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3 REDES SOCIAIS: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E APROPRIAÇÕES CONCEITUAIS

A abordagem de redes sociais engloba um conjunto de teorias, conceitos, métodos e modelos das ciências sociais permeado por diversas perspectivas disciplinares e epistemológicas. Uma rede social pode ser definida, de forma genérica, como um conjunto de unidades sociais e das relações que essas unidades mantêm umas com as outras. Tal definição destaca um princípio fundamental das teorias sobre redes: a ênfase nas relações entre os atores sociais e nos padrões e implicações dessas relações, em detrimento dos atributos individuais. Assim, a unidade de análise de uma rede social não é o indivíduo e suas características como gênero, idade, raça, religião ou classe social, mas o conjunto de relações que esses indivíduos estabelecem através das suas interações com outros indivíduos. Os atributos individuais são

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secundários e adquirem interesse à medida que influenciam a formação das relações e a configuração das redes (WASSERMAN; FAUST, 1999; OTTE; ROUSSEAU, 2002). Considerando esse princípio, a análise de redes sociais é uma abordagem focada na estrutura relacional, que visa investigar de que forma as relações e os atributos dos atores influenciam o comportamento de cada componente na rede e do todo.

Certas unidades básicas compõem as redes. Um ator é uma unidade discreta individual, corporativa ou social coletiva” (WASSERMAN; FAUST, 1999, p. 17). Os atores nas redes sociais estabelecem relações de diversos tipos. O laço relacional estabelece a ligação entre pares de atores e “são canais de transferência ou fluxo de recursos, sejam eles materiais ou não materiais (WASSERMAN; FAUST, 1999, p. 4). Os laços também podem ser diferenciados em laços fracos e fortes. Segundo Granovetter (1973), os laços fortes são definidos como aqueles em que os indivíduos investem mais tempo e intensidade emocional e nos quais há maior grau de confiança. Em contrapartida, os laços fracos são aqueles em que o investimento é menor ou nulo. Embora os laços fracos pareçam, à primeira vista, menos relevantes e sem valor, eles desempenham um papel importante na dinâmica das redes: são capazes de otimizar contatos e ter acesso às informações não redundantes.

No cenário analisado neste estudo, os atores sociais foram categorizados em sites de imprensa, blogs profissionais e blogs não-profissionais. Sites de imprensa são os sites editados por veículos de comunicação que disponibilizam conteúdo noticioso, com acesso restrito ou não. Exemplos são os sites das revistas Carta Capital e Veja, e o site do Jornal Folha de S.Paulo. Por blogs profissionais, entendem-se os blogs de profissionais que mantêm ou mantiveram ligação formal com uma instituição de imprensa (como uma revista, jornal ou portal de conteúdo). Esses profissionais têm maior liberdade de expressão e, em geral, escrevem para um público constituído por muitos outros bloguistas. Exemplos são o blogLuis Nassif Online14 do jornalista Luís Nassif, o blog Conversa Fiada15 do jornalista Paulo Henrique Amorim e blog Escrevinhador16 do jornalista Rodrigo Vianna. Já os blogs não-profissionais são aqueles criados por pessoas que não possuem ligações institucionais com órgãos de imprensa (pelo menos explicitada). Em sua maioria, os bloguistas escrevem como forma de exercer a cidadania e o direito de expressão. Essa categoria engloba o maior número

14 blogln.ning.com 15 www2.paulohenriqueamorim.com.br 16 rodrigovianna.com.br

de blogs da rede Ditabranda, como os blogsNas Retinas17, Cidadania.com, Cão Uivador18, O último repórter19, dentre outros.

Os laços relacionais, no presente estudo, são representados por links. A relação estabelecida através de um link pode expressar diferentes tipos de ligações nas situações estudadas e foram classificadas como: (a) laços de autoridade, caso em que um blog referencia outro buscando pontos de vista reputados, como uma citação a uma reportagem veiculada por uma revista de mídia ou um comentário realizado por um renomado jornalista; (b) laços de apoio, em que um ator interage com outro ator para fundamentar suas ideias e argumentações, ou para expressar alinhamento de objetivos ou concordância, como os laços estabelecidos entre os diversos atores que repudiam uma notícia ou nota de um jornal; (c) laços de contraste ou oposição, que, ao contrário dos laços de apoio, são estabelecidos por discordância, divergências ou protestos, como os links estabelecidos para os blogs e as notas de sites noticiosos que são objeto de contestação; e, finalmente, (d) laços de agregação, estabelecidos para concentrar informação ou referências em um único ponto. Um exemplo são as relações estabelecidas por blogs que agregam notícias veiculadas por vários outros blogs e sites.

Um dos objetivos mais importantes da análise de redes consiste na identificação de subgrupos coesos no interior de um conjunto social. Um subgrupo coeso é composto por um conjunto de atores que estabelecem relações fortes, intensas, diretas e frequentes (LAZEGA, 2007). A análise centro-periferia, proposta por Borgatti e Everett (1999), auxilia na identificação desses subgrupos. Tal análise pressupõe a existência de dois grandes grupos em uma rede: um grupo coeso de atores fortemente relacionados, denominado de centro, e um grupo na qual os atores têm poucos contatos entre si, mas que se ligam ao centro da rede por alguns de seus membros, denominado periferia. Nesta região está concentrada a maior parte dos atores da rede. De maneira semelhante, a identificação de cliques, subconjunto de membros todos adjacentes uns aos outros que mantêm relações mais próximas entre si, possibilita conhecer quem pertence a um grupo, bem como os tipos e padrões de relacionamentos que os definem e os sustentam como um grupo (LAZEGA, 2007).

Outra medida importante refere-se à posição relativa dos atores no interior de um sistema identificada pelos pontos de centralidade. Esta medida possibilita a identificação dos

17 emerluis.wordpress.com 18 caouivador.wordpress.com 19 oultimoreporter.wordpress.com

atores mais centrais no sistema, ou dito de outra forma, dos atores que controlam a alocação de recursos ou informações ou que dispõem de certa autoridade (prestígio, popularidade ou influência). Três medidas de centralidade são particularmente conhecidas na literatura: as centralidades de grau, de intermediação e de informação (FREEMAN, 1979; EVERETT; BORGATTI, 2005; STEPHENSON; ZELEN, 1989). A centralidade de grau de um ator identifica o número de contatos diretos que ele possui com os outros atores na rede. Em redes orientadas, como a Ditabranda, essa medida apresenta valores de entrada e saída. A entrada define o prestígio que o ator tem na rede, pois está relacionada ao número de laços que o ator recebe. Já a medida de saída indica quão influente é o ator. Atores influentes são capazes de estabelecer trocas com muitos outros atores ou fazer com que os outros estejam cientes de suas visões (HANNEMAN; RIDDLE, 2001). A centralidade de intermediação de um ator mede o quanto ele atua como ponte ou mediador, facilitando o fluxo de informação em uma determinada rede. Esse conceito recupera a valorização dos laços fracos (proposta por Grannovetter, 1973 e discutida anteriormente nesta seção). Por fim, a centralidade de informação, medida criada por Stephenson e Zelen (1989), indica o quanto um ator, por seu posicionamento, transfere e recebe informações oriundas do ambiente da rede, uma vez que considera todos os possíveis caminhos para trocas de informações entre os atores.

4 REDES DE RELACIONAMENTOS E RELACIONAMENTOS EM REDE: