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Tempestividade

No documento Rodrigo Voltarelli de Carvalho (páginas 111-116)

CAPÍTULO III – REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL NO NOVO

3.4. Requisitos extrínsecos

3.4.1. Tempestividade

O mais importante dos requisitos de admissibilidade recursal a ser observado, dentre todos – como restará demonstrado adiante –, é a tempestividade: a lei estabelece o prazo no qual aquele legitimado e interessado em recorrer deve interpor o recurso.

Sobre a tempestividade dos recursos, destaca-se a anotação de Flávio Cheim Jorge:

“A previsão de determinado prazo para interposição dos recursos decorre de razões ligadas à segurança jurídica, impedindo que uma decisão seja revista a qualquer tempo. Fixando-se um prazo para a impugnação, as partes e os interessados sabem que, uma vez não interposto o recurso, a decisão não poderá mais ser alterada.”212

As regras gerais com relação ao prazo para interposição dos recursos estão estabelecidas no artigo 1.003 do novo Código de Processo Civil:

Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão.

§ 1º Os sujeitos previstos no caput considerar-se-ão intimados em audiência quando nesta for proferida a decisão.

§ 2º Aplica-se o disposto no art. 231, incisos I a VI, ao prazo de interposição de recurso pelo réu contra decisão proferida anteriormente à citação.

§ 3º No prazo para interposição de recurso, a petição será protocolada em cartório ou conforme as normas de organização judiciária, ressalvado o disposto em regra especial.

§ 4º Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será considerada como data de interposição a data de postagem.

§ 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias.

§ 6º O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso.

O prazo para a interposição de qualquer um dos recursos tipificados no novo Código de Processo Civil, com exceção dos embargos de declaração – cujo prazo para oposição é de cinco dias (art. 1.023, caput e § 2º, CPC/2015), é de quinze dias úteis213, contados a partir do primeiro dia útil subsequente à data da intimação (art. 224, CPC/2015214).

212 JORGE, 2015, p. 2227.

213 De acordo com a regra inovadora trazida pelo CPC/2015 em seu artigo 219, os prazos processuais (como os

prazos para interposição dos recursos) serão contados apenas em dias úteis. Confira-se:

Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais.

214 Art. 224. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento.

A apelação, o agravo de instrumento, o agravo interno, o recurso ordinário, o recurso especial, o recurso extraordinário, o agravo em recurso especial ou extraordinário e os embargos de divergência, têm, todos eles, prazo de quinze dias úteis para sua interposição – o novo Código de Processo Civil unificou os prazos recursais e extinguiu o prazo de dez dias para a interposição de determinados recursos.

A intimação daqueles estabelecidos no caput do artigo 1.003 supracitado, que nada mais são do que aqueles que detêm capacidade postulatória (com exceção da sociedade de advogados, que se trata de uma inovação do CPC/2015), ou a ciência voluntária (hipótese na qual o interessado, voluntariamente, comparece ao cartório e toma ciência, por escrito, nos próprios autos do processo), é o gatilho que dispara o início da contagem do prazo para a interposição do recurso.

A “intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos termos do processo”, conforme definição legal do caput do artigo 269 do novo Código, e deve ser feita, preferencialmente, por meio eletrônico (art. 270, CPC/2015), aqui considerado como a publicação no Diário de Justiça Eletrônico ou no próprio processo eletrônico (arts. 4º e 5º, respectivamente, da Lei nº 11.419/2006), a não ser, obviamente, que haja prolação do pronunciamento judicial em audiência, momento no qual os envolvidos no processo já serão intimados.

No caso de eventual recurso a ser interposto por réu para impugnar pronunciamento judicial proferido antes da sua citação (de modo que ele ainda não terá constituído procurador nos autos), o seu prazo recursal iniciar-se-á a partir de uma das hipóteses dos incisos I a VI do artigo 231 do novo CPC215, que trata justamente do início da contagem dos prazos processuais para os casos nos quais não há intimação pelo meio eletrônico.

§ 1º Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica.

§ 2º Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico.

§ 3º A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir ao da publicação. 215 Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo:

I - a data de juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação ou a intimação for pelo correio; II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de justiça;

III - a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe de secretaria;

IV - o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz, quando a citação ou a intimação for por edital; V - o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao término do prazo para que a consulta se dê, quando a citação ou a intimação for eletrônica;

Faz-se mister ressaltar que, na hipótese do parágrafo anterior, no caso de litisconsórcio passivo, a intimação de cada réu do pronunciamento judicial a ser impugnado deflagra contagem de prazo individual para cada um deles, na medida em que forem sendo intimados, conforme interpretação do parágrafo segundo do artigo 231 do novo Código de Processo Civil, pelo qual “havendo mais de um intimado, o prazo para cada um é contado individualmente”.

