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Almeida, Souza e Pino (2007, p. 1) afirmam que a redação da definição terminológica é a etapa mais complexa e custosa de uma pesquisa terminológica, principalmente pelo fato de ser o caráter principal de avaliação de um produto elaborado a partir de abordagens terminográficas. Krieger e Finatto (2004, p. 95) ressaltam que:

O enunciado definitório é um elemento-chave na constituição e na veiculação do conhecimento especializado, tecnológico ou científico. Essa condição deve-se ao fato de que esse tipo de enunciado expressa um segmento de relações de significação de uma dada área do saber: [...] definições estabelecem seus valores mais basilares.

Compreender a complexidade envolvida na elaboração de uma definição é refletir sobre a própria característica multifacetada das unidades terminológicas presentes em qualquer discurso especializado, pois a DT lida com o caráter linguístico, social e cognitivo dos termos ao elaborar um único enunciado.

Além disso, faz-se necessário considerar não só o âmbito plural em que os termos se inserem, como também a pluralidade existente no enunciado definitório a partir dos sujeitos participantes desse processo de interação verbal. Finatto (2001a, p. 150) argumenta que:

A DT científica é um texto que, além de expressar o significado da palavra-termo, atualizando o continuum cognitivo coletivo, histórica e socialmente construído da área de conhecimento, ultrapassa uma delimitação definicional estrita e revela uma integração entre o sujeito enunciador coletivo da ciência e o sujeito individual. (grifo da autora)

É preciso, portanto, enxergar a DT em toda sua complexidade ao invés de reduzi-la a regras bem delimitadas de elaboração. Isso vem ao encontro da filiação teórico-metodológica desta pesquisa terminológica, uma vez que elaborar um produto terminológico a partir de uma abordagem linguístico-comunicacional é voltar-se para questões que mais corroboram com os fenômenos encontrados durante a pesquisa na tentativa de resolvê-los descritivamente, ao invés de tender para a prescrição linguística e perpetuar a própria noção de ciência como algo finito e bem delimitado.

A partir dessa consideração, ressaltamos que, embora tenhamos adotado o método clássico do gênero próximo e da diferença específica (GPDE) nas redações das DT de nosso produto terminológico, características peculiares de alguns termos da área fizeram com que suas definições sofressem mudanças a fim de proporcionar a melhor descrição possível desse termo aos consulentes do glossário. A esse respeito, destacamos as considerações feitas por Almeida, Souza e Pino (2007, p. 17) a partir dos aprendizados obtidos na elaboração de definições terminológicas dos projetos do GETerm3:

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Grupo de Estudos e Pesquisas em Terminologia de Universidade Federal de São Carlos:

1. o dicionário terminológico tem a função precípua de facilitar a comunicação, para tanto, o texto definitório deve ser suficientemente claro e completo para que o consulente entenda. Assim, ainda que os tipos de definição sejam utilizados como orientação, eles não devem subjugar o texto. Ao contrário, se tivermos de fazer concessões para que se dê o entendimento do termo-entrada, essas concessões serão feitas;

2. há um permanente jogo discursivo, pois há um sujeito que elabora o texto definitório e outro representado pelo leitor. Essa interlocução afeta o texto, gerando marcas lingüísticas e discursivas próprias de qualquer situação dialógica. Assim, almejamos sistematizar a redação, mas não é possível apagar o subjetivismo inerente à linguagem, já que a DT, antes de tudo, é um texto;

3. embora exista a possibilidade de sistematizar os traços conceituais, cujos termos compõem o mesmo campo nocional, isso tem de ser realizado com certa flexibilidade, de modo que os traços mais pertinentes nos sirvam de direcionamento e não de camisa-de-força;

4. a ordenação dos traços reflete a maneira como se concebe o significado na área-objeto, porém, na DT, isso é mediado pelo terminólogo, que deve considerar os aspectos terminológicos, lingüísticos, as peculiaridades do domínio bem como o público-alvo do dicionário.

Buscamos, assim, lidar com as contingências à medida que a definição de cada termo foi sendo elaborada. Ressaltamos ainda a importância de se confeccionar um mapa conceitual para nortear o processo de redação da DT, delimitando a posição de um termo diante de toda a cadeia terminológica da área e permitindo sua diferenciação perante as unidades ali presentes.

Por questões de tempo, elaboramos as definições durante o preenchimento das fichas terminológicas, a partir de definições já existentes sobre o termo e explicações sobre seu conceito nas seguintes obras:

• Os artigos compilados no corpus da pesquisa;

• As obras Sistemas de Informação Gerenciais (LAUDON e LAUDON, 2010) e Sistemas de informação e as decisões gerenciais na era da Internet (O’BRIEN, 2004), sugeridas pelos especialistas da área;

• Artigos científicos divulgados na web que auxiliassem na compreensão do termo;

• Textos de outros gêneros que tratassem do termo, quando as fontes anteriores ainda deixavam dúvidas com relação ao termo ou não ofereciam explanações sobre ele.

