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REDE DE PROTEÇÃO: INTERSETORIALIDADE E INTEGRALIDADE

Muito se tem discutido sobre a proteção de crianças e adolescentes vítimas de violências a partir de ações reticulares. Porém, é mister compreender o que é rede, rede de proteção e seu funcionamento a fim de definirmos sua contribuição para a promoção da proteção integral no município de Uberaba.

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Segundo Castells (1999), a rede é utilizada, frequentemente, pelas grandes corporações ao redor do planeta especialmente com o uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para deslocar grandes volumes de dinheiro de um lugar para o outro em fração de segundos; para vender produtos e serviços sem se preocupar com as concorrências locais. Com a globalização mediada pela rede mundial de computadores, não há fronteiras físicas e o consumidor está em qualquer lugar do planeta. Na medida em que esses deslocamentos se dão, trabalhadores perdem empregos, fornecedores perdem clientes, sistemas públicos de seguro social reduzem seus volumes de auxílio, Estados nacionais se rendem à lógica monetária, dentre outros. Nesse processo, as contradições existentes na relação capital-trabalho deixam seu rastro de violência social, econômica e política. (NETTO, 2001; ALVES, 2001; SANTOS, 2009). Esses aspectos reforçam – e tendem a ap ese ta à o oà atu ais – as condições de vulnerabilidade social de toda uma coletividade ao negar condições de existência segura. (MINAYO, 2006).

Outra acepção de rede foi muito conhecida no interior das organizações fabris já no século XIX e início do século XX, quando F. W. Taylor e H. Ford instituíram uma hierarquia burocrática de poderes que se encadeavam para a vigilância permanente de indivíduos ou grupos para retirar-lhes o máximo de energia para a reprodução do capital e, em contrapartida, para reduzir-lhes a capacidade de organização coletiva. A tendência ou o objetivo primeiro dessa forma de rede disciplinar é a homogeneização dos comportamentos, atitudes, valores e mesmo de projetos de futuro àqueles que estão sob seu olhar vigilante. (DONZELOT, 1986; FOUCAULT, 1987).

Um dos elementos constituintes do processo disciplinar reside na constante elaboração de documentos acerca da produção, dos afastamentos, dos salários dos operários; dos laudos, dos diagnósticos, da terapêutica dos doentes; do aproveitamento, da indisciplina, dos castigos aplicados aos estudantes. Ocorre a produção de um saber oficial que produz um efeito de poder capaz de adestrar e domesticar o corpo; um saber oficial que se produz tanto de modo hierárquico, em sua movimentação vertical descendente, quanto, também, para os lados e de baixo para cima. É como se as instituições sociais nas quais estão inseridos os vários sujeitos possuíssem uma integração para estender e efetivar essa vigilância às esferas do convívio cotidiano de qualquer um dos sujeitos.

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A vigilância integrada [...] organiza-se como um poder múltiplo, automático e econômico; pois se é verdade que a vigilância repousa sobre indivíduos, seu funcionamento é de uma rede de relações de alto a baixo [...] essa rede suste ta àoà o ju to, e o perpassa de efeitos de poder que se apóiam uns sobre os outros. (FOUCAULT, 1987, p. 148)

A acepção foucaultiana de rede disciplinar repousa sobre a multiplicidade dos efeitos que esta produz. Obediência, disciplina, docilidade; demarcação normativa de funções ou fluidez dos postos de controle; aplicação de exames de avaliação, produção de documentos, enfim, uma rede de poder que perpassa seus membros e sobre eles se sustenta.

Mas existe uma percepção de rede mais rígida, na qual se podem localizar os focos de onde emana o poder. Essa acepção de rede disciplinar requer a existência de funções pré- definidas por um conjunto normativo burocrático o qual todos, no interior de uma estrutura organizacional, devem introjetar. Assim, as ordens obedecem a um flu oà o tí uoàdeà so e àeà des e à oài te io àdaàpi ide:àpa teàdaàaltaàge iaàouàp esid iaàeàpe o eàosàsu -níveis, o àsuasà espe ti asà ep ese taç esà hefias ,àat à hega àaoà h oàdeàf i a ,àaosàope ios.à Mas a vigilância nem sempre é remetida aos níveis mais altos da hierarquia, pois ela se a ifestaà asà disputasà e t eà osà iguais à aà edidaà e à ueà p o oç esà ouà p e iaç esà s oà colocadas como incentivos à maior produção dos operários, e, por conseguinte, aumentam a distância política entre os mesmos, ou seja, reduzem a capacidade coletiva de reivindicação. (OLIVEIRA, 1999).

Ao mesmo tempo, como expõe Foucault (1987), uma sociedade disciplinar tenderá cada vez mais a voltar seus olhos – mecanismos de saber-poder – sobre os sujeitos dialética e contraditoriamente produzidos à margem dos bens de consumo. Por ameaçarem a ordem hegemônica, estes devem ser alvo de vigilância incessante.

Na acepção de Manuel Castells (1999), também corroborado por Madel Luz (2001) e José de S. Martins (1997), a const uç oàdeà idad osàdeà segu daà atego ia à o figu a-se num processo de exclusão social global no contexto do capitalismo informacional, pois visualizam- se

[...] grupos e indivíduos [que] são sistematicamente impedidos do acesso a posições que lhes permitiriam uma existência autônoma dentro dos padrões sociais determinados por instituições e valores inseridos em dado contexto. (CASTELLS, 1999, p.98).

Assim, entendida como um processo, a exclusão social é sempre móvel, fluída na medida em que excluídos e incluídos se revezam no p o essoà aoà lo goà doà te po,à

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dependendo de seu grau de escolaridade, características demográficas, preconceitos sociais, p ti asàe p esa iaisàeàpolíti asàgo e a e tais à p. .

Sob esse prisma, não é apenas a ausência do trabalho regular que colocaria um indivíduo ou família expostos à exclusão. Existem outros motivos estruturais que dificultam ou impossibilitam o autoprovimento e que seguem diversas trajetórias, embora sejam muitos os caminhos, todos conduzem os sujeitos individuais ou coletivos, à indigência. Assim, ser acometido por alguma doença ante a ausência ou ineficiência de um sistema de saúde; a dependência de drogas ou etilismo; o estigma do ex-presidiário; o analfabetismo funcional; a falta de dinheiro para pagar o aluguel, transformando o indivíduo em um sem teto são elementos que agilizam o processo de exclusão. (CASTELLS, 1999).

Para conter a possibilidade de organizações sociais de reivindicar a concretização de direitos ou a instituição de novos é que se reforça a ordem disciplinar, que se impõe, sobretudo, contra os que estão em situação de maior vulnerabilidade social e, por vezes, gerando uma demanda reprimida para os serviços de assistência social. Uma sociedade estruturalmente violenta atomiza, individualizando as soluções que deveriam ser construídas coletivamente.

Buscando construir outra compreensão para as redes, muitos pesquisadores se debruçam sobre as denominadas redes sociais3 como uma potencialidade para ampliar e diversificar os canais de comunicação entre as pessoas; horizontalizar a proposição de alternativas às demandas bem como as decisões suscitadas numa assembléia; construir novas formas de gestão de recursos e de pessoas; promover a construção de informações e dados sob um leque mais amplo de olhares e, obviamente, promover uma pluralidade na interpretação dessas mesmas informações; satisfação de necessidades imediatas ou não, desde afetivas a econômicas. (WHITAKER, 1993; VILLASANTE, 2002; ACIOLI, 2007; STOTZ, 2009).

Um exemplo são as comunidades virtuais que buscam reduzir distâncias espaciais entre pessoas para a troca de experiências e soluções para problemas semelhantes; ou ainda, para o exercício da ajuda mútua entre moradores de uma comunidade. Exemplos são os grupos ambientalistas, como o Greenpeace ou a Central Única das Favelas (CUFA), respectivamente. (WHITAKER, 1993; VILLASANTE, 2002).

3 Atualmente, as referências midiáticas às redes sociais se dirigem às comunidades criadas na rede mundial de computadores. Exemplos são o Orkut, o Facebook e o Twitter.

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Em ambos os exemplos, a ausência de um poder hierárquico centralizador é um aspecto comum. A gerência não ocupa um lugar central, pois tal função é desempenhada, em geral, por um coletivo, um colegiado, cujos representantes são legitimados por uma coletividade mais ampla. De acordo com Njaine (2008),à asà edesàs oàest utu asàa e tasà ueà pode à seà e pa di à i fi ita e te,à fo a doà o osà s (p. 1314). Uma referência às reflexões de Manuel Castells ao analisar o modo pelo qual o capitalismo informacional global promove a inclusão ou a exclusão de países, cidades, municípios ou bairros inteiros considerados sem valor relativamente aos seus interesses de consumo, por exemplo, desabilitando

[...] grandes segmentos da população e ao mesmo tempo estabelece conexões transterritoriais, por meio da tecnologia da informação, entre o que ou quem quer que possa gerar valor nas redes globais de acumulação de riqueza, informação e poder. (CASTELLS, 1999, p.99)

No entanto, para além do modelo de acumulação capitalista na era informacional, a função dessa expansão infinita é a agregação de novos membros para que, trabalhando em conjunto, possam garantir, no caso aqui estudado, que crianças e adolescentes tenham os seus direitos garantidos como prevê o ECA, sob a égide da doutrina de proteção integral.

