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184 A RELAÇÃO DE AJUDA EM ENFERMAGEM

Conhecendo a importância da Relação de Ajuda como intervenção terapêutica, considera-se a pessoa como ser holístico, em que corpo e mente interagem entre si continuamente e, no total, com o ambiente externo. Assim, para poder ajudar de forma adequada, o enfermeiro deve saber e acreditar que o cliente, independentemente da natureza do seu problema de saúde, é o único detentor dos recursos básicos para o resolver.

Nesta perspectiva, a Relação de Ajuda terá como objectivo ajudar a pessoa a conhecer ou reconhecer os seus processos internos e a conseguir exprimir-se. Ou seja, o papel do enfermeiro é oferecer ao cliente, “...sem os impor, os meios complementares que lhe permitam descobrir ou reconhecer os recursos pessoais a utilizar como quiser, para resolver o seu problema” LAZURE (1994, p.13).

Na realidade, a Relação de Ajuda é um processo e, portanto, algo que se constrói ao longo do tempo, que pressupõe uma intervenção em função de um diagnóstico, durante o qual se usa um conjunto de estratégias comunicacionais que lhe dão corpo. Sendo um processo estruturado prolonga-se no tempo tanto quanto se entenda necessário.

E, segundo PHANEUF (2005, p. 324), a Relação de Ajuda não é uma conversa amigável, tem características próprias de profundidade e abrangência onde são necessárias atitudes ou habilidades próprias. A pessoa que ajuda tem de estar completamente voltada para o outro, para as suas vivências, para o seu sofrimento, aceitando-o tal como é, sem impor qualquer condição nem exigência de mudança. O trabalho de ajuda exige respeito, aceitação, empatia e confrontação suave.

Na opinião de NEVES & PACHECO. (2004, p. 75), alguns dos contributos mais significativos, desta relação são:

 “a sua importância para a visão unificadora da pessoa;  a sua imprescindibilidade para a eficácia dos cuidados;

 a sua determinação para o clima da empatia, calor, respeito mútuo, cuidado e aceitação, e afectividade dos cuidados de enfermagem;

 a sua adopção de formas de estar e de comunicar em função dos objectivos que se pretendem atingir;

 o seu entendimento do ser humano compreensivelmente e não como objecto a ser manipulado ou tratado.”

Já CHALIFOUR (2008, p.33), cujo modelo da relação se situa num contexto de ajuda

profissional, examinou que “a relação de ajuda consiste numa interacção particular entre duas pessoas, o interveniente e o cliente, cada uma contribuindo pessoalmente para a procura e a satisfação de uma necessidade de ajuda. Para tal o interveniente adopta um modo de estar e de fazer, e comunica-o de forma verbal e não verbal em função dos objectivos a alcançar. Os objectivos estão ligados ao pedido do cliente e à compreensão que o profissional tem dessa dificuldade”.

Todavia SEQUEIRA (2006, p. 156), apresentou a Relação de Ajuda como uma intervenção, na qual aquele que ajuda fornece ao outro condições de que ele necessita para a satisfação das suas necessidades humanas fundamentais.

185 Para tal é necessário que a pessoa ajudada tenha uma participação activa em todo o processo, sem a qual a relação é inviabilizada, havendo apenas transmissão de informações e não uma relação terapêutica. Nesta perspectiva, o mesmo autor considerou a Relação de Ajuda uma intervenção psicoterapêutica, na qual a pessoa deve ter consciência do problema e vontade de o resolver e propõe o seguinte esquema para esta intervenção:

Fase inicial: início da relação (uma sessão) – Fase de Orientação  Conhecer a pessoa e apresentar-se;

 Clarificar as necessidades, as expectativas e os objectivos da pessoa;  Descrever o papel da pessoa e os objectivos da relação;

 Incentivar a pessoa a verbalizar o seu problema; ajudar a definir com clareza as circunstâncias do problema (causas, factores precipitantes, factores associados, etc.);  Negociar um contrato com a pessoa;

 Avaliar a duração possível da relação.