Informamos no campo Fonte da definição da ficha terminológica as obras principais que contribuíram para a redação de cada definição. Felizmente, os artigos

científicos do corpus apresentaram com frequência definições e explanações de suas bases teóricas, como é recorrente acontecer na primeira seção de textos desse gênero. Tais discussões teóricas foram amplamente utilizadas para uma melhor compreensão dos termos dos SIG e para a redação das DTs.

Quando notávamos a necessidade de inserir informações adicionais para uma melhor compreensão do termo descrito, recorríamos às informações enciclopédicas. Sem a rigidez definitória exigida na elaboração das DTs, o campo das informações enciclopédicas permitiu que trabalhássemos com características que permitiriam uma boa compreensão do termo descrito, levando em consideração o público-alvo da pesquisa: pesquisadores de áreas concernentes aos SIG e tradutores.

Para ilustrar o processo de redação das DTs do glossário, demonstraremos os procedimentos realizados para definir os termos Supply Chain Management, Customer

Relationship Management, Enterprise Resourse Planning e Sistemas de Gestão do Conhecimento. Inicialmente, recorremos ao mapa conceitual para visualizar as unidades

relacionadas aos termos a serem definidos:

Figura 19 – Amostra do mapa conceitual relativa aos termos ligados à unidade aplicativos integrados

Fonte: Print Screen de programa no Sistema Operacional Windows 7.

Como se pode verificar, as unidades a serem conceituadas estabelecem uma relação hiperonímica com o termo aplicativo integrado, que designa o conjunto de softwares destinados a auxiliar no gerenciamento de unidades de negócio de forma integrada, ao contrário dos sistemas elaborados para níveis de gerência específicos.

Ser um aplicativo integrado é, então, a característica que permite unir todos esses termos em um grupo específico, ou seja, é o gênero próximo dessas unidades. A partir dessa constatação, prosseguimos à busca das características próprias de cada

termo: a diferença específica, traço que permite distinguir um aplicativo integrado de outro.

A busca por explicações e definições desses termos em obras da área e nos artigos do corpus resultou nas seguintes definições:

Figura 20 – Paradigma definitório dos termos relacionados à unidade aplicativo integrado.

Fonte: Print Screen de programa no Sistema Operacional Windows 7.

Os aplicativos integrados são termos bastante específicos dos Sistemas de Informação Gerenciais, tendo ocorrido significativamente no corpus de nossa pesquisa. As definições elaboradas a partir do gênero próximo e diferença específica não deram conta de abarcar o rol de possibilidades de cada aplicativo e como eles auxiliam boa parte dos processos de negócio de uma organização.

Recorremos às informações enciclopédicas para descrever as informações adicionais sobre cada unidade. Logo, os termos, seguidos de suas definições e informações enciclopédica ficaram assim organizados:

Quadro 4 – Exemplo de definições e informações enciclopédicas do GTSIG.

Termo Definição terminológica Informação enciclopédica

Sistema de gestão da cadeia de suprimentos

Aplicativo integrado que auxilia a administração de toda a cadeia de suprimentos de uma empresa.

Esse sistema auxilia fornecedores, empresas de compra, distribuidores e empresas de logística a compartilharem informações sobre pedidos, produção, níveis de estoque e entrega de produtos e serviços, a fim de produzir e entregar mercadorias e serviços com maior eficiência.

Customer Relationship Management

Aplicativo integrado que auxlia a empresa em suas relações com o cliente.

Esse sistema fornece informações para coordenar todos os processos de negócios que lidam com o cliente, em termos de vendas, marketing e serviços.

Enterprise Resource Planning Aplicativo integrado que unifica e automatiza os principais processos de negócio de uma empresa.

Esse sistema é geralmente composto por módulos integrados de aplicações de produção, distribuição, vendas, contabilidade e recursos humanos.

Sistema de Gestão do Conhecimento

Aplicativo integrado que auxilia a empresa na administração de seu

conhecimento organizacional.

Esse sistema coleta todo o conhecimento e a experiência relevantes na empresa e em fontes externas de

conhecimento, tornando-os disponíveis onde equando forem necessários para melhorar os processos de negócios.

Fonte: Elaboração do autor.

A redação das DTs junto ao preenchimento das fichas demonstrou que os contextos selecionados para ilustrar os termos poderiam contribuir para a compreensão

da unidade descrita. A definição e contexto do termo convergência tecnológica ilustram essa questão:

DT: Processo de agrupamento de funções e aplicações em um único dispositivo ou tecnologia.

Contexto: Nenhum outro produto exemplifica tão bem o conceito de convergência tecnológica quanto o telefone celular. Os novos modelos são ainda mais versáteis: captam imagens de qualidade, sintonizam rádios e televisão e até substituem dinheiro, cartões de crédito e chaves.

O contexto selecionado complementa o conceito veiculado pelo termo utilizando um exemplo. As diversas ferramentas instaladas em celulares e smartphones atualmente auxiliam na compreensão de que funcionalidades eletrônicas, antes restritas a equipamentos específicos, tendem a convergir para um único aparelho. Dessa forma, o contexto propicia ao consulente uma expansão dos conceitos tratados pela definição e/ou pela informação enciclopédica.

Ressaltamos que as particularidades de cada termo indicaram o caminho definitório a ser seguido, as quais também orientaram as decisões concernetes à microestrutura de nosso glossário.