Meneses (2007) sintetiza os princípios constitutivos da rede de proteção sob diferentes princípios organizacionais:

[...] as redes sociais são um sistema aberto em permanente construção, que se constroem individual e coletivamente. Utilizam o conjunto de relações que possuem uma pessoa e um grupo, e são fontes de reconhecimento, de sentimento de identidade, do ser, da competência, da ação. Estão relacionadas com os papéis desempenhados nas relações com outras pessoas e grupos sociais, constituindo-se nas práticas sociais que no cotidiano não se aproveitam em sua totalidade. (p.24)

Essa síntese de Meneses nos conduz à outra possibilidade das redes sociais. A construção da cidadania ativa encontra nas redes um ambiente favorável, pois o reconhecimento do sujeito enquanto construtor de ideias e ideais, aliado à identificação social com as demandas expostas e representadas na rede produzem efeitos positivos nos seus membros: saem do isolamento e do imobilismo; incluem as ações voluntárias e pontuais em projetos construídos coletivamente e inseridos em propostas de médio e longo prazo.

Segundo Walter Ude (2008), é mister compreendermos a qualidade desses laços que se tecem entre os sujeitos envolvidos na construção e manutenção dessa rede de proteção,

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sejam elas formais ou informais. As primeiras, pautadas por contratos e regimentos, planejamentos e projetos elaborados sob processos de diagnóstico social com a participação de instituições públicas e/ou da sociedade civil. A essa rede que se intercomunica podemos denominar de proteção social, pois expressa os fundamentos da doutrina da proteção integral e das políticas públicas de seguridade social. E as informais, organizadas por vizinhança, parentesco e/ou amizade, denominadas simplesmente de rede social de apoio devido ao seu caráter proximal e imediato na satisfação das necessidades dos indivíduos pertencentes à rede. (DESLANDES, 2004; SARTI, 2007; CASTRO; OLIVEIRA, 2009).

Como afirmam Frizzo e Sarriera (2005), uma rede é composta de sistemas e de pessoas cujos elos são significativos e sustentam os relacionamentos. Assim, numa rede de proteção estariam os equipamentos urbanos de saúde, de educação, de assistência social, de segurança pública bem como as organizações da sociedade civil, creches comunitárias, igrejas, associações de moradores dentre outros. Segundo as mesmas autoras,

[...] podemos agregar a esses sistemas, também, o sistema de vizinhança, os parentes, os amigos e as relações de trabalho e/ou estudo que podem constituir importantes fontes de ajuda em caso de necessidade. (FRIZZO; SARRIERA, 2005, p. 187)

Para a efetivação de uma rede que congregue sistemas formais (sob a ótica burocrática) e informais (sob a lógica afetiva) é fundamental, segundo Walter Ude (2008), atentar para as demandas coletivas e/ou individuais desses sujeitos onde elas se processam, uma vez que diferentes sujeitos usufruem de ambas as expressões da rede de acordo com suas necessidades, sejam afetivas, sejam por serviços técnicos.

Nessa mesma esteira, Eduardo N. Stotz (2009) apresenta a rede de proteção em seu conceito de junção, tal como construído pelo historiador Edward Thompson. A junção social revela que a experiência popular é dotada de caráter moral quando, também, no âmbito da economia agregando ao seu suposto caráter técnico objetivo o aspecto subjetivo. Assim, as necessidades de uma dada coletividade o stitue ào jetoàdaàe o o iaàpolíti a, [e] designam tanto o estado psicológico de necessidade de bens, serviços e utilidades capazes de satisfazê-las. (STOTZ, 2009, p.27). Para o mesmo autor,

Tal definição amplia o entendimento de necessidades, situando-as historicamente: são simultânea e contraditoriamente tanto aquelas econômicas, redutíveis a interesses e construídas no âmbito do processo de