Aquele com legitimação e interesse em recorrer pode fazê-lo até o último dia do prazo recursal.

Recurso interposto fora do prazo imposto por lei, ou seja, após seu esgotamento, será considerado intempestivo, acarretando a preclusão temporal da matéria que poderia ser tratada nele, e, consequentemente, não será sequer conhecido.

Com precisão, Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart estabelecem que

“a preclusão consiste – fazendo-se um paralelo com figuras do direito material, como a prescrição e a decadência – na perda de “direitos processuais”, que pode decorrer de várias causas. Assim como acontece com o direito material, também no processo a relação jurídica estabelecida entre os sujeitos processuais pode levar à extinção de direitos processuais, o que acontece, diga-se, tão freqüentemente quanto em relações jurídicas de direito material. A preclusão é o resultado dessa extinção, e é precisamente o elemento (aliado à ordem legal dos atos, estabelecida na lei) responsável pelo avanço da tramitação processual.”216

A partir da vigência do novo Código de Processo Civil, não haverá nenhuma possibilidade de manutenção do esdrúxulo entendimento jurisprudencial que se solidificou durante a vigência do código de 1973, no sentido de que é intempestivo, eis que prematuro, o recurso interposto antes de iniciada a contagem do prazo recursal217.

VI - a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 ou, não havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de origem devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação se realizar em cumprimento de carta.

216 MARINONI; ARENHART, 2006, p. 665.

217 Nesse sentido, confira-se ementa de 2015, que ainda adverte que “a jurisprudência desta Corte [STJ] firmou- se no sentido de considerar intempestivo o recurso interposto antes da publicação da decisão no veículo oficial...”:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. SÚMULA Nº 418/STJ. RECURSO ESPECIAL PREMATURO. I - A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de considerar intempestivo o recurso interposto antes da publicação da decisão no veículo oficial e, de acordo com o enunciado da Súmula nº 418/STJ e com o disposto expressamente no art. 506, III, do CPC, o prazo para a interposição do especial conta-se da data da publicação do dispositivo do acórdão no órgão oficial, não da publicação do resultado do julgamento. II - A Agravante não apresenta, no regimental, argumentos suficientes para desconstituir a decisão agravada. III - Agravo Regimental improvido.” (AgRg no AREsp nº 698.361/BA, Min. Rel. Regina Helena Costa, 1ª Turma, STJ. DJe em 26.08.2015)

Isso porque, está expressamente insculpido no parágrafo quarto do artigo 218 do novo Código de Processo Civil que “será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo”.

Afinal, conforme comentários de Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogério Licastro Torres de Mello, “não há maior tempestividade do que a prática do ato processual antes mesmo que flua o prazo para tanto, de modo que se afigura acertada (acertadíssima, aliás) a disposição constante do § 4º ora comentado”218.

A partir da vigência do Código de 2015, portanto, recurso intempestivo será apenas e tão somente aquele que for interposto após o último dia do prazo recursal219.

Pela sistemática do novo Código de Processo Civil, o Ministério Público (art. 180), a Fazenda Pública (art. 183), a Defensoria Pública (art. 186) e “os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos” (art. 229, caput), em processo físico (art. 229, § 2º), têm o prazo em dobro para recorrer, ou seja, dez dias úteis para opor embargos de declaração e trinta dias úteis para interpor qualquer outro recurso previsto no novo Codex.

Além disso, deve-se sempre se lembrar que a fluência do prazo recursal está sujeita a causas interruptivas (o prazo é interrompido e voltará a fluir desde o começo quando cessar a causa de interrupção) e a causas suspensivas (paralisa-se o prazo recursal e se retoma a contagem do prazo do momento em se havia parado assim que cessar a causa de suspensão) legais.

Nos dizeres de Araken de Assis:

“O curso do prazo recursal se suspende e se interrompe nos casos legalmente previstos. No caso de interrupção, restituir-se-á à parte, beneficiada pelo evento interruptivo, o prazo por inteiro, ignorando o lapso já decorrido; na hipótese de suspensão, devolve-se à parte o interregno que faltaria para o prazo se completar, não houvera o evento suspensivo. Percebe-se então, cogitar-se de eventos ocorridos entre o termo inicial e o final do prazo, inclusive, e não posteriores ou anteriores aos acontecimentos, expressis verbis, dotados desses efeitos.”220

218 WAMBIER, T. et al., 2015b, p. 387.

219 Nesse sentido, confira-se o Enunciado nº 22 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “O Tribunal não poderá julgar extemporâneo ou intempestivo recurso, na instância ordinária ou na extraordinária, interposto antes da abertura do prazo”.

