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Recolhimento das custas de preparo e de porte de remessa e de retorno

No documento Rodrigo Voltarelli de Carvalho (páginas 116-119)

CAPÍTULO III – REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL NO NOVO

3.4. Requisitos extrínsecos

3.4.2. Recolhimento das custas de preparo e de porte de remessa e de retorno

O segundo requisito de admissibilidade recursal extrínseco analisado, o recolhimento das custas preparo e de porte de remessa e de retorno, nada mais é do que a necessidade de pagamento das custas devidas na interposição do recurso a título de preparo, destinadas para custear o seu processamento, e das custas de porte de remessa e de retorno dos autos físicos,

que custeiam a remessa do processo ao órgão julgador ad quem e sua devolução ao órgão julgador a quo.

A necessidade de pagamento das custas referentes ao porte de remessa e de retorno dos autos deve ser incluída neste requisito de admissibilidade recursal, em conjunto com as custas referentes ao preparo do recurso, em decorrência do que está expresso no caput do artigo 1.007, uma vez que também impõe a possibilidade da cominação da pena de deserção em caso de não recolhimento dessas custas especificamente.

Vale dizer, para fins de admissibilidade recursal, que não adianta o recorrente realizar o pagamento apenas das custas referentes ao preparo e não realizar o pagamento daquelas referentes ao porte de remessa e de retorno ou vice-versa. Confira-se, ipsis litteris:

Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.

Destaca-se, no entanto, que com a modernização do Poder Judiciário e a ampla implementação do processo eletrônico, será cada vez mais incomum a necessidade de pagamento das custas referentes ao porte de remessa e de retorno dos autos, tendo em vista que o parágrafo terceiro do artigo 1.007 citado dispensa expressamente a necessidade do pagamento dessas custas “no processo em autos eletrônicos”.

O não cumprimento desse requisito de admissibilidade recursal, nos termos da lei, implica na aplicação da pena de deserção ao recorrente e acarreta a inadmissibilidade do recurso interposto.

Ademais, é proposital a definição do presente requisito de admissibilidade recursal extrínseco sem o estabelecimento de que o recolhimento das custas supramencionadas deva ser prévio e comprovado no ato de interposição do recurso, a despeito do caput do artigo 1.007.

Trata-se de sutil, mas necessária alteração do conceito proposto pela doutrina224. Isso porque, pelo sistema processual que será inaugurado a partir da vigência do novo Código de Processo Civil, o não pagamento das custas de preparo e de porte de remessa e de

224 José Carlos Barbosa Moreira (2003, p. 390), Araken de Assis (2015, p. 229), Fredie Didier Junior e Leonardo

José Carneiro da Cunha (2009, p. 62) e Flávio Cheim Jorge (2015, p. 2233), todos eles, estabelecem, no conceito desse requisito de admissibilidade recursal extrínseco, que o recolhimento das custas de preparo e de porte de remessa e de retorno deve ser realizado em momento anterior ao da interposição do recurso.

retorno em momento pretérito à interposição do recurso e a não comprovação da realização desses pagamentos no ato da interposição (através da anexação das guias comprobatórias de pagamento dessas taxas judiciárias à petição do recurso) não geram a imediata inadmissibilidade do recurso interposto.

Se o recorrente não o fizer, será intimado a fazê-lo em dobro (art. 1.007, § 4º, CPC/2015), no prazo improrrogável de cinco dias – muito embora o parágrafo quarto seja omisso com relação a esse prazo, não há como se admitir que seja concedido outro prazo que não o de cinco dias, tendo em vista que em todas as outras hipóteses do artigo 1.007 há previsão expressa do prazo de cinco dias225.

De igual modo, se o recorrente recolher custas em valor insuficiente (leia-se, pagar menos do que era devido ao Poder Judiciário), também será intimado a complementar os valores devidos, no prazo de cinco dias (art. 1.007, § 2º, CPC/2015).

A determinação para o recorrente pagar em dobro as custas de preparo e as custas de porte de remessa e de retorno dos autos não admite posterior complementação (art. 1.007, § 5º, CPC/2015).

Além disso, o órgão julgador também concederá cinco dias de prazo para que o recorrente cumpra esse requisito de admissibilidade recursal no caso de o recorrente comprovar “justo impedimento” (art. 1.007, § 6º, CPC/2015), assim como concederá cinco dias para que o recorrente sane eventual vício identificado pelo órgão julgador no preenchimento das guias de custas (art. 1.007, § 7º, CPC/2015).

Conforme Cassio Scarpinella Bueno, “o § 7º, por fim, que evitar as armadilhas comuns do que eloquentemente é chamado de ‘jurisprudência defensiva recursal’”226.

Apenas se o recorrente não cumprir com algum desses mandamentos acima, apesar de não ter cumprido com aquilo determinado pelo caput do artigo 1.007, é que ele será apenado com a sanção de deserção e seu recurso será inadmitido.

A necessidade de “recolhimento prévio”, portanto, perde importância com a vigência do novo Código de Processo Civil, de modo que não deve mais fazer parte da conceituação desse requisito de admissibilidade recursal extrínseco227.

225 É nesse sentido o Enunciado nº 97 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “É de cinco dias o prazo para efetuar o preparo”.

226 BUENO, 2015, p. 645.

227 A partir da vigência do CPC/2015, ficará superada a Súmula nº 187 do STJ, assim enunciada: “é deserto o recurso interposto para o Superior Tribunal de Justiça, quando o recorrente não recolhe, na origem, a importância das despesas de remessa e retorno dos autos”.

Em comentário ao supracitado artigo 1.007, Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogério Licastro Torres de Mello asseveram que

“este dispositivo trata do preparo e já contém, em si mesmo, manifestação da tendência antes referida, quando dos comentários aos artigos que tratam das nulidades: a idéia é a de sanar os defeitos de forma do processo, para que este possa atingir seu fim, que é o de produzir decisão de mérito.”228

O quanto é devido ao Estado a título dessas custas processuais “é fixado na lei de organização judiciária para cada recurso”229, os valores variam para cada ente federativo – não há regra –, e podem ser fixados a partir de dois critérios: ou se atribui às custas um percentual referente ao valor da causa, do benefício econômico pretendido ou do benefício econômico auferido; ou se atribui um valor fixo às custas.

Ainda, nos termos do parágrafo primeiro do artigo 1.007, “são dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal”.

Finalmente, vale destacar que o valor do preparo e o valor das custas de porte de remessa e de retorno não serão devolvidos ao recorrente se o recurso interposto não for admitido ou tiver provimento negado. A única hipótese de devolução de algum pagamento realizado a esse título é no caso de pagamento a maior ou em dobro, o que também é disciplinado pelas normas de organização judiciária de cada ente federativo.

No documento Rodrigo Voltarelli de Carvalho (páginas 116-119)