sem seguir, necessariamente, uma estrutura

lógica. Para eles, o agenciamento ocorre durante a alternância entre regimes semióticos, por meio dos movimentos de territorialização, desterritorialização e

reterritorialização, que conduzem os signos aos seus significados.

A partir da identificação destas aproximações, esta Tese propõe uma tricotomia conjunta, Deleuze-Guattari-Peirce, para qualificar uma Semiótica mista de natureza pós-estruturalista, a fim de apoiar a atividade de Análise de Domínio. Sobre esta tricotomia são estabelecidas cadeias discursivas apoiadas por estruturas não

discursivas, onde sistemas de repetição e de insistência intensiva para construção

do significado do signo se dão. Tanto por meio do processo de semiose infinita, como foi definido pela Teoria do Hábito de Peirce, como através dos territórios

existenciais (territorializados) e dos universos incorporais (desterritorializados), de

acordo com a Semiótica de Deleuze-Guattari.

Assim é aqui, propõe-se um novo esquema para a geração do significado de um signo, expresso na Figura 37, chamada titulada de Triângulo semiótico para

agenciamentos junto à relação sujeito-objeto, refletindo as subjetividades, discursivas e não discursivas, para a elaboração da significância necessária à

geração do significado.

Isto é feito, tomando-se o triângulo semiótico inicial de Peirce e, reconfigurando-o, a fim de tornar explícitas as subjetividades discursivas e não

discursivas junto à significância do signo, conforme observado na Figura 37. Esta foi

titulada como Triângulo semiótico para agenciamentos junto à relação sujeito-objeto, representando as subjetividades, discursiva e não discursiva, na construção da

significância.

Esta figura possui dois conjuntos de elementos principais: os vértices do triângulo e os pontos que formam o arco que envolve os mesmos vértices. A figura, inspirada no triângulo semiótico de Peirce, tem como seus vértices: o signo-

referente, projeção do objeto referente; o signo-significante, projeção do sujeito enunciador; e, o signo-significado, projeção da máquina semiótica. Quanto ao arco,

ele vai do referente ao significado, passando pelo significante. Ambas as estruturas são expressas por linhas tracejadas, indicando pontos em um intervalo aberto em vez de um intervalo fechado, significando valores contínuos em vez de valores discretos.

No Triângulo, há referências sobre os agenciamentos presentes na relação entre sujeito e objeto, fundada pela função f(expressão, conteúdo). E isto reflete uma