Exemplos de causas interruptivas dos prazos recursais são a oposição de embargos de declaração (art. 1.026, caput, CPC/2015) e as hipóteses insculpidas no artigo 1.004 do novo Código: interrompe-se os prazos recursais se “sobrevier o falecimento da parte ou de seu advogado ou ocorrer motivo de força maior que suspenda o curso do processo”.

Exemplo de causa suspensiva dos prazos recursais são as “férias forenses” estabelecidas pelo caput do artigo 220 do Código de 2015221.

A aferição da tempestividade do recurso se dá através da verificação da data na qual foi realizado o protocolo (que, de acordo com o § 3º do art. 1.003 do CPC/2015, em regra, deve ser realizado em cartório) ou da data na qual foi realizada a postagem do recurso, no caso de remessa do recurso via correio (art. 1.003, § 4º, CPC/2015)222.

É irrelevante, para fins de aferição da tempestividade recursal, a data na qual o advogado, procurador, defensor ou promotor devolve os autos ao cartório (no caso de processos físicos, obviamente).

Finalmente, a previsão legal de que os feriados locais devem ser comprovados pelo recorrente no ato da interposição do recurso (art. 1.003, § 6º, CPC/2015) merece críticas, porque, em interpretação literal, impõe ônus descabido ao recorrente.

A imposição desse ônus ao recorrente é bizarra e está em dissonância com todo o sistema processual que será inaugurado a partir da vigência do novo Código de Processo Civil.

Isso porque, ou o recurso é tempestivo ou não é – de rigor, nem a famosa preliminar sobre a tempestividade recursal, costumeiramente elaborada pelos advogados na prática forense, seria necessária.

Vale dizer, sob a vigência do novo Codex, ou o recurso foi interposto até o último dia do prazo recursal, contando-se apenas os dias úteis e considerando suas causas interruptivas e suspensivas, ou não o foi.

Com a vigência do Código de 2015, os feriados, nacionais e locais, não deverão ser computados, pois, como já adiantado, os prazos processuais serão contados apenas em dias úteis (art. 219, CPC/2015).

221 Art. 220. Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive.

222 Fica superada, portanto, a Súmula nº 216 do STJ, pela qual “a tempestividade de recurso interposto no Superior Tribunal de Justiça é aferida pelo registro no protocolo da Secretaria e não pela data da entrega na agência do correio”. É nesse sentido o Enunciado nº 96 do Fórum Permanente de Processualistas Civis.

Desta feita, não tem nenhuma importância – para a tempestividade do recurso e para o direito (líquido e certo, diga-se) da parte legitimada e interessada em recorrer – contar o prazo para interposição do recurso cabível apenas em dias úteis, se ela comprova ou não “a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso”.

Se o recorrente não computar dia de feriado local na sua contagem do prazo recursal e não comprovar sua ocorrência no ato de interposição do recurso, mas interpuser o recurso até o último dia do prazo recursal, ele não será intempestivo.

De acordo com o parágrafo único do artigo 932 do novo Código de Processo Civil, “antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível”, dispositivo este que está em consonância com o princípio da sanabilidade dos vícios, amplamente adotado pelo novo Código de Processo Civil223.

Assim, no caso de dúvida acerca da tempestividade do recurso interposto, o órgão julgador deve, antes de extingui-lo, intimar o recorrente para que demonstre que, quando da sua interposição, o recurso era tempestivo.

A tempestividade do recurso independe de prova, mas esta pode vir a ser demonstrada no caso de dúvida do órgão julgador: não se trataria de fazer o recurso virar tempestivo, mas apenas e tão somente de demonstrar que ele era tempestivo à época de sua interposição.

Nessa esteira, a única interpretação possível, pois, do parágrafo sexto do artigo 1.003 do novo Código de Processo Civil, sob a óptica do novo CPC (e também sob a óptica constitucional do processo), é de que ele traz uma faculdade, uma recomendação ao recorrente (a de auxiliar o Poder Judiciário) e não um ônus.

A tempestividade do recurso não depende de comprovação.

No documento Rodrigo Voltarelli de Carvalho (páginas 111-116)