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valorização do capital, quanto aquelas morais, expressão de valores que recuperam a experiências de homens e mulheres como sujeitos. (p.27)

Na medida em que essas necessidades não são atendidas pelo sistema de garantia de direitos como elas reproduzem e/ou agravam a condição de pessoa ou grupo vulnerabilizado? Ou ainda, na medida em que a rede formal, representada pelas organizações governamentais ou não-governamentais, não satisfaz as necessidades das comunidades ou segmentos sociais vulnerabilizados, estimulariam a aproximação e a estruturação de redes não-formais? Essa ausência do Estado ou o crescimento do Terceiro Setor promoveria um processo de organização e de identificação coletiva de demandas, dentre as quais o cuidado com as crianças e adolescentes de uma dada comunidade? A resposta a essas questões é crucial e nos reporta ao título desse estudo: quais as contribuições do Conselho Tutelar no interior dessa rede.

Em estudo realizado por Souza, Souza e Tocantins (2009) as autoras demonstraram a relevância da rede de apoio social de nível primário (ou informal), em relação à racionalidade jurídico-burocrática no processo de diagnóstico e cuidado de cidadãos usuários dos serviços públicos de saúde. Para tanto, se valeram da construção do mapa da rede de proteção de usuárias do serviço de saúde, no caso, um grupo de lactentes, construindo uma estrutura de significados. Tal abordagem reforçou a relevância do método qualitativo para a análise da rede relacional dessas mulheres.

Para o encaminhamento do estudo, as autoras aplicaram uma quantidade expressiva de indicadores, expostos inicialmente por Lia Sanicola, em Reti sociali e intervento professionale (1995), a saber:

[...] amplitude - diz respeito à quantidade de pessoas presentes e permite afirmar se uma rede é pequena, média ou grande; densidade - refere-se à quantidade de pessoas que se conhecem entre si; intensidade - refere-se ao intercâmbio realizado, se as coisas intercambiadas são materiais, afetivas ou informativas; proximidade/distância - permite a reflexão sobre a distância afetiva e revela os graus de intimidade; frequência - esse indicador apresenta com que sistematicidade o vínculo é estabelecido; duração - indica o tempo de conhecimento entre as pessoas da rede; proximidade física - refere-se ao local onde os membros, que compõem a rede, habitam. (SOUZA; SOUZA; TOCANTINS, 2009, p.3. Grifos nossos).

Esses indicadores auxiliam na reflexão das bases epistemológicas do paradigma relativo ao tipo de intervenção a ser construída com uma dada comunidade. É necessário

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superar o paradigma cartesiano que por séculos orientou não somente a construção científica bem como suas intervenções (SANTOS, 1989; SOUZA; SOUZA; TOCANTINS, 2009; MARTELETO; STOTZ, 2009).

Para esse estudo adotaremos a expressão rede de proteção social por considerarmos a presença dos muitos sujeitos coletivos institucionais que atuam em vários setores no âmbito da prevenção e proteção às crianças e adolescentes vulneráveis à violência e que, portanto, a estruturação em rede proporciona superação da fragmentação e da sobreposição das ações, do imediatismo e do personalismo. Em sentido mais amplo, a rede de proteção pressupõe a existência de programas e projetos construídos coletivamente, vinculados ao poder público e/ou a sociedade civil com vistas a promover a construção da cidadania que, enquanto conquista coletiva dos direitos sociais e políticos, promove a superação das vulnerabilidades.

Assim, no campo metodológico, a abordagem sobre a rede de proteção se funda nas reflexões da hermenêutica que, segundo Santos (1989),

[...] visa transformar o distante em próximo, o estranho em familiar, através de um discurso racional [...] orientado pelo desejo de diálogo com o objeto da reflexão pa aà ueà eleà osà fale , numa língua não necessariamente a nossa, mas que nos seja compreensível, e nessa medida se nos torne relevante, nos enriqueça e contribua para aprofundar a autocompreensão do nosso papel na construção da sociedade, ou na expressão cara à hermenêutica, do mundo da vida. (SANTOS, 1989, p.12).

Issoà posto,à aà o p ee s oà doà u doà daà ida à ua doà ealizadaà so à asà asesà cartesianas – e porque não do paradigma biomédico, que o acompanha – promove a fragmentação e a intervenção técnica sobre a realidade, oriundas da concepção racional e mecanicista da natureza, como afirmou Descartes. O intento era controlar os resultados das intervenções cientificamente desenvolvidas a partir dos métodos dos cientistas da natureza, premissa que guiará por muito tempo os estudos na área da saúde. (JAPIASSÚ, 2004; SILVA JÚNIOR, 2006).

