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Capítulo IV A Prática in loco-Estágio Pedagógico em Contexto de 1º Ciclo do Ensino

4.5. Reflexão global da prática no 1º Ciclo do Ensino Básico

O ato reflexivo é, atualmente, uma exigência da prática de um docente e uma das tarefas mais complexas a realizar, uma vez que, estando dentro da dinâmica de um grupo, sair do papel de professor/ orientador e analisar isoladamente a própria prática e as aprendizagens do grupo é uma tarefa de grande exigência e responsabilidade.

No entanto, este é o ato mais importante de toda a prática pois permite-me repensá-la de forma a procurar entender quais os aspetos positivos e negativos da mesma e quais as estratégias que melhor se adequariam à ação.

Essa é a tarefa que pretendo realizar ao longo do texto, refletir a minha prática, tendo por base algumas referências importantes que se debruçam sobre os mecanismos que conferem qualidade à prática de um docente.

A minha prática pedagógica em contexto de 1º ciclo ocorreu durante os meses de outubro, novembro e dezembro na EB1/PE da Assomada, com um grupo de crianças bastante dinâmico e com alguns problemas relacionados com a gestão de regras e comportamentos, aspetos que influenciaram largamente todo o processo de ensino- aprendizagem.

Foi, tendo em conta essas e outras a características observadas, que as planificações tentaram dar resposta à diversidade de comportamentos, interesses e motivações da turma.

Segundo Morgado (2003), citando Tomlinson (2000), os professores “procuram gerir um currículo de alto nível para todos ao alunos variando o nível de apoio do professor, complexidade das tarefas de aprendizagem, ritmo e processos de aprendizagem baseando-se nas competências dos alunos, nas suas motivações e perfis de aprendizagem” (p.76).

Deste modo, como futura docente, tive como preocupação, durante toda a prática, as múltiplas personalidades, gostos, interesses e ritmos de aprendizagem existentes na sala de aula e tentei ir ao encontro da individualidade dos alunos, motivando-os através da diferenciação.

Morgado (2003) pressupõe, no seu documento, que a qualidade da prática de um professor está na capacidade de diferenciar metodologias, considerando os ritmos e interesses dos alunos, e essa foi, como já referi, uma preocupação constante. No entanto, o mesmo autor defende ainda que a diferenciação pedagógica não deve ser confundida com individualização, segundo este “as crianças solicitam níveis semelhantes de diferenciação e individualização, mas existem seguramente alunos cujas necessidades educativas solicitam níveis de abordagem mais individualizados que não sendo mobilizados, facilitarão a emergência de processos de exclusão” (p.72).

Importa referir, no entanto, que a diferenciação defendida pelo autor foi, inicialmente, difícil de introduzir, uma vez que a turma não efetuava este tipo de estratégia, com a frequência desejada. No entanto, com o tempo os alunos foram progressivamente interiorizando este tipo de estratégia e, por fim, já estavam muito familiarizados realizando as tarefas autonomamente, nomeadamente as tarefas de organização da sala, distribuição dos materiais e utilização autónoma de ficheiros.

Relativamente às aprendizagens realizadas pelos alunos, senti uma notória evolução uma vez que foi possível promover através de tarefas de busca e pesquisa aprendizagens assentes no ideal construtivista segundo o qual a criança deve ser autónoma para escolher e, sobre tudo, para construir as suas aprendizagens com base nas suas conceções prévias, mobilizando-as e congregando-as aos novos conhecimentos.

Ainda assim, é importante referir que em diversos momentos a turma poderia ter progredido mais e tido melhores desempenhos, mas as características da mesma, a dificuldade em respeitar regras e comportamentos menos próprios foram entraves a essa progressão.

Ao longo de toda a prática, as dificuldades foram surgindo naturalmente, no entanto fui tentando superar os obstáculos através de respostas positivas, do diálogo e respeito mútuo. Estas surgiram essencialmente ao nível dos comportamentos, uma vez que existem alunos muito imaturos e que, apesar de terem transitado para o 2º ano, ainda não interiorizaram as regras e tem tendência a desestabilizar a turma, dificultando, por vezes, a persecução da prática em contexto de sala de aula.

Sendo o trabalho em equipa uma exigência quase global em todos os setores da sociedade, é de suma importância fomentar desde cedo competências cooperativas nas crianças, proporcionando-lhes momentos de partilha, entreajuda e interdependência, oferecendo momentos de trabalho em equipa para que estes possam “intervir de uma forma autónoma e critica e resolver problemas de uma forma colaborativa” (Lopes& Silva, 2009, p IX).

Deste modo, Argyle (2013) define a cooperação como “Acting together, in a coordinated way at work, leisure, or in social relationships, in the pusuit of shared goals, the enjoyment of the joint activity, or simply furthering the relationship” (p.4).

Sob este ponto de vista, consciente da necessidade de romper com os paradigmas de uma escola tradicional assente no ensino direcionado sob a égide do professor como detentor do saber, e tendo a plena consciência que as aprendizagens só se efetuam de forma significativa quando são partilhadas, construídas e vivenciadas ativamente, fundamentei a minha prática no trabalho cooperativo.

Assim, o trabalho em grupo e a pares foram algumas das estratégias introduzidas na sala de aula com o intuito de responder à exigência social referida anteriormente e à problemática assinalada durante o período de observação do qual surgiu a questão problema, De que forma o trabalho cooperativo pode otimizar as aprendizagens e minimizar as características individualistas dos alunos?. A este nível, notei que existiu uma grande evolução durante todo o processo e que de facto os alunos progrediram nas suas aprendizagens, o trabalho em grupo tornou-se um momento de partilha de conhecimento dos alunos e ajudou-os a melhorarem significativamente. Verifiquei ainda que os alunos, com características mais individualistas, alteraram um pouco o seu

comportamento, tornando-se elementos muito válidos na entreajuda, no sucesso das suas aprendizagens e na dos colegas.

No entanto, e uma vez que esta metodologia decorreu num espaço temporal reduzido, não é possível dar uma resposta concreta e válida à questão problema. Posso, porém referir que acredito que esta é um importante motor das aprendizagens deste grupo de alunos e que a continuidade da mesma iria ajudá-los a atingir o sucesso e promover um salto qualitativo no desempenho global dos mesmos.

No que diz respeito à minha prática, esta decorreu num ambiente muito favorável e permitiu-me vivenciar experiências muito enriquecedoras, quer a nível das minhas aprendizagens como aluna do Mestrado, quer a nível de aprendizagens realizadas pelos alunos.

A autonomia que me foi dada pela professora Marta, que de forma exemplar me orientou para a prática de atividades que fossem ao encontro do que as crianças gostam de fazer, com o intuito de as motivar, surtiu efeitos muito positivos, permitiu a envolvência das crianças nas atividades e constituiu um elemento fundamental no sucesso da minha prática. Além disso, deu-me a possibilidade de liderar a sala de forma partilhada com os alunos, ajudando-me a quebrar com os ideais da escola tradicional que utiliza a exposição como principal veículo transmissor de informação, proporcionando às crianças a possibilidade de realizarem as suas aprendizagens, transformando-as em aprendizagens ativas, significativas e integradas.

No entanto, é para mim importante focar também alguns aspetos que merecem a minha reflexão.

Segundo Morgado (1999) “a avaliação (…) constitui-se como o principal instrumento da regulação do trabalho do professor e do trabalho dos alunos” (citado por Morgado 2001, p.102) no entanto, este foi um ponto no qual senti muitas dificuldades.

Embora compreenda e defenda a importância desta, subentendo que, dado o curto espaço de tempo no qual estive em contacto com os alunos e apesar de ter tentado imprimir uma avaliação, tendo em conta um processo e não o resultado final, esta não foi uma tarefa fácil de realizar, uma vez que o meu contacto com a turma se restringiu a três dias por semana durante oito semanas. Assim sendo, as avaliações foram difíceis, pois não é possível avaliar de forma formativa e precisa num tão curto espaço temporal.

De forma breve gostaria de concluir refletindo a minha pática como sendo um dos momentos mais enriquecedores ao nível de aprendizagem ao longo de todo o meu

processo de formação académica, dando-me a possibilidade de vivenciar experiências únicas, ricas e diversas que me capacitaram para o meu futuro profissional como docente.

Capítulo V - A Prática in loco-Estágio Pedagógico em Contexto de Pré-