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Recomendações e Sugestões para Agenda de Pesquisa

No documento Disser Simone C Pereira Rosa (páginas 156-159)

A maior contribuição deste estudo diz respeito ao entendimento inicial acerca da decisão estratégica em organizações de crédito brasileiras. Caracterizar a forma como a decisão acontece nessas organizações abre outras possibilidades de estudo, tendo esse como ponto inicial.

A abordagem da pesquisa, ancorada nos modelos de decisão bem-estruturados na literatura e referendados por esse estudo, também permite aproximar as conclusões do trabalho daquelas amplamente discutidas na teoria, mas sob uma perspectiva de organizações nacionais, neste caso diferenciadas em sua essência das organizações dito "empresariais".

O estudo permitiu avançar também no entendimento da forma de gestão de cooperativas de crédito no Brasil, suas peculiaridades, especificidades na estruturação do modelo decisório e suas preferências em termos de modelo de decisão.

Um dos aspectos de maior complexidade desta pesquisa caracterizou-se da operacionalização dos modelos, especificamente na construção de indicadores e variáveis para cada um dos quatro modelos de decisão. Observa-se que a própria literatura agrega mais conhecimento acerca de um modelo (Racional, por exemplo) do que de outros, o que não permite uma construção linear de indicadores para cada modelo, centrada em um conjunto de variáveis.

Ademais, os modelos detêm especificidades, não passíveis de mensuração a partir de outro modelo, o que acaba por acarretar um conjunto maior de indicadores para um modelo em comparação a outro.

Outra limitação diz respeito à capacidade de compreensão dos dados em relação ao processo decisório, face à complexidade deste assunto, influenciado por muitas e diferentes variáveis, que extrapolam o escopo deste estudo. Muitas pesquisas metodológicas e científicas são necessárias para se desenhar, com clareza, um quadro decisório das cooperativas de crédito brasileiras. Como o estudo lidou com uma gama relativamente grande de variáveis, tornou-se mais difícil de definir limites claros de falhas das variáveis, o que acaba por sacrificar, em certa medida, o rigor metodológico do estudo.

Algumas dimensões tiveram suas variáveis representadas de forma satisfatória no conjunto de atributos definidos, enquanto outros, por dificuldade literária, foram representados menos adequadamente.

Outra questão diz respeito ao instrumento, que foi baseado na percepção, coletada via auto-resposta (múltipla escolha) de um questionário. A despeito de a abordagem permitir juntar um maior número de informações com relativamente poucos recursos, apresenta limitações relativas a aspectos “não ditos” dos respondentes, limitando-se, em alguns casos, a instrumento para pesquisas exploratórias.

O retorno da amostra também se constituiu de uma fragilidade da pesquisa: a despeito de considerar-se satisfatória para o estudo – exploratório - não é suficiente para permitir generalizações no âmbito de todas as cooperativas brasileiras. Ajustes no questionário e uma subseqüente aplicação (necessariamente em uma amostra maior) podem ser de grande utilidade, obtenção de generalizações dos resultados de estudos futuros.

Observa-se a impossibilidade de controlar o fator de resposta (a não ser mediante os estratos definidos), o que resultou por caracterizar a amostra mais significativa em alguns estratos que de outros - ressalvando-se, ainda, que eles foram definidos a partir das informações disponíveis (categoria, segmento, idade e região), o que acabou por gerar, obrigatoriamente, diferenças significativas de tamanho entre estratos.

Observa-se, também, em relação à associação entre modelos adotados e características demográficas, que é tarefa dificílima identificar o universo de decisores estratégicos em cooperativas de crédito brasileiras, mais difícil ainda é definir um conjunto de características desses decisores que seja passível de mensuração e relacionado a modelos decisórios. Assim, o estudo não pôde contemplar especificidades de decisão além daquelas dispostas na literatura.

Outra questão diz respeito ao método escolhido, o quantitativo. Fredrickson (1983), em referência à defesa de Mintzberg (1977), do uso de abordagem qualitativa em pesquisa sobre processos estratégicos, por considerar que importantes conceitos neste tema são intangíveis, observa que vários conceitos do processo não são facilmente visualizados ou mensurados, o que não justifica uma abordagem eminentemente qualitativa. Para o autor, a complexidade dos conceitos do processo estratégico é um fato da vida que precisa ser encarado pelas ciências sociais e isso leva à recomendação de que investigadores devem dar maior ênfase na

operacionalização de conceitos, desenvolvendo e sistematizando medidas e indicadores para esses conceitos – pelo uso da abordagem baseada em construtos, por exemplo.

No entanto, a abordagem quantitativa (a despeito de conter boa carga de análise qualitativa) impõe outros dificultadores, em especial relativos à restrição na percepção do pesquisador quanto ao conceito mensurado, deixando nas mãos do objeto (neste caso, os dirigentes da cooperativa) o poder de fornecer dados não passíveis de considerações qualitativas.

Para pesquisas futuras, sugerem-se sejam, na medida do possível, adotadas técnicas combinadas de pesquisa quantitativa e qualitativa, de forma a detectar elementos porventura não identificados neste estudo.

O campo do processo decisório, especialmente o estratégico, é rico em possibilidade de pesquisa, pois engloba uma gama de fatores relacionados com o comportamento da organização e com sua subsistência e desenvolvimento, além do aspecto relativo à decisão no âmbito pessoal, pois ainda não estão resolvidas questões sobre o quão complexos são os modelos de decisão individual (WHEELER, 2003).

Considerado o caráter exploratório desta pesquisa, suas limitações e considerado ainda, o vasto campo e as oportunidades para aprofundar estudos sobre decisão estratégica em organizações brasileiras, recomendam-se como sugestões para próximas pesquisas em relação ao tema estudado:

1. ampliar o escopo deste estudo – adotando uma amostra significativamente maior –

de forma a ratificar ou não os grupos de decisão encontrados e generalizar os resultados para todas as cooperativas brasileiras;

2. investigar fatores - individuais, organizacionais e contextuais - que tendem à decisão

para um modelo ou outro em cooperativas de crédito brasileiras;

3. identificar características dos sistemas centrais de cooperativas (SICOOB, Sicredi,

Unicred, Cresol, Ecosol, Cecred etc.) que influenciam na adoção de modelos de decisão nessas organizações;

5. identificar grupos de decisores que optem, preferencialmente, pela adoção de

modelos decisórios a partir de especificidades da personalidade ou formação desses decisores;

5. relacionar práticas de modelos de gestão de cooperativas ou organizações de crédito com processo decisório estratégico nessas organizações e também relacionar esses modelos com formulação de estratégia nas cooperativas;

6. ampliar o estudo para outras organizações de crédito (bancos, por exemplo),

buscando caracterizar o processo decisório desse tipo de organização – ou segregando modelos específicos a partir de diversos perfis de organizações;

7. investigar a forma como se dá a decisão estratégica em organizações públicas

(bancos federais, por exemplo), clarificando elementos que influenciam na decisão, sejam fatores racionais e políticos, sejam elementos dos outros dois modelos.

Em atenção ao instrumento utilizado, observadas as sugestões de refinamento do questionário dispostas na seção anterior, o questionário elaborado pode prestar-se a pesquisas no tema que abordem a perspectiva de modelos decisórios.

Considerando que várias abordagens sobre o processo decisório podem ser adequadas, dependendo de condições contextuais em estudo, a escolha do método pode basear-se em considerações de custo/benefício e viabilidade - tal como a realização de entrevistas - versus características de viés do próprio respondente ou riscos de baixo retorno, como inerentes ao uso do questionário em método eminentemente quantitativo.

Sugere-se, ainda que, em sendo escolhida a mesma técnica utilizada nesta pesquisa, análise de agrupamentos, e no caso de amostras maiores, sejam realizados outros testes para validar a configuração de clusters encontrada, como a análise discriminante.

No documento Disser Simone C Pereira Rosa (páginas 156-159)