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188 RECONHECER EMOÇÕES E SENTIMENTOS PARA UMA RELAÇÃO TERAPÊUTICA EFICAZ

“Ninguém pode transcender o que não conhece. Para ir além de si próprio é preciso o auto-conhecimento”

Sri Nasargadatta Maharaj “Considerando que a emoção é o que dá um sentido às nossas experiências, a enfermeira deve atribuir-

lhe uma grande importância no seu trabalho junto das pessoas doentes”. Margot Phaneuf (2005) Uma das habilidades para quem pretende desenvolver a Relação de Ajuda é a observação, e o rosto humano é a região de eleição para desenvolver essa perspicácia, relativamente às emoções. Segundo MAGALHÃES (2007, p.44), “O rosto é parte mais visível que apresentamos ao mundo. Por isso é o palco da metacognição. Tudo o que se faz, no caso da tomada de uma decisão, tem reflexos na expressão facial da emoção. E tal se nota na configuração morfo- esquelética”.

O sorriso poderá representar dualidade na expressão emocional. Segundo o mesmo autor (2007, p.59), “O sorriso tanto pode expressar alegria como tristeza. Daí o carácter complexo quando se pretende identificá-lo e reconhecê-lo. O sorriso é uma resposta psicofisiológica que tem a sua génese em processos e estados mentais”.

Mas ao observarmos também somos observados. Será importante considerar o que referiram NEVES & PACHECO (2004,p.71), “Diz o povo que os olhos são o espelho da alma! Um olhar que não olha para algo, uma boca que fala com um olhar fixo em algo distinto, podem diminuir a qualidade da relação. O olhar pode acolher ou repudiar, amar ou odiar, compreender ou julgar; o olhar é uma das mais poderosas armas da comunicação com os doentes.”

Quando olhamos o outro, não captamos simplesmente emoções, mas a sua totalidade. Contudo, as emoções têm um grande significado no desenvolvimento de uma personalidade saudável, e no dar sentido à interioridade da pessoa, daí ser importante, o seu reconhecimento. PHANEUF (2005, p.205), expôs que “A emoção é um estado afectivo comportando sensações agradáveis ou desagradáveis, de curta duração, suscitadas interiormente por um pensamento, ou exteriormente por uma situação que nos marca.”

Compreender e controlar as emoções é tarefa fundamental de quem pratica a Relação de Ajuda sendo fulcral para quem é ajudado. Ao reconhecer os seus sentimentos e emoções, o indivíduo que ajuda engrandece o seu desenvolvimento e as suas competências. Ao ajudado, este reconhecimento permite compreender as suas dificuldades e modificar atitudes, que permitem mais facilmente enfrentar e ultrapassar as vicissitudes diárias.

Razão lógica para afirmar então, que quem pretende estabelecer relações terapêuticas eficazes deve desenvolver a habilidade de reconhecer as emoções. Começando por reconhecer as suas próprias, para posteriormente conseguir identificar as dos outros.

189 Segundo GOLEMAN (2006, p. 367) o termo emoção continua a ser objecto de controvérsia entre a psicologia e a psiquiatria. Na sua opinião, emoção refere-se a um sentimento e aos raciocínios daí derivados, estados psicológicos e biológicos, e o leque de propensões para a acção.

Já MAIA & SANTOS (1988), cit. por CUNHA (2000, p. 10), definiram emoção “...como uma resposta comportamental aberta a estímulos exteriores reconhecendo a necessidade de grande envolvimento afectivo para que ocorra mudança”.

E LEVENSON (1994) cit. por SERRA (1999, p. 227) definiu as emoções como fenómenos psicofisiológicos de curta duração que representam modos eficientes de adaptação às exigências do meio ambiente.

