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Capítulo 2. DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

3.3. Proposições aperfeiçoadoras dos instrumentos

3.3.1. Redução de subscrições para iniciativa popular

Democracia participativa é um tema recorrente nas duas Casas do Congresso Nacional, de sorte que, conforme registro no site da Câmara38, somente naquela Casa foram discutidas quatrocentas e quatro proposições (propostas de emendas constitucionais, projetos, requerimentos, pareceres e sugestões), ao longo dos últimos vinte anos de vigência da Lei Maior.

O maior número de proposições versa exatamente sobre iniciativa popular. Atualmente tramitam dezoito proposições sobre o tema na Câmara dos Deputados e dez no Senado Federal. As soluções aventadas pelos parlamentares seguem basicamente três linhas de raciocínio.

A primeira intenta superar a dificuldade da colheta de tão grande número de assinaturas com o uso de novas tecnologias. O projeto39 mais completo sobre o tema prevê que a subscrição poderá ser manual ou eletrônica, observado o seguinte:

a) A Câmara dos Deputados e o Senado Federal deverão disponibilizar, em suas páginas na rede mundial de computadores, conexões para os anteprojetos de iniciativa popular que lhes tenham sido encaminhados por número de eleitores que represente quatro centésimos por cento do eleitorado nacional, com o objetivo de permitir a subscrição eletrônica por outros eleitores;

b) A mensagem eletrônica que encaminhar o anteprojeto de iniciativa popular deverá conter, também, elementos que permitam a identificação dos eleitores/autores;

c) Os eleitores que desejarem subscrever anteprojeto de iniciativa popular disponível na página da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal deverão acessar as respectivas páginas na rede mundial de

38 Site: http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_lista.asp?formulario=formPesquisaPorAssunto,

acessado em 05/04/2011.

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PLS 84, de 2011, de autoria do Senador Eduardo Suplicy. Contudo, no mesmo sentido, há ainda três outros projetos também bastante detalhados, a saber: PL 4219/2008, do Deputado Lincoln Portela; PL 4764/2009, da Deputada Sueli Vidigal e o PL 4805/2009, do Deputado Paulo Pimenta.

computadores informando seu nome, data de nascimento e o número de seu título de eleitor;

d) Cada eleitor que enviar mensagem eletrônica encaminhando anteprojeto de lei de iniciativa popular ou indicando interesse em subscrever anteprojeto de lei de iniciativa popular receberá como resposta uma senha que será atrelada ao número de seu título e que admitirá apenas o cômputo de uma manifestação de apoio por anteprojeto;

e) O sistema recusará automaticamente a apresentação do anteprojeto ou a manifestação de apoio, caso os proponentes do anteprojeto ou aqueles que o desejem apoiar não estejam regularizados perante a Justiça Eleitoral

Há, ainda, uma segunda alternativa para o uso de novas tecnologias, cujo projeto40 permite a coleta de assinaturas em rede fechada de computadores, por meio de urnas eletrônicas colocadas à disposição do eleitorado, nos edifícios do Congresso Nacional e das Assembléias Legislativas dos Estados.

A segunda solução propõe a alteração do texto constitucional para permitir a substituição dos eleitores por entidades cujo total de associados correspondam ao quantitativo exigido para apresentação do projeto de iniciativa popular.41 .

E, por último, há a terceira solução que consiste em reduzir o número de subscrições. Essa idéia é contemplada pelo maior número de proposições, que divergem tão-somente quanto ao quantitativo mínimo a ser exigido. Algumas propostas prevêem apenas um por cento do total de eleitores, sem divisão por Estado; outras dois por cento do total; e outras, ainda, que engendram cálculos mais elaborados como, por exemplo, a que estabelece como mínimo o produto da divisão do número total de eleitores pelo número total de deputados federais42.

De todas as soluções apontadas, ao nosso sentir, a mais razoável consiste nessa última, que intenta alterar a Constituição Federal para reduzir o número de subscrições.

De fato, o número exigido pelo texto final da Constituição mostra-se inteiramente desarrazoado, como a prática tem sobejamente demonstrado,

40 PL 7003/2010, de autoria do Deputado Dr. Rosinha. 41

Nesse sentido, a proposta mais antiga ainda em trâmite é a PEC 2/1999, da Deputada Luiza Erundina.

ante a vexatória inexistência formal de projeto de iniciativa popular. Em outros países que adotam a iniciativa legislativa popular o número exigido não ultrapassa a cinqüenta mil eleitores. Muito embora se possa argumentar que tais países são menos populosos que o Brasil, há que se contra- argumentar que possuem também menor extensão territorial. Nada empresta arrimo a um quantitativo tão alto, já que no Anteprojeto de Constituição descrito anteriormente, o número de assinaturas para propostas constitucionais era de trinta mil e para normas infraconstitucionais apenas quinze mil.

Ademais, é necessário relembrar que na época de elaboração da própria Constituição, o art. 24 do Regimento Interno da Assembléia Nacional Constituinte admitia a apresentação de emenda popular, desde que subscrita por trinta mil eleitores, ou seja, por quatro centésimos por cento (0,04%) do eleitorado brasileiro, que, naquele momento, era da ordem de oitenta milhões de eleitores.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o número de eleitores das últimas eleições de 2010 totaliza pouco mais de cento e trinta e cinco milhões de brasileiros. Assim, aplicando-se hoje o mesmo percentual qualificado exigido ao tempo da Constituinte para o encaminhamento dos anteprojetos de iniciativa popular, ter-se-ia o quantitativo mínimo de cinqüenta e cinco mil eleitores. Tal número de subscrições poderia ser coletado de forma artesanal, como tem sido feito até aqui, ou eletronicamente, que indubitavelmente se tornará realidade em muito pouco tempo.

A adoção desse paradigma histórico de participação do eleitorado no processo legislativo brasileiro seria mais razoável que os quantitativos obtidos a partir de elucubrações numéricas, que não guardam qualquer correspondência lógica ou razão histórica.