Na medida em que novas bases epistemológicas promovem o questionamento do paradigma dominante, novos métodos e metodologias vêm à tona no intuito de ampliar a compreensão dos fenômenos sociais e seus elementos constitutivos e determinantes, dentre os quais a ideologia imersa no contexto cotidiano dos sujeitos.

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Assim, conforme expõe Santos (1989), podemos repensar nosso papel enquanto cientistas nos novos dilemas e cenários postos pela sociedade contemporânea. Um desses cenários reside no papel do Estado no manejo das contradições das relações sociais de produção, ou ainda, das expressões da questão social e suas justificativas ideológicas.

O estudo de Souza, Souza e Tocantins (2009) reforça uma conclusão a que chegaram Regina C. T. Mioto (2002) e Eduardo N. Stotz (2009): a crise dos sistemas formais de proteção social, sobretudo aqueles fundados e centralizados na presença de programas e projetos vinculados ao Estado, como garantidor de direitos sociais, trouxe à tona novos sujeitos sociais, um deles é o terceiro setor, representado pelas Organizações Não-Governamentais (ONG´s).

E àli hasàge ais,àoà te ei oàseto àse constitui por grupos formalizados da sociedade civil, ou seja, contrapõe-se aoà p i ei o à Estado àeàaoà segu do à e ado àeàse organiza de acordo com as demandas da própria sociedade. Carlos Montaño (2003) adota o uso de aspas oà te oà te ei oà seto à po à o p ee de à ueà oà es oà est à i uladoà sà t adiç esà acadêmicas, científicas, econômicas e políticas conservadoras da lógica do capital, dentre as uaisàoà i stitu io alis oà o te-a e i a o .àE àsua interpretação, o termo está mais para a privatização da questão social por parte do próprio capital do que para o enfrentamento do Estado à mesma.

Porém, como asseveram Montaño (2003) e Stotz (2009) não podemos fragmentar o fenômeno da emergência do terceiro setor sob pena de reproduzir a lógica positivista. Assim, segundo ambos os autores, de e osà i à al à daà e aà o ga izaç oà fo al à daà sociedade civil diante doà Estadoà í i o .

Falamos aqui da escalada histórica do neoliberalismo nos países capitalistas, em especial nos de capitalismo periférico que se caracterizam, por exemplo, pela precarização das conquistas históricas da classe trabalhadora, da pregação ética do consumo como forma de realização pessoal, da superficialidade ou do esvaziamento das reflexões acerca das o pet iasà doà Estadoà a teà uestão social e do poder de desarticulação dos elhos movimentos sociais àeàsuasàlutasàpo àsal ioàeà eduç oàdaàjo adaàdeàt a alho,àpo àe e plo. (ALVES, 2001; MONTAÑO, 2003;BEHRING; BOSCHETTI, 2007; SANTOS, 2009).

A esse respeito, a síntese de Carlos Montaño é elucidativa:

... à oà de ateà doà te ei oà seto à dese ol eà u à papelà ideol gi oà claramente funcional aos interesses do capital no processo de reestruturação neoliberal, no caso, promovendo a reversão dos direitos de

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cidadania por serviços e políticas sociais assistenciais universais, não contratualistas e de qualidade, desenvolvidas pelo Estado e financiadas num sistema de solidariedade universal compulsória. (2003, p.19)

O olhar sobre a totalidade do fenômeno denominado te ei oàseto àeàasà redes de proteção que integram nos permitem observar, portanto, a existência das contradições inerentes ao próprio processo de acumulação capitalista, dentre as quais, a necessidade de impor sobre o Estado os limites de sua atuação ante a questão social sem afetar, contudo, a reprodução do capital.

Sendo elas mesmas parte da sociedade, as ONG´s assumem a função de prover serviços sociais antes alocados unicamente nos orgaõs governamentais. Nessaà o aào de , cada ONG decide – muitas sem a participação da coletividade – onde empenhará seu capital humano e o financiamento recebido. Assim, reforça-se o paradigma cartesiano no modus operandi das ONG´s e não se promove um olhar sobre a totalidade da questão social, pois as ações são caracterizadas pela fragmentação e/ou a sobreposição de esforços. Daí a utilização da expressão p i ado,à po à pú li o .à Ou seja, abandona-se o caráter público da efetivação dos direitos