Fase intermediária: identificação e transição (1 a 2 sessões) – Fase de exploração  Permitir que a pessoa explore a sua vivência;

 Verificar as interpretações possíveis;  Estabelecer prioridades;

 Orientar na procura de estratégias de intervenção de modo a atingir os seus objectivos. Fase terapêutica: trabalho e exploração (nº de sessões variável de acordo com as capacidades/ necessidades da pessoa)

 Analisar os meios utilizados pela pessoa para resolver o problema;  Promover o desenvolvimento de estratégias alternativas;

 Discutir o impacto das estratégias delineadas (vantagens e desvantagens);  Permitir a verbalização de medos, preocupações, indecisões e necessidades;

 Ajudar a examinar os recursos disponíveis para alcançar os objectivos propostos (ex: apoio familiar e comunitário.).

Fase de manutenção: consolidação da relação (nº de sessões variável de acordo com as capacidades/ necessidades da pessoa)

 Efectuar o treino das estratégias delineadas;

 Escolher actividades de partilha que visem responder às necessidades específicas;  Avaliar capacidades da pessoa;

 Efectuar reforços positivos;

 Orientar a pessoa de acordo com as suas necessidades.

Fase final: termo da relação (uma sessão) – Fase da Conclusão ou Separação  Encorajar a exprimir aquilo que sente relativamente ao final da relação;  Verificar se todos os objectivos foram atingidos;

 Efectuar avaliação da interacção.

A Relação de Ajuda termina quando a pessoa apresentar possibilidades de resolução do problema de forma autónoma ou quando se verificar a ineficácia desta abordagem metodológica (idem, pp. 156-158).

É importante saber distinguir entre o que é a prestação de cuidados e o estabelecer de uma relação de ajuda, enquanto processo estruturado e com determinados objectivos terapêuticos. Para PHANEUF (2005, p.325), a enfermeira não está permanentemente em contexto de

186 relação de ajuda, ainda que queira imprimir aos seus cuidados um carácter humanista de escuta e compreensão, isso não constitui uma relação de ajuda. Porém, para esta autora, a relação de ajuda também se estabelece quando são prestados cuidados, desde que se reconheçam resultados terapêuticos para a pessoa.

SEQUEIRA (2006, p.156) considerou ainda que a Relação de Ajuda difere da ajuda esporádica e circunstancial, pelo que deve ser planeada com a pessoa, implementada através de várias sessões (mínimo de três), que correspondem à explicitação do problema; Procura orientada de “soluções” e avaliação das alternativas.

PHANEUF (2005), referiu também que a Relação de ajuda se estabelece no decurso de entrevistas de ajuda estruturadas ou informais, conforme as necessidades. “...esta entrevista visa a compreensão profunda do que vive a pessoa ajudada, da sua maneira de compreender a sua situação e de perceber os meios de que dispõe para resolver os seus problemas e para evoluir como ser humano” (p. 324).

A autora apresenta-nos dois tipos de entrevista de ajuda: a entrevista de ajuda informal e a entrevista de ajuda formal, o que imprime à Relação de Ajuda a possibilidade de tomar dois aspectos: “pode ser uma relação de ajuda formal, clássica, prevista, planificada antecipadamente e estruturada, e pode ser uma relação informal, espontânea, sem estrutura particular e que responde às necessidades do momento” (p. 328).

Será ainda importante ter em conta o que escreveu CHALIFOUR (2008), que a relação de ajuda se manifesta através e na comunicação verbal e não verbal que se estabelece entre o interveniente e o cliente, assumindo esta formas diversificadas, cabendo ao interveniente assegurar-se da sua eficácia, precisando para tal de certificar-se que a mensagem comunicada é clara e compreensível, e favorecer uma estrutura de trocas adaptada em função de um determinado objectivo. Esta estrutura é inerente às características da entrevista. Assim, “a entrevista constituirá um instrumento terapêutico eficaz desde que o interveniente saiba pô-la ao serviço da relação e adaptá-la às diferentes variáveis em presença” (p. 37).

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APÊNDICE XI

RECONHECER EMOÇÕES E SENTIMENTOS PARA UMA RELAÇÃO