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Reflexão Final acerca da Intervenção Educativa no Pré-Escolar

No documento Relatório de estágio de mestrado (páginas 134-139)

Capítulo II – Estágio no Pré-Escolar

2.4 Reflexão Final acerca da Intervenção Educativa no Pré-Escolar

O Ministério da Educação (1997) refere que a Educação Pré-Escolar é “a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida” (p. 17). Sabemos que é desde a infância que devem ser incutidos os valores e atitudes democráticas e participativas. Este período possibilita a construção dos alicerces da personalidade de cada criança e são fornecidas várias condições para que estas adquiram uma série de competências que irão prepará-las para as aprendizagens ao longo da vida e para viverem como cidadãos ativos na sociedade.

Corroboro com a visão que Dahlberg, Moss e Pence (2003) têm da criança como co-construtor ativo do seu próprio conhecimento, como pensador crítico e imaginativo e como possuidor de muitas linguagens. Oliveira-Formosinho e Costa (2011) reforçam que

a pedagogia-em-Participação assume, no quotidiano pedagógico, os direitos da criança a

coconstruir, quer os seus saberes quer o modo de aprender porque se situa numa

epistemologia de cariz socioconstrutivista onde o método de aprender e ensinar é

constitutivo da identidade pessoal, relacional, cívica da criança e do grupo (p. 91).

Katz e Chard (2009) referem que muitos educadores de infância “sofrem pressões por parte das autoridades escolares, dos professores das crianças mais velhas e de muitos pais para darem ênfase à componente académica em detrimento dos aspectos mais espontâneos, não programados e criativos do currículo” (p. 11). Essas pressões negam a possibilidade de realizar atividades que surjam a partir dos interesses e curiosidades das crianças.

Proporcionei um clima concordante com o que Kamii (2006) considera ser favorável ao desenvolvimento, apelativo à independência da criança para utilizar a sua própria iniciativa e prosseguir os seus interesses, ao lhe ser dada liberdade para dizer o que pensa, fazer perguntas, experimentar e ter muitas ideias.

Portugal e Laevers (2010) defendem que “investir na curiosidade e desejo de aprender é investir na preservação ou no fortalecimento do ímpeto exploratório, e garante a disposição para aprender ao longo da vida” (p. 38).

A minha intervenção baseou-se na pedagogia participativa centrada na criança, em que fomentei a aprendizagem experiencial e significativa no quadro da vivência democrática (Oliveira-Formosinho, 2009).

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De salientar que não é o educador que deve tomar a primazia na construção das atividades inerentes aos projetos, nem deve fazer prevalecer a sua vontade, mas sim criar condições para as crianças explorarem os seus interesses e irem construindo o seu conhecimento. Neste sentido, o Trabalho de Projeto é motivante para as crianças, uma vez que têm um papel ativo no decorrer de todo o processo e ótima oportunidade para desenvolver a cooperação entre elas (Katz & Chard, 2009). Niza (1998) afirma que trabalhar de forma cooperativa tem-se revelado a “melhor estrutura social para a aquisição de competências” (p. 79).

Averiguei que os projectos realizados desenvolveram imensas competências nas crianças, nomeadamente a oralidade, a criatividade, a capacidade de observar e refletir. Ao serem realizados em grupo, é promovida cooperação, a comunicação, a entreajuda, a partilha de saberes e experiências e também permite a construção de relações de tolerância, de respeito, de confiança e de apoio mútuo. Constatei, ainda, através da envolvência e satisfação na realização das atividades que foram surgindo, que este tipo de trabalho promove uma grande implicação e bem-estar das crianças.

Como educadora estagiária, considero que esta prática proporcionou-me aprendizagens enriquecedoras e foi gratificante trabalhar em parceria com o grupo de crianças. Sinto-me realizada por incutir uma pequena “semente” naquelas crianças, no sentido de questionar, investigar e explorar para saber mais sobre as coisas que lhes interessam e também partilharem as suas aprendizagens.

No meu percurso escolar desde o 1.º CEB até ao Ensino Secundário raras foram as vezes em que trabalhei em grupo e apresentei trabalhos aos colegas. Apenas quando ingressei na Universidade é que passei a trabalhar frequentemente com esse método de trabalho e exigia algumas competências que eu não havia adquirido em tantos anos de escolaridade. Tendo em conta a minha experiência, acredito cada vez mais que as

crianças devem ser incentivadas e estimuladas a serem autónomas desde o Pré-Escolar, uma vez que irá prepará-las para serem cidadãos ativos e participativos na sociedade vigente.

Tive como especial pretensão envolver a família das crianças no decorrer do estágio pois, tal como afirma o Ministério da Educação (1997) “a família e a instituição de educação pré-escolar são dois contextos sociais que contribuem para a educação da mesma criança, importa por isso, que haja uma relação entre estes dois sistemas” (p.43). Tal como mencionado no início deste capítulo é importante desenvolver uma colaboração sistemática com a família e, nesse sentido, houve um envolvimento das famílias da sala Pré-B muito satisfatório, uma vez que a maior parte dos pais acompanhou diariamente as aprendizagens dos seus educandos e, em casa, deram continuidade aos temas realizados na sala de atividades. De referir que alguns encarregados de educação comunicavam o que diziam os filhos relativamente às atividades que decorriam em contexto educativo, assim como as descobertas que se realizaram conjuntamente com a família. Estes momentos levaram-me a concluir que as atividades eram, de facto, significativas para estas crianças.

A educadora cooperante foi uma colega no decorrer do todo o estágio. Segundo Mesquita-Pires (2007) as “relações que se estabelecem com as educadoras-cooperantes, no decurso da formação inicial, são consideradas como factores potenciadores na integração profissional” (p. 155). Ainda segundo a autora supracitada, essas relações são fundamentais em todo o processo, pois potenciam um crescimento quer a nível afetivo, quer intelectual e a partilha de experiências, a colaboração e a cooperação são uma mais-valiade que o estagiário necessita.

De acordo com Hohmann e Weikart (2007), para a equipa pedagógica ser eficaz, cada membro diz diretamente o que pensa e a comunicação deve ser aberta e honesta. A

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educadora cooperante demonstrou-se sempre disponível para conversar, refletir, dar o seu parecer e sugestões sobre as atividades. Através do diálogo, partilhámos as nossas crenças e a forma como entendemos a Educação Pré-Escolar e a criança que, felizmente, eram muito semelhantes. Tenho consciência de que o meu estágio foi bem- sucedido porque também interagi com uma profissional que partilha a mesma visão que eu e que acredita nas capacidades intrínsecas das crianças Hohmann e Weikart (2007) referem que “os elementos da equipa obtém reconhecimento, um sentido de trabalho bem sucedido e um sentimento de pertença a um grupo de indivíduos que pensam de forma semelhante” (p. 131).

Um aspeto em que, inicialmente, senti mais dificuldades foi na gestão do grupo, uma vez que o mesmo é heterogéneo com personalidades e maturidades muito distintas. São necessárias algumas estratégias e competências que não foram adquiridas propriamente na formação académica, mas que no decorrer do estágio fui adquirindo e sendo capaz de aplicar e a realidade é que serão aperfeiçoadas com o decorrer dos anos de atividade profissional.

A instituição recebeu o núcleo de estágio de uma forma acolhedora e enalteço a amabilidade com que o diretor da instituição, docentes e não docentes nos trataram nas nossas interações diárias, assim como a disponibilidade e a cooperação que prestaram sempre que solicitámos. Estes factores contribuíram positivamente para a nossa motivação e bem-estar no decorrer do estágio.

No documento Relatório de estágio de mestrado (páginas 134-139)