Mas, para ABREU (1996, pp. 98-103), aquilo a que se chama emoções, ou em termos mais genéricos, sentimentos, resulta do desejo não consumado. O ódio traz latente uma agressão que pode ser fantasiada, mas cessa com a destruição do objecto odiado. O medo pode cessar temporariamente pela fuga, mas definitivamente ao enfrentar o perigo. A ânsia cessa no dia ansiado, o desejo com o consumo e a culpa não patológica com o perdão. As emoções constituem assim, um mundo mágico e pessoal, que vive entre os sinais do mundo que não se alcança, e os significados que a nossa consciência lhes atribui. Assim, segundo este autor, neste diálogo entre consciência e corpo, a emoção autonomiza-se e faz perdurar na fantasia o acontecimento que lhe deu origem.

ABREU considerou que as emoções e o humor interagem de várias formas, apesar do humor poder ser mais duradouro, menos diferenciado e não intencional, sendo porém o pano de fundo de cada emoção. “Ao contrário do humor (que não tem objecto) e do afecto (que se relaciona com objectos do passado), a emoção relaciona-se com a situação presente ou futura” (2006, p. 118).

Este autor adiantou ainda que a emoção tem assim, algo a ver com a sensação, a percepção e a representação: acompanha-as e enriquece-as com aquilo a que chama “ressonância emocional”. Sendo esta uma ressonância que se faz com o corpo, que assim amplia e prolonga a efemeridade da simples percepção.

Mas qual a importância de reconhecer as emoções?

ABREU (1996, pp. 98-103) referiu que o homem maduro precisa de as conhecer, não só para conhecer as novas imposições do seu organismo, mas também para as mobilizar na contínua formação da sua vontade. Para este autor, reconhecê-las é também aceitar a sua pertença ao eu, integrando-as na identidade da pessoa emocionada. Ainda segundo este mesmo autor (2003), desde o nascimento, a criança começa por mostrar expressões de dor e tristeza e, depois, progressivamente, ela mostra o sorriso e o riso, a raiva, repugnância e medo. Mas a criança muda rapidamente de uma expressão para outra sem razão aparente, sendo difícil perceber se cada uma destas expressões está genuinamente ligada a um estímulo relevante ou se é apenas resultado da imitação. Talvez sejam as duas coisas, uma vez que a criança está envolvida num jogo emocional interactivo, já que a comunicação emocional entre a criança e a mãe é essencial para a organização da sua personalidade e dos laços afectivos.

190 “Todas as emoções são, essencialmente, impulsos para agir, planos de instância para enfrentar a vida que a evolução instilou em nós” GOLEMAN (2006, p.22). Assim considerou que cada emoção desempenha, no nosso repertório emocional, um papel único. Porém, reconheceu a existência de estados de espírito, que são mais atenuados e duram muito mais tempo que uma emoção, e os temperamentos, prontidão para evocar uma emoção ou um estado de espírito que torna uma pessoa melancólica, tímida ou alegre.

Já ABREU (2006, p. 122), apreciou que as emoções que ocorrem na vida diária são mais diferenciadas e de menor intensidade, apresentando nuances diversas, designadas por aflição, ressentimento, desamparo, desalento, cólera, desespero, remorso, terror, excitação, beatitude, serenidade, felicidade, curiosidade e desejo, sendo que algumas são mais elementares e primitivas e outras mais elaboradas e eventualmente decomponíveis nas primeiras.

Todavia, adiantou, embora se liguem a objectos do mundo, elas não os designam, antes definem a nossa relação total com eles, tornando-se um componente da intencionalidade, pelo que, conhecê-las, é conhecermo-nos, e melhor podermos orientar a nossa vida. Sem o seu reconhecimento, facilmente ocorreriam inadequados atropelos com as mais diversas consequências.

Sendo a emoção uma da experiências mais significativas do ser humano, acompanhando-o toda a sua vida, fornecendo-lhe modelos de adaptação nas interacções entre o seu organismo e o meio ambiente, permito-me concluir que o reconhecimento das emoções passa por um estado psico-fisiológico importante e necessário, que permite estabelecer uma relação entre duas pessoas, numa determinada situação, neste caso concreto numa relação de ajuda, em que ajudado e quem ajuda se complementam compreendendo-se e respeitando-se mutuamente.

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APÊNDICE XII

IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NO RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO